sábado, 27 de junho de 2015

Um curta-metragem interessante...

O Proustiano de Osasco, de Marcos Fábio Katudjian. 


Assisti hoje a esse documentário no Canal Brasil e gostei muito.

O diretor Marcos Katudjian encontrou em um dia qualquer, na cidade de Osasco (grande São Paulo), a figura ímpar de Necésio Pereira, cidadão da periferia que teria tudo para ser mais um do bando, mas que recusa o destino comum e anódino quando descobre na leitura de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust o que o diferencia do “gado” conformado.

Há anos o protagonista do filme lê o mesmo livro no trajeto de casa para o trabalho (e na volta) , talvez sem entender a real dimensão do que há nessa leitura específica, mas com a total percepção de que está ali alguma coisa desse seu viver diário.

O rapaz tem uma expressão séria mas calma, algumas vezes até reflexiva, como se o que está lendo mereça um esforço maior de atenção. É filmado o tempo todo em vários momentos do seu trajeto cotidiano.

Em alguns momentos, o filme ilustra com a própria literatura algumas de suas passagens destacadas por leitura em 'off', além dos trechos impressos  filmados.
Em outros , o protagonista responde a perguntas do diretor sobre o hábito da leitura e se tem com quem falar a respeito do que lê.  Ele diz que não.
A pergunta então é se ele se sente sozinho. A resposta é não. Não pensa em solidão porque se sente preenchido com as ideias do autor. O livro é companhia.
Depois, ao responder sobre se tem amigos diz : Conheço muitas pessoas mas amigos não tenho não,.
Sua expressão (verbal e facial) continua tranquila, aparentando apenas uma constatação.

Quando é questionado sobre se a leitura constante talvez seja o motivo do isolamento ele diz que pode até ser pois algumas pessoas só se aproximam para lhe fazer perguntas difíceis e de cujas respostas ele não tem a menor ideia. Diz que talvez porque esteja lendo seja julgado como alguém mais inteligente e que não vê nisso nenhuma verdade. Lê porque prefere se abstrair do barulho do trânsito e das vozes misturadas em diálogos incompreensíveis.

Enfim, achei o filme muito interessante.

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