Resende, 13 de junho 2018 – quarta-feira
Costumo diversificar minhas atuais reduzidas 'tarefas' - digamos assim...
Em meio a cuidados com a família, comigo, com a casa, gosto da internet (em parte), não gosto muito de TV, adoro ouvir música (eu disse música), saio pouco - mais por necessidade, para conferir a rua, por convívio ou algum motivo que apareça, ou seja, raramente algo programado. Minha preferência é a leitura. Disponho de tempo, esse luxo moderno - sem dinheiros, bens ou propriedades considero-me "ryyycaa" ; almejo me tornar também "phyyynaa", ainda que gorda e/ou 'no fashion'.
No momento, estou enrolada aqui com "A estética do oprimido', de Augusto Boal. Parece que o pretexto é falar de teatro, mas vai além. Ou o contrário, ainda não decidi...
Enfim, estou gostando, embora - é claro - seus conceitos e argumentos não me seduzam completamente.
Algumas vezes, leio, paro, penso um pouquinho (só um pouco, porque cansa) e, se achar válido, publico na minha página do facebook a experiência. É isso.
Hoje, por exemplo:
“Nenhum de nós tem que ser melhor que ninguém; cada um de nós pode sempre ser melhor que si mesmo.”
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“Gigantesca tolice é simbolizar a Justiça por uma mulher de olhos vendados quando ela deveria ter os olhos bem abertos para tudo ver e pesar.”
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“Ética é o caminho por onde se pretende chegar ao sonho de humanizar a Humanidade. A ética repugna a persistência do instinto predatório em sociedades humanas, cujos resíduos selvagens ainda existem em nós.”
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“Os mistérios do mundo são maiores que as respostas que sabemos dar. Ainda mais complexas são as perguntas que não sabemos perguntar.”
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O extraordinário poder hipnótico da TV é levado ao paroxismo pelo frenético movimento da imagem. Sabemos que qualquer movimento é atraente por causa da sua imprevisibilidade – todo movimento cria suspense.
Ainda no berço, o olhar do bebê é atraído por qualquer coisa que se mova, principalmente se tiver cores: o movimento harmônico de coisas e cores é forma sadia de desenvolver sua capacidade de perceber. A TV utiliza esse fato biológico para confundir, fazendo com que suas imagens não demorem na tela, via de regra, mais que alguns segundos fugidios.
Não permitir que os telespectadores vejam as imagens que olham – esse é um princípio básico da hipnose televisiva : forçar o olhar sem ver.
O olhar, sem passar pela consciência, transporta ao cérebro a ordem: compre!
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Onde se expande o medo e a insegurança causados pelo sistema socioeconômico em que vive a maioria das nossas populações aí se expandem as igrejas inventadas por qualquer autodenominado bispo ou pastor. Começam do nada – basta uma sala ou barraco em área pobre –, e podem crescer numerosas e fortes, pelo número de seus integrantes, oferecendo maior segurança espiritual onde nenhuma segurança material existe.
AUGUSTO BOAL (1931-2009)
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Bem, terminei de ler o livro do Boal. Apresentado como ‘projeto teórico e programa político com o propósito de estimular o pensamento estético por meio do acesso à produção artística’.
Até aí, para mim, tudo certo ...
Entendi como tema principal a liberdade de cada um, individual mesmo. Entretanto, percebi claramente alusões a regimes políticos em que a liberdade tem sentido ampliado e a ‘opressão’ praticada por determinado grupo pretende destruir essa individualidade.
Nesse caso, no meu entender, há uma saída pela tangente, o projeto ‘teatral’ transformando-se em bandeira partidária. Meu interesse diminuiu mas continuei lendo.
Confirmei meu entendimento pelo tom levemente, sutilmente panfletário na descrição minuciosa de vários exemplos de ‘opressores’ da criatividade.
De uma certa forma, ressuscita exaltando figuras de heróis temporários e, ao mesmo tempo, aceita o pensamento de Brecht quando este diz “infeliz a sociedade que precisa de heróis”.
Enfim, valeu porque a leitura sempre vale a pena.
Gosto de conhecer diferentes e mesmo conflitantes modos de pensar - mesmo porque sempre existirão - o que não torna, absolutamente, impossível a convivência.
“O que seria do azul se todos gostassem apenas do amarelo?”
Sueli, junho 2018
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