segunda-feira, 29 de setembro de 2014

"El Jazz" - Louis Armstrong

“El Jazz”, ilustração de 2012 de Mike Apichella.


Sapiência

“O jazz e eu nascemos juntos e crescemos
um ao lado do outro. 
Isso me garante uma certeza: 
se você tem de perguntar o que é jazz, 
é porque você nunca saberá.”

Louis Armstrong (1901-1971)

*        *        *

Outro post, outra emoção

Olhem aí uma lembrança gostosa!


XEROX - Amanhã dia 30 é o Dia da Secretária.
Na foto de 1979 a minha homenagem às amigas de sempre ! 
Mirian, Jane, Láis Carneiro Ponchio, Sueli Madeira, Regina Sarkis, Nadia Cardoso, Regina Barros, Lidma, Ana Amorim , atrás Geisa, Elisa Fonseca e Regina Dall'Osso, frente - Dalva Honorato Siqueira Siqueira, Verinha, Elisa Leal, Cila Elisabete e Ana Nunes.


Post publicado no facebook hoje, por Mirian Marcio Bergara e que me trouxe muitas lembranças.
Acreditem ou não, eu sou a quarta 'figurinha', da esquerda para a direita !

Na época, minhas filhas eram bem pequeninas. Foi difícil conciliar trabalho, casamento, maternidade, mas conseguimos!  E estamos aí, não é ótimo?

Fico muito agradecida à Mirian pela delicadeza da lembrança. 

**

No passado, nossas memórias. Lembranças dos dias mais vibrantes que vivemos - e daquelas aventuras nem um pouco calculadas.
No passado, a palavra dita sem medo, o sorriso aberto sem preocupação.
No passado moram aqueles sonhos que a gente desenhou sem medo e, muitas vezes, com as expectativas frustradas.
No passado, nossas histórias mais simples.
No passado, a inocência.

No presente, nossos amores. A sensação de presença; o abraço apertado de quem encontra seu porto-seguro. O passar do tempo, dia após dia, e aquela sensação de que as coisas estão em seu devido lugar.
No presente, a espera de novas chegadas e partidas. De amigos e família reunidos.
No presente, o momento, o acaso e o imediato. A tranquilidade inesperada; a pressa corriqueira.

No futuro, a incerteza. A dúvida sobre o que será, mas a eterna esperança de que se cumpram nossas melhores expectativas.
No futuro, a maturidade, a experiência. O sentimento de saudade silenciado em recordações.
No futuro somos somente nós e nossas ideias, nosso pequeno mundo de coisas boas, de quadros pintados de desejos e pessoas; de filmes contados ao pé do ouvido.
No futuro, os álbuns de fotografias das histórias escritas à mão...

(Adaptado da página 'Terceira idade')



*        *        *

domingo, 28 de setembro de 2014

Um post emocionante


DESIDERATA 
(Aquilo que se deseja ao próximo tanto quanto a si mesmo)

Caminhe placidamente entre o ruído e a pressa, e lembre-se da paz que pode haver no silêncio. 
Tanto quanto possível, fique em paz com os outros, mas sem abdicar de si mesmo. 
Fale a sua verdade tranquila e claramente, e ouça os demais, mesmo os tolos e os ignorantes também têm a sua história.
Evite pessoas agressivas e gritantes, que são um peso para o espírito. 
Se você se comparar aos outros, poderá tornar-se vaidoso ou amargo, pois sempre existirão pessoas melhores ou piores do que você. 
Vibre com as suas realizações e também com os seus planos.
Mantenha o interesse em sua profissão, por mais humilde que ela seja: é uma posse real em meio às vicissitudes da vida. 
Seja cuidadoso com seus negócios, porque o mundo está cheio de trapaças e egoísmo. 
Mas não perca a fé na virtude que existe: muitos lutam por ideais elevados e em toda parte a vida está cheia de heroísmo.
Seja leal com você mesmo. 
Principalmente, não finja afeição. 
Não seja cínico em relação ao amor, porque em face de toda a aridez e todo desencanto ele é eterno como a vida.
Aceite com tolerância o avanço dos anos e abra mão, graciosamente, das coisas da juventude. Alimente seu espírito de força, para que o ampare nalguma dessas mudanças que o destino traz. E não se angustie gratuitamente. 
Muitos medos nascem do cansaço e da solidão. Para além de uma saudável disciplina, seja gentil com você mesmo.
Porque você é um filho do Universo, tanto quanto as estrelas e árvores. 
Você merece estar aqui. E seja ou não clara essa ideia no seu pensamento, não duvide que o Universo caminha conforme deveria.
Portanto, fique em paz com Deus, seja qual for a ideia que você tenha d'Ele; e sejam quais forem seus trabalhos e aspirações, mantenha-se em paz com a sua alma na ruidosa confusão da vida.
Com toda a tragédia, sofrimentos e sonhos desfeitos, o mundo ainda é belo. 
Tenha cuidado. 
Procure ser feliz. 

(Palavras encontradas na velha Igreja de São Paulo, na cidade de Baltimore, EUA, e datadas de 1962)

*            *            *
Minha amiga de Belém (do Pará) publicou este post no facebook hoje. 
Quando li o título, minha memória foi imediatamente ativada levando-me aos meus distantes 13 (treze!) anos, no dia mesmo do meu aniversário.
Recebo uma caixa grande - presente do meu pai - e um envelope.  Ao abri-lo, - o envelope, porque lá em casa havia delicadezas hoje consideradas normas rígidas e obsoletas - uma carta linda, linda. 
Meu pai trazendo, por escrito, informações preciosas sobre a vida e o significado dessa passagem emblemática para a adolescência.  Palavras sábias e de muito carinho, muito cuidado, muito amor que, estranhamente para a época, era assim que nosso pai nos tratava aos seis filhos.
Junto à carta manuscrita, um papel com esse texto datilografado: "Desiderata".
Guardo-os até hoje, carta e texto. Estão junto às fotografias antigas da nossa família. Copiei o texto e entreguei a cada uma das minhas filhas porque na carta meu pai pedia que eu seguisse aquelas orientações e a vida correria bem. Fiz o mesmo.

Fiquei muito, muito emocionada. Chorei, chorei de saudade e de agradecimento.  (Estou chorando ainda, enquanto escrevo). Sou também agradecida pela liberdade da qual desfruto, podendo extravasar o que sinto sem precisar explicações.

Enfim, mais uma vez essa minha amiga me proporciona uma doce incursão ao passado. Agradecida novamente, Telma. 
Tantos acontecimentos, tanta vida decorrida e a mesma sensação de proteção e segurança constantes - o que nosso pai sempre nos transmitiu.

Ah, acabei me esquecendo de falar do presente de aniversário. Uma "vitrolinha" portátil - os mais jovens talvez não saibam o que seja isto - e que fez um sucesso enorme com a minha turminha de amigos. Podíamos ouvir nossos discos onde quer que fôssemos (desde que tivesse uma tomada elétrica por perto, hehehe). 

**
Fiz uma ressalva no post: no texto que recebi a autoria é atribuída a Max Ehrmann, escrito em 1927.
Mas pode bem ter sido copiado em 1962 até como instruções filosófico-religiosas para a vida. Merecidamente.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"É Primavera... te amooo!" (Tim Maia)

Da nova série 'Imagens de primaveras passadas'
Resende, 4 de outubro de 2007, 17:18.
Foto de OTACÍLIO RODRIGUES

sábado, 20 de setembro de 2014

'A vida é mesmo uma roda gigante' - Karen Curi

A vida é mesmo uma roda gigante

A vida é mesmo uma roda gigante
Karen Curi -  "Revista Bula", setembro 2014

Você já parou para pensar em como a vida é cheia de altos e baixos, frio na barriga, mãos suando, quedas, subidas, medos, esperança, lágrimas, sorrisos, angústias, encantamento?
A vida é como uma sinfonia de Beethoven, com acordes melancólicos e românticos seguidos de estrondosas notas que exalam paixão e fúria.
É possível dizer que se assemelha a um poema de Neruda, cheio de pesares e uma saudade tão doída que umedece os olhos.
(...)
Me dei conta de que a vida é igual para todo ser vivo.
Todo mundo canta, todo mundo dança, todo mundo fraqueja, todo mundo luta.
Todos se cansam e se renovam, perdemos a fé mas lá na frente encontramos de novo.
As pessoas amam, são amadas, cuidam e são cuidadas. Cada um à sua maneira, claro, e na sua intensidade.
Tem gente que exige de mais, outros, de menos. Mas exigir todo mundo exige.
Todo mundo quer alguma coisa.
Tem quem mergulhe sem olhar o fundo, vai lá e se joga e seja o que Deus quiser. E tem aquele que bota o dedinho, depois a ponta do pé, a sola, o pé inteiro, e quando se dá conta já foi, já molhou, já imergiu.
Outra coisa; frustrar também é comum, tá? Você não é um E.T, o único que se decepciona com as pessoas, com projetos, sonhos que não se realizaram, coisas que a gente compra pela internet, o bolo que encomendamos que ninguém gostou, o vestido que compramos e que não tem salvação… Normal. Faz parte da vida. Vou apelar para o clichê, mas o que seria do azul se todos gostassem do amarelo?

Para perceber e sentir o lado bom da vida, as vitórias, os bons sentimentos, o reconhecimento daquele esforço, a promoção, um novo amor, infelizmente (melhor dizendo felizmente), precisamos já ter experimentado o sabor amargo, a solidão, a derrota, o desamor, a falta de esperança, de controle, de amigo, de praticamente tudo.

É por isso que cheguei a conclusão de que cada um é dono e senhor da sua própria roda gigante. Umas giram mais lentas, outras parecem maiores, talvez mais coloridas ou iluminadas, algumas um tanto enferrujadas. Mas somos todos rodas gigantes. Todos nós giramos. Todos completamos ciclos. Por vezes estamos em cima, ora em baixo. Em alguns momentos no meio, na dúvida, inseguros se subir ou descer, aceleram ou deixar fluir.

Então subimos, esticamos as mãos, sentimos a brisa no rosto e aquele frio na barriga. As mãos começam a suar, nos enchemos de esperança, parece que vamos tocar o céu, as nuvens, o sol, a lua, as estrelas. Somos poderosos, gargalhamos, chegamos ali no alto e aquela sensação de que nada poderá nos alcançar! É a plenitude da vida! Ou de um momento da vida. O vento sopra a seu favor, você é o maioral, tudo está dando certo!

Até que sem se dar conta você se acomoda, encontra ali uma boa posição e a sua roda começa a descer, mas seu otimismo é tamanho que você até começa a se sentir seguro vendo o chão se aproximar. E vai descendo. Um ciclo está por fechar.
É quando as frustrações chegam sem avisar, seus medos começam a crescer na mesma proporção em que você se sente diminuir. Parece que uma onda gigante se aproxima e vai te engolir e te sacudir como uma máquina de lavar roupas.
Você não vai saber aonde é a terra, aonde é o céu, não vai achar os seus pés, nem como se ajoelhar ou até engatinhar.
A verdade é que você não vai saber nem mesmo se está vivo, respirando. Não consegue abrir os olhos e o único que é capaz de sentir são mil agulhadas perfurando o teu corpo.

Ok, amigo. Foi só uma queda. Brusca. Um tombo, pode se dizer. Tá certo curtir a sua dor e aprender com ela. Tem mesmo que tirar proveito para que a próxima seja menos traumática. Sim, próxima. Isso mesmo que você acabou de ler. Virão uma, duas, dez, talvez cem. Talvez menos doloridas, ou mais. Vai depender de quantos giros a sua roda girar. Até a vez que ela parar. Aí não tem o que fazer.

O que eu quero dizer é o seguinte: você é a sua roda gigante. E tudo bem que terão altos e baixos, subidas e descidas, novos ciclos, novos ventos, dias e noites. Faz parte da vida, esse é o significado de estar vivo.
Todos os vencedores já foram perdedores um dia. A conquista só chega depois da derrota. E pra quem luta, persiste, enfrenta, tenta mais uma vez e outra e outra e outra. Esperança é a palavra-chave. É na mão dela que você deve segurar na sua roda gigante.
(...)

*        *        *

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Um pouquinho de filosofia...

Vir a ser
Eugenio Mussak - em Revista "Vida Simples", ed. 137

(...)
Para Aristóteles, tudo deveria ser visto através do filtro de duas variáveis: o ato e a potência. Ato é estado atual, o presente. Potência é o que pode vir a ser, é o futuro encerrado na condição presente, no ato.
Uma semente, por exemplo, não é só uma semente - é uma árvore em potência. A semente é o ato, e a árvore é a potência nela incluída e aprisionada.

Seguindo o raciocínio, o ato cumpre seu destino, ditado por sua potência e, assim, transforma-se em um novo ato, criando um maravilhoso movimento quase sem fim.
Assim, a árvore, que já foi semente, agora é madeira em potência, que, por sua vez, será uma mesa em potência.

Ou seja, tudo o que é algo pode vir a ser outra coisa.
Entretanto, essa potência tem suas próprias limitações, pois uma semente de carvalho não poderá vir a ser um pinheiro. Há um destino incluído na potência original.

E não é tudo - ainda há o movimento.
Movimento, na visão do filósofo, é o fenômeno por meio do qual algo realiza o destino definido por sua potência. Esse movimento pode ser natural, como o fabuloso conjunto de fenômenos biológicos envolvidos na transformação da semente na árvore, que inclui o solo, os nutrientes, os micro-organismos e o sol. E pode ser artificial, quando é promovido pela vontade humana. E esta, sabemos, é tão variável quanto a fertilidade dos solos. Há a terra vermelha, úmida, arejada ou cheia de húmus. Assim também é a vontade das pessoas.

Outro conceito muito caro aos filósofos é o do devir, ou vir a ser, sobre o qual se interessaram mentes brilhantes desde Heráclito até Marx, com importantes ‘pitacos’ dados por Kant, Hegel e Nietzsche, entre outros grandes do pensamento ocidental.

Respeitadas as idiossincrasias, o assunto versa sobre o tema proposto pelo primeiro deles, o grego Heráclito, que viveu bem antes de Aristóteles.
Foi ele que disse que "tudo flui", que "o único permanente é a impermanência" e que "não se pode banhar-se duas vezes no mesmo rio".
E disse mais: que tudo o que vive habita os opostos, e que a evolução depende dos ciclos criados entre esses opostos. Eis a dialética em sua nascente.

Assim, analisar os fatos da vida como eles são é um sinal de lucidez, mas lançar os olhos sobre o que eles podem vir a ser é um sinal de sabedoria.

*               *               *

terça-feira, 16 de setembro de 2014

"Sempre a seu lado"


"Sempre a seu lado"
Remake norte-americano de um filme japonês do final dos anos 1980, estrelado pelo incensado ator bonitão Richard Gere, aborda, além da amizade e lealdade, a devoção de um animal ao seu dono.
 Ressalve-se que, se os canídeos conhecessem a real natureza humana, não perderiam o seu curtíssimo tempo de vida sentados numa estação de trem à espera de sujeito algum. 
Melhor seria que fossem roer os seus ossos.


EBERTH VÊNCIO - colunista em "Revista Bula"

*            *            *


Estou num dos dias em que concordo plenamente com a citação do colunista aí em cima.


sábado, 13 de setembro de 2014

Rio de Janeiro, hoje

Sábado é dia de acordar um pouco mais tarde, não é?

Para quem perdeu o amanhecer, o dia no Rio começou assim:

Amanhecer no Rio - 13.9.2014
Foto: Guilherme Leporace - Agência O Globo

*           *            *

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

FOTO POEMA - Otacílio Rodrigues

(...)
" Estalam os galhos secos ,  e as folhagens , 
tostadas pelo sol são consumidas 
com rapidez de pólvora, e reduzidas  
a fino pó levado nas aragens . 
nos aceiros da roça, ali na margem , 
a aba da floresta é atingida  
e árvores gigantescas , ainda em vida , 
são pelo fogo, em pé, ali crestadas. "

    Primeira imagem de quinta
           Resende, 11 de setembro de 2014,  18:17.

"As labaredas rodopiam aos ventos 
por centenas de metros assim subindo , 
e velozes, avançando, vão-se indo 
a cobrir toda área em momentos ; 
conseguem-se imaginar todos tormentos , 
que o escrito mais maniqueísta  
e dantesco que haja , não registra , 
e ouvir-se toda classe de lamentos "

Segunda imagem de quinta
Resende, 11 de setembro de 2014, 18:38.

"Ah ; que torpeza , quanta ignorância, 
deste ser racional que se intitula 
o mais sábio dos seres , e se rotula 
de ser superior ;quanta arrogância . 
talvez até que na primeira infância  , 
assim o fosse , mais ali deixara , 
toda bondade que de Deus ganhara  
agindo agora em pura discrepância ."
(...)
*        *        *

Fotografias de Otacílio Rodrigues - Resende, RJ

Estrofes do poema "As queimadas", de  Francisco Egídio Aires Campos, de Boa Vista, Roraima

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

CORA RÓNAI - O lado B da democracia

O lado B da democracia
Cora Rónai -  (O Globo, Segundo Caderno, 11.9.2014)

E, mais uma vez, vou votar sem qualquer entusiasmo. Nenhum dos candidatos à presidência me representa sequer minimamente. Suas plataformas são amontoados de lugares comuns, evasivas de gente covarde que não tem coragem de dizer o que pensa ou de fazer o que deve; suas falas são colchas de platitudes mal enunciadas que, na melhor das hipóteses, não significam nada. 

Não suporto mais o discurso dos governistas, que insistem em pintar um país que não existe, como se fossemos todos idiotas ou desmemoriados -- e que, quando forçados a contemplar os erros da atual administração, agem como se o PT já não tivesse tido tempo de sobra de mostrar a que veio; mas também não aguento mais o discurso da oposição, que só se lembra de que é contra o governo em época de eleição. 


Oposição não existe apenas para faturar os votos dos descontentes; oposição é parte integrante e essencial de qualquer democracia. O PSDB traiu o país e a confiança dos seus mais de 30 milhões de eleitores quando, sem coragem de confrontar a popularidade de Lula, optou por se fazer de morto e não defender as suas posições. 


o O o


Eu não quero um país eternamente governado por tipos cordiais, que se entendem por baixo dos panos. Eu não quero um país de canalhas festejados em palácio, de criminosos tratados como heróis, de ditadores recebidos como irmãos. Não quero um país em que ex-presidentes bajulam foragidos da Interpol. Não quero um país em que a presidente mente sobre as suas qualificações acadêmicas e fica por isso mesmo, como se falsificar currículo Lattes fosse coisa normal. 


Não quero um país sem valores morais. 


Também não quero um país onde presidentes possam ser reeleitos. Quero presidentes -- e governadores, e prefeitos -- que se dediquem ao trabalho durante todo o mandato; quero candidatos que não possam usar a máquina do estado, paga por todos nós, para defender os seus interesses e os interesses mesquinhos da sua curriola. 


Acho obscena a divisão do tempo da propaganda eleitoral gratuita, até por saber o que ela implica. Não é assim que se constrói um bom país.


o O o


Não sei o que acho pior: uma candidata que é abertamente contra o aborto, uma candidata que não tem coragem de dizer que não é ou um candidato que se diz satisfeito com a nossa legislação obscurantista. As três posições se equivalem. Estamos em pleno ano de 2014, Constantinopla caiu em 1453 e, não obstante, continuamos gastando tempo e energia com essa discussão bizantina.


Fazer ou não fazer aborto é questão de foro íntimo. Quem for contra aborto que não aborte, mas não queira impor as suas convicções ao resto da sociedade. Sabemos onde isso vai dar: aí está essa pobre moça sumida, obrigada pela excelente legislação em vigor a procurar criminosos para se livrar da gravidez indesejada.


o O o


Na televisão os candidatos falam em educação como se tivéssemos um sistema educativo de verdade, que precisa apenas de alguns ajustes: todos dizem que vão investir mais em educação, que vão aumentar o salário dos professores e o número de vagas nas escolas e universidades. Mas de que adianta aumentar o número de vagas em estabelecimentos onde não se aprende nada? Qual é o sentido de formar profissionais sem a mínima empregabilidade?


A educação brasileira está agonizante. Não há dinheiro que resolva se ela não for repensada de alto a baixo, com o comprometimento efetivo da sociedade e de todos os partidos, independentemente de pseudo ideologias ou de alianças de ocasião. 


O Brasil nunca esteve tão ignorante, tão boçal, tão despreparado. Quando é que vamos parar de fazer de conta que os nossos professores ensinam e que os nossos alunos aprendem? A quem estamos querendo enganar com isso?


o O o


Não há problema mais urgente no país do que a educação. Todo o resto, inclusive saúde e segurança, se resolve naturalmente a partir do momento em que o sistema educacional passar a formar pessoas completas, com um bom conjunto de habilidades e a consciência da sua cidadania.


o O o


Não são só os candidatos que me desanimam. Está difícil frequentar as redes sociais, que em geral tanto me divertem. Política, religião e futebol trazem à tona o que as pessoas têm de pior; consigo manter a timeline razoavelmente livre de futebol e de religião, mas de política não tenho como fugir, já que somos todos eleitores.


Sou tomada por uma enorme sensação de cansaço diante dos xingamentos agressivos, da falta de argumentação, da cegueira de todas as partes; não entendo como gente adulta ainda pode achar graça em trocadilhos fracos como presidanta ou Aécio Never. 


Vontade de desligar o computador, comprar uma passagem para bem longe e só voltar depois da apuração do segundo turno.

*            *            *


Nota: 
A ilustração e o  destaque dos trechos são por minha conta.

Luares



Segunda imagem de segunda
Resende, RJ, 08.09.2014, 18.48 h



Foto de JOSÉ ANTONIO ORLANDO
Luar aqui na região em Setembro 2014



"Mas que haverá com a Lua
que sempre que a gente a olha
é com um novo espanto?"

–– Mario Quintana em “Esconderijos do Tempo” 



Foto: Yasuyoshi Chiba / AFP - Jornal O Globo
Desta vez, no Morro da Providência, Rio de Janeiro
Setembro 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Trecho de "Transplante de menina" - Tatiana Belinky

Transplante de menina  (trecho)
Tatiana Belinky
(Petrogrado, 18 de março de 1919 — São Paulo, 15 de junho de 2013 ) 

Uma das mais importantes escritoras infanto-juvenis contemporâneas. 
Autora de mais de 250 livros voltados para este público. Nascida na Rússia, chegou ao Brasil com dez anos de idade. Recebeu a cidadania brasileira e viveu em são Paulo por mais de 80 anos.


[...] Depois do almoço, continuávamos o nosso turismo carioca. Papai e mamãe, mais o primo - feliz proprietário de uma "baratinha" - nos levavam, todos empilhados, a passear pela cidade do Rio de Janeiro.
E foi assim que ficamos conhecendo o Morro da Urca e o Pão de Açúcar - ai, que emoção - pelo funicular, o "bondinho" pendurado entre aqueles enormes rochedos. E de onde se descortinava uma vista empolgante, só superada pela paisagem de tirar ainda mais o fôlego que se estendeu diante de nossos olhos, quando subimos - passageiros de outro trenzinho incrível, quase vertical - ao alto do Corcovado.
Ali ainda não se erguia a estátua do Cristo Redentor, que é hoje o cartão-postal do Rio de Janeiro. Mas me parece que o panorama era, por estranho que pareça, bem mais "divino" ao natural, sem ela.

Fomos passear também na Gávea e na Avenida Niemeyer, ainda bastante deserta, e na Tijuca, com a sua floresta e a sua linda Cascatinha. "Cascatinha", por sinal, era o nome da cerveja que papai tomava com muito gosto, enquanto nós, crianças, nos amarrávamos num refrigerante incrível que tinha o estranho nome de Guaraná.

Não deixamos de passear pelo centro da cidade, na elegantíssima Rua do Ouvidor, e na muito chique Cinelândia, em frente ao Teatro Municipal e suas escadarias, com seus bares e sorveterias na calçada. E, claro, na Avenida Rio Branco, reta, larga, e imponente, embicando no cais do porto, por onde chegamos ao Brasil pela primeira vez.

E foi nessa Avenida Rio Branco que tivemos a nossa primeira impressão - e que impressão! - do carnaval brasileiro.
Eu já tinha ouvido falar em carnaval: na Europa, era famoso o carnaval de Nice, na França, com a sua decantada batalha de flores; e o carnaval de Veneza, mais exuberante, tradicional, com gente fantasiada e mascarada dançando e cantando nas ruas. E havia também os luxuosos, e acho que "comportados", bailes de máscaras, em muitas capitais europeias.
Eu já ouvira falar em fasching, carnevale, Mardi Gras - vagamente. Mas o que eu vi, o que nós vimos, no Rio de Janeiro, não se parecia com nada que eu pudesse sequer imaginar nos meus sonhos mais desvairados.

Aquelas multidões enchendo toda a avenida, aquele "corso" - o desfile interminável e lento de carros, para-choque com para-choque, capotas arriadas, apinhados de gente fantasiada e animadíssima.
Todo aquele mundaréu de homens, mulheres, crianças, de todos os tipos, de todas as cores, de todos os trajes - todos dançando e cantando, pulando, saracoteando, jogando confetes e serpentinas que chegavam literalmente a entupir a rua e se enroscar nas rodas dos carros... E os lança-perfumes, que que é isso, minha gente! E os "cordões", os "ranchos", os "blocos de sujos" - e todo o mundo se comunicando, como se fossem velhos conhecidos, se tocando, brincando, flertando - era assim que se chamavam os namoricos fortuitos, a paquera da época -, tudo numa liberdade e descontração incríveis, especialmente para aqueles tempos tão recatados e comportados... Tanto que, ainda vários anos depois, uma marchinha carnavalesca falava, na sua letra alegremente escandalizada, da "moreninha querida... que anda sem meia em plena avenida".

Ah, as marchinhas, as modinhas, as músicas de carnaval, maliciosas, buliçosas e engraçadas, algumas até com ferinas críticas políticas... E os ritmos, e os instrumentos - violões, cuícas (coisa nunca vista!), tamborins, reco-recos...

E finalmente, coroando tudo, as escolas de samba, e o desfile feérico dos enormes carros alegóricos das sociedades carnavalescas - coisa absolutamente inédita para nós - com seus nomes esquisitos, "Fenianos", "Tenentes do Diabo" - cada qual mais imponente, mais fantástico, mais brilhante, mais deslumbrante, mais mirabolante - e, para mim, nada menos que acachapante!

E pensar que a gente não compreendia nem metade do que estava acontecendo! Todo aquele alarido, todas aquelas luzes, toda aquela agitação, toda aquela alegria desenfreada - tudo isso nos deixou literalmente embriagados e tontos de impressões e sensações, tão novas e tão fortes que nunca mais esqueci aqueles dias delirantes.
Vi muitos carnavais depois daquele, participei mesmo de vários, e curti-os muito. Mas nada, nunca mais, se comparou com aquele primeiro carnaval no Rio de Janeiro, um banho de Brasil, inesquecível...
*            *            *

"Transplante de menina"3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"Sonata de Outono" - um filme de Bergman

"Sonata de Outono" - quando o cinema sufoca e faz pensar
Michele Ramos - "Obvious" Magazine

Um filme que fará você repensar nas relações entre pais e filhos. 
Nas cicatrizes que ninguém vê. 
Será que algum dia o cordão umbilical é realmente cortado? 
O brilhantismo de Ingmar Bergman presente neste enredo gera conflitos entre o espectador e a sua própria subjetividade. Como todos do diretor, aliás. 

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(...)
“Sonata de Outono” (1978) conta com um  roteiro sensacional, uma bela fotografia, closes que intensificam o brilhantismo das atuações.
O filme é sobre a relação entre mãe e filha interpretadas pelas atrizes Liv Ullmann e Ingrid Bergman.

Elas não se viam há sete anos, apesar dos constantes convites de Eva (Liv Ullmann)para que sua mãe a visitasse.
Ambas demonstram-se ansiosas com o reencontro e perceptivelmente desconfortáveis na presença uma da outra.
A relação, que desde a infância sempre foi fria e distante, deixou marcas psicológicas profundas na personalidade de Eva, que se considerava incapaz de amar, como diz o trecho de um livro que escreveu:
“É preciso aprender a viver. Eu treino todos os dias. Meu maior obstáculo é não saber quem sou. Vou tropeçando, às cegas. Se alguém me amar do jeito que eu sou, talvez eu finalmente arrisque a olhar pra mim mesma. Pra mim, essa possibilidade é bastante remota.”


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Os mecanismos sociais estão sempre exaltando as relações entre pais e filhos... o quão maravilhosas são ou devem ser, o quão amorosas devem parecer, contudo, essa corrente invisível que é estabelecida no nascimento e que instaura laços profundos na vida nem sempre é tão saudável assim.
“É como um fantasma caindo em cima de você, quando você abre a porta do berçário, tendo esquecido que é o berçário”.

Assim, no longa, uma mãe (Charlotte) que não tinha habilidades maternas e que não se permitia sentir, deposita na filha a responsabilidade do amor que queria receber, mas que não era capaz de dar.
Charlotte era pianista e vivia viajando, fato que causava em Eva, ainda criança, uma pequena morte a cada partida e a cada chegada da mãe.
"Eu não sei o que eu odiava mais, se era quando você viajava ou quando estava em casa”.

Em uma determinada cena, na qual Charlotte (Ingrid Bergman) ensina o conceito de uma partitura de piano à Eva, notamos expressões de sentimentos há anos reprimidos, representados por uma sonata:
“Olha os primeiros acordes, há dor, mas sem parecer”, diz Charlotte.
Assim como a relação das duas, uma relação de aparências, maquiada pela convenção social que dita que mãe e filha devem se amar apesar de qualquer coisa.
“Eu não podia odiá-la e meu ódio se tornou um medo insano”, diz Eva.

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Em certo momento do filme, Eva fala sobre a morte de seu filho que se afogou antes de completar quatro anos.
Ela descreve o lugar para onde imagina que seu filho foi como um espaço de “sentimentos livres”. Diferentemente do lugar terreno em que se encontra, no qual os sentimentos são reprimidos e calados.

O existencialismo de Bergman já nos é muito conhecido de seus filmes que são sempre repletos de questionamentos sobre a vida, a morte, a religião, as relações entre as pessoas. O diretor questiona nossa pretensa liberdade enquanto ser social e provoca nossa subjetividade.

“Deve haver inúmeras realidades, não só esta que percebemos com nossos sentidos embotados, mas um amontoado de realidades se sobrepondo umas às outras. É medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites, nem para os pensamentos, nem para os sentimentos. É a ansiedade que impõe limites”.
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O filme é marcado por uma “passividade agressiva” demonstrada por Charlotte e Eva.
A filha, num certo momento, não consegue mais se calar e expurga seus sentimentos à mãe, num dos diálogos mais intensos e primorosos do cinema.
“Tudo é possível e tudo se faz por amor e preocupação. As cicatrizes da mãe são passadas para a filha? As falhas da mãe são pagas pela filha. A infelicidade da mãe é a infelicidade da filha. Será que a infelicidade da filha é o triunfo da mãe? Mãe, será que a minha tristeza é a sua satisfação secreta?”

Eva diz à Charlotte:
“Eu não confiava nas suas palavras. Elas não expressavam o que seus olhos diziam”.

Sentimento de infância que se reflete na relação dela com o marido que não sabia como dizer que a amava de forma que ela acreditasse.
“Será assim com todo mundo? Ou será que alguns têm mais talento pra viver que outros? Ou será que alguns jamais vivem, mas apenas existem?”

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Somos todos analfabetos sentimentais?
Os pais deveriam saber viver melhor que os filhos, mas são apenas seres humanos também.

“Eu não queria ser sua mãe. Eu queria que você soubesse que sou tão indefesa quanto você”, diz Charlotte à Eva.

Como toda obra prima de Bergman, “Sonata de Outono” é um filme para ser assistido e reassistido para que novas reflexões venham à tona a cada momento.

Em “Manhattan”, Woody Allen afirma “Bergman é o único gênio do cinema”.

Podemos destacar outros gênios hoje em dia, mas Bergman continua sendo o maior e melhor desbravador da alma humana. E a deixou nua como ninguém fez.

“O sentido da realidade é uma questão de talento. Muitas pessoas não têm talento, mas vivem mesmo assim”.

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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Excessos

Da página "Revista Depende de você" (não consta a autoria)

Arte:  David Walker

"Embora as pessoas reclamem com imensa frequência daquilo que não possuem, existe outra questão que merece toda a nossa atenção: aquilo que possuímos em excesso.

Aliás, os excessos costumam ser mais prejudiciais que as faltas, mas demoram mais para serem percebidos.
As faltas nós notamos imediatamente, os excessos só quando despertam a nossa consciência.

Comemos em excesso (observe você mesmo), trabalhamos em excesso (anda cansado, não é?), guardamos coisas em excesso (dê uma olhada em suas gavetas), nos importamos em excesso com a opinião dos outros...

Há um excesso de preocupações e acúmulo de “gorduras” em diversas áreas de nossas vidas.

Em geral, possuímos mais do que necessitamos para ser feliz, mas continuamos insistindo na desculpa de que não somos felizes porque nos falta alguma coisa. E de fato falta: falta assumirmos um estilo de vida mais franco, sincero e liberto.

Tudo o que temos em excesso demanda tempo e energia para ser administrado.
Roupas demais, CDs demais, bagunça demais, lembranças demais (fique com as que valem a pena, pelo aprendizado ou felicidade que trouxeram), compromissos demais, pressa demais.

Todos nos beneficiaremos com a prática de determinado nível de minimalismo (sem excessos, porque isso também pode ser demais).

Podemos reinventar nossa maneira de viver para viver com o necessário. Não precisa ser o mínimo necessário, pode haver algumas sobras, mas sem os exageros de costume.

Viver melhor com menos. Isso traz uma sensação de leveza e felicidade tão maravilhosa que todos devemos, ao menos, experimentar. Na melhor das hipóteses, aprendemos e adotamos um novo estilo de vida.

Quem está em processo de mudança, reconhece rápido o quanto acumulou de coisas em excesso, e aprende que pode viver tão bem, ou melhor, com muito menos.

Se vamos acampar, somos felizes apenas com uma mochila...

Liberte-se dos excessos de todo o tipo:
- excesso de informação (aliás, muita coisa é só ruído, nem mereceria sua atenção);
- excesso de produtos e serviços (consumismo é uma válvula de escape para não olharmos para nossa própria existência e para o vazio que buscamos inutilmente preencher com compras);
- excesso de relacionamentos (nem todos valem a pena, não é verdade?).

Viva mais com menos, experimente algum nível de minimalismo. Permita-se sentir-se livre dos acúmulos e excessos.

Nada é mais gratificante que a liberdade, a sensação de que você se basta sem precisar de um arsenal de coisas, sons e cores a seu redor.

Dedique-se a experimentar essa libertadora sensação.
Quem sabe viver com pouco, sempre saberá viver em quaisquer situações, mas aqueles que só sabem viver com muito, nas mínimas provações e ausências sofrem e se desesperam. Esses últimos se confundiram com seus excessos... e na falta deles, não se reconhecem.

Nunca sabemos se viveremos com o que temos, com mais ou menos no dia de amanhã, mas se aprendermos a viver com o que é essencial, viveremos sempre bem.

Todo excesso é energia acumulada em local inapropriado, estagnando o fluxo da vida.

Excesso de excessos corresponde à falta de si mesmo. E se o que falta é você, nada poderá preencher esse vazio."


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