terça-feira, 4 de setembro de 2018

Incêndio Museu Nacional do Rio de Janeiro

Vergonha de ser brasileiro
Octavio Caruso - 3 de setembro de 2018


Triste noite. O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro é o símbolo de uma cidade abandonada. Vejo da janela as chamas, o local tão lindo que visitei tantas vezes, desde criança nas excursões escolares, dois séculos de história perdidos para sempre.
A cultura chora, tentando resistir à estupidez de um povo que, por décadas, elegeu governantes e prefeitos incompetentes. Que país vergonhoso.

Um patrimônio inestimável perdido em questão de horas. “Nação”? Não, um esgoto a céu aberto. Um povo que não valoriza cultura, que despreza a memória. Uma classe política nojenta, reflexo cristalino de seus eleitores. Vergonha!

A notícia é inacreditável. Bombeiros estão com dificuldade para combater o fogo por FALTA DE ÁGUA NOS HIDRANTES”
Há testemunhas que viram bombeiros chorando porque as mangueiras estavam com furos. Bravos e valorosos profissionais, infelizmente prejudicados por um sistema podre.
(...)

Postei as mensagens acima na noite de ontem, enquanto via pela janela (...) a destruição do Museu Nacional. A revolta é grande, a vontade é desistir deste país. 
Acordo todos os dias pensando em maneiras de propagar cultura, valorização da memória e o amor pelo garimpo intelectual, mas grande parte do povo não merece este tipo de atitude.
(...) A classe política é nojenta e reflete de forma cristalina o modus operandi de grande parte do povo. 
O descaso não é responsabilidade de um governo, como muitos oportunistas sem caráter tentam agora defender, mas de todos aqueles que limparam os traseiros com a bandeira brasileira nas últimas décadas. 
Eu tenho moral para esbravejar porque vivo cultura e sempre me posicionei de forma coerente no tema e, principalmente, porque, por 10 anos, perdi noites de sono, sem folga, sem férias, sem finais de semana, trabalhando em minha área e sabendo que não recebia remuneração alguma, motivado pela esperança de que os meus esforços pudessem inspirar outrem, para que, em longo prazo, a situação nacional fosse menos deplorável. 
Ao contrário do prefeito, que concede entrevistas hoje com um quase sorriso no rosto, demonstrando desconhecer (ou desprezar) o valor inestimável do material que se perdeu no incêndio, reduzindo o local ao seu valor histórico como Palácio Imperial, choro ao lado de todos aqueles profissionais que dedicaram suas vidas à sobrevivência deste patrimônio, contra todas as probabilidades, e, mais, choro pelas crianças que ainda vão nascer nesta terra sem honra. Não há como reconstruir o que se perdeu. 
O que resta é apenas uma vergonha profunda de ser brasileiro.


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