quinta-feira, 30 de junho de 2016

Um texto verdadeiro de uma mãe de verdade - A jurupoca vai piar


Da página "Humor de mãe" - facebook

Claudia Gomes - Humor de Mãe
29 de junho 2016, ás 13:19 ·


Hoje a Jurupoca vai piar

Algumas amigas já me perguntaram, tímidas, se de vez em quando eu perco a cabeça com meus filhos. Se dou uns gritos, seguro com mais força, se fico bem loucona. 
Veja, eu era do tipo que via crianças se jogando no chão num ataque histérico e torcia o nariz. Ja-ma-is um troço daquele aconteceria comigo. Coisa de gente que não sabia dar educação. Eu não. Eu seria aquele tipo de mãe que bastaria um olhar, para ser prontamente obedecida. Aham. 

Medalha de ouro em cuspida pro alto. Meus filhos são até educados, nem posso reclamar. Mas são crianças. Já se jogaram muito no chão. Porque criança às vezes acorda e pensa: que lindo dia pra fornicar com o juízo da minha mãe. E há também os dias em que o nosso juízo se auto-fornica sozinho. Seja por cansaço, estresse ou a lista com setenta e duas coisas para fazer antes do meio-dia. Ou tudo isso junto. Em momentos assim, minha querida, eu grito. Grito, sim. E estou vivendo.

Antes que você, futura amiga-mãe-caminhoneira, torça o nariz, saiba que sou fã do papo reto, gasto saliva à beça com eles. E funciona lindamente. 
Mas tem horas que eles estão virados na jyraia. Loucos, cegos e surdos. Se não der um 360 na baiana, eles nem ouvem. 
Também aplico punições. Tomando cuidado para escolher castigos que sejam pra eles, não pra mim. Um mês sem aquele brinquedo que pisca convulsivamente e toca música japonesa fanha é a glória. Uma semana sem televisão pode causar danos terríveis, como prisão de ventre materna ou impossibilidade total de atender um telefonema. 
E, em dias que estou mais morta que galinha de oferenda, também apelo para técnicas de educação pouco ortodoxas. Como a chantagem, o suborno, ou a ameaça leve ("se não falar comigo direito, vou fazer minha dancinha maluca na porta da escola"). Não recomendo para o dia a dia, porque causam perda irreversível de moral. Mas não matam, se aplicadas em horas de extrema necessidade. De preferência quando não tem ninguém olhando.

Agora, quando nada disso funciona, lanço mão da minha arma secreta: a ameaça barra pesada. Estamos falando do momento onde todos os recursos foram esgotados. O último estágio na cadeia alimentar das broncas e esporros. O limite. 
Quando chego nesse ponto, não grito mais. Ao contrário, falo baixinho. E é aí que eles sentem que ferrou. Me inclino, para olhar bem dentro dos olhos e sentir o arrepio percorrendo suas coluninhas. Com dentes trincados, a boca mal abrindo, me limito a dizer: “Se não me obeceder a-go-ra, a jurupoca vai piar”. 
Não lembro quando foi a primeira vez que disse isso. Nem sei o que seria uma jurupoca. Tampouco o que acontece, de fato, quando ela pia. (Tá, acabei de ver no Google, é um peixe!) O caso é: funciona. Porque eles, movidos pelo instinto do cagaço absoluto, sabem que acabou a palhaçada. 
Para minha sorte, nenhum dos dois nunca quis saber o que eu faria, caso tivesse que cumprir a ameaça. Possivelmente, sentar, chorar e chamar minha mamãe.
Resumindo, podem tirar mais essa culpa da sua lista, minhas queridas. 

A mestre yogue, aquela amiga chiquérrima, a psicóloga, a professora de catequismo, todas nós exageramos nos graves e agudos vez ou outra. Desconfio que até Nossa Senhora, com todo respeito, já deve ter dado uns berros com o menino Jesus, pelo menos uma vez.
E isso não faz de nós mães ruins. Me arrisco a dizer que ao contrário. 
Se você não é uma doida, que grita todos os dias, espanca ou joga filhos pela janela, saiba que perder a cabeça de vez em quando, com ou sem motivo, pode até ter o seu valor. Serve pra eles aprenderem que não somos heroínas de histórias em quadrinhos. Somos humanas, como eles. Com momentos de paciência e sabedoria, mas também de dúvidas, exaustão e vontade de sair correndo pelada pela rua. (Não? Só eu?)

E, não se esqueça, se estamos brigando, falando mais-de-mil-vezes-a-mesma-coisa, é sinal de que estamos ali. Com eles. Lutando pra que sejam minimamente civilizados. E isso não é pouco, nesse nosso mundão tão corrido de meu Deus. De onde se conclui, amigas, que Jurupoca também é amor.
**

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Retrato



RETRATO
Quinita Ribeiro Sampaio - poetisa contemporânea (Campinas-SP, 1926)

Fui íntima um dia
mas como me distanciei
da menina do retrato.
Já habitei sua pele
mas dela nada mais sei
não conheço
a menina do retrato.
Como seria a sua voz
e o som do riso
e o seu choro?
Em vão busco em seu olhar
um vestígio, algum resto.
Um mistério opaco encerra
a menina no retrato.
Em que dia se rompeu
o elo que nos prendia?
Em que dia ela morreu?
**


Quando o caminho a ser trilhado no mundo desenhava-se ainda distante, assustador, impossível ou quase de ser recomposto aos olhos de hoje 

‘Outros tempos’, é o que me dizem sempre os da minha geração. A vida, o mundo, o país  eram diferentes.  
Eu também era outra? Não sei dizer; trata-se de um resgate de imagem apenas casual – arrumação nos armários – trazendo, sim, lembranças boas, outras nem tanto mas que ainda norteiam um pouco o espanto pelas incertezas atuais.

É só uma fotografia. E ainda o retoque, feito à mão pelo fotógrafo-artista, ressaltando cores.e  tons.

Hoje, não se precisa de determinado tempo nem da escuridão do ambiente para se revelar.

Os dias que correm seriam inadmissíveis para quem olhava a vida com imensa curiosidade e imaginara um futuro onde tudo estaria definido.
Nunca esteve, nunca está, nunca  estará. 

Sueli,
Resende, final do outono  2016

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Awa Ly : Wide Open



Assistindo ao programa "Lá", de Orlando Morais, no Canal Livre, encontrei essa cantora e atriz senegalesa e gostei muito.  Atualmente, ela vive na Itália.

Gostei também da música.