sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Criatividade em 91 m quadrados

Gostei...

Fachad


Porta de entrada

outro ângulo: estar/jantar
Salas - estar e jantar

Planta


cozinha



Revista Casa Cláudia
Casa em vila carioca

Filme "A LISTA DE SCHINDLER" - chororô na tarde...



Muitas vezes reservo a tarde para rever algum filme interessante e do qual eu tenha gostado muito.
Ontem foi a vez de “A lista de Schindler", filme americano de 1993 – bem antiguinho, mas, na minha idade, 20 anos que se passem parecem 2.

Vencedor de 7 prêmios Oscar, baseado no livro homônimo de Thomas Keneally o filme tem a direção de Steven Spielberg, com os atores Liam Neeson, Ben Kingsley e Ralph Fiennes nos papéis de destaque.

Filmado todo em preto e branco, talvez para sugerir um aspecto ainda mais sombrio de todo o horror da perseguição nazista aos judeus.

Narra a trajetória, durante a 2ª guerra, do industrial tcheco Oskar Schindler,  ex-militar, filiado ao nazismo, bem relacionado com os oficiais alemães  mas que conserva um resquício de humanidade em seu caráter.
Ele cria um mecanismo – uma suposta fábrica de artefatos de guerra – para salvar judeus encaminhados aos campos de extermínio.

Há passagens muito tocantes e simbólicas, como a figura de uma garotinha que, contrariando o preto e branco de todo o filme, aparece com um casaco vermelho.
Para mim, significa o momento em que Schindler compreende a atrocidade que está sendo cometida e resolve interferir. Além do mais, o diretor Steven Spielberg é também judeu e suas lembranças devem ser bem tristes, eliminando qualquer suavidade ou alegria que o colorido pudesse trazer.


Fiquei emocionada de verdade - de chorar, sabe como é - quando algumas crianças separadas das mães conseguem driblar a vigilância dos soldados e procuram os lugares mais horrorosos e imundos para esconderijos.
São muitos os trechos comoventes.
O beijo de Schindler - na comemoração de seu aniversário, diante dos oficiais alemães - em uma mulher judia, atitude que o leva à prisão por algum tempo;  a confecção das listas com os nomes das pessoas que deverão ser resgatadas; sua indignação e desespero ao retirar as crianças dos campos alegando em voz autoritária que elas eram "suas funcionárias", pois suas mãozinhas serviam para polir as cápsulas de poucos centímetros... e muitas mais.
Enfim, um belo filme.


Algumas frases impactantes em diálogos bem bonitos:
"O nome escrito na lista de Schindler é vida; a margem do papel limpa, vazia é o abismo."
"Se esta fábrica produzir cápsulas que possam ser usadas eu ficarei muito triste." 
"Eu deveria ter salvado muitos mais, muitos mais..."

E o final maravilhoso, a última cena, então sim, colorida, com os verdadeiros "judeus de Schindler" e alguns descendentes, prestando-lhe uma última homenagem, depositando pedrinhas em seu túmulo.


Às vezes, é necessário relembrar que o ser humano é capaz das coisas mais sublimes mas também das piores baixezas.
O mundo atual não me parece tão melhor assim; apenas substituiu os preconceitos.

*            *            *

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cara feia? Vai se maquiar, vai...



Acordar de mau humor chega a ser um clichê. Acontece com tanta, mas tanta gente... Pelo menos é o que me relatam várias pessoas conhecidas. Normalmente - ou seja, ao correr do dia - costumam ser educadas, gentis, amáveis mesmo, mas não se metam com elas logo pela manhã... são intratáveis.

Leio em algum lugar que isso é  um distúrbio que afeta "pequena" camada da população...(as aspas são minhas - como assim, pequena?)

Continuo lendo e aprendo que essa  irritação pode estar relacionada tanto a questões físicas (alteração hormonal, cansaço, anemia, desequilíbrio no organismo, estresse mental), quanto a situações mais amplas (excesso de trabalho, descontentamento com algum fato específico, depressão, raiva de ações e planos frustrados...).
Não dormir o suficiente também pode causar, além da fadiga física, um estado de ânimo negativo nas primeiras horas do dia.
Tudo bem, tudo bem.  Estamos aqui falando do mau humor matutino.

Mas e aquelas criaturas que vivem despejando suas frustrações nos outros, seja pessoalmente ou por meio das redes sociais? Hein? Hein? Não creio que seja nada comigo - vai saber... - mas estão lá, nas postagens grosseiras, espirrando seu veneno feito dardos sem alvo certo.
Sim, porque tenho lido, muito por curiosidade, muito por desejo de seleção mesmo,  publicações de gente tão azeda e tão mal educada...(não vejo ou encontro essas pessoas nem por acaso, graças a Deus).  Qual a finalidade disso, criatura?

Em mim, esse descontentamento alheio tem o efeito contrário: começo a rir e o meu dia fica melhor, sabia?  Explico: se a pessoa já acorda tão injuriada, talvez sua vida não esteja boa ou não corresponda ao que ela quer, enquanto a minha vai muito bem, sem nada a reclamar, o que já me faz agradecida.

Novamente recorro aos meus "melhores amigos" escritores e poetas. Diz aí, Mário Quintana:
"O pior de nossos problemas é que ninguém tem nada com isso."


*               *               *

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Sakamoto, de novo...

Apenas dois trechinhos transcritos. Entre eles a xaropada de sempre de papo político que, pra mim, já encheu... 
Foto de Wesley Carlos Silva.

Encontrei, dia desses, uma manchinha escura na mão. Não, não é pereba ou algo do gênero. É marca do tempo ou, como ouvi uma vez minha avó reclamar, “tatuagem da velhice''. Daí, uma amiga sugeriu que eu usasse uns creminhos para dar uma guaribada no visual.

Poderia também tingir os cabelos brancos – que surgiram como testemunhas e hoje se juntaram em hordas a apavorar a maioria.
Mas nada mudaria o fato de que estou ficando mais velho.
Todos têm o direito de fazer o que quiser com sua aparência, mas – como já disse aqui – o meu conceito de envelhecer com dignidade inclui encarar as metamorfoses do meu corpo.
Afinal de contas, a mancha não é acidente. É vida mesmo.

Gostamos de fugir da natureza de nossos problemas, maquiando-os.
(...)

O ideal seria se, ao invés das maquiagens, encarássemos as marcas da desigualdade e da injustiça social. Pois, neste caso, as manchinhas não são inevitáveis como o envelhecimento ou marca de uma doença incurável. Mas um sintoma de que o organismo (no caso, a sociedade), anda doente.

Mas, aí, o pessoal que ganha com a venda de cosméticos vai fazer o que da vida?

*            *            *

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Um Editorial

Eternamente crianças
Editorial Revista Viver Bem – outubro  2007

Invista na qualidade do tempo que você dedica aos pequenos.

Os antigos eram sábios: faziam da cozinha o coração da casa.
Era pela porta da cozinha que os amigos entravam (a da sala era reservada às “visitas”).
Em torno do fogão era que acontecia a vida.
As alegrias tinham um sabor especial, um perfume de temperos, uma consciência preciosa, e eram servidas em pratos fundos, generosos, sobre a ampla mesa sempre coberta por uma toalha branquíssima, imaculada.
As tristezas viravam uma sopa suculenta, quente, que envolvia, acolhia, consolava.
Para as mães recentes se preparava uma canja “pedaçuda”, uma canjica fortalecedora.
Para os pequenos, ah, para os pequenos, sempre havia a mãe ou uma avó ou uma tia, com um avental comprido, pronta, disposta, com a mão na panela, para preparar alguma delícia.  Que variava entre pipoca (sentíamos o cheiro lá de fora), um pudim cremoso, gelatinas coloridas em copinhos, sorvetes no calor, chocolate quente no frio e sempre, sempre, uma fruteira coloridíssima, repleta de frutas, que pegávamos ao passar e saíamos comendo, um bolo fofíssimo que deixava a cozinha perfumada.
Elas nos deixavam bater a massa e lamber a tigela.
E conversavam, contavam histórias, nos davam atenção.

Difícil medir esse tempo em horas.

Minhas lembranças priorizam a qualidade.  Da proximidade, do carinho expresso em tantas e tantas pequenas ações, do ficar junto para montar um quebra-cabeça, do acompanhar a lição de casa, do preparar uma cesta de piquenique para passar o dia no parque, na praia; dos perfumes que vinham da cozinha em época de festas.
Essa qualidade ficou. Marcou. Estruturou.

Criança é um livro em branco e nós ajudamos a preencher as páginas. Que estas sejam da melhor qualidade.

*            *            *

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

SELTON MELLO se despede - sem imaginar que era para sempre - de CLÁUDIO CAVALCANTE


Foto: “Tirei esta foto em um dos dias de filmagem do grande Claudio.

Ele sempre ficava no fundo do corredor que levava ao camarim concentrado, estudando seu texto minuciosamente.

Um empenho notável, ele se debruçava sobre o trabalho com uma vitalidade que nos comovia diariamente.

Na altura de sua linda trajetória ele não estava ali fazendo mais um trabalho, ele tinha aquela paixão, aquele brilho nos olhos de um menino.

Para ele era como uma reestreia, viva, cheia de novas descobertas e tesão pela profissão.

Estava inteiro, vibrante, com uma saúde e uma memória invejáveis, um companheiro de trabalho adorável.

Ele estava muito feliz de estar ali fazendo um trabalho que o motivava, que o instigava.

Vendo os episódios prontos, depois que ele nos deixou, ficamos todos impressionados com as “coincidências” do que dizia e vivia como Otávio.

Vida e arte se misturando sempre.

Quando fui preparar a cena final do Theo nesse episódio de hoje, fui até a porta, olhei o quadro e então vi o sofá vazio.

Achei então que esse deveria ser o fim do episódio que não estava nos planos.

O sofá vazio, representando a perda do pai de Theo, Otavio representando a figura paterna do personagem do Zécarlos.

E agora a cena tomou outra dimensão à nossa revelia. Muitos outros significados se sobrepuseram ali.

Por fim, sinto que Claudio teve a oportunidade de se despedir com a grandeza que merecia, teve a fortuna de viver sua última expressão.

Como grande ator que foi, viveu sua última grande aventura emocional.

Perdemos um grande ator, e mais, uma grande pessoa.

Nobre de espírito.

A elegância que sempre permeou seus personagens vinha do homem elegante que era.

Obrigado Claudio, foi inesquecível para todos nós que convivemos com você nesse trabalho que você fez de uma forma memorável.

Nossa saudade e nossos aplausos”

Selton Mello

“Tirei esta foto em um dos dias de filmagem do grande Cláudio.
Ele sempre ficava no fundo do corredor que levava ao camarim; concentrado, estudando seu texto minuciosamente.
Um empenho notável, ele se debruçava sobre o trabalho com uma vitalidade que nos comovia diariamente.
Na altura de sua linda trajetória ele não estava ali fazendo mais um trabalho, ele tinha aquela paixão, aquele brilho nos olhos de um menino.
Para ele era como uma reestreia, viva, cheia de novas descobertas e tesão pela profissão.
Estava inteiro, vibrante, com uma saúde e uma memória invejáveis, um companheiro de trabalho adorável.
Ele estava muito feliz de estar ali fazendo um trabalho que o motivava, que o instigava.
Vendo os episódios prontos, depois que ele nos deixou, ficamos todos impressionados com as “coincidências” do que dizia e vivia como Otávio.
Vida e arte se misturando sempre.

Quando fui preparar a cena final do Theo nesse episódio de hoje, fui até a porta, olhei o quadro e então vi o sofá vazio.
Achei então que esse deveria ser o fim do episódio que não estava nos planos.
O sofá vazio, representando a perda do pai de Theo, Otavio representando a figura paterna do personagem do Zécarlos.
**

E agora a cena tomou outra dimensão à nossa revelia. Muitos outros significados se sobrepuseram ali.

Por fim, sinto que Cláudio teve a oportunidade de se despedir com a grandeza que merecia, teve a fortuna de viver sua última expressão.
Como grande ator que foi, viveu sua última grande aventura emocional.
Perdemos um grande ator, e mais, uma grande pessoa.
Nobre de espírito.
A elegância que sempre permeou seus personagens vinha do homem elegante que era.

Obrigado Cláudio, foi inesquecível para todos nós que convivemos com você nesse trabalho que você fez de uma forma memorável.
Nossa saudade e nossos aplausos”

Selton Mello

Foto: Último episódio do Otavio, uma sessão emocionante pela frente e a nossa homenagem ao Claudio Cavalcanti no final! Não perca, às 22h30, e conta pra gente: o que você leva do personagem? #SessaoDeTerapiaNoGNT

domingo, 24 de novembro de 2013

Papo furado nesse domingo nublado...


Fui preparar o almoço e comecei a retirar os ingredientes da geladeira.  Lembrei-me, então, de um dia desses em que fui ao mercado aqui perto de casa, um estabelecimento bem simples, acanhado mesmo, sem as novidades e modernidades dos supermercados nas cidades maiores aonde costumo ir com minhas filhas.

Por momentos esqueci-me de onde estava e fiquei procurando alguns produtos que não encontrava.
Até que fui à seção do açougue, onde me atendeu, como sempre, um senhorzinho - idoso, mesmo, mais que eu - sempre muito atencioso e gentil. Pedi peito de frango desossado... e ele disse que  não estava na vitrine porque chegara há poucos minutos e ainda teria que ser limpo.
Tudo bem.

Procurei por azeitonas sem caroços e o rapaz da seção de frios informou que a granel não tinha, mas que talvez encontrasse nas gôndolas onde havia a embalagem em vidro com as desejadas azeitonas descaroçadas.

Cheguei à seção de hortifruti e pensei em levar alguns legumes e/ou verduras já descascados e/ou picados (como a couve mineira já picada bem fininho). Não tinha. Só "in natura", com aquela terrinha nas raízes - produto natural, gente, da melhor qualidade! - para as verdadeiras donas de casa e não uma 'rastaquera' igual a mim, descascar e cortar/picar a seu jeito.

Reparei que o tal senhorzinho do açougue acompanhava, pelos cantos dos olhos, o meu passeio infrutífero (só agora vi o trocadilho, desculpem).

Aí, deu o "estalo". Caramba! A gente está ficando muito folgada e preguiçosa mesmo! Só queremos moleza!...

Meio sem graça, voltei ao açougue e, para não perder a viagem, pedi-lhe que preparasse uma porção de carne moída. Juro que senti uma ponta de ironia fina na voz dele quando me perguntou:
- A madame quer que passe pela máquina duas vezes?  


Xiiii... hahaha!!!

*            *            *

sábado, 23 de novembro de 2013

Gatos



O Gato e a Espiritualidade

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não topa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem.

Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago.

A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado.

É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem.

Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode, ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós.

Nada diz, não reclama. Afasta-se.
Quem não o sabe "ler" pensa que "ele" não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluídos, auras, fantasmas amigos e opressores.
O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.
O gato é um monge silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado.

O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção.

Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências.

Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga.
Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos.
Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata.
Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade.
Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias.
Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal.
Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular.
Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão.
Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra.
Lição de religiosidade sem ícones.
Lição de alimentação e requinte.
Lição de bom gosto e senso de oportunidade.
Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria, posta pelo mistério à disposição do homem.


O gato é um animal que tem muito quartzo na glândula pineal, é portanto um transmutador de energia e um animal útil para cura, pois capta a energia ruim do ambiente e transforma em energia boa, - normalmente onde o gato deita com frequência, significa que não tem boa energia.
Caso o animal comece a deitar em alguma parte de nosso corpo de forma insistente, é sinal de que aquele órgão ou membro está doente ou prestes a adoecer, pois o bicho já percebeu a energia ruim no referido órgão e então ele escolhe deitar nesta parte do corpo para limpar a energia ruim que tem ali. Observe que do mesmo jeito que o gato deita em determinado lugar, ele sai de repente, poi ele sente que já limpou a energia do local e não precisa mais dele.

O amor do gato pelo dono é de desapego, pois enquanto precisa ele está por perto, quando não, ele se afasta.

No Egito dos faraós, o gato era adorado na figura da deusa Bastet, representada comumente com corpo de mulher e cabeça de gata. Esta bela deusa era o símbolo da luz, do calor e da energia.

Era também o símbolo da lua, e acreditava-se que tinha o poder de fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos mortos. Nesta época, os gatos eram considerados guardiões do outro mundo, e eram comuns em muitos amuletos.

"O gato imortal existe, em algum mundo intermediário entre a vida e a morte, observando e esperando, passivo até o momento em que o espírito humano se torna livre. Então, e somente então, ele irá liderar a alma até seu repouso final."

The Mythology Of Cats -  Gerald & Loretta Hausman 




*            *            *

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

"Respeite ao menos meus cabelos brancos..." (Acho que é de Herivelto Martins))

Foto: Top e capa de revista!

Curta Miranda Sincera
Um elefante incomoda muita gente... 
mas o meu cabelo incomoda muito mais
(Angela escritora, no blog "Casos e cismas")

Inexoravelmente, sempre que vou ao Rio alguma amiga diz:
- Pinte seu cabelo! Mas por que não pinta?
Várias respostas passam pela minha cabeça:
- Não pinto, pois tenho medo do meu cabelo ficar feio como o seu.
- Sou nobre. Só os burgueses pintam cabelo.
- Tenho coisa mais interessante para fazer com meu tempo.
- Resolvi dar uma chance ao meu cabeleireiro que é Deus. Acho que ele fez um bom serviço com as orquídeas.
Dependendo de como o "pedido-ordem" é feito, desenvolvo o assunto. Pergunto por que a pessoa em questão pinta, a resposta sempre tem a ver com a aparência mais jovem.
Mas eu não quero aparentar juventude! Quero aparentar minha idade real!! ou será que se iludem achando que a tinta as fazem aparentar 18, ou 30 que seja?.
O cabelo branco não envelhece, gente! O que envelhece é o tempo!!!
Também rola a questão da aparência desleixada. Mas como sempre fui desleixada, nem te ligo farinha de trigo.
Será que me vendo com os cabelos brancos, além de acharem feio, ou por acharem mesmo ou por falta de costume, no fundo lembram-se dos seus próprios cabelos brancos e isso as aborrece?
Não sou como as belíssimas Julia Rodrix e Ivana Cury que sempre tiveram cabelos brancos.
Tive de me acostumar com eles. Não foi fácil, juro. Mas hoje, sinceramente, acho que combinam muito bem com as minhas rugas. Quando as enxergo, claro, já que preciso de vários óculos para ver o mundo.
Leio um fwd de um texto assinado por Martha Medeiros (por favor, não me mandem mais nada escrito por ela! eu acho tudo ruim e errado! aliás, como sempre há exceção, morri de rir com o texto de dois domingos atrás, arquiteto X pedreiro ) onde ela se exalta por aparentar juventude.

Podem estranhar mas é verdade: eu não quero não ter rugas, não ter cabelo branco, não ter flacidez ou celulite. Eu não quero emagrecer. Não tenho nenhuma intenção de ser imortal. Não quero ser jovem. Acho, inclusive, que aquela canção "Forever Young" seja mais uma praga do que um bom desejo.

Eu não tenho um retrato envelhecendo por mim no porão. Gosto das minhas gordurinhas. São simpáticas. Acho engraçadíssimo ter rugas no pescoço.
Afinal, eu vi o homem chegar à lua. Eu vivi os anos 70! James Taylor falou comigo e eu fui para Machu Pichu. Usei combinação embaixo do uniforme do colégio. Presenciei e fui contra a obra do calçadão de Copacabana. Discuti se mulher casada devia ou não trabalhar fora. Fumei e parei de fumar.Tive plano de expansão de telefone. Ri dos primeiros celulares. Fiz mestrado e doutorado. Publiquei livros e artigos. Tive dois filhos e um deles já tem cabelos brancos. Casei, descasei e voltei a casar.
Como eu poderia ter vivido tudo isso sem ter cabelo branco já que não sou índia?

Já li tanta coisa! Já vi tantos filmes! Eu estava no Maracanãzinho quando Vandré cantou Pra não dizer que não falei de flores!
E fui fã de Raul.

Então, faça o que quiser porque é tudo da lei.
Quem quiser pintar, pinte! Quem não quiser não pinte. Quem gosta de colorir tudo como uma arara, que o faça! Quem quer raspar, raspe! E chega de padrão! E viva a Liberdade!

*            *            *

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Aprendendo com os cães - Ioga

Da página HIEROPHANT
Aprendendo com os cães


Nunca deixe passar a oportunidade de sair para um passeio.

Experimente a sensação do ar fresco e do vento na sua face por puro prazer.

Quando alguém que você ama se aproxima, corra para saudá-lo.

Quando houver necessidade, pratique a obediência.

Deixe os outros saberem quando invadirem o seu território.

Sempre que puder, tire uma soneca e se espreguice antes de se levantar.

Corra, pule e brinque diariamente.

Coma com gosto e entusiasmo, pare quando estiver satisfeito.

Seja sempre leal.

Nunca finja ser o que você não é.

Se o que você deseja está enterrado, cave até encontrar.

Quando alguém estiver passando por um mau dia, fique em silêncio, sente-se
próximo e gentilmente tente agradá-lo.

Quando chamar a atenção, deixe alguém tocá-lo.

Evite morder quando apenas um rosnado resolver.

Nos dias mornos, deite-se de costa sobre a grama.

Nos dias quentes, beba muita água e descanse embaixo de uma árvore frondosa.

Quando estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.

Não importa quantas vezes for censurado, não assuma a culpa que não tiver e não
fique amuado... corra imediatamente para os seus amigos.

Alegre-se com o simples prazer de uma caminhada.

*        *        *

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Tentando acertar...


Aqui em casa tem dois pezinhos de pitanga que pela primeira vez estão dando frutos. Fiquei observando quando saíram as primeiras flores - muitas e lindinhas - e pensei: de que modo vou aproveitar essas frutinhas?
Quando finalmente apareceram as primeiras frutas maduras, colhi-as e pensei em fazer suco (como faço com as acerolas e meus netos adoram a delícia!). Não deu certo. Gosto muito forte, ácido, sei lá... ou eu não soube fazer.  
Agora encontrei na internet uma receita de geleia de pitanga. Vou tentar...

Bom demais esse tempo que posso dedicar a experimentos na cozinha. 
Sempre gostei de cozinhar mas não tenho "mão" para pratos doces.

*            *            *


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Momento...



Hoje é um dia difícil e ao mesmo tempo doce, embalado pela dor da perda recente e pelas recordações de toda uma vida.
Aniversário de nascimento do meu irmão Sérgio, falecido em 23 de abril deste ano.

Como eu disse tantas vezes, mais que irmão de sangue, o amigo de todas as horas. Crescemos, brincamos, passeamos, rimos e choramos juntos inúmeras vezes.
Por sermos os primeiros de uma irmandade numerosa, fizeram-nos responsáveis e modelos para os demais irmãos.
Numa época em que não se discutiam as decisões paternas, tentamos  - muitas vezes contrariando nossa maneira de ser - seguir as normas estabelecidas, calando dentro de nós os nossos projetos, as nossas expectativas, a nossa maneira de estar no mundo.
Sempre conversávamos sobre isso - os dois apenas - talvez para cumprirmos a contento o que esperavam de nós.

Estivemos separados por algum tempo - o internato (um para meninos, outro para meninas), aquele tipo de educação que pensavam nossos pais era o melhor - e aguardávamos o período de férias escolares para nos reconhecermos a cada etapa do nosso aprendizado, do nosso desenvolvimento físico, intelectual e emocional.

Crescemos assim, nos apresentando um ao outro, a cada semestre, com uma nova dimensão do olhar sobre a vida, mas sempre nos respeitando, sempre procurando entender as razões um do outro. E nos apoiamos, sempre, mesmo em nossas diferenças.

Perdi aqui, neste mundo,  meu único verdadeiro amigo.

Nossa amizade permanece no plano maior, onde certamente ele está em paz.

Agradeço, meu irmão, por esse tempo de convivência.


*            *            *

domingo, 10 de novembro de 2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Uma bela aula de Literatura Brasileira


vidas-secas-capaA voz dos excluídos na literatura: 
Vidas Secas e A Hora da Estrela
Nicole Ayres Luz , novembro 6, 2013
página "Homo Literatus"

Introdução
Este ensaio tem por objetivo analisar o modo como a personagem Macabéa, em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, marginalizada pela sociedade, é representada psicologicamente no romance, através da voz do narrador.
a-hora-da-estrela-capaSemelhante recurso já havia sido utilizado na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em que os membros da família de retirantes nordestinos, quase sem linguagem própria, adquirem a humanidade que lhes falta pelo método narrativo.
No entanto, Macabéa, transportada para o meio urbano, evidencia ainda mais o processo de exclusão cultural no Brasil, que muda seus meios, mas não sua essência.

A temática do desajuste
Personagens desajustados na sociedade encaixam-se perfeitamente no plano da literatura.
Esse é o caso de Fabiano (Vidas Secas) e Macabéa (A Hora da Estrela), que vivem “na aridez do sertão nordestino” e “no anonimato da vida urbana” (SILVA e BORGES, 2004), respectivamente. Segundo a classificação do crítico Antonio Cândido, Vidas Secas, de 1938, poderia ser inserido na “fase de pré-consciência do subdesenvolvimento”, enquanto A Hora da Estrela, de 1977, já se encontraria na “fase da consciência catastrófica do atraso” (CANDIDO, 2006).
Fugindo de idealizações românticas ou exotismos regionalistas, as duas obras expõem a situação de miséria e exploração dos migrantes nordestinos no Brasil, duramente; uma situação que não muda, apenas se transforma com o tempo, tornando-se cada vez mais sutil e cruel.

A família de retirantes de Vidas Secas vivencia o drama da falta: de um lar, de um futuro, de uma linguagem.
A constante ameaça da seca lhes impõe uma vida nômade, sem perspectivas, guiada pelo instinto de sobrevivência. Por isso, são eternos peregrinos, em um mundo em que não há lugar para eles.
Fabiano, o patriarca, é “um vagabundo empurrado pela seca” (RAMOS, 1938, p.19).
No entanto, quando a seca chega, devastadora, todos se igualam, todos perdem tudo, diferentemente do que acontece na cidade grande, em que os mais preparados, bem instruídos, espertos levarão vantagem na luta pela sobrevivência (do que, de fato, num plano mais ou menos profundo, sempre se trata a vida).
No sertão, o inimigo é a natureza; na cidade, o inimigo é o próprio homem.

Em A Hora da Estrela, Macabéa, alagoana que se muda já adulta com a tia para o Rio de Janeiro, causa pena, repulsa e revolta nos outros personagens, no narrador e no leitor.
Feia e desajeitada, alimenta-se de cachorro-quente com Coca-Cola, por ser barato, ganha menos que um salário mínimo e seus pequenos luxos consistem em pintar as unhas de vermelho e ir ao cinema uma vez por mês.
Sua condição de penúria é evidente, menos para si mesma:

E acontece que não tinha consciência de si e não reclamava nada, até pensava que era feliz (LISPECTOR, 1977, p. 69).

Nem se dava conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável. (IBID, p. 29)

Macabéa é vítima da manipulação alienante da mídia, pela Rádio Relógio, propagadora de cultura inútil, e pelos anúncios que coleciona, de produtos que não tem condições de comprar.
No meio urbano, o processo de marginalização é mais nítido e se utiliza de mecanismos mais sofisticados: há uma promessa ilusória de futuro, de melhoria de vida, como a premonição da cartomante.

Fabiano e Macabéa, nordestinos, “bichos da mesma espécie” (IBID, p. 43), sofrem, de modos distintos, a violência de uma existência invisível: “apesar de viverem em ambientes diferentes, caminham para o mesmo destino: criaturas anônimas, subumanas; condenadas a viver à margem do mundo que as cerca” (SILVA e BORGES, 2004, p. 3).

E são conformados: não contestam nada, por não saber como nem a quem e acham natural a exploração que sofrem.

[...] seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia. (RAMOS, 1938, p. 24)

[...] tudo que acontecia era porque as coisas são assim mesmo e não havia luta possível, para que lutar?” (LISCPETOR, 1977, p. 40)

Portanto, pode-se dizer que   “[...] sob nomes e conceitos diversos, prolonga-se a mesma realidade básica” (CANDIDO, 2006, p. 192).
Estagnados no tempo e no espaço, Fabianos e Macabéas permeiam nosso país e nossa literatura.

O sertanejo é antes de tudo um paciente. Eu o perdoo. (IBID, p. 66)

Mas A Hora da Estrela vai além da denúncia social para uma questão mais ampla, de ordem metafísica: Macabéa representa, no fundo, a miséria inerente a todo ser humano, que nunca é completo; há uma carência essencial que o define:
“[...] todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro — existe a quem falte o delicado essencial.” (IBID, p. 12)

Macabéa, Fabiano, narrador, leitor, são todos marginalizados, excluídos, desajustados, de uma forma ou de outra; todos compartilham, consciente ou inconscientemente, a mesma miséria.

A construção narrativa
Para expressar a situação equivalente de seus personagens, Graciliano Ramos e Clarice Lispector fazem uso de diferentes recursos expressivos.
Primeiramente, se a linguagem de Vidas Secas é seca como as vidas que retrata, econômica e regionalista, em A Hora da Estrela a palavra é pulsante, o discurso, verborrágico e fluido:
“Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira.” (IBID, p. 13)

Os dois narradores são cultos e culpados, aproximam-se e afastam-se de seus personagens progressivamente, procuram compreendê-los e sentem-se impotentes diante de sua situação:
“Ambos os narradores enfrentam a difícil constatação: a mesma palavra utilizada para narrar a história de suas personagens é a mesma que angustia Macabéa e Fabiano: dois seres condenados ao silêncio.” (SILVA e BORGES, 2004, p. 11).

A posição do narrador de Macabéa é ainda mais dúbia: ele a ama e a despreza simultaneamente, se opõe e se espelha nela.

Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco desta moça.  [...] Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela. ((LISPECTOR, 1977, p. 26-27)

Rodrigo S.M., narrador personificado, pseudoautor da história, é um escritor atormentado, que capta no “olhar perdido” de uma nordestina, em meio à massa urbana, a essência de sua protagonista.
Ele se sente na obrigação de escrever sobre ela, criatura quase desumana, que, no entanto, “tinha o que se chama de vida interior e não sabia que tinha” (IBID, p. 36).
Aos poucos, essa vida interior de Macabéa vai sendo desvendada, tanto para o narrador quanto para o leitor, que participa ativamente da construção da trama.
O narrador conversa com o leitor, faz suposições sobre ele, provoca-o, convida-o a compartilhar de suas reflexões.
O narrador mantém com seu interlocutor (seja ele Deus, o leitor ou Macabéa) uma postura ambivalente de identificação e afastamento. (FUKELMAN, 1995, p. 7)

Enquanto Vidas Secas apresenta um único enredo, ainda que fragmentado, em que o narrador acompanha a trajetória cíclica da família nordestina com um olhar distante e observador, em A Hora da Estrela podem-se identificar três enredos, que se misturam, se complementam e se fundem numa narrativa entrecortada: a história de Macabéa, as inquietações do narrador e o próprio processo da escrita.
A trama é interrompida a cada momento para explicações e questionamentos, sempre pertinentes, que ampliam a experiência de leitura.

Voltando a mim: o que escreverei não pode ser absorvido por mentes que muito exijam e ávidas de requintes. Pois o que estarei dizendo será apenas nu. Embora tenha como pano de fundo – e agora mesmo – a penumbra atormentada que sempre há nos meus sonhos quando de noite atormentado durmo. (LISPECTOR, 1977, p. 16)

Sendo assim, a metalinguagem e a ironia são peças-chave no desdobramento do texto.
Rodrigo S.M. discute o papel do escritor e da escrita, explicitando o processo de construção da obra; no fundo, um processo de autodescoberta.

Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. (IBID, p. 15)
Rodrigo narra Macabéa e a si mesmo, instaurando, desse modo, a mise-en-abyme ou o espelho narrativo.(IVAN, 2003, p.4)

A ironia é retirada da própria vida, e Macabéa é o mais evidente exemplo: tem uma vida nula e uma morte glorificada.
A morte é sua hora da estrela, o que dá sentido à sua existência parca.
A morte é seu renascimento, e, com ela, o texto nasce e renasce, refaz-se e desfaz-se.

A linguagem clariceana expressa um corpo textual/sexual que cava entrelinhas de carência e as preenche em excesso, na cumplicidade perversa existente entre a vitima e o algoz na cultura do capitalismo tardio. (ANDRADE, 1993, p. 2)

Rodrigo se responsabiliza por Macabéa e consegue enxergar-se nela.
No entanto, ele faz parte da sociedade que a reprime e usufrui dos confortos que ela não tem; portanto, não pode igualar-se a ela, o que não o impede de construir seu destino em paralelo ao dela.

Assim, uma pessoa rala e muda é recolhida pelo olhar arguto de um escritor desorientado que, conduzido pela palavra e desconfiando dela, dá uma forma e um destino a si próprio e à moça nordestina. (FUKELMAN, 1995, p. 10)

O poder da palavra
Evidentemente, a realização de todo processo narrativo só é possível graças à palavra.
Matéria-prima do pensamento e das ideias, a palavra constrói mundos humanos.
O narrador, dominador do discurso em ambas as obras analisadas, manipula a palavra para dar vida a seus personagens, que, em contrapartida, não sabem se expressar. Por isso, nem parecem humanos: assemelham-se a animais, objetos, seres inanimados; vivem num “estado permanente de reificação” (HELENA, 2001, p. 2).
Fabiano é “bicho”, Macabéa é “capim”, nenhum dos dois consegue desenvolver um pensamento e refletir sobre as coisas do mundo.

Pensar era tão difícil, ela não sabia de que jeito se pensava. (LISPECTOR, 1977, p. 54)

Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. (RAMOS, 1938, p. 84)

Isso contribui para a índole passiva dos personagens, que, sem a linguagem, ficam também sem mecanismo de defesa.
Então, o narrador propõe-se a defendê-los, a expor sua humanidade escondida por trás do véu da ignorância. Afinal, são humanos: sentem e sofrem, mesmo que calados.

O desajuste se faz presente mais uma vez por meio da inadequação da linguagem. Fabiano e sua família quase não falam, comunicam-se por gestos, sons, ruídos. Quando ele tenta reproduzir um falar mais culto, imitando Seu Tomás da bolandeira, acaba articulando frases soltas e sem sentido: “– Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.” (IBID, p. 27)

Macabéa, por sua vez, ou é calada demais ou fala demais, sempre fora de contexto, sem conseguir dizer o que quer e fazer-se entender: “– Você sabe se a gente pode comprar um buraco?” (LISPECTOR, 1977, p.49)

Ironicamente, Macabéa é datilógrafa e lida dia-a-dia com as palavras que não domina.
Ela escreve como fala e possui um vocabulário limitado, por isso é uma funcionária medíocre. Admira, porém, as “palavras difíceis”, que a deixam curiosa, mesmo que não compreenda seu significado.
Glória, sua colega, é estenógrafa, recebe um salário superior ao dela e posteriormente ainda rouba seu namorado.
Por possuir uma situação mais confortável (família, moradia, comida, conhecimento), Glória tem mais recursos para conseguir se virar nesse mundo-cão em que Macabéa perece.
Para Olímpico, o namorado em questão, rude e ambicioso, Glória representa certa ascensão social: ela é “material de qualidade” enquanto Macabéa é “subproduto”.
Numa sociedade capitalista, onde as pessoas são julgadas por aquilo que possuem e por sua produtividade, quem não tem voz para argumentar é esmagado pelo sistema.

Macabéa e Olímpico mantêm diálogos incoerentes e confusos.
Na verdade, tão ignorante quanto ela, o paraibano nunca sabe respondê-la e a impossibilidade de comunicação transforma-se em violência psicológica.
Incapaz de compreendê-la, ele a maltrata, a ofende, impiedosamente: “– Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer.” (IBID, p. 60)

Fabiano também se impressiona com a linguagem que não alcança, atribuindo a São Tomás da bolandeira o saber culto.
O patriarca não consegue reivindicar um salário mais justo, sabendo que o patrão rouba nas contas, assim como não consegue matar o Soldado Amarelo, personificação da figura de poder do governo, então se limita a obedecer.
Ele põe inclusive em questão o valor da palavra naquele meio agreste em que se encontra:
Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas. (RAMOS, 1938, p. 20)
Para Fabiano, bastava saber lidar com os animais, saber o seu serviço, estar pronto para qualquer desventura, ser forte, “duro como tatu”.
Ele não tem tempo para pensamentos elaborados. Por isso vive inconsciente de si, como Macabéa. 
A linguagem traz a consciência e a falta dela, o vazio.
Somente os narradores têm consciência de si e de seus personagens. Mas não podem salvá-los, não podem educá-los, não podem emprestar-lhes sua palavra, senão numa tentativa de desvendar sua humanidade latente e representá-la para o leitor.
Espaço tanto de introspecção quanto de denúncia, a palavra se inscreve no contexto literário como possibilidade de representação do mundo e do homem [...] (SILVA e BORGES, 2004, p. 1).

A busca por respostas
Além de lhe faltarem recursos para reivindicar condições melhores, Macabéa e Fabiano não sabem a quem reclamar.
Afinal, quem é o responsável pela situação desses nordestinos sofridos? A natureza, o governo, a sociedade, a vida, Deus, os próprios personagens ou ninguém?
Impossível encontrar os culpados diretamente. Por isso, talvez essa seja a grande questão que permeia, sutilmente, as duas obras.

A Hora da Estrela, em que o processo narratológico é mais explícito, pode mesmo ser considerado um livro-pergunta.
Rodrigo S.M. escreve em busca de respostas para suas reflexões e devolve essa responsabilidade para o leitor, que deve preencher o espaço deixado pela narração e pelos personagens.
Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. Trata-se de livro inacabado porque lhe falta a resposta. Resposta esta que espero que alguém no mundo ma dê. Vós? (LISPECTOR, 1977, p.10)
Até Macabéa não fazia perguntas” porque “adivinhava que não há respostas” (IBID, p. 26).

Essa é, na verdade, a aterradora conclusão: não há respostas; as palavras, o silêncio, nada é capaz de responder aos questionamentos do narrador.

Fabiano responsabiliza, então, o próprio destino: “Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim.” (RAMOS, 1938, p. 96)

Sem reação, sem acusações e sem respostas, essa realidade se perpetua, e as perguntas continuam em aberto.

Conclusão – Silêncio e esquecimento
Fabiano, patriarca da família de Vidas Secas, um “bruto, sim senhor” (IBID, p. 36) num meio desfavorável em que “tudo na verdade era contra ele” (IBID, p. 96) e Macabéa, protagonista de A Hora da Estrela, nordestina de “alma rala” e “vida murcha” que vive “fracas aventuras [...] numa cidade toda feita contra ela” (LISPECTOR, 1977, p. 15) são metáforas da miséria evidentemente exposta sem eufemismos na literatura de Graciliano Ramos e Clarice Lispector.
A sociedade tenta silenciá-los, mas os narradores lhes dão voz.
Ambos são parte de uma realidade que incomoda como uma “dor de dentes”.

Tanto Clarice Lispector, quanto Graciliano Ramos falam pelo silêncio de seus personagens. (SILVA e BORGES, 2004, p. 15)

Porém, “tudo começou com um sim” (LISPECTOR, 1977, p. 11).
Tudo começou com a quebra do silêncio e “[...] o desafio é dizer sim com Clarice Lispector, para continuarmos inventando o mundo” (FUKELMAN, 1995, p. 18).
Durante o processo de leitura, envolvido pela densidade da trama, o leitor também constrói a realidade desses personagens.
Mas, depois do fim, o que virá? Novamente o esquecimento? O leitor provavelmente deixará o livro de lado e prosseguirá sua “vida massacrante da média burguesia” (LISPECTOR, 1977, p. 31).
Algo mudou nesse processo ou Fabiano e Macabéa permanecem na mesma condição, sentenciados ao silêncio e ao esquecimento?
“Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.” (IBID, p. 87)

E o silêncio se restabelece, indefinidamente.
**


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. São Paulo: Editora Record, 1982.
LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: A educação pela noite, 2006.
ANDRADE, Ana Luíza. O Corpo-texto Canibal em Clarice Lispector. In: Anuário da Literatura I, 1993.
FUKELMAN, Clarisse. Escrever estrelas (ora direis). In: Prefácio da 23ª edição de A Hora da Estrela, 1995.
IVAN, Maria Eloísa de Souza. O Narrador, a Metalinguagem e o Espelho Refletido. In: Revista Nucleus, nº 1, 2003.
SILVA, Carlos Augusto Moraes; BORGES, Luciana. Entre o Silêncio das Palavras e as Falas do Silêncio. In: LINGUAGEM – Estudos e Pesquisas, vol. 4-5, 2004.
HELENA, Lucia. O coração grosso: migração das almas e dos sentidos. In: Alceu, v. I, n. 2, 2001.

*            *            *

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Texto de LEONARDO SAKAMOTO

E, de repente, aquele momento em que nada parece fazer sentido
Leonardo Sakamoto em 06/11/2013 

Uma das experiências humanas que me deixam mais fascinado é aquele momento em que nos sentimos como se tivéssemos descido do ônibus da vida, vendo o mundo passar do lado fora.
Normalmente isso acontece quando recebemos uma notícia que rompe nossa conexão com o restante dos passageiros e nos atira para fora da estrada.
É quando o tecido de lógica e sentido, no qual enrolamos e aquecemos confortavelmente nossa ignorância, se rasga. E todo o resto não importa mais.

Se esse ônibus vai pelo caminho certo, se chegará no horário ou irá se atrasar para além do normal, se por conta disso precisarei avisar alguém ou ficar preocupado com o chefe que certamente chiará, pois é chefe. Se ficarei fraco ao não comer, se não tomar banho me trará algum incômodo, se dar o calote nas contas me deixará na bancarrota, se abandonar minhas obrigações fará com que eu seja julgado, se falarão mal ou bem de mim. Se lembrarão de mim.

Daí, enchem sua caixa postal querendo uma resposta que você não está interessado em dar. Ou um rosário de mensagens apitam no seu WhatsApp, como se o mundo fosse acabar, mas você deixa o telefone se esgoelar.
As pessoas se sucedem à sua frente. O calendário também.
Por que as pessoas correm tanto? Para onde elas exatamente pensam que vão? Você olha tudo, mas não vê.

Enfim, dane-se.

É um término de relacionamento, a confirmação de que alguém próximo está muito doente, um aviso de despejo, uma carta de demissão, uma solene injustiça, uma ingrata constatação, a notícia de uma morte. Por alguns minutos, horas ou dias, dependendo de quão fundo se vai, é como se o resto fosse um grande filme narrado em sânscrito popular com legendas em aramaico.

Para além de ficar catatônico e inerte, a cabeça vai longe, pensando em todos os fatos que levaram àquele momento e, é claro, nos desdobramentos reais ou fantasiosos dele.
E nos apegamos a esse passado e a esse futuro porque nossa loucura parece ser a única coisa realmente sã em tudo aquilo.

Alguns, quando chegam a esse momento, autodiagnosticam depressão e, com medo do que a tristeza e a solidão podem mostrar, se entopem ou são entupidos de medicamentos ou buscam fugir. Fisicamente. Digitalmente.
Como se o processo de tentar compreender e aceitar uma mudança, que é um caminho que não se faz de ônibus, mas a pé, às vezes sob o sol inclemente, às vezes no frio e na chuva, fosse algo ruim.
As feridas não cicatrizam só porque as cobrimos com um paninho.
Quando se nega esses momentos, o crescimento que poderia decorrer da superação desse processo fica interditado.

Entender e não enterrar nos descaminhos da memória é fundamental, seja para superar dores, seja porque isso simplesmente faz parte da vida.
Não raro, nós temos as respostas para nós mesmos, bastando procurar. Em silêncio. Sozinhos.

Ficar sozinho, coisa que está cada vez mais difícil nesse mundo que passa veloz pelo ponto e não para. Diferente de solidão, que por conta da mesma velocidade, está cada vez mais comum.

Em tempo: Agradeço aos que enviaram mensagens perguntando se está tudo bem. Está sim, obrigado. O texto não foi motivado por um caso específico. Mas poderia ser. O fato é que devemos falar sobre certos assuntos em tempos de paz ou de guerra.

*          *          *

domingo, 3 de novembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

GANDHI



Eu não permitirei que ninguém caminhe pela minha mente com os pés sujos.

Mahatma Ghandi