Pois é... devo ter, mesmo, alguns parafusos frouxos... (cresci ouvindo isso, hahaha!). Enfim, nada e ninguém teve sucesso tentando apertá-los para que as coisas funcionassem a contento em qualquer época. Continuo esquisita, fazer o quê?
Bom, terminei de ler (não digo reler, porque aquela leitura obrigatória do colégio não vale) o "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, que recomendo. A História pela lente sensível, poética e melancólica de uma das autoras preferidas.
Minha Minas Gerais é sempre uma inspiração e nestes tempos bicudos, gosto de pesquisar de onde vem tanta maluquice no governo deste nosso país incrível. A coisa parece enraizada...
Decidi, então, retomar as "Cartas Chilenas", de Tomás Antonio Gonzaga - essas realmente me divertem - com toda a irreverência permitida para a época, mas cujos versos ainda ressoam e se ajustam a este Brasil tão difícil. Olha aí:
"Apenas, Doroteu, o nosso chefe
As rédeas manejou, do seu governo,
Fingir-nos intentou que tinha uma alma
Amante da virtude. Assim foi Nero.
Governou aos romanos pelas regras
Da formosa justiça, porém logo
Trocou o cetro de ouro em mão de ferro."
(...)
"Aquele, Doroteu, que não é santo,
Mas quer fingir-se santo aos outros homens,
Pratica muito mais, do que pratica
Quem segue os sãos caminhos da verdade.
Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
Abre os braços em cruz, a terra beija,
Entorta o seu pescoço, fecha os olhos,
Faz que chora, suspira, fere o peito,
E executa outras muitas macaquices
Estando em parte onde o mundo as veja.
Assim o nosso chefe, que procura
Mostrar-se compassivo, não descansa
Com estas poucas obras: passa a dar-nos
Da sua compaixão maiores provas."
(...)
"Já leste, Doroteu, a D. Quixote?
Pois eis aqui, amigo, o seu retrato;
Mas diverso nos fins, que o doido Mancha
Forceja por vencer os maus gigantes
Que ao mundo são molestos, e este chefe
Forceja por suster, no seu distrito,
Aqueles que se mostram mais velhacos.
Não pune, doce amigo, como deve,
Das sacrossantas leis a grave ofensa;
Antes, benigno, manda ao bom Matúsio
Que, do seu ouro próprio se ressarça
Aos aflitos roubados toda a perda.
Já viste, Doroteu, igual desordem?
O dinheiro de um chefe, que a lei guarda,
Acode aos tristes órfãos e às viúvas;
Acode aos miseráveis, que padecem
Em duras, rotas camas, e socorre,
Para que honradas sejam, as donzelas,
Porém não paga furtos, por que fiquem
Impunes os culpados, que se devem,
Para exemplo, punir com mão severa."
(...)
E isto é apenas o começo... é a primeira das treze cartas de Critilo ao seu amigo Doroteu, naquela "Vila Rica" de acontecimentos históricos e culturais..
Ah, como eu gostaria que cada brasileiro pudesse ter estudado a História do Brasil assim...
Então, para os dias de folia que se aproximam, fico aqui com as "Cartas Chilenas".
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