terça-feira, 27 de agosto de 2013

Carta para Sasha Meneghel

Uma carta escrita pela jornalista mineira Cristina Moreno de Castro para Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa Meneghel, viralizou na internet.
O texto chama atenção para agressão que fotógrafo Gladyston Rodrigues, do jornal O Estado de Minas, sofreu na última sexta-feira (16/8) durante a 9ª Edição da Copa MTC de Vôlei Feminino, no Minas Tênis Clube, em Minas Gerais.
Rodrigues disse que fazia fotos das atletas na quadra, quando foi abordado por seguranças, que ordenaram que ele apagasse o material. Como não acatou a solicitação, apanhou dos agentes e teve seu equipamento danificado.
O caso foi registrado em uma delegacia de polícia e o inquérito encaminhado para o Juizado Criminal Especial.

Leia a carta na íntegra:

“Olá, Sasha,
Queria fazer uma pequena provocação para você.
Não do tipo que você recebeu quando postou tweets com “erros gramaticais”, aos 11 anos de idade. Como se todos os brasileiros fossem letradíssimos, ainda mais nessa idade. Aquele bullying virtual que você sofreu foi um absurdo, principalmente por ser direcionado a uma criança.
Agora minha provocação é dirigida a uma adolescente, a uma pré-adulta. Afinal, você tem 15 anos, pelo que pesquisei agora no Google.
Foi aos 15 anos que comecei a pensar com a minha própria cabeça. Acho que é mais ou menos por essa idade que a maioria das pessoas começa a virar quem elas realmente são. Comecei a refletir sobre a profissão que eu queria seguir pelo resto da vida – o jornalismo -, sobre religião, sobre a família. Foi também quando vivi um pequeno choque pessoal: tive que abandonar a natação por causa de uma tendinite crônica no ombro (eu era atleta do Minas Tênis Clube, um rival do Flamengo, e palco do que vamos relatar abaixo). Também foi o ano que perdi minha avó paterna. E também foi quando perdi minha cachorrinha, e só quem tem um cachorrinho por mais de dez anos sabe como isso é importante a ponto de entrar nessa lista. Foi quando acho que me apaixonei pela primeira vez. Foi quando fiz minha primeira viagem internacional. Foi quando li Carl Sagan e descobri as belezas do ceticismo. E decidi que não queria festa de 15 anos, que sempre achei um porre (ia para as festas dos colegas mais por obrigação do que por vontade, e sempre ia embora logo que o baile acabava). Enfim, foi um ano bem movimentado na minha vida, principalmente do ponto de vista intelectual.
Com você não é diferente. Porque é assim com todas as meninas. Não sei quanto aos meninos, eles costumam ser mais atrasados. Mas as meninas todas passam por uma sacudida nessa idade.
Sei muito pouco sobre você. Não costumo ler revistas de “celebridades”, inclusive porque as celebridades que me interessam não costumam entrar nessas revistas. O que sei sobre você cabe em um parágrafo curto: quando sua mãe ficou grávida de você, isso foi anunciado no Domingão do Faustão. Quando você nasceu, o parto foi televisionado pelo Jornal Nacional, o telejornal mais influente do país, numa “reportagem” que durou uns dez minutos – provavelmente o parto mais documentado e exposto da história do Brasil. Quando já conseguia andar, você começou a aparecer de vez em quando nos programas da sua mãe. Todos os seus aniversários foram expostos nas tais revistas e na “mídia especializada”. Tudo isso aconteceu contra a sua vontade, porque crianças não têm discernimento para decidir sobre como expor as próprias vidas – pelo contrário, elas precisam ser protegidas pelos pais e existe um Estatuto da Criança e do Adolescente justamente para garantir isso. Tudo aconteceu, portanto, a sua revelia. Você não pôde nem tinha condições de opinar, porque já estava presa nessa bolha desde antes de nascer.
Passei uns bons anos sem me lembrar da sua existência. Até que, na semana passada, li uma notícia que dizia que você tinha virado jogadora de vôlei do Flamengo e chegou a ser convocada pela seleção carioca da categoria infanto-juvenil. Muito legal que esteja praticando esportes e tenha encontrado um talento próprio, uma luz à parte das pretensões de vida de modelo-apresentadora-e-atriz que parecia ser reservada a você desde sempre. Não fosse por um porém: fiquei sabendo dessa sua nova fase da pior maneira possível: repórteres-fotográficos que cobriam o jogo como cobrem qualquer jogo foram ameaçados e, no caso de um deles, agredido por seguranças truculentos (supostamente) do Flamengo, que diziam ter feito isso porque o clube tinha um acordo com você de preservar sua imagem.
Repare bem: não eram paparazzi te perseguindo para falar da sua noitada, mas profissionais cobrindo um jogo de um dos maiores times do Brasil, fotografando não só você, mas toda a equipe. O fotógrafo agredido talvez tenha sofrido uma fratura na coluna em seu nome, veja bem. Terá que ficar dez dias afastado do trabalho.
Depois do incidente, sua mãe não veio a público lamentar o que houve e garantir que não concorda com essa agressão gratuita. Ela silenciou.
Se a ideia era te proteger de superexposição, falhou imensamente, já que sua foto saiu estampada na primeira página dos jornais do dia seguinte e associada a uma agressão absurda. O assunto passou a ser comentado nos sites, nas redes sociais, blogs, rádios e todo tipo de mídia e não era destacando seu desempenho no jogo. Seu brilho pessoal na sua escolha de seguir uma outra carreira foi totalmente ofuscado pela superproteção desnecessária e truculenta que é totalmente espantosa, levando em conta a superexposição em que você vive desde antes de nascer.
Imagino o quanto deve ter chorado ao ver o papelão que te fizeram passar naquele dia. Como deve ter batido portas e gritado um sonoro “Te odeio!”, como costumam fazer alguns adolescentes em relação a pais opressores. Eu te entendo. Você não é um fantoche, é uma pessoa. E agora está na idade de ser você mesma, como dizia aquele poema do Paulo Leminski que linkei alguns parágrafos acima.
Por isso, Sasha, resolvi te escrever esta carta. É hora de você romper essa bolha. É a idade de se rebelar desse mundinho que te constrange e envergonha, em vez de te incentivar no único momento em que decidiu alçar seu próprio voo-solo. Se você é atleta de um clube como o Flamengo, e quer mesmo seguir nessa vida de atleta (é árdua, viu?), é preciso que saiba que você é a pecinha de um time e que essa engrenagem só funciona porque todos são igualmente importantes em sua função. Vôlei é um esporte de equipe, de coletivo. Você não pode impedir que o jogo seja coberto e transmitido pelas TVs, como sempre foi. Você não pode constranger as colegas de equipe, que nem podem falar a seu respeito, por força de contrato. Você tem que se impor, se quiser ter luz-própria, para garantir o seu sagrado direito de ser como todas as outras do time.
Reaja, menina! E sirva de inspiração a outras crianças e adolescentes que, em vez de receberem o cuidado dos pais “famosos”, se veem presos numa armadilha de constrangimento e de cerceamentos e agressões inadmissíveis, cometidos em seu nome.
De cá, fico na torcida para que sua vida seja muito feliz e você encontre seu próprio lugarzinho no mundo. Que a opção e a liberdade de escolha cheguem algum dia para você, antes tarde do que nunca  ”

Uma carta escrita pela jornalista mineira Cristina Moreno de Castro para Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa Meneghel, viralizou na internet.
O texto chama atenção para agressão que fotógrafo Gladyston Rodrigues, do jornal O Estado de Minas, sofreu na última sexta-feira (16/8) durante a 9ª Edição da Copa MTC de Vôlei Feminino, no Minas Tênis Clube, em Minas Gerais.
Rodrigues disse que fazia fotos das atletas na quadra, quando foi abordado por seguranças, que ordenaram que ele apagasse o material. Como não acatou a solicitação, apanhou dos agentes e teve seu equipamento danificado.
O caso foi registrado em uma delegacia de polícia e o inquérito encaminhado para o Juizado Criminal Especial.

Leia a carta na íntegra:

“Olá, Sasha,

Queria fazer uma pequena provocação para você.
Não do tipo que você recebeu quando postou tweets com “erros gramaticais”, aos 11 anos de idade. Como se todos os brasileiros fossem letradíssimos, ainda mais nessa idade. Aquele bullying virtual que você sofreu foi um absurdo, principalmente por ser direcionado a uma criança.
Agora minha provocação é dirigida a uma adolescente, a uma pré-adulta. 
Afinal, você tem 15 anos, pelo que pesquisei agora no Google.

Foi aos 15 anos que comecei a pensar com a minha própria cabeça. 
Acho que é mais ou menos por essa idade que a maioria das pessoas começa a virar quem elas realmente são. 
Comecei a refletir sobre a profissão que eu queria seguir pelo resto da vida – o jornalismo -, sobre religião, sobre a família. 
Foi também quando vivi um pequeno choque pessoal: tive que abandonar a natação por causa de uma tendinite crônica no ombro (eu era atleta do Minas Tênis Clube, um rival do Flamengo, e palco do que vamos relatar abaixo). 
Também foi o ano que perdi minha avó paterna. 
E também foi quando perdi minha cachorrinha, e só quem tem um cachorrinho por mais de dez anos sabe como isso é importante a ponto de entrar nessa lista. 
Foi quando acho que me apaixonei pela primeira vez. 
Foi quando fiz minha primeira viagem internacional. 
Foi quando li Carl Sagan e descobri as belezas do ceticismo. 
E decidi que não queria festa de 15 anos, que sempre achei um porre (ia para as festas dos colegas mais por obrigação do que por vontade, e sempre ia embora logo que o baile acabava). 
Enfim, foi um ano bem movimentado na minha vida, principalmente do ponto de vista intelectual.

Com você não é diferente. Porque é assim com todas as meninas. 
Não sei quanto aos meninos, eles costumam ser mais atrasados. Mas as meninas todas passam por uma sacudida nessa idade.
Sei muito pouco sobre você. Não costumo ler revistas de “celebridades”, inclusive porque as celebridades que me interessam não costumam entrar nessas revistas. 

O que sei sobre você cabe em um parágrafo curto: quando sua mãe ficou grávida de você, isso foi anunciado no Domingão do Faustão. 
Quando você nasceu, o parto foi televisionado pelo Jornal Nacional, o telejornal mais influente do país, numa “reportagem” que durou uns dez minutos – provavelmente o parto mais documentado e exposto da história do Brasil. 
Quando já conseguia andar, você começou a aparecer de vez em quando nos programas da sua mãe. Todos os seus aniversários foram expostos nas tais revistas e na “mídia especializada”. 

Tudo isso aconteceu contra a sua vontade, porque crianças não têm discernimento para decidir sobre como expor as próprias vidas – pelo contrário, elas precisam ser protegidas pelos pais e existe um Estatuto da Criança e do Adolescente justamente para garantir isso. 
Tudo aconteceu, portanto, a sua revelia. Você não pôde nem tinha condições de opinar, porque já estava presa nessa bolha desde antes de nascer.

Passei uns bons anos sem me lembrar da sua existência. Até que, na semana passada, li uma notícia que dizia que você tinha virado jogadora de vôlei do Flamengo e chegou a ser convocada pela seleção carioca da categoria infanto-juvenil. 
Muito legal que esteja praticando esportes e tenha encontrado um talento próprio, uma luz à parte das pretensões de vida de modelo-apresentadora-e-atriz que parecia ser reservada a você desde sempre. Não fosse por um porém: fiquei sabendo dessa sua nova fase da pior maneira possível: repórteres-fotográficos que cobriam o jogo como cobrem qualquer jogo foram ameaçados e, no caso de um deles, agredido por seguranças truculentos (supostamente) do Flamengo, que diziam ter feito isso porque o clube tinha um acordo com você de preservar sua imagem.
Repare bem: não eram paparazzi te perseguindo para falar da sua noitada, mas profissionais cobrindo um jogo de um dos maiores times do Brasil, fotografando não só você, mas toda a equipe. 
O fotógrafo agredido talvez tenha sofrido uma fratura na coluna em seu nome, veja bem. Terá que ficar dez dias afastado do trabalho.
Fotográfico do "Estado de Minas" Gladyston Rodrigues sofreu fratura na coluna após agressão cometida em nome da proteção a Sasha. Foto: "O Tempo".
Repórter-fotográfico do “Estado de Minas” Gladyston Rodrigues sofreu fratura na coluna após agressão cometida em nome da proteção a Sasha. Foto: “O Tempo”.
Depois do incidente, sua mãe não veio a público lamentar o que houve e garantir que não concorda com essa agressão gratuita. Ela silenciou.
Se a ideia era te proteger de superexposição, falhou imensamente, já que sua foto saiu estampada na primeira página dos jornais do dia seguinte e associada a uma agressão absurda. 
O assunto passou a ser comentado nos sites, nas redes sociais, blogs, rádios e todo tipo de mídia e não era destacando seu desempenho no jogo. 
Seu brilho pessoal na sua escolha de seguir uma outra carreira foi totalmente ofuscado pela superproteção desnecessária e truculenta que é totalmente espantosa, levando em conta a superexposição em que você vive desde antes de nascer.

Imagino o quanto deve ter chorado ao ver o papelão que te fizeram passar naquele dia. 
Como deve ter batido portas e gritado um sonoro “Te odeio!”, como costumam fazer alguns adolescentes em relação a pais opressores. 
Eu te entendo. Você não é um fantoche, é uma pessoa. E agora está na idade de ser você mesma, como dizia aquele poema do Paulo Leminski que linkei alguns parágrafos acima.

Por isso, Sasha, resolvi te escrever esta carta. 
É hora de você romper essa bolha. É a idade de se rebelar desse mundinho que te constrange e envergonha, em vez de te incentivar no único momento em que decidiu alçar seu próprio voo-solo. 
Se você é atleta de um clube como o Flamengo, e quer mesmo seguir nessa vida de atleta (é árdua, viu?), é preciso que saiba que você é a pecinha de um time e que essa engrenagem só funciona porque todos são igualmente importantes em sua função. 
Vôlei é um esporte de equipe, de coletivo. 
Você não pode impedir que o jogo seja coberto e transmitido pelas TVs, como sempre foi. 
Você não pode constranger as colegas de equipe, que nem podem falar a seu respeito, por força de contrato. 
Você tem que se impor, se quiser ter luz-própria, para garantir o seu sagrado direito de ser como todas as outras do time.

Reaja, menina! E sirva de inspiração a outras crianças e adolescentes que, em vez de receberem o cuidado dos pais “famosos”, se veem presos numa armadilha de constrangimento e de cerceamentos e agressões inadmissíveis, cometidos em seu nome.
De cá, fico na torcida para que sua vida seja muito feliz e você encontre seu próprio lugarzinho no mundo. 
Que a opção e a liberdade de escolha cheguem algum dia para você, antes tarde do que nunca. ”


*            *            *
Nota deste blog:
A meu ver, esta 'carta' não representa cobrança à adolescente Sasha que não tem culpa de ser filha de 'celebridade'. Trata-se de uma análise do fato pela jornalista, mas que também serve de alerta para que meninas na idade dela aprendam a crescer com autonomia e responsabilidade. Foi assim que entendi.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CAETANO VELOSO


"O desenvolvimento da mente tem uma espécie de ápice aos 50. Não é uma regra, mas senti isso em mim. J
ulguei que seguiria igual aos 65. Mas logo vi que minha memória não era a mesma. 
Eu tinha sofrido muito quando, aos quarenta e poucos, tive que pôr óculos para ler. Eu sempre tinha tido excelente visão, não achava suportável ter que usar esse apetrecho nem preocupar-me em não perdê-lo.
Tive também de me acostumar a ouvir as pessoas dizerem “o óculos” em vez de “os óculos”. 
A não concordância de número nos verbos e adjetivos relacionados também me faziam mal. 
Gosto de gramática, de normas para a língua, acho que a tendência à não observância dessas coisas denota insalubridade social." (...)
Caetano Veloso

In:"Idades" - crônica publicada em  24 de junho de 2012, no Segundo Caderno do jornal O Globo.


*            *            *

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Pausa


Alguma coisa aqui dentro reclamava pelo antigo hábito de ouvir a música dos Grandes Mestres.
Estive por algum tempo envolvida com a modernidade, a convulsão dos dias presentes, apenas me deixando levar pelo turbilhão. Sim, porque é um turbilhão, e, se não nos protegemos, somos tragados.
O alerta foi dado pelo mau humor sem motivo aparente, pela má vontade com os dias, pelo afastamento voluntário do convívio de um modo geral.
Sem sair, sem passear, cuidando com zelo excessivo de tarefas que, afinal, temos que repetir diariamente - cuidar da casa, das roupas, das plantas, do abastecimento material e a inútil preocupação com coisas que se resolvem com ou sem o meu concurso.

A alma minguando, o pensamento travado, uma espécie de torpor existencial que não sei definir.

Pois bem, perambulando pela rede - tecnologia até ajuda -  encontrei Chopin e sua Fantaisie Impromptu.

O som do piano de Arthur Rubinstein tomou todo o ambiente e a mim também.  Uma calma, um bem estar se instalaram quase que de imediato.

**
Há dois dias estou ouvindo os clássicos que tenho à disposição - de Bach a Mozart - e tudo está voltando ao seu lugar.  Remedinho bom, né?


"O uso da música como método terapêutico vem desde o início da história humana. 
Alguns dos primeiros registros a esse respeito podem ser encontrados na obra de filósofos gregos pré-socráticos."
Fonte: Wikipédia

*            *            *

sábado, 17 de agosto de 2013

Arthur Rubinstein - CHOPIN - Waltz Op. 69 No. 2 in B minor



Pois é... entendo a música como um recurso para diversão, entretenimento e também para elevação do espírito. Não estou falando apenas da música erudita - também chamada clássica - não é isso.

Estou tentando ouvir Chopin porque meus ouvidos e minha mente estão cansados da barulheira infernal na vizinhança, com o funk no mais alto volume, impedindo mesmo o som da TV se eu quisesse assistir a algum programa.
Não posso dizer que respeito esse 'gosto' ( ou falta de) e essa necessidade do som tão alto, mas compreendo. A maioria não teve mesmo oportunidade de ouvir, apenas ouvir outro tipo de música que não seja o que a mídia impõe como 'sucesso' .  E a palavra 'sucesso' vem com a sobrecarga de ideal a ser alcançado por todos. Ser 'antenado', estar 'nas paradas', ser  'descolado'.  Legal...

Sinceramente, fico com raiva às vezes, mas no fundo, bem bem lá no fundo - muuuito no fundo - tenho também um sentimento de pena, de desânimo em ver as pessoas se atordoando o tempo todo, imaginando que assim os problemas se dissolvem. Não se pode ter um momento mais calmo que acham que é tristeza; se estamos sossegados, quietos, acham que é doença ou alienação. Parece que é necessário estar todo o tempo em movimento, em  meio à confusão para ser considerado normal e adaptado a... a quê, mesmo?

Voltando à questão do gosto - que, aliás, segundo o ditado popular 'não se discute' .  Não discuto, apenas lamento. Lamento que não haja mais nas escolas a introdução ao conhecimento musical, lamento que a maioria 'não suporte' ouvir música instrumental de qualidade, lamento o descaso total com a Educação no país.

Nada me impede de gostar da MPB, de rock, de samba, de forró, de chorinho (aliás, adoro) - sou fã mesmo da música e de muitos artistas populares - e também me emocionar com Bach.Vivaldi, Mozart, Beethoven, Mahler, Chopin e tantos, tantos outros clássicos.  Luíz Gonzaga é um clássico, Noel Rosa, Cartola, Pixinguinha, Lupicínio Rodrigues são clássicos e muitos que estão produzindo qualidade hoje, serão também clássicos...e aí?

Clássico vem de classe, categoria elevada, boa qualidade, excelência. E é por isso que ficam os clássicos e vão-se os 'sucessos'...

**
Quer saber? Que continuem ouvindo os funk e os axé que quiserem... Na verdade, não tenho nada com isso.  Façam bom proveito - se for possível.

*            *            *

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

NOEL ROSA e PAULINHO DA VIOLA


Filosofia
Composição: Noel Rosa
Interpretação: Paulinho da Viola

O mundo me condena, e ninguém tem pena 
Falando sempre mal do meu nome 
Deixando de saber se eu vou morrer de sede 
Ou se vou morrer de fome 

Mas a filosofia hoje me auxilia 
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim

Não me incomodo que você me diga 
Que a sociedade é minha inimiga 
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo

Quanto a você da aristocracia 
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia

*            *            *

sábado, 10 de agosto de 2013

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Só registrando...


Dias esquisitos...
Acontecimentos vários, do engraçado ao trágico, passando pelo absurdamente grotesco.
Não sei se me lembrarei dos fatos daqui a alguns dias - muito menos daqui a alguns meses, ou anos - mas não importa. Em que pese nosso estado de espírito, os dias e as horas passam (acho que é Shakespeare estropiado, sei lá...).

Tenho me sentido cada vez mais distante de tudo. Deve ser a idade. Aliás, andei pensando que a natureza sabe mesmo, de verdade, como envelhecer as pessoas e as coisas. Nós é que não prestamos a devida atenção.
Aquela história da música do Vinícius e do Toquinho - "Aquarela" - em que tudo vai se descolorindo eu já comentei aqui num post anterior, nem me lembro quando. Continua valendo, pelo menos para mim. Tudo vai se descolorindo, incluindo aí a Fé, a Esperança e a Caridade.

Em termos de noticiário, o crime horroroso da semana - toda semana tem um - parece que, estranhamente, já foi elucidado pela polícia de S.Paulo. Tá bom. Me enganem... eu detesto que me façam de idiota, mas, vá lá... O país é perigoso, é perigoso... Gente muito importante, muito grande deve estar enrolada até o pescoço com a trágica história... Mas quem ousa falar?
O post abaixo está circulando no facebook:



No nível pessoal, conhecidos e amigos se confundindo em meio a mentiras, desculpas esfarrapadas, meias confissões - umas até bem ridículas - e a minha agora constante cara de paisagem.
É... colei na minha cara uma paisagem bem monótona, bem sem expressão, e é com ela que ando por aí.

E vamos cantar o 'Cuitelinho'...


*            *            *

domingo, 4 de agosto de 2013

Um encontro - Rúbia A. Dantés

Trouxe esse texto porque a situação se parece muito com algo que já me aconteceu....

Um encontro...
Um encontro...
Rubia A. Dantés  - no site "Somos todos um", em 4 de agosto de 2013

Sai de casa apressada com um monte de coisas a fazer, ia repassando tudo na cabeça tentando encaixá-las no tempo que teria e... consequentemente, tirava toda a possibilidade de presente, mas nem me dava conta disso ali naquele dia um pouco agitado.

Passei no banco... em algumas lojas ali perto e, já no supermercado, sempre pensando no futuro, distraída e há não sei quantos quilômetros de distância, me via fazendo planos para tentar apressar o que não pode não ser apressado...

Foi quando com toda a minha pressa tive que parar porque um carrinho estava obstruindo a passagem... olhei e vi uma senhora de cabelos brancos presos em coque, pegando alguma coisa na prateleira... Olhar para aquela senhora alta, magra, com o corpo um pouco curvado que parecia ter uma idade já bem avançada, teve o efeito de me trazer para o presente, olhava para ela com carinho admirada pelos gestos delicados de quem aprendeu a respeitar o próprio ritmo...
Quando ela se virou e percebeu que eu estava esperando me deu um sorriso tão bonito que iluminou o meu dia.
Retribui o sorriso com o meu coração também sorrindo e, a partir dali, tudo ficou diferente...

Continuei meu caminho agora fazendo o que tinha de fazer ali, com calma e sem pensar no antes e no depois... num estado de Ser diferente que não tenho como explicar.
Tomei consciência do tanto de coisas que carregamos com a gente onde vamos... e que não nos deixam aproveitar o presente. Coisas como preocupações, crenças, nossa história pessoal...
De alguma forma aquele encontro me trouxe a consciência de como posso me tornar uma pessoa melhor.

Agora... muitas horas depois, a imagem daquela senhora volta com um ar de mistério... parece alguém que conheci faz muito tempo não só pela lembrança física, mas ao que aquela presença me remeteu...

Às vezes acho que existem pessoas que são como anjos que, por um momento... quando nossos sorrisos e nosso olhares se encontram, alguma coisa mágica acontece e nos faz relembrar coisas antigas e que estavam profundamente guardadas e protegidas lá no fundo dos nossos corações.
Sinto que ela me remeteu a um espaço sagrado dentro de mim... com árvores muito antigas e muito altas... com um perfume de natureza intocada e com a força da inocência... a uma casinha pequena e aconchegante... um tempo de milagres.
A emoção que aquele encontro que, durou poucos segundos, me causou... me faz pensar que o tempo não existe...

Ali no corredor de um supermercado lotado, cheia de pressa e de planos na mente que me afastavam de mim, fui tocada por um sentido de atemporalidade e de presença, pelo olhar doce e pelo sorriso sincero de uma senhora que nem conheço mas, sei que É...

Não sei seu nome, sobrenome, nem sua idade... não sei o que ela faz nem onde ela mora, mas... sei quem ela É, porque ela tocou aquela parte em mim que sabe quem Eu Sou...

*          *          *