quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Filosofias do Sertão



Sempre releio "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.  Meu livro fica bem aqui, na estantezinha ao lado do computador de mesa, porque é minha fonte de consulta quando a vida brinca de ficar dando cambalhotas... O jagunço Riobaldo me faz então pensar e pensar...

Há talvez pessoas que pensam ser exibicionismo. Não me importo. O que sei é que esse livro me orienta, me conforta, me desconforta, me incentiva, faz com que me sinta igual na diferença e bem diferente no redemoinho de mesmice desta vida dita pós moderna.

Desde que me foi apresentado - isso, há uns trinta (30 !) anos, numa leitura a princípio difcultosa, orientada, disciplinada, senti logo que seria o livro que me acompanharia em toda a jornada. E assim tem sido... assim será.
Com ele, choro, rio, danço, guerreio, descanso. É uma catarse completa.
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Encontrei aqui mesmo, na internet, algumas passagens, coincidentemente também marcadas no meu exemplar da obra, embora  as páginas apresentem números diferentes a cada publicação :


FILOSOFIAS DO SERTÃO

O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor. Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. (p. 39)

Olhe: Deus come escondido, e o diabo sai por toda parte lambendo o prato… (p. 72)

Muita coisa importante falta nome. (p. 125)

Ele me viu afinar mira, uma vez, e me louvou, por eu, de nascença, saber tão bem, na horinha, segurar de não respirar. Mesmo dizia: “Senhor atira bem, porque atira com espírito. Sempre o espírito é que acerta…” Soante que dissesse: sempre o espírito é que mata… (p. 141)

Não sabe que quem é mesmo inteirado valente, no coração, esse também não pode deixar de ser bom?! (p. 165)

Alguém estiver com medo, por exemplo, próximo, o medo dele quer logo passar para o senhor; mas, se o senhor firme aguentar de não temer, de jeito nenhum, a coragem sua redobra e tresdobra, que até espanta. (p. 416)

Mas eu fui sempre um fugidor. Ao que fugi até da precisão de fuga. (p. 200)

O que a noite tem é um vozeio dum ser-só – que principia feito grilos e estalinhos, e o sapo-cachorro, tão arranhão. E que termina num queixume borbulhado tremido, de passarinho ninhante mal-acordado dum totalzinho sono. (p. 438)

O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais. (p. 458)

Tu não acha que todo mundo é dôido? Que um só deixa de dôido ser é em horas de sentir a completa coragem ou o amor? Ou em horas em que consegue rezar? (p. 603)

Doidice. Em dansa de demônios, que nem não existem. (p. 618)

Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! E o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia. (p. 624)

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