Sei, sei... Facebook, aquela rede social da qual não sou muito adepta...
Uma amiguinha dos tempos de internato - quando ambas tínhamos uns 10 ou 11 anos de idade - que perguntou se eu era eu... Não forcem, tá dando pra entender, sim!
Pois é... o dia marcado para o encontro foi hoje. E aconteceu.
São cinquenta e quatro anos! Cinquenta e quatro anos sem nos vermos, sem saber uma da outra, tendo guardado na lembrança apenas o nome de cada uma. Não é comum isso, convenhamos.
Combinamos nos encontrar numa delicatessen que fica no Centro Empresarial. Cheguei uns minutinhos mais cedo e, claro, não se tratasse de mim e seria tudo normal, mas distraída e atrapalhada - característica da vida inteira - promovo um episódio engraçadinho.
Vamos lá:
Na entrada, vejo uma bonita senhora conversando com uma jovem; ela me olha sorridente e eu, toda simpática, digo o nome da minha amiga. Ela sorri ainda mais, nos abraçamos com carinho e eu digo; - 'Chegamos um pouquinho antes do combinado, que bom!'
E ela (sempre com o sorriso lindo): 'Aah, eu acho que você está me confundindo com alguém...'
(&*%)_(}$%***?^:&s*hjkfNW98rtkk) MICÃO!!
Mas, tudo bem: "L'élégance en toute circonstance".
Eu: -'Oh, desculpe, eu disse o nome da minha amiga e você sorriu...E as duas são bonitas assim...' (foi o que pude arranjar... ai, ai...)
Ela: 'Porque notei sua confusão, e conheço a pessoa com quem vai se encontrar (!), mas foi ótimo conhecer você também.'
Vai ser chic assim, hein? O nome dessa moça é Ana. Obrigada, Ana! Você é uma graça de pessoa!
........
Enfim, nos encontramos - agora as pessoas certas - e eu gostaria de reproduzir cada palavra nossa, cada gesto nosso, mas está difícil. Estou ainda emocionada e agradecida por esta oportunidade que a vida nos concedeu.
Conseguimos, mesmo assim, dividir com alguns conhecidos, nossa pequena história. Pessoas que conhecemos e que passavam ali pelo local. Até a proprietária da delicatessen se manifestou com alegria.
Conversamos por aproximadamente duas horas, falando de tudo, da nossa vida, o que aconteceu nesses 54 anos! aiai, 54! - e fomos descobrindo muitas 'coincidências', muitos amigos em comum, e chegamos até a namorada do meu neto que é sobrinha de um sobrinho da minha amiga. Não é impressionante? Cidades do interior são assim. Parentescos que a gente nem imagina.
As duas 'meninas' do internato estavam ali, incrédulas, felizes, amigas.
Eu me lembrava de Machado de Assis - "Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente" - e ela lembrou-se de Manuel Bandeira em "Velha chácara":
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
(Foram mais de cinqüenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
- Mas o menino ainda existe.
Conversa de professoras de Letras... Cursamos até a mesma faculdade, em épocas diferentes. Que coisa, não?
Acredito que um amigo e ex professor de Literatura gostaria de saber... Pode ser... Aliás, o nome dele também apareceu no nosso encontro. Isto porque, embora não nos tenhamos visto em todos esses anos, estivemos - as duas - trilhando, mais ou menos, as mesmas veredas.
Ah, para celebrar o reencontro, levamos, uma para a outra, sem ter nada combinado, o quê?!
Flores.
Pela impressão visual, parece, também, que o tempo (ou a vida?) trabalhou em nós utilizando o mesmo modelo. Muito, muito interessante e muito prazeroso .
Obrigada, minha amiga. Foi mesmo emocionante.
* * *