segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Ainda Brasil


Vergonha desse país
Marli Gonçalves - jornalista

A gente fica meio assim, encabulado, tímido, introspectivo. Às vezes nem comenta, porque já está até chato, mas fica ali matutando, com o assunto na cabeça. Tem sido assim nesse nosso país já faz mais de ano, parece que entramos numa espiral...


  
Qual vai ser a próxima? Qual será a frase que nossa presidente dirá e que passaremos a semana inteira ironizando e sacaneando? Será que ela vai citar de novo a volátil mosquita?

Quem vai aparecer da tumba, para não morrer deitado, e virá com mais revelações picantes de caráter pessoal? 
A famosa Rose, do Lula? 
Daria tudo para conseguir essa entrevista, nesse momento o poço dourado dos jornalistas que cobrem política. Se pudesse estaria no rastro dela - instinto de repórter na veia. 

Mesmo se eu não a encontrasse, tenho certeza que boas pistas no caminho não falhariam. Guerra é guerra e está visível que nesse momento está deflagrada uma fantástica batalha de ódio e comunicação, uma interessante maratona para ver quem consegue levar o Barba à linha de chegada, aliás, para bem além dela. Ou encontrar quem consegue anular a prova.

Será que essa semana, além do constrangimento de ver o senador Delcídio do Amaral, o preso-solto-morto-vivo, adentrar o Senado, vamos ter o Japonês da Federal lá dentro para buscar algum outro? Ou será que o Japonês da Federal vai ter o ego subindo pra cabeça e vai voltar lá só para fazer selfies, inclusive posando pimpão com os investigados?

Pode ser que na nossa tevê apareça algum comercial novo, vindo da lama, como se a lama envenenada já não falasse mais alto a cada dia que passa; comercial variado e com outros funcionários sorridentes, bonitinhos, assumindo a culpa e a desculpa. Não tem jeito: você também ainda vai ter de ouvir a propaganda de um vampiro de tez bem branca falar que não devemos aceitar propaganda enganosa dos partidos, e que o dele é que é legal. (!)

Por falar nisso, quantas criancinhas não estão comendo nem o lanche que atrai para a educação, porque alguém está abrindo a lancheira no caminho para surrupiar o leitinho, morder a maçã, quebrar o biscoito? 
Quantos olhinhos cabisbaixos eles mostrarão jurando que não, que merenda escolar é sagrada e aliás eles nem sabiam que existia, como é que iriam roubá-la? 
O que mais não vamos poder saber enquanto não se passarem 50 anos? 
Inovador: governo inventa Cápsula do Tempo. Um buraco, as informações dentro de uma caixa, e que só daqui a 50 anos será aberta. Imaginando, né? - a grande importância que coisas deste governo medíocre terão daqui a 50 anos. Ou mesmo hoje.

Vergonha. 

Nós nos rebaixaremos tanto que mostraremos os fundilhos ao mundo que nos observa, num misto de pasmo com curiosidade? 
Quanto mais se abaixa, diz o provérbio português, mais o fundilho se lhe vê. Aliás, não é exatamente fundilho a palavra que usam. 
Nem mesmo muitos brasileiros temos ainda capazes de encantar. 
Jogadores também nos envergonham, e era uma de nossas artes.

Que números mostraremos às mães? 
Quantas serão as crianças doentes? 
Que acontece que somente agora viram o que a mosquita carregava em seus voos, sem ser incomodada por nada, nem fumaças, nem autoridades sanitárias, ou outra autoridade qualquer, e a lista aumenta, ameaçando severamente a nós todos? 
Qual bobagem dirá o ministro, se é que ele não vai precisar ir até ali por algumas horas participar de alguma votação importante - para ele? 

Vergonha. 
Se não chove, não tem água. Se chove, acaba a luz. 
O lixo entope os bueiros, água sobe, as árvores caem, as pessoas se desesperam e nada acontece e assim por diante já sabemos o que vai acontecer assim que o céu ruge. 

Que faremos? Se de um lado nos divertimos com os Trapalhões, de outro temos de ver como substituir esse espetáculo dantesco, e o que se vê diante de nós é tosco demais, filme-B, Z. 

São Paulo, 2016, sonhos de uma noite de verão.

*            *            *

Marli Gonçalves, jornalista do chumbogordo.com.br - Só cantando, com o grande Nélson Cavaquinho, porque tem coisas que a gente não pode falar. (...) "É o juízo final. A história do bem e do mal. Quero ter olhos pra ver. A maldade desaparecer" (...

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