domingo, 20 de agosto de 2017

Envelhescência

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kkkkk!! Tô a caminho... e penso assim mesmo!
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"Hoje em dia existem muitos eufemismos para mencionar que alguém está velho. Mas no fim, todos eles só querem mesmo é dizer o óbvio: "Você está velha, passou do ponto." 
Odeio essa coisa de Terceira Idade ou Melhor Idade. A quem eles estão tentando enganar? 
O que há de bom em se estar cheio de cabelos brancos e rugas, ter os ossos do corpo doloridos e amolecidos, ver os dentes enfraquecendo , não poder comer tudo o que se quer, não ser escutado pelos mais jovens, e quando somos, ver nossas ideias e gostos serem criticados? Acho que esta é a pior parte.
Não; a pior parte, é ser tratada como criancinha. 
Odeio quando chegam aquelas pessoas sorridentes, exageradamente complacentes, e se aproximam de mim, dizendo: "Mas olha só que gracinha que ela é!" 
Certo dia, eu mandei um deles para 'aquele lugar,' e ao invés de chocar-se, ela riu bem alto, exclamando: "Mas ela é sapequinha, hein?" Daí, minha única saída, foi atingi-la com minha sombrinha. Só então ela compreendeu.
E esta talvez seja a única vantagem de ser velho: quando fazemos coisas malucas, somos imediatamente perdoados.
Certa vez, uma vizinha convidou-me para um desses bailes da Terceira Idade, e após muita insistência, eu fui. 
Chegando lá, deparei com um salão enfeitado de bolas coloridas, como em aniversários de crianças, algumas mesas abarrotadas de idosos que ora abanavam-se com leques de papel, ora posavam para fotografias, ora paqueravam uns aos outros. 
A música foi o que mais me incomodou: chatérrima! Aqueles boleros de 1925, chorinhos, marchinhas do carnaval de 1930... pensei: "Esse pessoal nunca ouviu falar de Ivete Sangalo?!" 
Não era à toa que todos pareciam tão entediados. 
No sábado seguinte, levei meu CD da Ivete, e pedi ao DJ que o pusesse para tocar; imediatamente, todo mundo se levantou e começou a dançar. Ficou bem melhor! 
Mas depois de cinco minutos, a organizadora do baile achou melhor retirar a música dançante e frenética. 
Só porque um dos velhinhos teve um ataque cardíaco fulminante! Ora essa! Não vamos todos morrer? Melhor que morramos felizes! Depois daquilo, eu nunca mais apareci por lá.
Minha vizinha me contou que eu virei lenda."
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'Confissões de uma idosa cínica - parte V' - 
em Histórias - ANA BAILUNE

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