quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pois...

"Ver que o ambiente universitário reproduz discriminações e estereótipos ao invés de combatê-los é lastimável. 
Mais ainda, ver que professores universitários, com seus vários títulos de doutores e PHDeuses, contribuem para esse quadro é algo que beira o ridículo. 
Felizmente, as discriminações em Coimbra e na UC não são regra geral, apesar de frequentes, e evidência disto é o fato de brasileiros e portugueses se juntarem no combate às opressões."


Alunos relatam xenofobia em Universidade portuguesa
Jornal UOL, 30 de janeiro de 2014

As fotos de cartazes exibidos na Universidade de Coimbra, em Portugal, fazem parte de uma campanha de denúncias de casos de discriminação e xenofobia surgidas durante as eleições para a Associação Acadêmica de Coimbra, em novembro de 2013. 
A chapa Lista R - AAC, composta por estudantes portugueses e brasileiros, tinha como principal bandeira a luta contra discriminações dentro e fora da Universidade de Coimbra. 
"O objetivo era fazer com que as pessoas, ao lerem os cartazes, se dessem conta do quanto alguns comentários, que às vezes não passam de brincadeiras, são ofensivos e refletem o quanto os preconceitos estão enraizados na cultura".


Imagem 1/13: "Os brasileiros e os pretos deviam todos morrer".
A frase, segundo o cartaz, estaria escrita em uma carteira da Fluc (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), em Portugal.

Imagem 2/13: " 'O que é isso' nada! Calas a boca ou levas umas bofetadas". 
A frase, segundo o cartaz, foi dita por um jovem português, depois de cuspir no rosto da mulher que segura o cartaz.


Imagem 3/13: "Mesmo com toda xenofobia, Coimbra é bem melhor do que São Paulo, não é? Minha resposta: não".
A frase, segundo o cartaz, foi dita por um professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Imagem 4/13: "As mulheres portuguesas têm muito valor no mercado internacional. Vamos exportá-las para a Índia e para a China e ficamos só com as jeitosinhas".
A frase, segundo o cartaz, foi dita por um professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Imagem 5/13: "A sedentarização começou com a domesticação do gado, nomeadamente, o porco, a vaca... e a mulher". 
A frase, segundo o cartaz, foi dita por um professor da Universidade de Coimbra.

Imagem 6/13: Mulher denuncia "assédio moral e sexual vindo de um professor da FLUC (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Portugal), marcada por piadas machistas e comentários sexistas" através de cartaz.


Imagem 7/13: "Burro! Aprenda a falar/escrever o português direito".  "Tudo isso porque sou brasileiro".


 
Imagem 8/13: " 'Mas você é brasileira!' Quando recusei uma investida sexual".

Imagem 9/13: "Fui convidado a me retirar do Rock Planet (casa noturna em Coimbra, Portugal) por beijar um homem".


Imagem 10/13: "Sabe o que brasileira fala quando vai tirar foto? Pênis. Depois ele sorriu ironicamente".


 Imagem 11/13: " 'As alunas brasileiras precisam cuidar o comportamento, caso contrário, reforçarão o estereótipo de prostitutas, putas ou fáceis'. Conselho de uma professora". 
A frase exposta teria sido proferida por um colega do curso de português da Universidade de Coimbra, em Portugal, para alunas brasileiras.

Imagem 12/13: "A vós o que cabe é voltarem para vosso país.É isto (Vídeo de violação)  que vocês merecem!". 
A frase exposta teria sido proferida por um colega do curso de português da Universidade de Coimbra, em Portugal, para alunas brasileiras.


Imagem 13/13: "E aí, garota... És garota de programa?". 
A frase exposta no cartaz teria sido proferida por um professor da Universidade de Coimbra, em Portugal, que "adora imitar o sotaque brasileiro (e falar asneiras)".


Notinha: Não consegui trazer todas as fotos dos cartazes, mas estão lá...no Jornal UOL
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ah, essa Miranda...

Foto: Acredita, darling... acredita...

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Foto: Mundo das modas...

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Foto: Apenas isso!


Foto: Um tapinha não dói?

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Psicologia...

Boa Mãe
Márcia Neder Bacha - psicanalista

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e ela sempre me soou estranha. Até agora. Agora que minha filha adolescente, aos quase 18 anos, começa a dar vôos-solo.
Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso.
Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.

Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa isso. Ser 'desnecessária' é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes.Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.
A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.
Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família recomeçam o ciclo.
O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.

Ao aprendermos a ser 'desnecessários', nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.
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Márcia Neder Bacha é psicanalista e pesquisadora da UFMS e da USP/NUPPE. Doutora em Psicologia Clínica e autora de "Psicanálise e Educação – Laços Refeitos" e "A arte de formar: o feminino, infantil e o epistemológico."

domingo, 26 de janeiro de 2014

Marisa Monte - "Pale Blue Eyes"



Delícia de som neste domingo.
Aí, novinhos!  Há 20 (vinte!) anos...
Música boa é assim.

Pale Blue Eyes
written by Lou Reed - 1968

Sometimes I feel so happy
Sometimes I feel so sad
Sometimes I feel so happy
But mostly you just make me mad
Baby you just make me mad

Linger on, your pale blue eyes
Linger on, your pale blue eyes

Thought of you as my mountain top
Thought of you as my peak
Thought of you as everything
I've had but couldn't keep
I've had but couldn't keep

Linger on, your pale blue eyes
Linger on, your pale blue eyes

If I could make the world as pure and strange as what I see
I'd put you in the mirror I put in front of me
I put in front of me

Linger on, your pale blue eyes
Linger on, your pale blue eyes

Skip a life completely, stuff it in a cup
She said money is like us in time
It lies but can't stand up
Down for you is up

Linger on, your pale blue eyes
Linger on, your pale blue eyes

It was good what we did yesterday
And I'd do it once again
The fact that you are married
Only proves you're my best friend
But it's truly, truly a sin


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Indignação


Infelizmente, hoje, ao abrir o facebook deparo-me com a publicação do depoimento emocionante de uma amiga:

"Ontem tive o desprazer de presenciar a mais absurda e descarada violação de um dos direitos básicos das mulheres: o de denunciar e registrar na delegacia de polícia um episódio de agressão física perpetrada pelo companheiro. 
Acompanhei uma amiga que foi agredida pelo marido à DP e estou até agora impressionada e chocada com a atitude dos policiais civis, que tentaram coagir a vítima a não efetuar o registro da ocorrência com os argumentos mais misóginos possíveis, gritando com minha amiga, a chamando de mentirosa e dizendo que ela "estava fazendo aquele circo todo, mas que, em 3 dias, já estaria na cama com o marido". Esses abusos duraram quase uma hora, até que, finalmente, o policial resolvesse registrar a ocorrência. E continuaram durante a colheita de depoimento da minha amiga, com o policial, a todo momento, fazendo comentários depreciativos e sexistas. 
Minha amiga, apesar de sua aparência frágil e delicada, mostrou ser uma fortaleza. Foi firme, decidida, não se deixou abalar por tamanha truculência e ainda manteve a ternura. Jamais teria essa sua força. 
Escrevendo isso agora, finalmente consigo chorar. Choro por minha amiga, tão linda, tão cheia de luz e tão forte na sua delicadeza. Choro por mim, que, em dado momento, pensei que ia ser presa por desacato. Choro pelas outras duas amigas que também foram conosco à delegacia e que também sofreram humilhações apenas porque estavam sendo solidárias. Choro por todas as mulheres vítimas de violência, sejam essas físicas ou sexuais, e que são tratadas pelos "agentes da lei" como marginais e indivíduos de segunda categoria. 
Choro por ter sentido na pele que o coronelismo ainda é extremamente forte na nossa região. Choro por constatar - logo eu que abracei o Direito como profissão - que leis são perfeitas no papel, mas só se aplicam às classes mais baixas. Os privilegiados, os politicamente influentes, ainda são quase que inatingíveis. 
Choro pelos homens e pelas mulheres do nosso tempo, porque vivemos num mundo em que ser homem, branco, hétero e de família abastada ainda é garantia de impunidade. Isso é triste. Isso é uma vergonha para todos nós."

Deplorável, inconcebível o comportamento dos policiais dessa delegacia - justamente quem deve se empenhar pelo cumprimento das leis - numa demonstração clara da inércia e da certeza de impunidade nas instituições deste país.
Pedi permissão para compartilhar sua indignação e o fiz. Não é possível que outras mulheres - e homens também - não se mobilizem, mesmo que por meio de rede social, para que o episódio não se multiplique, não se torne comum.
Não importam os motivos, não importa a situação, já não é mais possível tolerar ou fechar os olhos para a questão da violência física ou psicológica contra a mulher.
E a questão nem é somente essa.
O problema é amplo, abrangente. É o desrespeito e descumprimento a leis já estabelecidas, é a perpetração do sentimento da suposta superioridade masculina, é a violência - sob qualquer ângulo - como solução para os problemas humanos.
Humanos somos, necessitando urgentemente aprender a resolver nossos conflitos com Humanidade.

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sábado, 25 de janeiro de 2014

O lado "criança" ...


Acordei hoje pensando nas tarefas da casa que tenho para cumprir.
Depois, fui cuidar do cachorrinho da Letícia ( o Nick está aqui há um mês!); vim para o computador para saber do noticiário (o mesmo de sempre...) e, de repente (juro!), não sei por quê, lembrei-me da cena deste filme (ri muito na época e ainda acho muita graça). É meu lado infantil, uai!
kkkkkk!!!!!



"A vida se move muito rápido. Se você não parar e olhar em volta de vez em quando, você pode deixá-la passar."

 (Matthew Broderick, no filme Curtindo a Vida Adoidado - 1986)


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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Mais um registro de "vó"


Minha netinha de 9 anos passou uma semana aqui em casa e o post aí em cima é em sua homenagem.
Ela adora essa música, com letra do Chico Buarque na interpretação da Adriana Calcanhoto. 
Quando ela vem aqui sempre curtimos o vídeo no youtube e ela dança lembrando o aprendizado de balé na escola, com a postura de uma bailarina mesmo. Uma graça!

Sempre conversamos muito - ela é tagareeeela!... não sei a quem saiu... hahaha!. Tem umas tiradas geniais, como aquela da palavra "patética" (quem leu o post "Vocabulário na família", de novembro 2012 vai se lembrar...).

Pois bem, estávamos conversando sobre assuntos diversos, quando surgiu o tema "Deus" - hum, vamos lá...- e ela se mostrava confusa. 
Tentando tranquilizá-la, eu disse que é legal respeitar as crenças e costumes das pessoas no mundo todo - pois são bem variadas, crenças e pessoas - e que não se deve impor aos outros a nossa religião ou não religião, nem achar que esta é a única maneira certa para seguir na vida. 
Todo mundo deve ser livre para escolher o seu modo de viver.

Continuei dizendo que mesmo sem ir à igreja a toda hora, devemos ser pessoas do bem, de bom caráter,  essas coisas que toda "vó" fala.  
E completei: não precisa ser  "carola" (usei essa palavra, esquecendo que muita gente adulta desconhece termo tão antigo, imagine uma menininha de 9 anos!) .     
Ela me olhou com aquela cara mais linda do mundo e, para encerrar a conversa que estava ficando chata, sapecou:

- Mas vó, eu não sou molho de tomate!

Vejam só! Não é que a espertinha já sabe usar o humor fino? kkkkkk!!!


Olha a lindinha aí!...


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"As moças literatus" - e as velhinhas literatus também...

Quando digo que a internet me diverte...
Visitando a página "Homo Literatus" encontro esta crônica sobre moças que leem. Gostei e gostei também do comentário de um dos leitores, aliás outra crônica engraçadinha.  
Conferindo:

leitoras
As moças literatus
Davidson Davis - in "Homo Literatus", 17 de janeiro 2014

Simpatizo com o Eduardo Sampaio, o Edu, protagonista de “As pernas de Úrsula e outras possibilidades”, da Claudia Tajes. Logo nas primeiras páginas do divertido romance, ele confessa:

“Naqueles dias, bastava a mulher estar com um livro na mão que eu me apaixonava. Podia ser no ônibus, na praia, na rua, na chuva, na fazenda, no intervalo das aulas, na fila do banco, se a mulher estivesse lendo, eu certamente me aproximava. E dependendo do que ela lia, eu namorava, ficava noivo, casava, fazia bodas de ouro e era enterrado na mesma gaveta. Qualquer leitura me parecia sexualmente atraente, naqueles dias. Mais vendidos, menos vendidos, Manequim, livro de culinária, almanaque de farmácia, Veja, manual de etiqueta. Gibi não, que eu sempre fui um antipedófilo convicto.”

Mulher lendo um livro sempre considerei de um charme, e de uma classe (não vale ser no Kindle). Duas paixões unidas. Presto atenção ao ar de compenetradas, na forma como viram as páginas, na expressão quando encontram uma frase que a deixam em êxtase, quando prendem a respiração ou suspiram, ressaltando o busto, e, sobretudo, quando cruzam ou descruzam as pernas. 
Causam em mim o mesmo efeito que as moças, da longínqua década de 70, causavam nos rapazes quando, com certa dose de malícia, levavam à boca um cigarro. 
Cada um com o seu fetiche.

Os novos metrôs aqui no Rio, em que se pode perambular por todos os vagões, de uma ponta a outra, são ótimos para saber o que as moças estão lendo. 
Houve uma época que parecia que os únicos livros existentes eram os da trilogia dos “50 Tons de Cinza”, da E L James. Fiquei pensando se eu poderia ser o Christian Grey delas. 
A regra não valia para as senhoras, que também devoraram os romances. Sidney Sheldon e Agatha Christie também bombam.

Mas, às vezes, dá até vontade de ser o próprio livro, de tão gracinha que a moça é. 
Já vi umas lindezas lendo “No caminho de Swan”, do Proust; “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do Machado. Teses de mestrado. Salvem a professorinha! Sartre, Hemingway, Borges, Faulkner, Clarice. Como resistir? 
Morro de amores por leitoras de poesias (Drummond, Pessoa, Leminski, Rimbaud, Baudelaire). 
Em geral, meninas lendo “On the Road” são uma viagem e tanto; Bukowski, porras loucas; Fitzgerald, notas de jazz. Anaïs Nin, dada a novas aventuras; Cortázar, com uma imaginação poderosa. 
As possibilidades são imensas. Há leitoras para todos os gostos. A leitura é um afrodisíaco e tanto.

Uma vez, há 13 anos, pelos meus cálculos, um livro do Paulo Coelho, “O Diário de um Mago”, foi o modo que encontrei para me aproximar de uma mocinha. Deu certo, deu certo. 
Pode ser que seja preconceito meu, mas descobri que é melhor evitar certos tipos de leitoras. Por exemplo, fujo das autoajuda e das meninas que lerem livros sobre como encontrar o Príncipe Encantado. Esse eu sei que não sou. 
Livros religiosos que tenham algo de fundamentalista e moralista podem indicar um abismo tão grande entre a minha visão de mundo e a da dita cuja que poria fim a qualquer relacionamento amoroso.

Outro dia uma menina lia “O Segundo Sexo”, da Simone de Beauvoir. Ela tinha um jeito todo especial, difícil de explicar. Cabelos Chanel, óculos de lentes grossas, vestido preto, com bolinhas brancas, uma bolsa vermelha, da mesma cor dos sapatos e do cinto que emolduravam a cintura. 
O livro era uma edição antiga, um tanto amarelada, – só consegui ler o título quando ela o levantou um pouco para fazer uma anotação com um lápis nº 2.
Ela virava as páginas com uma espécie de pureza e ternura. Meu coração ficou aos pinotes.
A paixão tinha me pegado. Vagou um lugar ao seu lado. 
Mas foi só minhas nádegas tocarem o assento que produziu um efeito gangorra, como as leis universais de causa e efeito, fazendo a moça levantar-se no mesmo instante, num sincronismo de comédia pastelão. Eu caí na gargalhada. 
Não foi desta vez!

Mas o mais importante é não se aproximar, em hipótese alguma, de uma moça que tenha como livro de cabeceira “O pau”, da Fernanda Young. O livro é do cacete, literalmente, mas a moça pode ser muito, muito perigosa.
***

One Response to “As moças literatus”

Adolfo 
janeiro 17, 2014 at 5:35 pm

Você não é o único.
Quando alguns amigos começam a pontuar o que mais apreciam em uma mulher, dentre seios empinados, bundas polpudas e lábios úmidos (de saliva ou de lubrificações), eu sempre me ponho à frente e digo: “não há nada mais excitante que uma intelectual”. Me escarnecem, mandam-me pro inferno, dizem que com um livro não se trepa.

Sério. Eu tenho uma amiga que é assim, como o artigo relata. 
Na verdade, ela é esposa de um grande amigo meu. Mea culpa, ó, que filho da puta eu sou. 
Não importa, na verdade, de quem ela é esposa; sim o que ela é: leitora voraz (de livro físico e de Kindle), professora de literatura, filósofa nas horas vagas, mãe de dois filhos, balzaquiana mais cinco. Não é nem o padrão inacessível de beleza, tampouco tem uma vistosidade que dê inveja às outras. 
No entanto, quando começa a falar de Goethe, ou a espontaneidade com que cita Sófocles, ou, ainda, quando diz que prefere Cecília Meirelles a Clarice Lispector, meu amigo, nada me deixa mais ereto.

Ela gesticula com uma formosura, aponta passagens com que se deleita, e uma vez, entre amigos, declamou um poema do Boca do Inferno, que tenho de dizer: eu queria aquela boca no meu ouvido.

Às vezes, eu e seu marido conversando, ela ficava a um canto, folheando um romance, terminando um último capítulo, os olhos atentos, a concentração lancinante dentro das minhas roupas.

Me despedi dela para sempre num dia em que ela mencionava o amor que sentia por Hilda Hilst. 
Não resisti quando ela mencionou a obscena senhora D, as safadezas da Lori Lamby, as cartas do sedutor. 
Um pouco que meu amigo se retirou, corri até ela, dei-lhe um beijo na boca que dois segundos duraram. Nisso senti seu amor por Hilda dissolvendo o meu paladar. 
Foda-se o amigo, foda-se o pensamento dela em relação a mim.

Nada disse, nunca mais a vi; não a amo, mas jamais a esqueço. 
E toda vez que eu toco num livro da Hilda, caralho, como eu queria que meu amigo virasse fumaça.
***


Não resisti e comentei:

É... as duas crônicas - o comentário de Adolfo é uma bela crônica também - me deixaram pensativa. Certeza de que sou uma "velhinha literatus", mas acho que andei com a turma errada...agora é tarde. Sempre gostei de ler e não tinha (não tenho) com quem comentar em viva voz. Também não fui paquerada (hum, ainda se usa esse termo?) por ter sido moça literatus... É... não encontrei minha turma...

*            *            *

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

"Véia" chata...


Estou aqui meio tonta, procurando entender certas coisas... puxa, na minha idade ainda procurando entender certas coisas?  Pra quê? Eu, hein! Deixa quieto.

Pois é. Eu estava lendo umas coisas de uma escritora contemporânea, jovem ainda (talvez uns 40, 42) e que escreve muito bem, sim. É, escreve bem, tem boas ideias mas...Ai, meu Deus, como sou enjoada e crítica...

Vamos lá: a moça é jornalista, escritora e poeta ponto. Livros publicados ponto. Agrada geral ponto. Então?
Há fotos suas em todas as publicações. Fotos profissionais, numa "parceria" com um fotógrafo que sabe fazer milagres, porque bonita ela não é... mas faz-se.
Ultimamente tem feito fotos que pretende sensuais...e quase são. Exposição exagerada sem ter muito o que exibir. Não se trata só de marketing. Muito, muito narcisismo. Apaixonada por si mesma, bom, né? Uma autoestima elevadíssima! (ô, invejinha...).

Isso me fez lembrar o episódio da nudez de Preta Gil, quando, na época, perguntaram a seu pai, Gilberto Gil, o que ele pensava daquilo e sua resposta foi direta, lacônica: "Desnecessário".

É o que penso sobre a exposição pretensamente sensual nas fotos dessa escritora que se diz otimista, de bem com a vida, espiritualizada e coisa e tal... e eu digo: desde que não a contrariem. Acho mesmo que a vida a tem contrariado muito.  Desenvolveu um mecanismo para driblar a contrariedade: afirma o contrário - tudo é lindo, precisa sorrir para tudo - desde que fotografada - usando a habilidade com as palavras para mostrar que é superior a tudo isso. Desencantei.

Sua escrita está se modificando sem perder a técnica. Ela é boa escritora. Isso é.

Sei não...acho que gostava dela antes dessa sensualidade explícita.  Não costumo ser falsa moralista, mas vai saber... Velhice faz cada coisa...

"Essa moça tá diferente...."  e acabou ficando igual a tantas outras.

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Filme da tarde - Um documentário

Já disse aqui, muitas vezes, que tenho minhas restrições quanto à programação de TV; prefiro assistir a filmes ou programas de entrevistas. 
Ontem liguei a TV mais para ter um som de vozes na casa - faço isso às vezes... 
Estava no Canal Brasil que assisto sempre. Ao ouvir um depoimento em linguagem simples mas correta e olhando a imagem de uma pessoa comum, interessei-me pelo programa. 
Gostei tanto que procurei na internet e encontrei dois textos sobre este documentário. Aí estão. Vale a pena. 
***
Edificio Master
A uma quadra da praia, um edifício grande, de janelas largas, como tantos outros de Copacabana, tornou-se um endereço famoso. 
O Edifício Master, na Rua Domingos Ferreira 125, foi cenário do documentário homônimo do cineasta Eduardo Coutinho. 
Produzido em 2002, o longa apresentou histórias de 37 moradores do prédio. 
Revelar como cada personagem conduzia sua rotina nos conjugados espalhados por enormes corredores rendeu ao filme premiações em vários festivais nacionais e internacionais de cinema.
Queríamos um prédio assim, gigantesco, que, como qualquer lugar cheio de gente, reúne realidades muito diferentes. Todos vivem perto uns dos outros, mas, em sua maioria, são solitários — analisa Coutinho, dez anos depois.
E como vivem essas pessoas hoje? 
De volta ao mesmo lugar, o cenário é outro. Nos corredores, agora claros e ventilados, passam poucos moradores da época do filme. Esses personagens guardam com carinho lembranças das gravações e alguns ainda são reconhecidos nas ruas.
A fachada gradeada continua a mesma, mas o interior demonstra que o tempo passou e as coisas mudaram — para melhor. 
O Master, que durante muitos anos ficou conhecido como um edifício no qual a confusão batia ponto, virou um lugar calmo e cheio de regras. Uma televisão de 42 polegadas instalada na portaria exibe imagens de todas as áreas comuns do prédio.
O filme mostrou o homem que é responsável pela mudança: o síndico Sérgio de Carvalho. Na função desde 8 de abril de 1997 (data enfatizada no longa e na entrevista dada ao GLOBO-Zona Sul), o administrador sintetiza sua gestão com a frase “Eu vou de Piaget (pensador), e, quando não funciona, parto para o Pinochet (ditador)”.
A ironia do destino é que nunca pensei que viraria síndico. Sou há 15 anos, em tempo integral — diz Carvalho, orgulhoso.
Após o sucesso do filme, pesquisas de professores e universitários do Rio e de outros estados passaram a fazer parte da rotina do Master. No entanto, grande parte dos 37 moradores mostrados no longa não mora mais ali. Em dois dias de visitas ao condomínio, a equipe de reportagem encontrou apenas seis deles.
Responsável pela pesquisa do filme e autora do livro “O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo”, Consuelo Lins lembra que a equipe de produção alugou um apartamento e batia de porta em porta em busca de boas histórias.
No começo foi muito difícil, as pessoas estavam desconfiadas e não encontrávamos personagens interessantes. Nossa impressão era que o filme seria insuportável — revela Consuelo.
No mesmo ano, “Edifício Master” ganhou o Kikito de Ouro de melhor documentário do Festival de Gramado e se tornou uma referência.
O maior mérito do filme foi ter mostrado que cada morador inventou meios para escapar do cotidiano difícil — diz Consuelo.

Como eram e como estão os outros personagens:

José Carlos e Dalva: juntos e felizes
Para receber a equipe de Coutinho, o contador José Carlos e sua mulher, Dalva, prepararam uma pequena tábua de frios. Ele estava desempregado e disse que faria bicos para pagar as dívidas. Moravam há poucos anos em Copacabana, e ele contou que se sentia discriminado pelos amigos da Zona Norte: “Acham que, por morar aqui, sou rico.” Hoje, o casal continua firme e forte, e completou 20 anos de união. A cadela Aretha Franklin ainda faz companhia aos dois. José Carlos se lembra do cigarro de Coutinho sempre aceso e da festa que marcou o fim das gravações. Administrador de um escritório de advocacia, diz que vale a pena viver em Copacabana, onde fez muitas amizades: “Saio do metrô e demoro horas para chegar em casa.”

Lúcia: ‘Muitas pessoas me reconheciam na rua’
Nascida e criada no prédio, Lúcia abriu, para as lentes de Coutinho, o pequeno apartamento no qual vivia com a companheira Rita e a mãe. Sorridentes e levemente inibidas diante das câmeras, elas falaram da rotina a três. Feliz, Lúcia conta, no filme, que Rita havia começado a cozinhar e a ajudar em outras tarefas domésticas. De lá para cá, sua vida mudou muito. O conjugado foi reformado, seu relacionamento com Rita acabou e, há oito anos, vive com outra companheira. Sua mãe morreu em 2006. Abordada pela equipe do GLOBO-Zona Sul, prontamente aceitou conversar sobre o filme.“Foi muito bacana, as pessoas me paravam na rua para perguntar se eu era a Lúcia do Edifício Master”, diz, com saudade.

Suze: ‘Só quero saúde para ser feliz’
Nascida em Salvador, Suze morou em São Paulo antes de fixar raízes por aqui, em 1982. Seu depoimento no filme é marcado por histórias relacionadas à profissão de dançarina, que a levou a morar no Japão. Ela viveu um ano do outro lado do mundo, onde também cantava. Após hesitar por alguns instantes, arrisca uma canção em japonês. Depois de viver com um alemão, dizia estar muito feliz, afirmando que não desejava outro homem por não querer mais problema. Hoje, demonstra a mesma tranquilidade de dez anos atrás. Cantar e dançar? “Só para mim e meus amigos”, avisa. O que não mudou foi sua paixão pela vida: “Só quero saúde para ser feliz.”

Carlos: Dias mais solitários
Em 2002, Carlos e Maria Regina completavam um ano de casamento. Mais reservado do que sua companheira, ele a deixou falar sobre a convivência do casal. O documentarista foi logo ao ponto: “Vocês se gostam?”. Carlos acenou a cabeça de maneira positiva, mas Maria Regina surpreendeu ao dizer: “Já gostei mais!”. Em seguida, ela confessou que havia tentado se jogar da janela durante uma briga. A entrevista seguiu, eles afirmaram que estava tudo bem e Carlos decretou: “Nós não prestamos, mas nos amamos.” Hoje, aos 87 anos, é um homem solitário. O relacionamento chegou ao fim em 2004. Da época do filme, o torcedor do Bangu guarda o hábito de frequentar a praia. E diz, de forma lacônica, não esperar mais nada da vida.

Maria do Céu: As gargalhadas continuam
Moradora do Edifício Master desde os 22 anos, Maria do Céu levou aos espectadores as lembranças de antigos dias do condomínio. Ela falou sobre as constantes brigas que aconteciam entre prostitutas: “Era uma baderna.” Hoje com 75 anos, Maria do Céu continua com o sorriso fácil. “Nas gravações, era um monte de gente na minha casa e um clarão horroroso no meu rosto. Sem falar que todo mundo ficava calado. Eu não me aguentei e disse ‘ninguém vai falar nada, não?’. Depois, caí na risada.” Não lhe faltam histórias sobre o prédio. “Já vi algumas coisas esquisitas serem arremessadas e um homem descer por uma corda. Mas Sérgio conseguiu acabar com a bagunça.”

Várias histórias inesquecíveis
Boas histórias foram mostradas por Eduardo Coutinho e sua equipe em “Edifício Master”. Com o passar dos anos, alguns moradores se mudaram, outros morreram. Mas todos se tornaram personagens inesquecíveis.

Em 2002, o aposentado Henrique de Moura era viúvo há seis anos. Fã do cantor Frank Sinatra, todos os sábados ele ligava o som no último volume para que os vizinhos escutassem “My way”, canção que, segundo ele, sintetizava sua vida. 

O ex-jogador de futebol Paulo Mata atuou em alguns times do Rio, como Bangu e Bonsucesso, e partiu para o exterior, exibindo seu talento no México, na França e nos Estados Unidos. Virou treinador, mas abandonou a profissão após ficar nu para protestar contra o resultado de uma partida.

A jovem Cristina Wittenstein morava com o filho Lucas. A gravidez inesperada não foi bem recebida pelo pai, e, desde os 18 anos, ela vivia no Master. “No princípio, eu odiava este prédio, achava claustrofóbico. Mas hoje eu gosto, é um bom lugar, é a minha casa”, disse.

Fernando Ferreira, o Careca, falou de seu bom relacionamento com vizinhos. Na época com 73 anos, o ex-dublê contabilizava mais de 30 novelas e filmes no currículo, que foi finalizado após um acidente.

Daniela Gasparini morava sozinha com três gatos. Ela se denominava “sociofóbica” e cheia de neuroses, dizendo que o excesso de pessoas nas ruas de Copacabana a incomodava. Em poucos momentos ela olhou para as câmeras, afirmando não ter confiança para encarar Coutinho. 
Apesar da timidez, mostrou um quadro e um poema escrito por ela em inglês.

Alessandra de Souza Alves, que tinha 20 anos, assumiu ser prostituta. Mãe aos 14 anos, lembrou seu primeiro programa: “Ganhei R$ 150 e gastei tudo com a minha filha no McDonald’s.” 
Quando Coutinho lhe perguntou como tomou coragem para dar esse depoimento, disse que as pessoas “têm a cabeça no século passado.” Afirmou ainda ser uma mentirosa convicta, e ensinou que o bom mentiroso deve acreditar no que diz. E acrescenta que só falou a verdade.

CIBELLE BRITO, Publicado em 16/03/2012, jornal "O Globo".

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Edificio Master

O filme EDIFÍCIO MASTER, produção do ano 2002 é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes obras do cineasta Eduardo Coutinho.

Durante sete dias, Coutinho, junto à sua equipe, filmou o cotidiano dos moradores do Edifício Master, situado em Copacabana, a um quarteirão da praia. O prédio tem 12 andares e 23 apartamentos por andar.  Ao todo são 276 apartamentos conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas. Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e conseguiram extrair histórias íntimas e reveladoras de suas vidas.

Através dessas histórias, fica-se sabendo do passado de crimes e de prostituição do Edifício Master e da cruzada do síndico Sérgio (um dos entrevistados) para restaurar e trazer um pouco mais de dignidade para o prédio. O que, de fato, segundo alguns outros depoimentos de outros moradores, o síndico consegue.

Dessas entrevistas iniciais, nas quais se tem um panorama geral do Master – na verdade, uma necessária contextualização desse espaço, para o público espectador – passa-se a entrevistas/depoimentos um tanto quanto mais intimistas, e é exatamente através desses depoimentos que o filme expõe a sua verdadeira e principal característica enquanto obra cinematográfica: mostrar a alma dos seus personagens ou, pelo menos, tentar se aproximar dela.

As inserções de Coutinho, durante as entrevistas, existem e, às vezes, são até bastante necessárias para um bom desenvolvimento dos depoimentos. Porém, essas inserções não são constantes e nem chegam a ameaçar a narrativa das mais variadas histórias de vida de cada um daqueles moradores ouvidos.

E são exatamente essas histórias, as mais intimistas, as mais pessoais, que prendem o espectador, e não, necessariamente, aquelas de âmbito mais geral, as que falam da problemática da violência no Rio de Janeiro, mais especificamente em Copacabana, ou da contextualização do Master do passado e do presente. São as histórias de vida de cada um, os sonhos, as angústias, as mágoas, a esperança daqueles moradores, que dão vida a esse documentário.

EDIFICIO MASTER é um filme que, além de ser um dos melhores trabalhos de Coutinho, se não o melhor, é uma obra que emociona. São quase duas horas, num filme sem nenhuma trilha sonora, com uma fotografia que deixa a desejar, numa obra com um orçamento visivelmente baixo, mas que, acertadamente, o espectador vai demorar muito para esquecer aquelas histórias de vida.

Levando em consideração a tipologia do documentário, proposta por Bill Nichols – crítico de cinema americano, com vários livros lançados sobre documentários – nunca poderia se afirmar que EDIFICIO MASTER é um documentário que segue uma linha mais tradicional, aquela linha chamada por Nichols de documentário expositivo. Coutinho está muito além, neste filme, de uma mera necessidade de defender argumentos e comprová-los através de imagens. Fica evidente, em EDIFICO MASTER, a participação ativa do diretor e da sua equipe, junto aos entrevistados, o que faz com que esse filme seja considerado como um documentário participativo.

Já a linguagem usada por Coutinho, como é de se esperar num filme em que o íntimo dos entrevistados tem primordial importância, é bastante caracterizada pelo quase que constante uso do primeiro plano, sendo que, em alguns momentos, pode-se perceber, num plano de conjunto, entrevistado e diretor, assim como há os planos em que também é possível ver a reduzida equipe de filmagem de EDIFÍCIO MASTER.

EDIFÍCIO MASTER é um documentário que não tem cenas externas. O máximo que Coutinho permite que seja mostrado, do externo deste edifício, são as imagens iniciais, captadas pelas câmeras de segurança do prédio, as quais mostram a equipe chegando e entrando no Master, e uma ou outra imagem externa vista através das janelas de alguns apartamentos. E só!
Decididamente, o que está externo, além daquelas salas, daqueles quartos, além do interior daquelas pessoas, parece mesmo não importar a Coutinho. E, mesmo assim, mesmo sendo um documentário quase que cem por cento de cenas internas, é uma obra que encanta, que prende a atenção do espectador.
EDIFICIO MASTER, um filme que prima por trazer, ao espectador, todo um lado humanista de um grupo de pessoas que, normalmente, não teria chance alguma de falar, de expor seus pontos de vista, seus sentimentos… Pessoas que fazem parte de um grupo, moradores de uma grande cidade, que quase nunca são vistos, quiçá, ouvidos! E a câmera de Coutinho, junto a sua reduzida equipe, deu chances a essas pessoas de se expressarem.

In: "Cabine Cultural' - Mauricio Amorim é professor de Linguistica e Produção Textual da Universidade do Estado da Bahia, Cineasta e Colaborador do Cabine Cultural.
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sábado, 18 de janeiro de 2014

O céu que nos protege...

O Verão segue animado...

Uma turista morreu ao ser atingida por um raio no Guarujá. 
O mesmo ocorreu com um cobrador de ônibus na garagem da empresa em que trabalha em São Paulo. 
Daí, uma moradora do Rio de Janeiro foi vítima de um porco-espinho que caiu de um poste (o que um porco-espinho foi fazer em um poste???) sobre a cabeça dela, cravando lembrancinhas no seu couro cabeludo. 
E, ontem, uma amiga me liga e diz que o namorado foi atingido por uma taturana que despencou não sei de onde.
Para o pessoal que acredita e, portanto, faz a interface com o divino, uma sugestão: não precisa pedir para o céu ajudar. Digam para ele não atrapalhar que já estará de bom tamanho.

(Leonardo Sakamoto - 17 de janeiro 2014)

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

RAUL DE LEONI - Crepuscular

Tela Sueli Madeira - Itatiaia, 2006

Crepuscular
Raul de Leoni - poeta brasileiro
(Petrópolis, 30 de outubro de 1895 — Itaipava, 21 de novembro de 1926)

Poente no meu jardim... O olhar profundo
alongo sobre as árvores vazias, 
essas em cujo espírito infecundo
soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias, 
sugerem à emoção em que as circundo
todas as dolorosas utopias
de todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
ambas, não dando frutos, abrem ninhos
ao viandante exânime que as olhe.

Ninhos, onde vencida de fadiga, 
a alma ingênua dos pássaros se abriga
e a tristeza dos homens se recolhe...

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sábado, 11 de janeiro de 2014

Filminho da tarde - A DONA DA HISTÓRIA



Assisti novamente ao filme nacional "A dona da história", tendo Marieta Severo, Débora Falabella, Antônio Fagundes e Rodrigo Santoro como protagonistas. Direção de Daniel Filho, baseado na peça de João Falcão que assina o roteiro com João Emanuel.

Não costumo relacionar enredos de cinema com a história real das pessoas, embora muitos e muitos filmes sejam inspirados em vidas comuns (ou extraordinárias - artistas, cientistas, políticos) e adaptados, roteirizados.

Quando vi o filme pela primeira vez, fiquei pensativa sim. Talvez pela coincidência da ambientação de época, 1968-2002, justamente o período que reflete minha própria passagem de juventude, idade adulta e processo de envelhecimento.
Desta vez, apenas me diverti, ri muito com a situação - bem parecida com a minha nos quesitos viagens, planos, sonhos - aí a palavrinha que me incomoda (mais fácil entender para quem viu o filme).
Na verdade, eu  planejei pouco, sonhei menos ainda mas viajei um pouquinho mais... hahaha!



No filme, a protagonista madura dialoga com a jovem que foi.  Com o olhar da maturidade analisa e se diverte com a impetuosidade da moça que não gostaria, de jeito nenhum, de se tornar aquela mulher.
A jovem questiona o futuro, reclamando que não pode admitir que sua vida tome um rumo comum, sem nenhum feito grandioso que a projete como uma pessoa especial, diferente das outras.

A mais velha diz que é assim mesmo que acontece; habituadas (olha a minha geração aí !) aos filminhos românticos de Hollywood, sempre com happy end, somos levadas a acreditar que a vida fluirá sem tropeços, obedecendo a um roteiro animado, feliz, encantador. As dificuldades que surgirem serão facilmente superadas, em nome daquele amor estereotipado do mocinho pela mocinha e vice-versa e vide bula e...
Quando faz uma retrospectiva, sente-se frustrada, enganada até. Enganada por quem? Pelo destino? Pelo grande amor? Pelas próprias escolhas? E volta a dizer que nada, nada mesmo, mudaria em sua vida.

Tenta explicar isso à novinha que teima em dizer que vai, sim, modificar o seu destino; fará tudo de modo diferente, oposto ao que a cinquentona fez. Deseja muitas coisas na vida: sucesso, amores, festas, sorrisos o tempo todo. Novamente a experiência de vida leva a melhor.

Os diálogos são engraçados e espontâneos. Enfim, uma comédia que faz pensar, rir e até - em algumas passagens - brotar aquela lagrimazinha sem graça e sem função redentora.  Acho que é só saudade, nostalgia, sei lá...

O final, ironicamente, é hollywoodiano.  Essa é, para mim, a piada.  Gostei de rever.

Ah, ia me esquecendo... os atores - todos - estão impecáveis, fotografia maravilhosa e trilha sonora também muito boa.

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Convívio familiar...

Exercitando o convívio familiar
Isabel Clemente - Revista 'Época, 05 de janeiro 2014

Difícil não é confessar pecados. Todos os cometemos.
Complicado é buscar incessantemente as virtudes que lhes servem de antítese, sobretudo no delicado convívio familiar.
A intimidade age como uma licença para mostrarmos o pior de nós. Não precisa ser assim.

1. Otimismo
Essa é uma virtude obrigatória num lar com crianças.
Sonhar é um verbo intransitivo para elas, que sonham e ponto. Ninguém as ensinou.
Crianças acreditam sempre que tudo pode melhorar. Submetidas a maus tratos, perdoam seus algozes. Doentes, botam fé na cura. Pobres ao extremo, inventam brinquedos a partir do improvável.
Até que as circunstâncias roubem delas essa virtude, crianças são por definição otimistas.
Se você é responsável por um ser assim, precisa fazer de tudo para não cair na vala fácil da reclamação contumaz, da crítica destrutiva e da lamentação infértil.
Em poucas palavras, tem que deixar de ser chato.
Se você acha que o mundo vai acabar amanhã e adora esbravejar isso em alto e bom som, reveja seus conceitos e não desmereça o futuro. Há uma criança por perto ansiosa para chegar lá. Exercite com a ajuda dela, se preciso for, o otimismo que há em você.

2. Comedimento
Se você pensar no pecado capital da gula, vai achar que comedimento só serve para bom comportamento à mesa, só que não.
Comedimento é a antítese do exagero, esteja ele no consumo voraz (de coisas e comidas), no trabalho em excesso, na atividade física extenuante e em tudo aquilo que só serve, no fundo no fundo, para restringir ao mínimo possível o convívio familiar.
Se o objetivo declarado não for esse (fugir da família) e houver alguma chance de você se arrepender, por exemplo, de perder a infância do filho, é hora de tentar ser um pouco mais comedido.

3. Solidariedade
Taí uma virtude fácil de manifestar com desconhecidos.
Somos solidários com vítimas de catástrofes naturais ou tragédias sociais. Redes de solidariedade surgem unindo estranhos em torno de estranhos no mundo todo. Mandamos cobertores para gente com frio lá no Japão onde teve terremoto. Bacana. É o lado altruísta da humanidade, mas é possível começar esse exercício de solidariedade em casa com quem mais precisa de você.
Solidariedade no mais amplo sentido da palavra envolve amparo, proteção, orientação e empatia, produtos que não se despacham pelos correios para vítimas de intempéries.
Solidariedade familiar é pessoal e intransferível. Não pode ser terceirizada. Supõe a doação de algo muito mais importante do que seu dinheiro: o seu tempo.

4. Paciência
A mais difícil das virtudes.
Costuma faltar tanto em episódios banais como em situações extremas, esteja você envolvido na educação de criancinhas ou quem sabe lidando com idosos teimosos.
Filhos são diferentes e as exigências que partem deles também. Uns exigem demais dos pais, outros menos.
Alguns pais se sentirão sugados por muito pouco, enquanto outros estarão sempre vivendo no limite da sanidade psicológica em função de demandas que nem eu nem você conseguimos imaginar agora. Quanto aos velhos, estaremos lidando com a pessoa que amamos desprovida do melhor de si: disposição, saúde e, não raro, capacidade de se perceber.
Eu sempre achei que as pessoas nasciam com uma determinada cota de paciência, o que explicaria a calma e a placidez de gente que parece nunca se irritar com nada. Descobri na prática que paciência é um músculo, em local desconhecido pela Ciência, mas que precisa de exercício diário para não perder o tônus. Quanto mais trabalhado, melhor fica.
Exercite-o e respire fundo nos intervalos para não baixar a oxigenação do cérebro e você dizer ou fazer uma besteira.

5. Boa vontade
Essa virtude entra na lista como a antítese da preguiça, esse pecado que costumamos manifestar sem pudor com aqueles que nos são mais íntimos e caros.
Sei de gente que faz os maiores sacrifícios pelo vizinho, pelo amigo que mora no exterior, pelo chefe, mas é incapaz de ter boa vontade com o próprio filho.
Peralá. Sejamos o melhor de nós mesmos com aqueles que mais amamos. Boa vontade é essencial, da porta da casa pra dentro também.

6. Sabedoria
Para sacar da manga na hora certa uma das cinco virtudes citadas anteriormente.

7. Humildade
Para reconhecer que erramos e pedir desculpas a quem quer que seja – sublinho os filhos – quando falharmos na tentativa de exercitar quaisquer uma das seis virtudes anteriores.
E, principalmente, perdoe-se. O segredo é insistir em melhorar.

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