By Carl Vilhelm Holsøe, from Denmark (1863 - 1935)- Oil on canvas - [Danish School of Interior Painting. Beginning, founded in 1888] |
Às vezes, precisamos parar um pouco, pensar no que já dissemos sobre os nossos gostos e preferências e talvez reformular alguns conceitos. É mais ou menos o que está acontecendo sobre o que sinto quanto às redes sociais.
Não se trata de esnobismo, mas mantenho perfil em uma rede social pela facilidade de comunicação com minha família e alguns amigos. Recentemente, entretanto, tenho recebido inúmeras manifestações de carinho e atenção de muita gente e fico muito comovida.
Este quadro, por exemplo, foi postado em meu mural por alguém que conheço apenas virtualmente, de longe - Belém do Pará - e que, no entanto, prestou atenção no meu modo de ser e de apreciar a vida. Não é pouco, nesse mundo de tanto individualismo.
Evidentemente, trata-se de pessoa de extrema sensibilidade e a quem eu havia contado uma historinha curta da minha longínqua infância. Aqui, pretendo me estender um pouquinho. Afinal, tenho esse direito.
Vejam só: episódio que ficou numa época raramente lembrada porque a vida transcorre em meio a turbulências e calmarias, eliminando ou arquivando o já vivido.
Quando meus pais foram alertados sobre a possível tendência que eu teria para a música, resolveram me matricular no Conservatório de Música da cidade onde morávamos. E lá fomos nós - eu, bem preocupadinha com a novidade (devia ter uns sete ou oito anos de idade). As várias salas e saletas do casarão antigo abrigavam instrumentos diversos, estrategicamente ali colocados para despertar o interesse de pais e alunos. Durante a visita de reconhecimento passamos por várias destas salas - algumas estavam em plena atividade de aula, e os sons eram realmente diferentes e maravilhosos.
Pois bem, enquanto os adultos conversavam acertando detalhes práticos, eu fui bisbilhotando sala por sala. Uma em particular me chamou a atenção pelo som do instrumento diferente que eu ouvia pela primeira vez assim, sem acompanhamento, num solo que, hoje, costumo dizer que foi o canto de sereia, arrebatador aos meus ouvidos infantis porém espertos.
Fiquei realmente fascinada e olhava fixamente para as mãos de dois dos alunos que ali estavam - dois meninos. Ouvi o professor interrompendo algumas vezes a execução para corrigir alguma coisa. Suas palavras eram enérgicas mas ao mesmo tempo incentivadoras.
Meu pai, então, chamou-me para comunicar que me matriculara no curso de Piano, o instrumento mais apropriado para as meninas, segundo explicou a diretora da escola. (Estou entregando um pouquinho a época e a minha idade).
Naquele tempo, raros eram os casos de enfrentamento ou desobediência às decisões paternas. E, afinal, eu gostava de Música, não me importando de que modo ou em qual instrumento seria executada. Fiquei feliz e disciplinadamente iniciei meu curso de Piano.
Para mim, o som mais atraente era a da sala de aula de Violoncelo, instrumento "pouco adequado" - na época - aos "modos femininos" de se sentar. Coisa mais doida, não?
Pensando bem: não conheço violoncelistas mulheres mais maduras. São sempre jovens. Bom que os tempos tenham mudado!
Resumo: não cheguei a ser uma pianista, mas gosto de tocar até para mim mesma. Minhas filhas também gostam e tocam um pouco. Em nossa casa os 'saraus' particulares eram frequentes e divertidos. Elas criavam historinhas musicadas, enfim, bem diferente da fixação na TV.
Isso passou, mas ficou na memória afetiva.
Simples, agora, entender a gratidão e emoção de receber um agrado assim numa rede social.
Obrigada, Telma, de Belém do Pará. Você me trouxe uma linda recordação da minha infância.
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