sábado, 26 de janeiro de 2013

DESINTERESSE...


Três virtudes são fundamentais na vida: a paciência (para lidar com as diferenças), a prudência (a fim de jamais confiar inteiramente em ninguém) e a persistência (para compreender que, muitas vezes é preciso bater várias vezes numa mesma porta).
Foi assim - com essa frase simples - que iniciei meu dia.
Prudência, Paciência e Persistência.

Parece fácil encarar o dia, mas ao longo dele percebemos a dificuldade em nos manter coerentes, tranquilos e produtivos.
Há sempre algo para nos afastar da boa disposição em cumprir nossas metas - quando temos alguma.

Há alguns dias eu estava realmente desanimada e, confesso, aborrecida com a má vontade e descaso de algumas pessoas. Tratei logo de me lembrar que muitas vezes sou acometida dos mesmos 'pecados'. Fico indiferente e alheia a problemas que não me digam respeito diretamente. Talvez seja cansaço da mesmice.

Certa vez, uma amiga me disse que a filha dela encara esse 'negócio' de internet (blogs, facebook) como uma bobagem, uma 'piração'.  Em parte, acho que concordo: acaba se tornando um desperdício de tempo e  boa vontade.
Nos dias em que fiquei sem conexão, o tempo rendeu muito. Completei tarefas que sempre adiava, cuidei mais da casa e das minhas coisas, sem a preocupação de corresponder aos contatos (agora se chamam 'contatos') na internet.

Realmente, há momentos em que me pergunto por que preciso criar blogs ou frequentar rede social. Sempre anotei o que me interessa, registrei o que considero importante e escrevi o que me vai na ideia e nunca precisei de público, plateia ou testemunhas.  Por que isso agora?  Sinal dos tempos?
Lembro-me de ter escrito aqui mesmo algo sobre essa questão. Mas sempre volto a esse tipo de recurso para comunicação.

Não pretendo, de modo algum, que as pessoas concordem ou debatam o que costumo publicar. É só uma maneira - eu acho - de tentar dizer que mesmo afastada do mercado de trabalho, mesmo tendo cumprido a vida no que diz respeito a família, ainda estou aqui e penso, existo, observo, admiro ou repudio algumas coisas. Mas está difícil continuar... por várias razões.

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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ELIS REGINA



É assim: o que gosto e admiro em Elis Regina - além, é claro, da voz poderosa e do enorme talento - é essa emoção exposta sem artifícios. O artista não precisa se mostrar o tempo todo como alguém realizado e feliz. Há os momentos de nó na garganta, de arrependimentos, de 'sapo' entalado, enfim,  de humanidade.
Em todas as entrevistas a que assisti, ela é humana, ri, chora, brinca, fica 'na bronca' e também é doce, é meiga sem permitir a ninguém o comando de suas emoções.  Uma mulher forte.

Uma hora e meia de saudade, admiração e prazer.

Difícil aparecer - nos dias de hoje, sem chance - uma artista desse calibre.

Há um trecho em que ela diz: 
"...conheço muita gente bacana. Pessoas bacanas, para mim,  são aquelas com quem eu posso me dar, com quem eu posso conversar olhando no olho, sem estar com a guarda levantada. Mas parece que a cada dia que passa as pessoas bacanas estejam ficando mais escassas, talvez seja uma questão de Ibope, entende? Já não se faz pessoas como se fazia antigamente...o problema do Ibope é fogo... As pessoas precisam estar 'na crista da onda', as pessoas precisam ser notícia, coitadas, porque elas precisam viver, precisam morar, precisam comer, precisam vestir... Mas as pessoas parece que não se tocaram que nem sempre morar, comer e  vestir é a coisa fundamental, entende?"

Enfim... após 40 anos, atualíssima!  (sob meu ponto de vista, claro)

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Um texto de LYA LUFT - Pasárgada de MANUEL


Itatiaia, 17 de janeiro de 2013

Continuando a arrumação dos meus inúteis papéis, me deparo com uma crônica de Lya Luft para a revista Veja, em 04 de julho de 2007 !
“Não vou pra Pasárgada” é o título e por se manter atual (cinco anos não são nada neste país) pensei em postar em um dos meus blogs mas... cadê Internet?!  Tempo nublado...ameaça de chuva... acho que tô querendo muito...
Liguei para o provedor/distribuidor, sei lá como se chama... agora “modernizado”, então?...
Uma voz feminina atende com toda gentileza e aquele indefectível ‘senhora’ pra cá... ‘senhora’ pra lá... Pergunta pelo número do protocolo (!) ... que protocolo? Eu ainda não falei nada... Enfim, uma palhaçada.  Não diz o que está acontecendo, não informa nada sobre a falta de conexão... mas a conta mensal continua chegando e sendo paga em dia.
Dá uma raiva...
Eu é que estou querendo ir ‘pra Pasárgada’ !


Não vou pra Pasárgada
Lya Luft

Eu já estava de malas prontas: ia pra Pasárgada (para quem não se recorda, é o reino feliz inventado por Manuel, o Bandeira; para quem não sabe, ele foi um poeta maravilhoso). Queria escapar deste reino das frases infelizes e atitudes grotescas, dos reis feios e nus, das explicações cabotinas, da falta de providências e de autoridade, da euforia apoteótica de um lado e da realidade tão diferente de outro.

Pasárgada podia ser um bom lugar, onde se acredita nas instituições e nos líderes, onde vale a pena ser honrado e os malfeitores vão direto para a cadeia, onde se tomam providências antes que tudo desabe. Lá, ao contrário daqui – em que a manada se divide entre os ingênuos, os que sabem das coisas mas se conformam e os aproveitadores –, autoridade serve para cuidar do bem do povo, decoro é simplesmente decência, seja em algum cargo, seja na vida cotidiana de qualquer um.

Na minha nova pátria eu tentaria não escrever mais sobre o que por estas bandas tem me angustiado ou ameaça transformar-se num tristíssimo tédio: sempre os mesmos assuntos? Mandaria só questionamentos sobre o que faz a vida valer a pena: as coisas humanas, como família, educação, transformações, relacionamentos e separação, responsabilidades e escolhas, alegria, vida e morte, incomunicabilidade e o mistério de tudo – até a dor (mas que seja uma dor decente).

Nem problema de transporte eu teria: para Pasárgada se viaja com o coração e o pensamento. Ainda bem, pois de avião seria loucura e risco. Desses meses todos me ficou inesquecível o trabalhador humilde cochilando numa cadeira de aeroporto que, entrevistado sobre toda a confusão, respondeu: "A casa já caiu, o brasileiro tem de se conformar". Ninguém faz nada? – perguntam-se as pessoas, no limite de sua capacidade de espanto. A impressão que estávamos tendo, nós, comuns mortais, era que resolver problemas e impor ordem importava bem menos do que distribuir ilusões como quem distribui pirulitos. É para rir ou para chorar? Ora rimos, ora choramos, esse é o novo jeito brasileiro de ser.

Cresce a economia, encolhe a respeitabilidade; pisca uma luzinha de esperança, mas a seriedade extraviou-se. Poucos andam à sua procura. Aumenta o isolamento dos homens e mulheres públicos respeitáveis, que mais parecem dinossauros sobreviventes de um tempo em que seria totalmente impensável o que hoje é pão nosso de cada dia. Eu ia embora porque enjoei dessa repetição obsessiva de fatos que provocam insônia no noticioso da noite e náusea no café-da-manhã. Ia partir sem endereço, sem telefone, sem e-mail. Levaria comigo pássaros, crianças e esta paisagem diante da minha janela (com nevoeiro, porque aí é de uma beleza pungente). Levaria família, amigos, livros, música e o homem amado. Ah, e as minhas velhas crenças de que não somos totalmente omissos ou sem caráter, portanto este país ainda teria jeito, embora neste momento eu não tenha muita fé nisso.

Achei que em Pasárgada eu correria menos risco de me tornar descrente: eu, que detesto o ceticismo e não vivo bem com os pessimistas, agora tenho medo de me contagiar. Podia me livrar da suspeita de que por trás de tudo isso existe algo muito sério, gravíssimo, que nós, rebanho alienado, desconhecemos. Quem sabe até terminasse o romance que venho escrevendo, num compasso de desânimo que nada tem a ver com literatura: nasce do meu amor por este país, ao qual dei meus filhos e meus netos para nele crescerem.

Mas então, entre lideranças que negavam qualquer problema, fazendo afirmações estapafúrdias e divertindo-se talvez com nossa agonia, soprou um vento de lucidez e autoridade – parece que as coisas se reorganizam. Botar a casa em ordem ao menos nos aeroportos não podia ter levado tanto tempo, pobres de nós, mas hoje não precisarei ter medo se um de meus filhos viajar de avião. Amanhã é um enigma (sabe se lá o que vai acontecer no breve intervalo entre escrever esta coluna e ela ser publicada).

E assim, na última hora, decidi ficar. Acho que me sentiria como quem deserta de um grupo com o qual tem laços muito fortes: meus leitores. Os que me acompanham, os que pensam diferente e até os indignados – às vezes por terem lido algo que nem estava ali. Todos são importantes para mim. Com eles tem sido imensamente estimulante partilhar alegrias e preocupações, descobertas ou receios. Afinal, somos irmãos, filhos desta mãe, que, com decoro, firmeza e vontade, será melhor do que qualquer Pasárgada inventada.

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

MAIS UM TEXTO PUBLICITÁRIO...



Toda vez que vou arrumar meus papeizinhos inúteis - guardados há tanto tempo -  sempre encontro algo interessante.  
O texto abaixo é publicidade de uma rede de lojas de departamentos muito conhecida.  
O problema é que não colocam o nome do autor em matérias publicitárias. Penso que é uma injustiça.
Achei que valia a pena trazer para o blog, uma vez que retrata o cotidiano de muitas de nós. 


"Entrei na cozinha e lembrei o que fui buscar lá. 
Achei o carro no estacionamento do shopping. 
Liguei para casa e todos estavam bem. 
Não precisei fazer conta de cabeça nem ler manual de instruções.
Liguei o rádio do carro quando estava dando uma música que eu gosto.
 O voo não atrasou. 
Meus órgãos vitais funcionaram conforme o previsto. 
Abri a porta e o jornal estava me esperando. 
Acordei com o cabelo bom e com quem eu amo do lado. 
Não fiquei presa atrás do caminhão de lixo. 
O soluço parou. 
O salto do sapato permaneceu intacto.
Se é que algum dia vou ter síndrome do pânico, não foi hoje.
 Entrei no meu jeans recém-lavado. 
Não recebi ligações de telemarketing. 
Perdi a parte de trás do brinco e logo encontrei. 
Causei uma boa impressão em alguém.
Não quebrei minha caneca preferida. 
Na sala de espera, achei uma revista que ainda não tinha lido. 
O telefone tocou de madrugada e era engano. 
Tiraram uma foto e eu saí bonita. 
O fio dental não arrebentou no meio dos dentes. 
Tomei um copo de água a mais e uma xícara de café a menos. 
Corri e o joelho não doeu. 
Escapei da reunião de condomínio. 
Não faltou luz quando eu estava dentro do elevador. 
Minha batata frita veio sequinha. 
Não fui abduzida. 
Ao longo do dia, parei em quinze sinaleiras e não fui assaltada quinze vezes. 
As canetas mantiveram uma distância regulamentar da minha camisa branca.
Nada caiu da bolsa. 
Não achei asa de cupim nos móveis. 
Parou de chover bem na hora em que levei meus filhos no colégio. 
Passei por alguém que fumava e consegui trancar a respiração a tempo. 
Cheguei em casa antes de começar a novela.
Esqueci de ligar o celular e sobrevivi. 
Lembrei de me espreguiçar antes de sair da cama e de encolher a barriga antes de entrar na reunião. 
O pingo de azeite caiu no guardanapo de pano. 
Não fiquei famosa e pude andar tranquila nas ruas. 
Encontrei uma amiga do colégio e ela estava com mais rugas do que eu. 
Estacionei entre dois carros de primeira. 
Passei batom e não fiquei com os dentes sujos. 
Tive vontade de assaltar um banco mas desisti a tempo. 
Não precisei cozinhar. 
Mudei de perfume e perceberam. 
Almocei com quem eu mais queria. 
Não me pediram dinheiro emprestado. 
Recusei uma fatia de torta. 
Soltei o sutiã sem ninguém ver. 
Lembrei que faltava queijo antes de chegar no caixa do supermercado. 
Consegui fazer o DVD funcionar sozinha. 
Salvei a vida de uma formiga. 
Nenhuma espinha saiu no meu nariz. 
Ouvi uma piada boa. 
Mandaram um beijo para mim. 
Levei o ferro de passar roupa para consertar e ainda estava na garantia. 
Fui convidada para ver desenho no sofá. 
Se alguém falou mal de mim, não fiquei sabendo. 
Tirei uma felpa sem fazer chorar. 
Espirrei e disseram saúde. 
Quis tomar um suco geladinho e tinha. 
Saí do banho e a toalha estava no seu devido lugar. 

Do jeito que a coisa anda, ganhei o dia."

*               *               *

sábado, 12 de janeiro de 2013

Sincronicidades


Recebi o texto abaixo formatado em lindo PPS de um casal amigo e vizinho aqui em Itatiaia. Mudaram-se para o estado de Santa Catarina mas continuamos a nos comunicar via Internet.
O e-mail foi enviado na noite anterior a uma perda significativa para nossa família e esses amigos ainda não haviam recebido a notícia.  Foi lido por mim uns três dias após o ocorrido.


Por que choramos ante a morte?
Henry Sobel

Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.

O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.

O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro"!!!

Assim é a morte.

Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.

Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá : "já está chegando". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.

Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
E o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.

Assim, um dia, todos nós partimos como seres imortais que somos, todos nós ao encontro Daquele que nos criou.
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MILTON NASCIMENTO - Encontros e Despedidas

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tristeza


5 de janeiro de 2013
Muita tristeza. Luto.
Post no facebook da filha Letícia

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

UMA NOVA SINFONIA - em "Somos todos um"




Uma nova sinfonia
Maria Cristina Tanajura - 'Somos todos um'

"Que neste novo ano que vai iniciar possamos fazer parte da sinfonia que é a vida, sem sermos a nota dissonante que enfeia e quebra a harmonia do conjunto.
Porque fazemos parte de um Todo intrincado de energias, onde cada um de nós tem um papel, grande ou pequeno, mas de todo jeito muito importante. Sem ele o equilíbrio, de alguma forma, é quebrado.
Uma orquestra é um exemplo muito preciso do que é viver. Cada instrumento é tocado por uma pessoa diferente, com suas características pessoais, com acordes que isolados talvez nem fossem bonitos, mas que quando ouvidos no conjunto, nos deslumbram.
Cada músico estuda para tocar da forma mais perfeita possível e, mesmo tendo, naquele momento, seus problemas pessoais, procura esquecê-los para desempenhar o seu papel, que sabe indispensável para a beleza daquela partitura.
(...)

Vamos tentar ser o nosso melhor, acreditando que influenciamos o Todo, sempre que nos mantemos centrados no Amor que nos criou e que habita em nós e fazemos tudo o que precisarmos impulsionados por esta força.
Cada pessoa precisa fazer o melhor que pode e nós precisamos de todos!
Mesmo que a nossa contribuição seja pequena aos nossos olhos, certamente sem ela a Sinfonia soaria dissonante... Precisamos acertar o tom, escolher o que queremos fazer e realizá-lo da melhor forma possível.
Quando os vários instrumentos são testados pelos músicos, antes do espetáculo, o som é barulhento, estranho. Mas quando chega o momento de iniciar a música, tudo se encaixa, não existe aquele que se destaca, pois todos precisam de todos e mesmo o maestro nada é sem os músicos.

Que 2013 seja o ano da harmonia, do encontro com a verdade interior de cada um, para que o amor reine e o medo, com vergonha, se afaste aos poucos.
(...)

Que a Sinfonia 2013 seja belíssima! Vai depender de cada um e de todos nós."

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