MEU PRIMEIRO SUICÍDIO
Eduardo Lima Cabral - 'OBVIOUS - recortes'
Recentemente resolvi suicidar-me socialmente.
Deletei meus cinco diferentes logins de todas as minhas contas em redes sociais, aquelas que geralmente a gente costuma cultivar o ócio e prolongar milhares de assuntos banais até que eles ganhem alguma relevância.
Do Facebook ao Instagram, resolvi apagar tudo. Num estalo de sensatez, achei tudo aquilo sem sentido, pelo menos por um momento, pelo menos por enquanto.
A ideia de estar disponível, se alimentando o tempo inteiro de superficialidades, exigindo e consumindo informações sem nenhum tempo para a digestão faz a gente entrar no automático da compulsividade por pautas inúteis, faz a gente absorver sem distinguir e, sem distinguir, faz a gente se perder.
Perder-se de si em uma rede social em que o principal atrativo é você, sinceramente, é uma das coisas mais idiotas que podemos fazer, mas se compararmos até que ponto a sensação de alimentar e montar o próprio avatar para um público invisível é, realmente, positiva para nós?
Se colocarmos numa balança, a ansiedade que se sente pela expectativa de aceitação é maior que toda a inveja e previsão de rejeição que cultivamos enquanto monitoramos uns aos outros?
Aprendemos a viver numa tensão por atenção. Nos obrigamos a ficar atentos e a olharmos uns pelos outros pelos motivos errados, por tudo aquilo que é superficial e banal. Olhamos cabelo, roupa, bunda, pelos, carro, emprego e, de forma consciente, sabemos que estamos sendo observados por estes mesmos motivos, logo, entramos no automático para melhorar cada vez mais nossos principais pontos que são avistados, os da superfície.
Com pessoas cada vez mais narcisas, exibicionistas, e egocêntricas, como você acha que estaremos daqui alguns anos?
Se tratando do intelecto, ou o breve lado que abordamos questões direcionadas ao conteúdo de cada um de nós, parece que não ter visto o que saiu por último no mundo é desagradável, é errado.
Vivemos a tensão por atenção, não só aos 'detalhes banais mais importantes das últimas três horas de vida de uma determinada pessoa', mas das notícias, do consumo sem critério de qualquer e toda informação.
Parece que não saber qual o último viral, quem foi fazer as unhas, qual a cor do vestido naquela foto, ou ver as últimas fotos que vazaram de alguém, é não fazer parte, é estar por fora.
Parece que o mundo ficou rápido, tudo num toque de atualização, e que deixamos de viver para assistir as coisas.
Resolvi me desligar para me atualizar. Como um software, dos mais antigos até os mais recentes. Daquele chato que pede para reiniciar seu computador, necessitando rodar toda a bagagem e ser reiniciado por completo, até aquela atualização rápida no seu celular, que também desliga, mesmo que brevemente, para que as configurações engradeçam seu sistema.
Me desliguei para apagar de uma vez esta ideia que estamos construindo - de forma coletiva - como nossa nova cultura, como nosso novo legado. A necessidade de aceitação a qualquer custo, sempre acompanhada da fobia de não estar sabendo de tudo.
Hoje estou reaprendendo a me interessar pelo desinteresse, pelo ócio, pelo silêncio, por não saber, não ter visto, por não ter o que fazer, por dormir e, principalmente, por não ter um leque de criadas e desnecessárias tensões.
Parece que não, e pode até soar como conspiração, mas você pensa de forma extremamente distante de como pensava há 10 anos, e nada tem a ver com sua idade ou todo o avanço tecnológico e a evolução. Isso tem a ver como a nova forma com a qual estamos semeando nossa própria educação, nos tornando seres humanos que deixam cada vez mais claro o próprio medo de estarem vivendo em vão, deixando que isso afete a forma como a gente se relacione hoje.
Sim, o termo 'suicídio' foi escolhido a dedo, de certa forma, carregado com uma pitada de receio, mas o ponto central deste recorte de provocação é que, não é porque estamos andando para frente que é uma evolução, ou que seja certo.
Um ótimo exemplo é a inocente e verdadeira sinceridade de toda e qualquer criança, que geralmente, sem pestanejar, falar o tudo sem pensar.
Se desconectar é viver uma vida sem bloqueios, sem chancelas, sem redes, sem a necessidade de ser social.
Nada permanente, talvez como a filosofia A.A., comece só por hoje, torne provisório e retome aquilo que deveríamos ser, ou volte a navegar pensando o que gostaria que fosse.
* * *
Notinha: os grifos são meus.
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