segunda-feira, 11 de março de 2013

Zuenir Ventura -"Ah, o meu facebook"


Ah, o meu ‘Fakebook’
Zuenir Ventura, O Globo, 11 de março de 2013

Graças ao colega André Miranda, descobri que há meses tenho uma concorrida página no Facebook, onde já recebi 600 amigos, muitos novos, alguns velhos e outros desconhecidos, dei opiniões, fiz recomendações, ditei regras, disse coisas aceitáveis e muita bobagem.

E, sobretudo, fiz muita propaganda da Editora Lecto, à qual deveria cobrar pelo merchandising involuntário.

Cheguei a elogiar o novo logotipo e anunciar a contratação de “vendedores, pareceristas e diagramadores”. Também recomendei uma nova rede social, uma certa Dotpipol, “muito melhor do que o Facebook” (uma seguidora chegou a dizer: “Com prazer vou lá para ler seus textos.”)

Teria sido uma experiência interessante, se não se tratasse de um falso Facebook. Com perdão do trocadilho, é um Fakebook, pois não criei a página, não autorizei ninguém a criá-la e fico me perguntando se não há um filtro ou uma forma de controle para impedir uma fraude virtual como essa, tão fácil de ser perpetrada.

Basta pegar fotos já publicadas em revistas ou jornais, recolher dados biográficos no Google ou na Wikipédia, inventar algumas histórias, e pronto: que venham os incautos. E qualquer um pode cair nesse conto do vigário moderno.

Como adivinhar o que é fake em meio a algumas informações corretas e outras que poderiam ser?

Tudo bem que, dizem, você reclama e a página é retirada do ar. Mas e se você não descobrir por conta própria ou através de um amigo? E se o estrago, se houver, já tiver sido feito? Como os leitores desta coluna não são necessariamente os daquela página, como avisar a todos? Não haveria um jeito de punir os autores por apropriação indébita de identidade?

Houve coisas engraçadas, como a descoberta de três raros homônimos — um jovem “Zuenir Ventura”, “Zuenir Brito” e “Claudio Zuenir” — e outras tocantes, como pessoas me agradecendo por tê-las adicionado. O que mais me irritou foi ver gente de boa-fé sendo envolvida candidamente no golpe.

Li mensagens generosas, como a de um leitor cujo nome não cito porque não pedi sua autorização: “Que mal fiz eu para não ter conhecido a obra deste escritor há mais tempo?”

No lançamento do livro do Merval, Leiloca, a Astróloga, me comunica que entrou no meu Facebook. Só me restou pedir desculpas por ter-lhe causado a decepção de se ver enganada, ela, a quem os astros não costumam enganar.

De qualquer maneira, alguém deveria ter notado que, sem Alice uma vez sequer, tudo não passava de uma farsa.

PS: Acabo de saber que a página foi cancelada, ou, de acordo com o aviso, “não está mais disponível”. Ainda bem.


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