segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Em Paris - França

blogdamhaluw.wordpress.com





Au Nègre Joyeux: foi durante muito tempo uma Chocolateria – Café, que não funciona mais, porém seu estabelecimento assim como o quadro original em madeira pintada e a placa nominativa do estabelecimento continuam intactos e são protegidos pelo patrimônio histórico de Paris.

Quadro representando o Café antigamente


Foto nos dias de hoje

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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

E por falar em Literatura...


Simplesmente lindo esse texto de Edival Lourenço para "Revista Bula",  no artigo "26 livros que mudaram a minha vida e podem mudar a sua" em que ele expõe obras clássicas.
"Almanaque Biotônico Fontoura

Pode parecer brincadeira, mas não é. Porque nem se trata de um livro. 
A gente morava num rancho de folhas de palmeiras, afastado de vizinhos. 
Naquele tempo e lugar o normal era que ninguém soubesse ler e escrever, a não ser os patrões. 
Minha mãe não lia, meu pai apenas soletrava, mas tinha dificuldades em reunir as sílabas em palavras, numa espécie de gagueira pré-leitura. 

Às margens de um rio, meu destino, como o das demais crianças, parecia já bem definido: ser analfabeto e trabalhador rural sem terra, como meus pais. 
Um belo dia um divulgador do Biotônico passou por lá. Fez degustação com uma colherzinha de chá da tintura para cada um de nós. Achei gostoso. Nem parecia remédio. 
Meu pai não tinha dinheiro para comprar. 
Mas enquanto esperava o almoço, o divulgador foi lendo o Almanaque. 
Fiquei encantado: como podia alguém correr os olhos sobre aquelas fileiras de formiguinhas mortas em cima do papel e ir falando coisas que eu achava tão bonitas?! 
Para minha alegria, ao ir embora, deixou um exemplar comigo. 
Como prestara atenção na leitura, eu repetia em voz alta as historinhas. 

Sempre que havia oportunidade de encontrar alguém eu sacava logo do Almanaque e “lia” para os interlocutores. 
Todo mundo fingia achar que eu sabia ler. Nunca me chamaram para ler algum bilhete ou carta de parentes. 

A partir de então, como efeito colateral daquela experiência, adquiri e reforcei a convicção de que eu iria estudar ainda, aprender a ler de verdade e escrever histórias como aquelas. 
Ninguém acreditava nisso, além de mim. 
Não existiam escolas num raio de 40 km e nem recursos havia para que eu fosse pra perto de uma delas. 
Meu pai não iria deixar seu meio de vida no sertão. 
Mas a roda da vida foi girando, orientada por esse propósito, de tal sorte que em 1963, aos 11 anos, com a venda de minha parte numa colheita de feijão, comprei meu primeiro enxoval de estudante e entrei pro curso primário, com o firme propósito de me tornar escritor. 

Mesmo não sendo um livro, o Almanaque do Biotônico Fontoura foi o texto mais importante de minha vida."
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(...) procurei citar aqueles livros que mais fortemente me marcaram em algum momento e por isso mesmo são minhas influências mais recorrentes. 
É claro que influências não ocorrem apenas por admiração, mas também e, sobretudo, por antipatia.
Os livros de que não gostei me influenciam, na medida em que procuro me afastar dos recursos e técnicas neles utilizados. 
Ative-me apenas a livros de ficção em prosa. 
Não citei livros igualmente importantes nas áreas de poesia, filosofia, história, ensaio, crítica literária, divulgação científica, etc. 
Muitos outros livros de ficção me marcaram também, como “Memorial do Convento”, de José Saramago e “Histórias Extraordinárias”, de Allan Poe, que, por questão de limites, ficaram de fora.
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Após essa introdução. aí estão as obras indicadas:

Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
Não foi por acaso que este livro deu ao autor o prêmio Nobel. Uma trama comovente, uma musicalidade que embala o espírito. Veja esta frase de abertura, se não lembra uma frase musical de uma sinfonia majestosa: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou para conhecer o gelo”. Quem não arrepia?

O Apanhador no Campo de Centeio, J. D. Salinger
O texto ágil e irreverente me ajudou a entender um pouco mais a rebeldia contida ou manifesta de minha geração. Da necessidade que eu tinha de dizer alguma coisa num mundo polifônico e multissurdo. Sua leitura me deu alguma voz para expor minhas angústias.

A Invenção de Morel, de Bioy Casares
Uma trama fantasiosa e aparentemente absurda me abriu as portas para ver novas possibilidades por traz de uma realidade aparentemente trivial. Desde sua leitura passei a supor algum mistério promovendo a rotina dos acontecimentos normais.

Ficções, de Jorge Luís Borges
Desde 1977 tenho este livro em minha cabeceira. Não passo uma semana sem reler algum trecho. Sua estética simples e prodigiosa não cansa de me encantar. A sonoridade, a cadência, os acontecimentos inesperado fazem dessa obra uma rara preciosidade. Borges tem muitos textos fascinantes. Mas Ficções é o máximo. O Nobel perdeu uma grande oportunidade ao não premiá-lo.

Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy
Uma obra-prima que descreve o mundo brutal na fronteira entre o Texas e o México. Na fronteira imprevisível entre a civilização e a barbárie. Este livro me tirou o sono, pela dureza e pela poesia que consegue tirar dessa brutalidade.

Pedro Páramo, de Juan Rulfo
O texto aparentemente simples e criativo, e o clima ambíguo que não permite ao leitor saber se os personagens estão vivos ou mortos são as peças fundamentais do realismo mágico. A criatividade de Rulfo foi seminal na abertura de novos caminhos para uma nova corrente na literatura latino-americana e sua disseminação pelo mundo.

A Sangue Frio, de Truman Capote
Pela primeira, e talvez a única, vi uma combinação tão acurada de jornalismo com imaginação literária. O livro reúne todos os elementos, em doses milimetricamente medidas, para a realização de uma obra-prima. O relato brutal de um assassinato de verdade não deu apenas uma obra de não-ficção. O esmero de Capote a transformou em ficção de primeira linha.

A Metamorfose, de Franz Kafka
As circunstâncias em que li “A Metamorfose” ajudaram a potencializar as qualidades normais do livro. Vinha de muita subliteratura e obras infanto-juvenis. Em 1971, ao sair do interior e mudar pra capital, conheci um professor de literatura que me emprestou o livro e me orientou na leitura. Senti que se abria à minha frente um novo horizonte de possibilidades.

Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro
Um livro telúrico, um personagem rude, retrato autêntico da brasilidade profunda. Numa dicção original e criativa, adequada à rudeza do ambiente e das pessoas. Uma pequena obra-prima.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
A trama enviesada, da morte para o nascimento, uma biografia contada pelo próprio defunto, são fatos que me pegaram desde o início. Mas o que mais me encanta em Machado é a lapidação da frase, o burilamento da ideia, mas passando a sensação de que tudo soa natural. Um mestre da elegância, um ouvido privilegiado na construção da musicalidade do texto.

Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
O trabalho de linguagem é exemplar. O sertão alambicado em degraus de pureza. É claro que tem algumas platitudes e algumas cacofonias que poderiam ser evitadas. Talvez questão de gosto. Afora essas pequenas gralhas a obra é um monumento. Um monumento à cultura, à estética e à sensibilidade. Mostra como o talento é capaz de transformar fatos irrelevantes e toscos em peças de refinada cultura universal.

Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca
Quanto tomei conhecimento daquelas frases curtas e cortantes, feito estilete de malandro, fiquei encantado. A violência gratuita, de uma urbanidade barbarizada, me deixou pasmo. Talvez Rubem Fonseca tenha se tornado o profeta de uma realidade cruel que estamos vivendo sua plenitude em nossos dias. Digo da violência. Não do refinamento da linguagem nem da técnica narrativa.

Ulysses, de James Joyce
O que direi sobre “Ulysses”? Acho que tudo já foi dito sobre “Ulysses”. Ali você encontra tudo o que um aspirante a escritor precisa encontrar em suas leituras. Há uma cornucópia de estilos, estratégias e arranjos literários impecáveis. Joyce: o mestre dos mestres. Li e reli na tradução de Houaiss. Estou lendo na tradução de Galindo.

Vidas Secas, de Graciliano Ramos
A dureza da vida narrada com economia de palavras e movimentos. A vida dura refletindo no texto duro e sem adjetivos do velho Graça. Levantamento impecável de perfis com economia de recursos, onde até uma cadela manifesta sentimentos humanos. Um texto basilar para se escrever em língua portuguesa.

A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói
Antes que eu soubesse que Otto Maria Carpeaux tinha dito que “‘A Morte de Ivan Ilitch’ é uma das obras mais comoventes e mais pungentes da literatura universal, talvez a obra-prima de Tolstói”, eu já supunha que ele era isso tudo. Uma obra perfeita sob qualquer aspecto. De uma humanidade comovente e uma estética impecável. Digna da grife de Tolstói.

Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar
Um drama familiar tenebroso, em que um jovem distópico e pouco afeito à tradição, cria aborrecimentos incontornáveis no seio da família. Tudo narrado com maestria, e um sopro poético de alta voltagem. Um momento de pico da moderna literatura nacional.

Pergunte ao Pó, de John Fante
A angústia congênita da Geração Beat, esta geração que fermentou a minha geração, e nos inoculou sua doidice perambulante. A maestria de Fante em narrar histórias doloridamente humanas, sem se enredar na pieguice. Um romance comovente de geração que se tornou atemporal.

O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
Romance pungente da condição humana. Um momento iluminado de Hemingway. Uma das metáforas mais candentes de nossa condição de trogloditas precários portadores de sonhos de superação.

Madame Bovary, de Gustav Flaubert
Neste livro, contando uma história de triângulo amoroso, Flaubert disseca a alma dos personagens, especialmente da heroína. Como o adultério era crime de ação pública na França de sua época, Flaubert foi concitado pela justiça a dedurar quem era Madame Bovary, tal o realismo de sua exposição. Ao que ele respondeu: “Madame Bovary est moi”. Esta informação é manjada. Mas o livro é melhor do que qualquer informação que eu pudesse passar.

Dom Quixote, de Cervantes
Uma sátira impetrada por Cervantes à era dos cavaleiros de capa e espada. Uma história de loucura que atravessou os séculos e serve para chacotear ainda hoje as pretensões exasperadas que empreendemos de lutar contra os “moinhos de vento”. Uma das peças seminais da literatura como conhecemos. E que vale a pena ser lida em qualquer fase da vida adulta.

No Caminho de Swann, de Marcel Proust
Neste tomo, Proust vai fundo nos sentimentos que nos fazem humanos: a memória, a saudade, os biscoitinhos Madeleine, os sentimentos de amor e até os sentimentos de pouca nobreza, que poderiam ser classificados como os sete pecados capitais. Suas frases de volteios e meadas, constroem um texto com infinitas digressões. Não é leitura para apressados. Mas o leitor sairá premiado de seu exercício.

Morte em Veneza, de Thomas Mann
Novela curta do auto de “A Montanha Mágica”, “José e Seus Irmãos”, e “Doutor Fausto”. Um texto intenso, escrito em plena Belle Époque (1912), quando se acreditava que os recursos tecnológico e a grana viva poderiam prevenir o homem de qualquer precariedade (o Titanic foi construído sob a égide desse engano) um escritor consagrado, supostamente heterossexual, sucumbe tolamente pela paixão a um jovem desconhecido. Ou seja, ninguém está seguro de nada.

Jurubatuba, de Carmo Bernardes
Um sujeito sem raízes, andante pelo mundo, vai seguindo pela vida e aprontando. Segue pelos sertões de Goiás, fazendo das suas. Esse romance me mostrou na prática que os elementos de nossa epopeia estão ao nosso redor. O talento do autor é que vai transformá-lo em faturas universais, ou não.

A Máquina Extraviada, de José J. Veiga
Outro autor goiano que fez aumentar minha convicção de que não precisamos de elementos alienígenas para montar a nossa narrativa. A verdade do mundo está aqui, acolá e alhures. O que vai conceder grau de convencimento é o talento, o jeito de apresentar a narrativa. Veiga consegue contar histórias literalmente fantásticas, com o mínimo de elementos retirados dos cerrados minimalistas de Goiás.

Macbeth, de William Shakespeare
Um drama espetacularmente bem montado, numa linguagem elegante. Frases bem feitas sobre a condição humana diante do poder e da guerra. Fonte de inspiração inesgotável.

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Boa leitura!




Ah, Dona Doida e Querida Adélia



Uma leve identificação com Adélia Prado, ou melhor, Felipa em seus "Manuscritos":

"Antes fosse tudo culpa de má arbitragem e estresse muscular, conforme disse o torcedor sobre a derrota do seu time. Mas não é.
(...)
"Pus sobre o meu estômago um retrato de Santa Terezinha, esperando que ela me cure a dor no plexo."
(...)
"Neste exato momento quero escrever numa folha os números de um a vinte e quatro - os anos de vida de Santa Terezinha - num retrato sobre o meu estômago e pedir a ela, como um sinal de que não tenho nada de grave, que me tire agora esta dorzinha enjoada. Esta sou eu, a valente companheira do apóstolo Paulo. Em cada número vou rezar um Glória.
Rezei e a dorzinha continua, e com ela o medo de que seja sintoma grave. Como posso assim fazer cara boa e dar testemunho do amor divino, cantar sua misericórdia? 
Também não posso passar a vida toda me lembrando de quando tinha dezessete anos e amanhecia comendo o mundo, tão feliz que acendia lâmpada com os olhos. 
Cadê eu? Estou aqui, sou a mesminha."
(...)
"Preciso descobrir se é errado falar palavrões. É tão bom! Se for certo, nas horas de necessidade, é claro, posso dispensar o travesseiro que já está furado de tanto eu dar murro nele."
(...)
"A dorzinha continua, mas meu desconforto e medo não aumentaram nem diminuíram.
O que está errado? Eu estou errada. Em quê?"

**
"Só há subtexto em textos diretíssimos como - vou arriscar - os 'loguia' de Jesus: "Ama o teu próximo como a ti mesmo".
Mais direto impossível, mas vai viver o mandamento, experimenta e adentrarás à cidade submersa plantada em teu peito. 
Põe lá o teu pezinho e mais rápido que São Pedro desistindo de andar sobre as águas darás braçadas patéticas suplicando ar.
Dói tanto que a gente vai pro médico se queixar e volta com a mão cheia de pílulas e passa a viver com susto e a queixar-se até virar uma pessoa muito chata e desagradável, cheia de textos, falsazinha."
**
Hahaha! não é mesmo uma maravilha? É que a gente não tem essa coragem... kkkk!!!

E ainda tem gente que fica perguntando - só pra chatear - pra que serve a Literatura...

Vão ler, vão ler... que ainda saberão que serventia tem a  Literatura!

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Adélia e Elisa

Nas páginas do facebook, recebo este presentão da querida amiga e ex aluna CRIS VALE.
Bom demais ser lembrada dessa maneira.
Muito, muito agradecida, querida Cris.


Divinadélia
por Elisa Lucinda

Então era Divinópolis. Não era mais sonho. 
Em sua terra, senhora, desembarcamos, eu e a Geovana Pires, com o embrião de uma peça, ainda um híbrido entre recital e espetáculo, na abertura oficial da segunda Festa Literária de Divinópolis (FLID). 
Apresentamos nosso estudo teatral sobre o sagrado e o erótico na obra da maior poeta de língua portuguesa do nosso tempo. 
Viva, ereta, digna, sábia, lúcida, leve, jocosa, discreta, aguçada, espirituosa, inteligente, generosa, a mais sofisticada e aparentemente mais popular filósofa da vida que conheço.

O que aconteceu no palco foi uma espécie de liturgia. 
Quem entrava sentia o cheiro da mirra a exalar no teatro vindo do turíbulo donde espargimos tal perfume. 
O que mostramos não era a Adélia Prado do fogão, dos peixes, a mulher aparentemente desdobrável, dividida em funções domésticas e quitutes. 
Adélia é uma investigadora da alma humana. Tece com ela mil simbolismos e vai nos representando. Quando junta o erótico com o sagrado, ou melhor, quando não o separa em sua gênese, desaba sobre nós, transgressora; desponta em seu povoado, hoje uma cidade de médio porte, como um enigma moderno. 
Quem ler Adélia com mais atenção vai ver a mulher que deseja, que tem tesão, que tem culpa e gozo no perdão. Vai ver as contradições que inventamos quando aceitamos uma oposição entre a carne e o espírito. 
Em seus poemas ela diz claramente que Jesus, na cruz, “nos revela apaixonadamente a inocência da carne” e não esconde seu amor por Ele. 
Herdeira do êxtase de santa Teresa, dos mistérios gozosos que envolvem as faces das santas e dos santos, fã dos super eróticos cânticos de Salomão, Adélia é uma divina criatura. E a sua obra nos põe em nosso lugar de criatura.
A arte é uma grande professora. 

Hoje regressada de lá, daqui do meu jardim, reflito quantas coisas me ensinou essa viagem. Abençoada que me sinto por estar tendo o direito de conhecer o meu mito, minha mestra, a dona da poesia que mais frequenta minhas aulas, minha estante, nosso repertório da Casa Poema. 
Mas a sofisticada simplicidade da mulher Adélia, a altivez com que ela e o marido Zé tratam a vida a redimensiona na nossa frente. Uma vida com sentido. 
O mundo está cada vez mais cheio de mais devotos do consumismo. 
A sociedade virou uma loucura chamando de velho o produto do ano passado.

Um dia estava em uma viagem e percebi que no meu celular a mesma foto que a menina fazia ao lado saia sem qualidade ou definição da imagem dela. Estranhei: Olha o seu também é Iphone não sei por que sua foto está melhor. Então, ela me disse, sussurrando, como uma cúmplice de algo que eu não sabia: Ah, o seu é 4? Eu disse: é, tem que falar baixo? Eu não sabia. Venho falando isso alto, em qualquer lugar. É feio? Pega mal pra mim? Coitado, o Iphone 4 é o negão dos Iphones? Claro que o 6 é superior. Mas não atribuo uma hierarquia entre os seres a partir dos seus bens. Quem tem um aparelho eletrônico mais moderno que o outro definitivamente não é superior ao outro por isso. Sei que me entenderam. Não gasto mais uma linha sobre isso.

O que quero dizer é que a poesia pode nos ensinar essas coisas. É ela que tem que ir para as escolas. É ela quem dá conta numa só tacada de valores da convivência comunitária, fundamentos da paz, justiça, ética, sentimentos, além de excelente uso da nossa língua. 
Se a poesia der ao ser humano, no mínimo, uma narrativa, já está dando tudo.

Divinópolis é uma cidade conhecida hoje no Brasil e no mundo por causa de Adélia. Sua luz deu luz e existência à esta divina pólis aos olhos de fora. 
Católica, conservadora, ébria, divertida, carinhosa, doida e devota esta terra é. 
Cheia de jovens talentos a quem quer que honrem a consciência de que são herdeiros da grande maga do lugar, a inimitável. A que faz a diferença. 
Em poucos dias aprendi muito. E acho que Adélia ainda é seu grande enigma. Nascida antes de seu tempo, é daqueles escritores que só serão bem entendidos no futuro. Mas enquanto isso, aceitei tomar café com ela, conhecer sua casa, seu jardim, comer do seu queijo, falar poesia entre seus amigos, beber licor, comentar a nossa peça, o quanto agradou o coração da homenageada e o quanto nos autorizou na empreitada. 

Numa tarde, depois de umas caipirinhas na casa de Ana e Márcio, amigos que fiz lá como Denise e Daniel, sonhadores do lugar, passei em frente a um culto, um órgão lindo e cantavam um cântico lindo, bem alto e eu também soltei a voz cheia de caipirinha na ideia louvando. Aprendi a canção e vim cantando na rua alto. Cantava sem preconceito, achei bonito as pessoas louvando, o estado da religião, o torpor. 
Adélia diz que preconceito é pirraça. É mesmo. 
Mas a missionária da igreja veio correndo atrás de mim: Volta, acalma seu coração. Eu estava bem, feliz, o meu coração calmo, alegre, batendo assim: Adélia, Adélia, Adélia, que honra pertencer ao seu tempo, ter acesso à claridade da sua poesia. 
Quando passamos para nos despedir, o Zé na sua oficina, as placas de luz solar sobre a casa viva, o jardim de rosas. Me chamou ao seu quarto, um templo de gente rara, normal. Deu-me uma caixinha de madeira linda, cheirosa, com um terço dentro: “ Brilhoso igual ocê” . Uma libertação. Saí de lá liturgicamente pagã.

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domingo, 23 de agosto de 2015

Baú da Vó

Sem parafernália... voz (e que vozes!) , violão (e que violões!), Arte!

Esses foram os anos 60, musicalmente maravilhosos.




Vamos cantar?

Early Mornin' Rain

In the early mornin' rain
With a dollar in my hand
And an aching in my heart
And my -pockets full of sand
I'm a long ways from home
And I missed my loved one so
In the early mornin' rain
With no place to go

Out on runway number nine
Big 707 set to go
Well I'm out here on the grass
Where the pavement never grows
Where the liquor tasted good
And the women all were fast
There she goes my friend
She's rolling out at last

Hear the mighty engines roar
See the silver wing on high
She's away and westward bound
For above the clouds she flies
Where the mornin' rain don't fall
And the sun always shines
She'll be flying over my home
In about three hours time

This ol' airport's got me down
It's no earthly good to me
'Cause I'm stuck here on the ground
Cold and drunk as I might be
Can't jump a jet plane
Like you can a freight train
So I best be on my way
In the early mornin' rain
So I best be on my way
In the early mornin' rain
So I best be on my way
In the early mornin' rain

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Signo e flor




Por ser um signo da água, os cancerianos gostam de flores aquáticas, como a flor de lótus, os nenúfares e a rabo-de-gato, pois simbolizam a pureza e a doçura, e também representam os valores pela literatura e artes, pontos fortes deste signo.


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Melhor com Mozart



Tanta coisa tem acontecido nas últimas semanas... Coisas demais, acontecimentos felizes e outros nem tanto, tempos confusos para as emoções que nos deixam em ritmos alternados.
No momento, estou ouvindo uma hora (sim, uma hora!) de Mozart para acompanhamento dessa alternância.
Até os cachorros da vizinhança se acalmaram. Silêncio que vamos ouvir Mozart!

Não estou bem em condições de expor minhas ideias com maior clareza.
Tive uns problemas de saúde - dores, desconforto e relativa dependência, o que não gosto nem um pouco. No aguardo de resultado de exames. . Só então o médico resolverá o tipo de tratamento. É enervante.
Enquanto isso, ouçamos Mozart!

Por uns dias, não estou acessando o facebook.  Cansada talvez do assunto que inflama o país. Manifestação (de novo) marcada para ontem, domingo.
Evidentemente o  clima é de insatisfação geral. As ações e reações é que cansam, enjoam e não se vislumbra solução.  "Imponderável" - como estão dizendo os pobres repórteres obrigados a cobrir o evento .  Não há como analisar a situação em meio a tanto desatino.  Escândalos de todo tipo : Corrupção institucionalizada, Operação Lava Jato, acordos escusos, delações premiadas, discussões inócuas pois quanto mais se levanta o tapete mais imundície aparece.

Melhor mesmo continuar ouvindo Mozart!

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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"OH, MINAS GERAIS..."

 Foto de Marley Mello.

A beleza natural e rural de Ipoema, distrito do município de Itabira, MG,
terra do poeta Carlos Drummond de Andrade.


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O CORPO FALA


"O corpo fala...

Não trate apenas dos sintomas, tentando eliminá-los sem que a causa da enfermidade seja também extinta. A cura real somente acontece do interior para o exterior ...

Sim, diga a seu médico que você tem dor no peito, mas diga também que sua dor é dor de tristeza, é dor de angústia.
Conte a seu médico que você tem azia, mas descubra o motivo pelo qual você, com seu gênio, aumenta a produção de ácidos no estômago.
Relate que você tem diabetes, no entanto, não se esqueça de dizer também que não está encontrando mais doçura em sua vida e que está muito difícil suportar o peso de suas frustrações.
Mencione que você sofre de enxaqueca, todavia confesse que padece com seu perfeccionismo, com a autocrítica, que é muito sensível à crítica alheia e demasiadamente ansioso.

Muitos querem se curar, mas poucos estão dispostos a neutralizar em si o ácido da calúnia, o veneno da inveja, o bacilo do pessimismo e o câncer do egoísmo. 
Não querem mudar de vida.
Procuram a cura de um câncer, mas se recusam a abrir mão de uma simples mágoa.
Pretendem a desobstrução das artérias coronárias, mas querem continuar com o peito fechado pelo rancor e pela agressividade.
Almejam a cura de problemas oculares, todavia não retiram dos olhos a venda do criticismo e da maledicência.
Pedem a solução para a depressão, entretanto, não abrem mão do orgulho ferido e do forte sentimento de decepção em relação a perdas experimentadas.
Suplicam auxílio para os problemas de tireóide, mas não cuidam de suas frustrações e ressentimentos, não levantam a voz para expressarem suas legítimas necessidades.
Imploram a cura de um nódulo de mama, todavia, insistem em manter bloqueada a ternura e a afetividade."...

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REIKI AMOR INCONDICIONAL
Por Adriana
Ilustração Richard Gere
Compartilhado de Ana Claudia Accioly"

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A avacalhação reina... - Anna Ramalho


A avacalhação reina absoluta no Brasil
Anna Ramalho - Jornal 'O Globo', 07 de agosto 2015

Minha avó tinha horror a palavreado chulo. Ameaçava com pimenta na boca se as netas pensassem em soltar um merda ou coisa que o valha.
Tinha particular horror ao uso da palavra avacalhação – que, realmente, é muito feia pra início de conversa, soa muito pior do que a merda acima.
Tenho me lembrado muito da vovó nesses dias que só posso definir como de imensa  – e intensa – avacalhação.
Como se não bastasse a avacalhação que o PT e sua gente esquisita e trapaceira nos impinge, ainda ouvimos um ex-Presidente, senador da República, moço bem nascido, do alto da tribuna do Senado, chamar de fdp o Procurador Geral, que apenas cumpre seu papel.

Avacalhou também o que resta de dignidade ao PDT o Carlos Lupi.
Politicamente, nunca gostei do Brizola, mas não se pode falar nem de sua inteligência nem de sua integridade.
Pensar que a sigla pela qual tanto lutou caiu nas mãos deste senhor inqualificável, que muda de lado como muda de gravata,  de acordo com os seus interesses sempre reles, é triste.
Brizola, coitado, não pode descansar em paz. Deve estar dando saltos na tumba.

E o que dizer da ideia de fazer de Lula da Silva ministro das Relações Exteriores para enfiar à força o ex-presidente no Planalto e assim tentar salvar a pele de Dilma?
Isso e mais fornecer à Excelência foro privilegiado, já que, ao que parece, ele não escapa no mínimo de investigação.
É a avacalhação em seu estágio máximo. Avacalhação com PhD.
Imaginar o Lula, grosso do jeito que é, monoglota que tropeça no próprio idioma, andando mundo afora para tratar de questões internacionais é avacalhar de vez a memória do Barão do Rio Branco, outro que deve estar chacoalhando em seu túmulo.
Isso, pra início de conversa, é um desrespeito com o chanceler Mauro Vieira, um excelente e respeitado quadro do Itamaraty, perdido aí nesse governo, que mais parece a casa da mãe Joana, onde todo mundo grita e ninguém se entende.
Lula chanceler só pode ser uma piada. De imenso mau gosto. A total avacalhação.

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sábado, 1 de agosto de 2015

Céu de Otacílio

A 'Lua Azul' - Resende, 31 de julho 2015, em foto artística de OTACÍLIO RODRIGUES.
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