sábado, 10 de janeiro de 2015

Resenha "O irmão alemão", de Chico Buarque

Mais um para a minha lista de 2015.

. Estórias abensonhadas - Mia Couto
. O irmão alemão - Chico Buarque de Holanda
**


Luís Caversan - coluna do jornal Folha de S.Paulo - 10 de janeiro 2015

"(...)
O livro relata a busca do personagem central, Francisco, por um irmão perdido na Alemanha, onde o pai viveu por poucos anos na década de 30. História esta absolutamente autorreferencial, uma vez que o pai de Chico, o historiador Sergio Buarque de Holanda, teve mesmo um filho naquele país e naquela época, fruto de um relacionamento fugaz.

Afastados por contingências várias e praticamente impedidos de se reencontrar por causa da expansão do nazismo, o irmão acaba se perdendo na história, até que o narrador —e o autor...— resolve descobrir seu paradeiro.

A história gira em torno deste personagem/alter ego, de seu pai bibliófilo, do tal irmão ausente, do outro irmão, legítimo, que também torna-se ausente a partir do momento que desaparece nas mãos de agentes repressores da ditadura militar brasileira, e de outros personagens masculinos mais ou menos presentes —o amigo que também se torna desaparecido político, o professor de piano, seu filho esquisito.

O universo e a "pegada" são fortemente masculinos, até com certas doses de machismo, o que oferece um contraste excepcional para as mulheres que desfilam ao longo do livro, a começar pela mãe do narrador, seguindo pela mãe do irmão alemão, a mulher do professor de piano, a vizinha artista meio biruta, a hippie maluquete, a guerrilheira latino-americana e as fantasias recorrentes em torno de uma quase-namorada.

Quase nunca o foco central da narrativa ou o primeiro plano está nestas mulheres, e elas praticamente servem de pano de fundo ou "escada" para as peripécias dos rapazes. Mas como são interessantes, fortes, expressivas, mesmo que traçadas com cores tênues, meio que pastel.

Embora essas personagens complexas tenham me chamado atenção ao longo do livro —cuja leitura recomento vivamente— só percebi sua força exemplar por via indireta. Na verdade, achei que o teor digamos assim mais macho da narrativa incomodaria as moças e agradaria aos rapazes.

Mas, para minha surpresa, deu-se o contrário quando postei elogios ao livro no Facebook: de cara houve uma defecção masculina —o livro é chato, arrastado...—, seguidos de diversos comentários positivos por parte das meninas.

Como disse naquele post, o livro é poético, erudito, histórico e divertido na medida e, em vários momentos, encanta pelo refinamento com que algumas ideias são desenvolvidas e se tornam frases admiráveis.

Boa leitura."

*        *        *

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