segunda-feira, 30 de abril de 2012

ANTIGAS MEMÓRIAS


Tela de J.BATISTA (jovem artista do Rio de Janeiro) para
III CONFERÊNCIA NACIONAL DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA - BRASÍLIA 2012

Reafirmo minha preferência pela literatura de ficção.
Estou dizendo isto porque vi atualizado, por acaso,  um passado bem distante. Foi por acaso, sim. Nessas minhas leituras inúteis sobre o que acontece neste país multifacetado, multicolorido, multi tudo.

Sem nostalgias, sem pieguices, mesmo sem saudades - sentimentos esses agora também inúteis - encontrei, permeando minha história pessoal,  algumas referências em publicações bem diversas: notas de falecimento, crônicas, artigos variados, artes plásticas, enfim, uma miscelânea.

Acredito que este texto só fará sentido para mim mesma, mas não importa. Vale o registro.

No meio disso tudo, reafirmo, minha preferência pela literatura de ficção. Ali, pelo menos, não há interferência da memória do leitor.
As histórias reais, com o passar do tempo, se modificam, adquirem também caráter ficional e vão para o imaginário de quem não as viveu.

Devo dizer que foram bem interessantes algumas descobertas sobre o futuro que a gente combinou, ou melhor, que a gente não combinou (desculpe, Chico Buarque).

sábado, 21 de abril de 2012

O FIO DA MEADA

Há alguns dias escrevi algo - não me lembro do assunto - e publiquei. Depois, ao acessar novamente o blog aconteceu algum erro e foi preciso deletar aquela página. Não a salvei, portanto o escrito ficou perdido.

Interessante foi  uma leitora ter percebido e enviar-me um comentário perguntando. Tão bom saber que há pessoas atentas e importando-se com o que escrevemos ou dizemos, não?

Ah, esta última frase trouxe-me o tal assunto por alto. Penso que falava justamente daqueles dias em que nossas emoções estão afloradas e não podemos ou não temos com quem partilhá-las.

Muitas vezes, mesmo tendo família e amigos, nos sentimos sós.
Há dias em que fico na minha casa e faço questão de envolver-me nas tarefas mais rotineiras com muito ímpeto, talvez para que os pensamentos se diluam.

Foi num desses momentos que escrevi a tal página perdida, pois não queria incomodar parentes ou amigos com coisas tão particulares. E aqui vale citar uma regra de ouro, aquela do Mário Quintana: "o pior dos nossos problemas é que ninguém tem nada com isso."  O poeta gaúcho era muito sábio mesmo...

Lembro-me também de ter dito que hoje temos à disposição muita leitura sobre tudo mas que às vezes de nada adianta qualquer recurso externo. Não vêm dos livros ou de artigos, escritos por especialistas ou não, as soluções que desejamos para os nossos conflitos internos. Há algo indefinido nisso tudo que me escapa à compreensão.

Naquele dia, liguei para uma amiga que me atendeu com a delicadeza de sempre. Conversamos durante um longo tempo em que ela também me contou sobre suas questões, tão parecidas às minhas, o que nos trouxe a ambas um certo alívio para continuarmos a levar o dia.

Despedimo-nos com a amizade de sempre e foi tudo. E foi muito.

Talvez, também, tenha sido somente uma fase interna ruim. Esses ‘bodes’ existenciais que aparecem para todo mundo, coisas da tal condição humana. Ou, ainda, falta do que fazer (será?). Deus queira...
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Aí está, pois a tentativa de reconstrução do texto perdido.
As emoções de hoje são outras - ainda bem - o que nos faz acreditar na Esperança.
Bom isso!
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quinta-feira, 12 de abril de 2012

'FEBRE' EDITORIAL

"Os livros de autoajuda deturpam os conhecimentos das ciências humanas, difundem chavões da "psicologia pop" e são nocivos, porque induzem seus leitores a dramatizar problemas, simplificam conflitos e soluções, criam dependência emocional e servem apenas para enriquecer seus autores, que se preocupam só com a autopromoção e os lucros."

As acusações são do neuropsicólogo Paul Pearsall, que mora em Honolulu (Havaí), autor do bombástico ¨"O seu último livro de autoajuda".
O título sarcástico reflete o conteúdo da obra, que ataca os principais gurus do gênero de autoajuda.

Para Pearsall, é um exagero afirmar que a humanidade vive uma crise de baixa autoestima. Na sua avaliação, a vida sempre foi repleta de dificuldades, de desafios, e os homens devem encarar isso com normalidade, como fizeram seus ancestrais. Nada de se fragilizar e ficar adotando rituais recomendados por best-sellers de autoajuda.

"Não se esqueça de que a autoajuda é um negócio. Autores e editores querem que você compre, leia, convença-se do que leu e compre novamente. Isto não quer dizer que seus livros não têm valor, mas apenas que devemos abordá-los como consumidores cautelosos, realizando uma compra, e não como pacientes contratando um terapeuta virtual", escreve o professor da Universidade do Havaí.

Ao longo da obra, o autor vai questionar as principais premissas dos livros de autoajuda, mostrando inconsistências nos argumentos dos principais escritores do gênero. Para Pearsall, é um erro demonizar o medo e a culpa, como fazem essas obras. Na sua opinião, o ser humano precisa conhecer seus limites, assumir suas responsabilidades, ou então o mundo vira uma barbárie.

"Um pessimismo levemente defensivo cai bem na construção da vida boa. Raramente você ficará desapontado e, às vezes, agradavelmente surpreso. A menos que seja do seu perfil tentar sempre pensar positivamente, o esforço é estressante, exaustivo e restritivo", defende o autor.

Um dos capítulos mais interessantes fala sobre a obsessão do homem de fugir dos estereótipos da velhice, em vez de aceitar o processo natural de envelhecimento e ver as vantagens de ter mais experiência acumulada e sabedoria.
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Um trecho do livro: 

A autoestima elevada pode ser prejudicial para você e para os que lhe são próximos. Pense sobre o seguinte: quando falta a alguém a capacidade de autocrítica, ele pode atropelar os sentimentos dos outros - ou seus direitos- sem remorsos.
Eis aqui algumas das questões abordadas pelos reconhecidos pesquisadores Martin Seligman e David Myers sobre crenças tendenciosas:
  • Será que as crianças não precisam errar ou se sentir tristes, nervosas e zangadas se é que desejam conhecer sucesso, alegria, contentamento e afabilidade?
  • Será que as crianças não precisam aprender a encarar medos, tristezas e decepções tanto quanto situações mais positivas?
  • O que dizer do argumento "não há dias sem noite"? Será que evitar sentir-se mal torna mais difícil o sentir-se bem ou mesmo saber o que se sentir bem realmente significa?
  • Será que alguns dos adultos mais felizes e bem-sucedidos também não tiveram suas infâncias cheias de acontecimentos negativos?
  • Será que algumas das piores e mais cruéis pessoas do mundo não terão vindo, por vezes, de lares amorosos e protetores?
  • Será realmente válida a antiga premissa de Freud sobre a importância da história passada?
Culpa: a nobre emoção
De acordo com os autoajudantes, a culpa é a emoção antifelicidade por excelência. Dizem eles que não podemos ser felizes quando nos sentimos culpados: eu, porém, afirmo que não podemos ser realmente felizes se não sentirmos culpa.

Acredito que a felicidade não é, de forma alguma, uma emoção isolada e individual. Ela, na verdade, depende de uma felicidade coletiva. Quando alguém se sente culpado, é porque, muitas vezes, sabe que golpeou aquela felicidade coletiva e, assim, não consegue sentir, ele mesmo, a felicidade.

Culpa é essencial para que verdadeiras mudanças aconteçam. Ela pode conduzir a uma consideração mais reflexiva sobre a vida, sobre como a levamos e como influenciamos a vida de outras pessoas. É possível que uma criança que aprende a não se sentir profundamente envergonhada por ter agredido um amigo jamais aprenda que bater é errado ou venha a perceber este princípio como uma regra arbitrária de autoridade. O cônjuge que trai, a pessoa que faz um comentário mordaz sobre um amigo, os pais que negligenciam um filho - todos deveriam se sentir culpados. Sem culpa, nós nos tornaríamos, na melhor das hipóteses, seres ensimesmados ou até mesmo sociopatas.

Nas palavras do psiquiatra Willard Gaylin a um entrevistador: "Todos os psicológos 'pop' estão orientando mal as pessoas no que se refere a culpa e consciência. A culpa é uma emoção nobre; a pessoa que não a sente é um monstro."

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'AS HIENAS VÃO AO TEATRO'


"Rir é mais antigo que falar. Hominídeos já riam — gemiam, choravam e até suspiravam — há pelo menos 7 milhões de anos. Rir é universal e inato: bebês riem muito antes de falar."
(Jones Rossi)
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"Bebo para tornar as outras pessoas interessantes."

 A frase acima foi extraída de um livro de Ruy Castro: 'Mau Humor ─ uma antologia definitiva de frases venenosas', São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

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O título deste post não é meu. É de  Flávio Paranhos, num artigo que li há algum tempo, sobre o que está causando o riso das plateias de teatro.

Tenho comentado com alguns amigos a questão do humor atual.
Impressionante como um texto que se pretende humorístico não faz sucesso se não houver palavrões entremeando a narrativa. A piada, a situação criada por um duplo sentido já não provoca o riso.

Por algum motivo, apenas o palavrão gratuito promove a sensação de "vingança" contra tudo que possa ter constrangido ou indignado as pessoas.

Por favor, palavrões todos dizemos em várias situações, alguns mais, outros nem tanto, e eles são, realmente, um canal adequado para aquele momento em que nos sentimos impotentes diante de algo que nos aflige.  Às vezes, são até engraçados, mas daí a rechear textos teatrais para que se apresentem como comédia... Isso é um insulto à nossa capacidade de elaborar a raiva ou o constrangimento por que todos já passamos alguma vez.

O palavrão tem, sim, sua expressão humorística mesmo na considerada alta literatura e seus autores, como é o caso do escritor brasileiro Graciliano Ramos, também conhecido por seu constante mau humor, o que produziu, a seu tempo, histórias hilariantes.

O argumento, bem conhecido, do filósofo francês Henri Bergson é que o riso seria uma sanção social a um esclerosamento de comportamentos. 

Um homem, correndo pela rua, tropeça e cai. Os transeuntes riem. Por quê? Porque, segundo o autor, a sociedade reprova "toda rigidez do caráter, do espírito e mesmo do corpo" (BERGSON, Henri. O Riso – Ensaio sobre a significação do cômico, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980  pp.18-19) .

Aqui, porém, não se trata de defender ou acusar qualquer tipo de humor, mas de comentar o uso excessivo da palavra chula como ingrediente para que o texto seja aceito como engraçado.

Existem outras maneiras de provocar o riso, mas parece que os modernos criadores de textos de humor não conhecem, por exemplo, "O Bruxo e o Rabugento - Ensaios sobre Machado de Assis e Graciliano Ramos", Rio de Janeiro : Vieira & Lent, 2010, excelente tratado sobre essa arte dificílima que é trazer o bom humor a esta época que parece colaborar o tempo todo para que estejamos sempre à beira de um ataque de nervos.

De minha parte, devo dizer que me sinto uma idiota quando temos que rir do que se apresenta por aí a título de comédia.

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Texto de LUCIANA SADI - Autoestima

AUTOESTIMA 
Luciana Sadi - psicanalista e escritora

O termo significa: amor próprio.

Quando falamos em autoestima, falamos em narcisismo. Com isso queremos dizer que há uma fase, no desenvolvimento humano, em que prevalece apenas o eu. Observe como um bebê age: ele acredita que tudo que está ao seu redor existe e foi feito para ele. E se comporta como uma majestade. A majestade acredita que os súditos são propriedades dela e estão no mundo para lhe servir.

É preciso algum tempo de vida, recheado de frustrações, para que o bebê perceba que o mundo não gira ao seu redor e que as pessoas que cuidam dele têm vida e interesses próprios. Quando percebemos que não somos tão importantes assim nos sentimos feridos – daí vem a expressão ferida narcísica. A vaidade foi machucada.

Pode-se confundir autoestima elevada com vaidade. A vaidade funciona como herdeira do narcisismo, ela não indica força para superar obstáculos e para suportar frustrações. Há pessoas com excelente opinião sobre si, muito autoconfiantes, mas que desmoronam diante das dificuldades.

O excesso de autocrítica pode estar relacionado com a vaidade e resultar numa autoimagem idealizada. O sujeito exige de si mais e mais – nada está bom.

Pessoas que agem assim acreditam que deveriam ser as mais competentes, as mais bonitas, as melhores. Suas realizações parecem empobrecidas. Nenhuma realidade é sentida como satisfatória diante desse tipo de idealização. Por isso o perfeccionismo pode levar a depressão.

Há também aqueles se acham os melhores, os únicos, mas que desprezam os outros. Humilhar ou rebaixar alguém para se sentir superior indica a existência de um sentimento de inadequação e de inferioridade.

Ou nos sentimos melhores ou nos sentimos piores do que realmente somos. A nossa força reside mais na capacidade de enfrentar as dificuldades, do que na boa opinião ou na boa imagem que temos de nós. Difícil é atingir bom grau de amor próprio realista.

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segunda-feira, 2 de abril de 2012

DE REENCONTROS


As minhas saídas para ir ao dentista (ô, vida...) estão, em todo caso, rendendo algumas satisfações. Semana passada contei o encontro com uma das amigas, e hoje, falo da alegria  de rever, depois de muito tempo,  um ex professor da Faculdade, por quem tenho uma grande estima. Aquele que gosta de Guimarães Rosa e cujas aulas foram o estímulo para que eu me dedicasse à profissão. Mais tarde, quando nos tornamos colegas na mesma Faculdade, ele continuou me incentivando generosamente..
Ele está muito bem e demonstrou ter ficado feliz em me ver.
Lembrou  o tempo em que fui monitora em sua matéria, e os relatórios, que, a seu pedido, muitas vezes escrevi.
Nem eram propriamente relatórios, mas impressões sobre a aula.
Fiquei emocionada e agradecida. Isso não tem preço.

Hoje não estou com vontade de escrever, mas me comprometo a trazer para o blog alguns desses textos de que falei.
Guardei, sim, por todo esse tempo. Achei que devia, principalmente porque, na época em que eu cursei a faculdade, a vida estava difícil em vários sentidos. E tudo passou, como tudo passa mesmo...
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