DESIDERATA
(Aquilo que se deseja ao próximo tanto quanto a si mesmo)
Caminhe placidamente entre o ruído e a pressa, e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.
Tanto quanto possível, fique em paz com os outros, mas sem abdicar de si mesmo.
Fale a sua verdade tranquila e claramente, e ouça os demais, mesmo os tolos e os ignorantes também têm a sua história.
Evite pessoas agressivas e gritantes, que são um peso para o espírito.
Se você se comparar aos outros, poderá tornar-se vaidoso ou amargo, pois sempre existirão pessoas melhores ou piores do que você.
Vibre com as suas realizações e também com os seus planos.
Mantenha o interesse em sua profissão, por mais humilde que ela seja: é uma posse real em meio às vicissitudes da vida.
Seja cuidadoso com seus negócios, porque o mundo está cheio de trapaças e egoísmo.
Mas não perca a fé na virtude que existe: muitos lutam por ideais elevados e em toda parte a vida está cheia de heroísmo.
Seja leal com você mesmo.
Principalmente, não finja afeição.
Não seja cínico em relação ao amor, porque em face de toda a aridez e todo desencanto ele é eterno como a vida.
Aceite com tolerância o avanço dos anos e abra mão, graciosamente, das coisas da juventude. Alimente seu espírito de força, para que o ampare nalguma dessas mudanças que o destino traz. E não se angustie gratuitamente.
Muitos medos nascem do cansaço e da solidão. Para além de uma saudável disciplina, seja gentil com você mesmo.
Porque você é um filho do Universo, tanto quanto as estrelas e árvores.
Você merece estar aqui. E seja ou não clara essa ideia no seu pensamento, não duvide que o Universo caminha conforme deveria.
Portanto, fique em paz com Deus, seja qual for a ideia que você tenha d'Ele; e sejam quais forem seus trabalhos e aspirações, mantenha-se em paz com a sua alma na ruidosa confusão da vida.
Com toda a tragédia, sofrimentos e sonhos desfeitos, o mundo ainda é belo.
Tenha cuidado.
Procure ser feliz.
(Palavras encontradas na velha Igreja de São Paulo, na cidade de Baltimore, EUA, e datadas de 1962)
* * *
Minha amiga de Belém (do Pará) publicou este post no facebook hoje.
Quando li o título, minha memória foi imediatamente ativada levando-me aos meus distantes 13 (treze!) anos, no dia mesmo do meu aniversário.
Recebo uma caixa grande - presente do meu pai - e um envelope. Ao abri-lo, - o envelope, porque lá em casa havia delicadezas hoje consideradas normas rígidas e obsoletas - uma carta linda, linda.
Meu pai trazendo, por escrito, informações preciosas sobre a vida e o significado dessa passagem emblemática para a adolescência. Palavras sábias e de muito carinho, muito cuidado, muito amor que, estranhamente para a época, era assim que nosso pai nos tratava aos seis filhos.
Junto à carta manuscrita, um papel com esse texto datilografado: "Desiderata".
Guardo-os até hoje, carta e texto. Estão junto às fotografias antigas da nossa família. Copiei o texto e entreguei a cada uma das minhas filhas porque na carta meu pai pedia que eu seguisse aquelas orientações e a vida correria bem. Fiz o mesmo.
Fiquei muito, muito emocionada. Chorei, chorei de saudade e de agradecimento. (Estou chorando ainda, enquanto escrevo). Sou também agradecida pela liberdade da qual desfruto, podendo extravasar o que sinto sem precisar explicações.
Enfim, mais uma vez essa minha amiga me proporciona uma doce incursão ao passado. Agradecida novamente, Telma.
Tantos acontecimentos, tanta vida decorrida e a mesma sensação de proteção e segurança constantes - o que nosso pai sempre nos transmitiu.
Ah, acabei me esquecendo de falar do presente de aniversário. Uma "vitrolinha" portátil - os mais jovens talvez não saibam o que seja isto - e que fez um sucesso enorme com a minha turminha de amigos. Podíamos ouvir nossos discos onde quer que fôssemos (desde que tivesse uma tomada elétrica por perto, hehehe).
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Fiz uma ressalva no post: no texto que recebi a autoria é atribuída a Max Ehrmann, escrito em 1927.
Mas pode bem ter sido copiado em 1962 até como instruções filosófico-religiosas para a vida. Merecidamente.
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