"...Cansei-me desses clichês imagéticos da chamada terceira idade. O que pretendem com isso? Melhorar a auto-estima dos idosos? Sinalizar que a velhice não é o fim de linha? Que é tempo de ousar? Devo confessar que, para mim, essas tentativas são inócuas. Primeiro porque a minha autoestima vai bem, obrigada, depois, porque não sou o tipo de pessoa alimentada por pretensões desportivas. Paraquedas? Nem aos 20 e nem agora, que já passei dos 70. Prefiro rever algum filme do Fellini.
Há outros clichês bonitinhos, mas também irritantes. Velhinhos e velhinhas “supercool”, com roupas originais, meio hippies serôdias (hipongas) ou de marcas de estilistas famosos (grife), sempre em poses modernas, chapéus e enfeites (badulaques) nas ruas de Nova York, que conseguem sempre muitos likes no Facebook. Gosto de ver, porque tenho um aguçado sentido estético, o belo e o subversivo sempre me atraíram, mas o peso dessas imagens como inspiração? Dois gramas.
E o que é que me me inspira?
Conteúdos que me façam sonhar, que mostrem o lado bom das pessoas, que exibam um mundo mais humano, que ampliem os meus horizontes extra-sensoriais, que me atualizem com sugestões criativas...
(...)
Conteúdos que tragam ferramentas principalmente para o autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual.
Naturalmente que espiritual não está necessariamente relacionado com a religião. Tem a ver com força pessoal, equilíbrio psíquico, serenidade para aceitar a circularidade do tempo, coragem para construir um novo modelo mental.
(...)
Quero evoluir espiritualmente, abrir mão de cobranças, de preconceitos, de lamentações, de traumas do passado.
Quero consumir com consciência, abrir mão do supérfluo, inclusive nos relacionamentos.
Quero ouvir com qualidade o meu interlocutor, desligar o botão do julgamento, ser tolerante com meus erros e mais generosa com as fraquezas alheias.
Quero entender as similaridades entre a cabala e o xamanismo, entre meditação e “mindfulness” ( minha tradução: 'Consciência plena').
(...)
Esta nova geração de idosos tem muita vida pela frente e está a apostar numa longevidade sustentável. Está reinventando-se para tirar proveito dos próximos anos.
Já sabemos que caminhar faz bem, que frituras aumentam o colesterol, que há velhinhos surfistas.
Portanto, senhores anunciantes, invistam as vossas verbas em anúncios, programas, portais inteligentes, que nos tratem como pessoas ávidas por informação qualificada; despertas, curiosas, prontas a compartilhar tudo o que fizeram e viveram e aptas a desbravar esse mundo que se renova diariamente."
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Pronto, 'falei'.
Texto adaptado do original de DENISE RIBEIRO, jornalista.
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