quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Um pouquinho de filosofia...

Vir a ser
Eugenio Mussak - em Revista "Vida Simples", ed. 137

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Para Aristóteles, tudo deveria ser visto através do filtro de duas variáveis: o ato e a potência. Ato é estado atual, o presente. Potência é o que pode vir a ser, é o futuro encerrado na condição presente, no ato.
Uma semente, por exemplo, não é só uma semente - é uma árvore em potência. A semente é o ato, e a árvore é a potência nela incluída e aprisionada.

Seguindo o raciocínio, o ato cumpre seu destino, ditado por sua potência e, assim, transforma-se em um novo ato, criando um maravilhoso movimento quase sem fim.
Assim, a árvore, que já foi semente, agora é madeira em potência, que, por sua vez, será uma mesa em potência.

Ou seja, tudo o que é algo pode vir a ser outra coisa.
Entretanto, essa potência tem suas próprias limitações, pois uma semente de carvalho não poderá vir a ser um pinheiro. Há um destino incluído na potência original.

E não é tudo - ainda há o movimento.
Movimento, na visão do filósofo, é o fenômeno por meio do qual algo realiza o destino definido por sua potência. Esse movimento pode ser natural, como o fabuloso conjunto de fenômenos biológicos envolvidos na transformação da semente na árvore, que inclui o solo, os nutrientes, os micro-organismos e o sol. E pode ser artificial, quando é promovido pela vontade humana. E esta, sabemos, é tão variável quanto a fertilidade dos solos. Há a terra vermelha, úmida, arejada ou cheia de húmus. Assim também é a vontade das pessoas.

Outro conceito muito caro aos filósofos é o do devir, ou vir a ser, sobre o qual se interessaram mentes brilhantes desde Heráclito até Marx, com importantes ‘pitacos’ dados por Kant, Hegel e Nietzsche, entre outros grandes do pensamento ocidental.

Respeitadas as idiossincrasias, o assunto versa sobre o tema proposto pelo primeiro deles, o grego Heráclito, que viveu bem antes de Aristóteles.
Foi ele que disse que "tudo flui", que "o único permanente é a impermanência" e que "não se pode banhar-se duas vezes no mesmo rio".
E disse mais: que tudo o que vive habita os opostos, e que a evolução depende dos ciclos criados entre esses opostos. Eis a dialética em sua nascente.

Assim, analisar os fatos da vida como eles são é um sinal de lucidez, mas lançar os olhos sobre o que eles podem vir a ser é um sinal de sabedoria.

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