domingo, 30 de março de 2014

Razões ou justificativas


Arte: Paul Mitkov

Continuo pensando nesses dias anteriores em que não me sinto disposta nem a escrever.
Tudo muito pessoal, muito particular mesmo.
Tenho a impressão de que, apesar da experiência de vida, da idade mesmo, ainda sou vulnerável em alguma parte do sentir.
Uma espécie de calcanhar de Aquiles, nem tão visível assim neste mundo de aparências, mas que pode ser atingido por acaso, simples acaso, sem intenção por parte de quem quer que seja.

Tenho assistido, no canal Globo News, à programação que lembra os 50 anos do início da ditadura no país e talvez esteja aí uma possível explicação para esse meu desânimo.

Sei que é necessário externar o que nos fere para que isso não se torne maior que nós mesmos.
É o caso de vários episódios da história humana como as guerras em diversos lugares, a miséria e a fome em tantas partes do mundo - "wonderful world" -  perseguição, escravidão, o holocausto na 2ª grande guerra que traz ainda a vergonha e a culpa.
O distanciamento no tempo não apaga os horrores de que nós, humanos, somos capazes.

Quanto à nossa História de um passado recente agora revista, agora documentada, registros e depoimentos agora revelados, o olhar das pessoas diretamente envolvidas - de ambos os lados - sei lá, isso tudo não está me fazendo bem não...

Sinto a inutilidade de tantos posicionamentos, de tantos princípios que deveriam ser cumpridos.

Enfim, penso num poema de Álvaro de Campos (o heterônimo preferido). Vou procurar e trazer para cá:
**

Encontrei:

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não... 
Não, hoje nada; hoje não posso. 
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, 
O sono da minha vida real, intercalado, 
O cansaço antecipado e infinito, 
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... 
Esta espécie de alma... 
Só depois de amanhã... 
Hoje quero preparar-me, 
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte... 
Ele é que é decisivo. 
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... 
Amanhã é o dia dos planos. 
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; 
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... 
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. 
Só depois de amanhã... 
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana. 
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... 
Depois de amanhã serei outro, 
A minha vida triunfar-se-á, 
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático 
Serão convocadas por um edital... 
Mas por um edital de amanhã... 
Hoje quero dormir, redigirei amanhã... 
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? 
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, 
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo... 
Antes, não... 
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. 
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser. 
Só depois de amanhã... 
Tenho sono como o frio de um cão vadio. 
Tenho muito sono. 
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... 
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...


(FERNANDO PESSOA - Álvaro de Campos)

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sábado, 29 de março de 2014

Tempo...tempo...



Uma semana interessante, ou, pelo menos, mais animadinha.
Minha filha que mora em BH veio passar com a gente não o fim de semana, mas o sábado - o sábado, pode isso?
Assim, chamamos as outras filhas e crianças para um café da manhã aqui em casa. Depois fomos almoçar fora.
Coisas acontecendo e eu apenas observando, pensando, sem me envolver naquilo que diretamente não me diga respeito. Aliás, é o melhor que posso fazer.

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No meio da semana tirei um dia para visitar minha irmã. Foi ótimo ter ido pois estive também com a cunhada Marli que não via desde a morte do meu irmão. Ela está bem. Conversamos um pouco e o dia passou de modo agradável.
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Algumas telas em andamento, precisando de um pouco mais de dedicação. Livros aguardando minha boa vontade, enfim, algumas pendências. É como se a vida estivesse 'dando um tempo'.
Não estou à vontade para escrever hoje. Não sei por quê.


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sexta-feira, 21 de março de 2014

Adeus ao Capitão Bellini


O escritor e jornalista Ruy Castro comenta resumidamente no jornal "Folha de S.Paulo" a biografia de Bellini. Com base nessas informações, deixo aqui uma singela lembrança de um dos ídolos da minha juventude.  Hilderaldo Luís Bellini faleceu nesta madrugada, em S.Paulo.

Capitão de uma Seleção Brasileira de Futebol que contava com jogadores como Pelé, Didi, Garrincha, Nilton Santos, Zagalo, Zito, Dino Sani, Orlando, Gilmar, Djalma Santos e o próprio reserva de Bellini, Mauro.

Do alto dos seus 1,80 m e 80 kg de músculos, Bellini portava com autoridade e elegância de atitude a camisa 3 e a braçadeira de capitão do time.
Dele emanava uma aura de líder e comandante natural. Seus colegas, muitos com maior técnica, atribuíam-lhe os adjetivos de rigoroso, valente, educado, consciente e justo.

Além do que, para nós, jovens da época, representava o modelo de beleza equiparada aos artistas de Hollywood, de onde recebeu vários convites para o cinema.
Recusou também uma proposta para jogar no Real Madri.

Paulista de Itapira, fez sua carreira no Vasco da Gama.
Um episódio marca a disciplina e honestidade de Bellini, quando na Copa do Chile em 1962 apoiou a troca de comando para Mauro,  jogador que havia sido seu reserva anteriormente. Nesse ano, o Brasil foi bicampeão mundial.
Mauro e Bellini cultivaram a amizade por mais de 50 anos até a morte de Mauro, em 2002.

Bellini encerrou sua carreira no Atlético Paranaense, em 1969, aos 39 anos.

Vá em paz, Capitão Bellini. Agradecemos o privilégio de, por sua causa,  podermos nos lembrar de um tempo em que futebol era, realmente, uma alegria do povo brasileiro.


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quinta-feira, 20 de março de 2014

Capitão Bellini

Capitão Bellini
Copas 1958 e 1962
Nos jornais de hoje, uma triste notícia. É a vida, eu sei, mas é triste para quem viveu essa época, na empolgação adolescente, admirando - porque eram mesmo admiráveis - os antigos astros do verdadeiro futebol brasileiro.
Nós, as 'meninas', gostávamos de futebol, menos talvez pelos lances fantásticos que pouco entendíamos, mais pelos belos e educados rapazes que apareciam como campeões.
Um tempo de inocência, sem flashes e comentários idiotas sobre a vida particular dos famosos.
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Primeiro capitão campeão do mundo com a seleção brasileira, Bellini  se notabilizou também ao ser pioneiro no gesto de levantar a taça da Copa do Mundo sobre a cabeça.
O ex-zagueiro, hoje aos 83 anos, segue morando em São Paulo, clube por onde jogou por seis anos.
Bellini não gosta de aparecer muito, principalmente "nas falsas homenagens que só são feitas aos ex-craques às portas dos mundiais", segundo o próprio ex-jogador.
*
Responsável por levantar a primeira taça do Brasil como campeão do Mundo, o zagueiro Bellini está internado no Hospital Nove de Julho, em São Paulo. O ex-jogador voltou ao hospital devido à complicações do Mal de Alzheimer.

Bellini, que já havia sido internado no fim de 2013 com broncopneumonia aspirativa devido à dificuldade de deglutição, chegou a apresentar uma evolução no quadro e deixou o hospital, mas voltou a sofrer com o mesmo problema e foi novamente internado.

O ex-jogador está com 83 anos e fez história defendendo o Vasco.
Pela seleção brasileira, ele foi campeão nas Copas de 1958 e 1962.

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quarta-feira, 19 de março de 2014

Mudança...


Não sou de Resende (cidade próxima), embora ali tenha morado, por circunstâncias várias, durante muitos anos.
Ao me mudar para lá, não me senti acolhida, não fiz muitos amigos - e eu era jovem -,  não me adaptei. Não gostei e cada vez gosto menos.

Quando tive oportunidade, saí e fui morar em uma cidade um pouco maior, mais desenvolvida.
Foi um tempo ótimo.
Mas precisei retornar após oito anos (parecia um carma, credo!); voltei a passar momentos bem ruins.
Consegui sair e construir minha casa onde hoje moro e me sinto feliz.
Gosto muito daqui pela localização e beleza natural. Montanhas, Mata Atlântica preservada , riachos, cachoeiras, proximidade a Penedo - lugar turístico interessante com ótimos restaurantes, bares, passeios ecológicos (mesmo que atualmente eu não frequente tanto). Além, é claro, da minha casa que é bonita e aconchegante.
Verdade que aqui a cidade propriamente dita não é lá grande coisa, mas nada é perfeito...

Entretanto, há um 'lobby' para que eu me mude para Resende (de novo). Minhas filhas – as duas que ali  moram - dizem que ficaria mais fácil para todos nós.

Fácil, para quê? Pelo que eu sei, as duas se veem pouco, – filhos em idades diferentes, cada uma com suas obrigações e tarefas...o que salva são os encontros familiares, dos quais também participo.

Fácil por quê? Enfim, há uma preocupação com a minha saúde - agora fragilizada por alguns problemas  (velhice, uai!) e gostariam que eu estivesse mais próxima de atendimento médico em caso de urgência.
Tudo bem, esse argumento quase lógico é do meu primeiro neto – estudante de medicina, vê-se. Como são as coisas do coração: convencida pelo neto.

A condição sine qua non é encontrar outro imóvel para compra. Alugar minha casa, nunca mais! Tive uma experiência muito ruim quando fiz isso em 2010.

O fato é que minha casa já está à venda em uma imobiliária. Vamos ver o que acontece...

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domingo, 16 de março de 2014

Mais um documentário de Eduardo Coutinho



Hoje, domingo,  assisti a esse documentário – “As Canções” - no Canal Brasil.
Depoimentos de pessoas maduras sobre a canção que teria marcado suas vidas. O entrevistado chegava, sentava-se em uma cadeira em frente ao entrevistador e – suponho que respondendo a perguntas anteriormente feitas – desfiava sua história pontuada pela canção cuja letra resumia aquela vivência.
Gente de variados níveis (cultural, social, econômico), todos contando e cantando com simplicidade e emoção passagens interessantes vividas por eles.

Uma bonita senhora diz que a música de sua vida é “Retrato em branco e preto”, melodia dificílima (Tom Jobim, nada menos) e letra de Chico Buarque, que ela, no entanto, cantou e muito bem a música inteirinha. Sua história é surpreendente e também difícil de ser exposta, o que a moça fez com toda dignidade e simpatia.

Fiquei então pensando na canção com maior significado para mim e, talvez inconscientemente influenciada pela entrevista dessa senhora, lembrei-me de “Todo sentimento”, de Cristóvão Bastos e Chico Buarque. Letra e música me emocionam muito. Para quem não lembra:

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo 
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
e urgentemente

Pretendo descobrir
no último momento
um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
e bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
até o amor cair
doente
doente
Prefiro então partir
a tempo de poder
a gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
te encontro, com certeza,
talvez no tempo da delicadeza
onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Não se trata necessariamente de história da minha vida, mesmo porque acredito já ter chegado ao ‘tempo da delicadeza’, quando não se diz nada, quando nada mais precisa ser dito, quando já foram vividas as escolhas feitas, quando o tempo diminui.
Apenas se vai em frente, encantado ou não, ao lado de alguém ou não.
Gosto muito da música...e da letra.

***


Eduardo Coutinho presta homenagem à canção brasileira em novo documentário
André Bernardo - 09. 12. 2011  in  "Saraiva - conteúdo"

“Qual é a música que marcou a sua vida?”. Foi essa a pergunta que Eduardo Coutinho fez a cada um dos 18 integrantes de seu mais recente trabalho, As Canções
Durante dois meses, a equipe de produção do cineasta percorreu as ruas do Rio atrás de personagens.

Ao todo, 237 pessoas participaram do processo de seleção. Elas tinham que cantarolar um trecho da música e, em seguida, explicar por que ela marcou tanto a sua vida. 
Algumas não foram selecionadas porque esqueceram a letra. Outras porque cantaram mal mesmo. “Tudo nesta vida você precisa saber fazer bem. Até desafinar. Tem um montão de gente por aí que desafina bem e grava um disco atrás do outro”, dispara Coutinho, com a sua já famosa rabugice.

(...)
- Em As Canções, anônimos dão depoimentos sobre músicas que marcaram suas vidas. Como surgiu essa ideia?

Coutinho: A princípio, a ideia era fazer um filme só sobre músicas do Roberto Carlos. Mas, aí, já viu, né? Ia dar um trabalho danado negociar os direitos das músicas. 
Daí, resolvi fazer um filme sobre anônimos cantando músicas que marcaram suas vidas. Foi o filme mais rápido e barato que já fiz. 
Só para você ter uma ideia, gravei 42 depoimentos em seis dias. A câmera não tem zoom. A luz é sempre a mesma. O cenário é um só o filme inteiro. Levei só dois meses para selecionar os participantes. 
A história do Brasil que me interessa é essa. É a história da canção brasileira. Não estou falando de Pixinguinha ou de Hermeto Pascoal. Estou falando de canção. 
A canção é o maior patrimônio brasileiro. No filme, apareceu gente cantando tudo que é tipo de música: de Noel Rosa a Jorge Benjor, de Silvinho a Roberto Carlos, de Orlando Silva a Nelson Gonçalves. Curiosamente, não tivemos uma música estrangeira sequer. Isso me intrigou bastante.

- Como você chegou aos 18 personagens de As Canções?

Coutinho: Não fui eu que cheguei neles. Foram eles que chegaram a mim. Não faço nada pessoalmente. Por técnica e por preguiça também. 
Contratei uma pesquisadora, que saiu pelas ruas do Rio em busca de personagens. Colocamos anúncio nos jornais, na internet, enfim, a gente queria saber a música que marcou a vida das pessoas. 
Nessa, apareceu um monte de mulher. É claro, você não esperava que fosse aparecer um advogado do Banco do Brasil, não é mesmo? 
Mesmo assim, havia limites para participar do filme. Não podia esquecer a letra. Nem desafinar. E a história também precisava ser boa. Umas não entraram porque a história por trás da música era fraca. 
(...)

- Qual foi a parte mais difícil? Negociar os direitos autorais das músicas?

Coutinho: É. Hoje em dia, você não pode mais filmar um torcedor do Flamengo no Maracanã que o sujeito pode processar você. Isso é o fim! É a morte do documentário! 
O direito de imagem virou uma mercadoria. Você acha que eu paguei Frank Sinatra para incluir uma música dele em Edifício Master? Eu, não! 
(...)
O filme presta uma homenagem à canção brasileira através do Noel Rosa, Chico Buarque, Roberto Carlos. 
Paguei o mesmo valor para todo mundo e ponto final. Espero que ninguém crie confusão.

- Qual é a música que marcou a sua vida?

Coutinho: Ah, eu não tenho esse troço de música favorita, não. Até tem uma ou outra de que eu gosto. “Força Estranha”, do Caetano Veloso, por exemplo. Adoraria que alguém tivesse escolhido “Força Estranha”, mas ninguém escolheu. 
(...)

- Qual teria sido o trecho mais emocionante ou surpreendente do filme?

Coutinho: (...) O filme tem momentos muito interessantes. 
(...)
Todos os personagens já viram e reviram o filme. Não queria causar constrangimento a ninguém. Para alguns, o filme funcionou como uma terapia. Alguns momentos registrados ali são bem catárticos.
 (...)
No meu caso, gosto de valorizar a palavra. A palavra é a coisa mais importante que existe. 
Jamais vou colocar alguém tocando um cavaquinho na tela. O cavaquinho não me interessa. O que me interessa é o sujeito que está por trás daquele cavaquinho. 
O meu filme começa com uma personagem cantando “Minha Namorada”, do Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, numa única tomada, de 2min10seg. Onde é que você vê um negócio desses? É uma única tomada, sem corte, sem zoom, sem firula. 
Bem, se eu tenho uma qualidade, acho que é saber ouvir as pessoas. Penso que algumas contam para mim histórias que jamais contariam para outras pessoas. Gosto de ouvir histórias. Histórias dão sentido à vida. Por isso, muitas delas não são verdadeiras. Sei disso. Muitas das histórias do meu filme não são verdadeiras. Aliás, nenhuma biografia é 100% verdadeira. Mas, pode ter certeza: cada uma daquelas 18 histórias daria um excelente filme.

*          *          *

Fotos by Geni

Foto de Geni Caldeira.

Foto de Geni Caldeira.


Foto de Geni Caldeira.
"Ponte Velha", em Resende-RJ

Foto de Geni Caldeira.
Trecho do Rio Paraíba, em Resende-RJ

A autora dessas lindas fotos é minha amiga Geni Caldeira.
Uma artista.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Confusão tecnológica

Uma semana enrolada com o computador que sofreu a maior pane... O problema começou depois uma chuva muito forte. Conexão internet interrompida por dois dias e quando voltou, minha maquininha estava doida e desobediente., pode uma coisa dessas?
Credo, já falei que esse troço parece uma entidade...

Precisei chamar o técnico - que, aliás, é um antigo (muito antigo) colega de trabalho na época da multinacional e me atendeu prontamente, só que...
ele fez uma nova formatação e eu fiquei perdida. Não conseguia encontrar meus textos antigos que estavam no word, as pastas de imagens e fotos foram parar não se sabe onde, ou seja, a maior confusão...e eu pensei ter perdido tudo.
Felizmente não aconteceu mas fiquei bem preocupada e levei um tempão para localizar e reorganizar minha casinha virtual. Vixe, como sou burrinha...

Enfim, "tamu de vorta"!
**
Agora, depois do susto, estou ouvindo antigos CDs; Zélia Duncan cantando “Nega manhosa” (ah, tão simples e tão politicamente incorreta...) é uma graça! ♪ ♫“Levanta, levanta nega manhosa / deixa de ser preguiçosa/ vai procurar o que fazer”.

Passa para outra faixa - “A deusa da minha rua” (♫ ♪ “minha rua é sem graça/ mas quando por ela passa/ seu vulto que me seduz/ a ruazinha modesta/ é uma paisagem de festa/ uma cascata de luz”) ah, tão ingênua e dolorida...
Às vezes tenho esses surtos...mas vejo que não acontece apenas comigo. Zélia Duncan, uma cantora moderna, compositora contemporânea, cronista destes tempos esquisitos, também se cansa da perda do encanto e grava coisas muito, muito antigas nesse CD “Eu me transformo em outras” (♪ ♫ “o remédio é tocar esse barco do jeito que está”...em “Doce de coco”).

♫ ♪“Eu saí de sarongue...mas que calor, mas que calor...mas que calor"... em “Boca de siri”). Hahaha! Garanto que muita gente não sabe o que seja um sarongue, ou o que significa “boca de siri”.
É... ela foi buscar lááá no passado, talvez um jeito mais suave de viver. 
lá...lá...rá...♪ ♫“Diz o poeta que do amor anda descrente/ quase sempre a gente gosta/de quem não gosta da gente...” 
...
Zélia Ducan, Zé Ramalho, Elis Regina (ah, Elis...), Quarteto em Cy... tudo isso e muito mais. MPB, minha gente, da melhor qualidade.

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De um jornal de BH



A TRAMA DO OLHAR
Déa Januzzi

Os olhos falam? Eles dizem muito para os poetas, escritores, músicos, cineastas, crianças, médicos e psicanalistas - mestres na arte de olhar além do visível.
São muitas as letras de música que constatam isso.  Edu Lobo e Chico Buarque já traduziam em "Choro Bandido": Saiba que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão.
Vinícius de Moraes, em versos e música, se expressou em "Pela luz dos teus olhos": Quando a luz dos olhos meus / e a luz dos olhos teus / resolvem se encontrar / ai, que bom que isso é, meu Deus...
Sem contar o sábio Mahatma Gandhi, que não se cansou de avisar: Olho por olho e o mundo acabará cego.
Ou o jamaicano Bob Marley, que com a força do reggae protestou: Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.

A psicanálise diz que o olhar antecipa o verbo, até para quem nunca enxergou com os olhos físicos, porque eles são mais do que receptores para a luz, as cores e as linhas. Mesmo os deficientes visuais de nascença sabem que o olhar vai muito além da percepção visual.  Até quem nunca enxergou tem o prazer de ver e ser visto, diz Liliane Camargos,  psicanalista, com perda progressiva de visão devido a problemas hereditários. Ela defendeu este ano na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a dissertação de mestrado Do ver ao perder de vista, que se transformou em livro de papel e e-book.

"O que impulsiona o ser humano a querer ver e ser visto é a pulsão escópica, conceito criado por Freud para designar esse impulso intimamente ligado ao campo do prazer e do desejo. A pessoa cega se preocupa com o modo como ela é vista. Gosta de saber se a cor da calça está combinando com a da blusa. Muitas vezes usa óculos escuros porque sabe que o olho dela é diferente."

A psicanálise garante que sem o olhar do outro não existimos, mas a maneira como somos olhados define o destino.
Apesar da importância de olhar e ser olhado, "a psicanálise começou no momento em que Sigmund Freud deslocou o foco de atenção do olhar para a fala do paciente, mudando o órgão do sentido do olho para o ouvido. É curioso que tenha sido por mero acaso que o pai da psicanálise descobriu as vantagens dessa mudança. Ele dizia que trabalhava melhor se não fosse olhado oito, às vezes dez horas por dia pelos pacientes. Sentado atrás do divã, ele se sentia livre para pensar, ponderar, refletir sobre o efeito que a fala do paciente exercia sobre ele e, finalmente, para construir uma interpretação," explica a psicanalista Ana Cecília Carvalho.
Na distribuição dos móveis, Freud descobriu que com o paciente deitado no divã, sem sofrer interferência das expressões faciais do analista, o trabalho associativo que deseja do analisando fica imensamente favorecido. "A surpresa foi descobrir que para captar as intenções inconscientes que nos movem - objetivo de uma psicanálise - analista e analisando devem parar de olhar."

A sabedoria de um diagnóstico médico também está no olhar.
Mesmo com toda a parafernália de que a moderna medicina dispõe para desvendar diferentes distúrbios ocultos, possibilitando intervenções cada vez mais precoces e precisas,  "o dever do verdadeiro médico é ver com os olhos e enxergar com o coração", diz o cardiologista Marcus Vinícius Bolívar Malachias.

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Fonte: Jornal "Estado de Minas", Seção 'Bem Viver' - 21 de outubro 2012.

segunda-feira, 3 de março de 2014

AUTORIDADE E DESALENTO - em 27 de fevereiro de 2014



Pois é...
Em meio á alegria geral, é preciso silenciar por alguns minutos o oba,oba!  e ouvir o que tem a dizer o Ministro Joaquim Barbosa.
Aliás, estou seriamente tentada a acreditar que esse final de julgamento tenha sido estrategicamente agendado para a véspera do Carnaval - tão exaustivamente chamado de ópio do povo - para que seus possíveis efeitos (será?) em nossa consciência fossem entorpecidos e tão logo esquecidos.

Será a do Ministro e Juiz do Supremo a voz que clama no deserto?


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domingo, 2 de março de 2014

DAÍ.. que é Carnaval!

Banda de Ipanema comemora 50 carnavais
 com encontro de gerações
Cerca de 80 mil foliões, de todas as idades, se reuniram para celebrar as cinco décadas do bloco que desfila pela Avenida Vieira Souto



Banda de Ipanema comemora 50 carnavais Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

RIO - Há 50 anos, três amigos resolveram colocar o bloco na rua. E o resultado não poderia ter sido melhor. Hoje, a Banda de Ipanema mostra que o carnaval não é só para os jovens. Depois de meia década (*), o bloco atraiu, no desfile deste sábado pela Avenida Vieira Souto, foliões de todas as idades. E os fundadores ficaram muito contentes com a dimensão que a banda tomou.

(Jornal O GLOBO, 02 de março de 2014)

(*)Acredito que o articulista quis dizer  "meio século"... (eeeitaaa!  hahaha!!)

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Pois é... lendo as notícias neste domingo de Carnaval -  festa anual, (?) que hoje, para mim, já não diz nada - vêm-me as lembranças de outros carnavais... principalmente no que se refere às músicas compostas para a ocasião.
Já sei, já sei... podem me chamar de velha saudosista , podem dizer que vivo no passado (nada, sou véia moderninha... olha o blog aí!).
O que gostaria de registrar é o que o correr do tempo faz com os costumes, a linguagem, a observação do cotidiano.
Para isso, vou ao youtube (não falei que sou moderninha e gosto de tecnologia?), encontro esse vídeo - e eu havia acabado de nascer na época dessas músicas, viu? - ouço as letras me divertindo muito com a crítica social, política, enfim, com a irreverência e a malícia ali contidas, numa brincadeira que refletia a intenção do Carnaval: a sátira, a crônica dos costumes, ordem vigente subvertida, crítica social e política por meio do riso, inversão de papéis.  Sem vulgaridade, sem pornografia - ainda que a intenção maliciosa existisse -, as metáforas aguçando nossa percepção, obrigando-nos a pensar...

Começando pelo cantor. Ele próprio se denominava "Black Out" - nossa! hoje é politicamente incorreto, denota racismo, configura bullying, sei lá o quê - e era um artista respeitadíssimo, aparecia em quase todos os filmes das grandes e poucas produtoras de cinema no Brasil.

Sem saudosismo, sem comparações, oportunidade de rever alguns conceitos... só isso.
Vamos lá!




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sábado, 1 de março de 2014

RODRIGO SANTOS e ZÉLIA DUNCAN - Clipe O Peso do Passado



O Peso do Passado
Composição: Rodrigo Santos e Zélia Duncan

Um jeito, uma história, um contexto
Um berço, uma memória, um direito
Um sotaque, um baque, uma estrada
Um atalho, um grito, uma dor calada

Eu escolhi assim
Você escolheu assado
Cada um carrega como pode
O peso do seu passado
Não venha então me dizer
O que está certo ou errado
Sou diferente de você
E assunto encerrado

O que te toca
Pode nunca ter me tocado
O que te move
Pode nunca ter me movimentado
O que me inspira
Pra você deve ser besteira
O que te anima
Para mim é tola brincadeira

Portanto, eu escolhi assim
Você escolheu assado
Cada um carrega como pode
O peso do seu passado
Não venha então me dizer
O que está certo ou errado
Sou diferente de você
E assunto encerrado

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