quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"Ah, os trens..." - Somavilla

Gostei muito desse texto de SOMAVILLA no jornal "O Ponte Velha"
(Resende e Itatiaia), de Agosto de 2016.


Esse apitos de trens
Somavilla 


Ah, os trens...
Os de passageiros,como o expressinho, o noturno, o de aço e os mistos que transportavam cargas e pessoas sumiram daqui e de outas plagas na esteira de inconsequências imperdoávies.
As locomotivas foram arrancadas da paisagem e com os trens perdeu-se um tempo devaneador banido para cinzentos confins do esquecimento.

Mas, ao ressurgirem as composições ferroviárias findou-se o silêncio e de novo ecoam pela cidade sons de apitos, só que diferentes dos de outrora.
Saudosista, gosto de ouvi-los, mas com a ressalva de que talvez endureçam ainda mais os corações do que já vem fazendo a cruenta realidade.
É que não são como os de antes que suscitavam alvoroços cotidianos porque os vagões traziam e levavam gente, reverberando na estação festiva alaridos de alegria sufocando lágrimas furtivas.

A propósito, estranhos comboios desfilam hoje pelas linhas com minérios ou cimento e nunca param aqui... Passam...
Na verdade os sonidos são alarmes disparados por razões de segurança; ainda assim me encanta a magia desses apitos porque suscitam a esperança que bem sei é vã de que desembarquem de repente na vetusta gare amores idos, vividos em um tempo que perdi.

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