terça-feira, 12 de julho de 2016

Clarice (da Telma)

Da amiga Tel Mont, na perda de Clarice, sua amiguinha de quatro patas 

"Essa dor, preciso desnudar-me dela, a dor de vê-la partir. Para o Indefinido.
Clarice, Clarice, há quanto tempo nos tivemos, mas agora treze anos parecem tão pouco diante da ausência dos latidos e lambeijos em festa pelo simples fato de eu ter acordado, de eu ter voltado de algum lugar (do trabalho distante ou dali da esquina...). 
Esse absurdo sentimento que não há jeito de nós, humanos, aprendermos. Esse dom de fazer o Outro saber que é amado, dentro do agora, que é querido, de uma forma incansável, transparente, sem adiamento e sem pudor. 
Felizardos são os cães, independentes do cabresto das palavras; felizardos são, que só entendem de sons e olhares profundos, de odores e olores, o cheiro do "dono" e da comida preferida.
Clarice se foi.
Clarice que gostava de dormir ao sol da manhã, perto do portão. Que fechava os olhos e oferecia a carinha ao vento ou ao chuvisco, tão puro 'carpe diem'. Que recriminava, com latidos enérgicos, relâmpagos e trovões. Que sempre ignorou sua graciosa pequenez diante do mundo. 
Baixinha Clarice, atrevida Clarice. Ora pinotes, ora passinhos delicados.
"Cadê o meu bebê?" Está aqui, aqui dentro, passeando calmamente à brisa do meu amor. Olha, Clarice, um feixe de sol...! Durma, querida, durma. Não há mais dor, não há mais sofrer. 
Hoje a tão pequena sou eu, devastada pela saudade diante da "sua" cadeira... vazia.

Até um dia, até de repente... Quando também eu atravessar para a "terceira margem do rio" - esse mistério, reconhecerás minha voz quando eu novamente chamar o teu nome? "
(TelMont)



Clarice (da Telma)

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