domingo, 1 de fevereiro de 2015

Solitário mas enriquecedor...



Domingo solitário este... exceto pela ligação, de manhã, da filha caçula.  Ela até me convidou à casa dela, mas estou desanimada e com calor.

Fiquei aqui mesmo, cuidando das minhas coisas, do bendito coelho Quinho que continua exterminando sem dó as minhas plantas - agora, nem minha linda "Dama da noite", aquela presenteada por amigos escapou. O bicho fica se equilibrando nas patas traseiras e alcançou as primeiras flores que apareceram.  Ô vida...

Dei um olhadinha no facebook, cumprimentei os amigos mas logo saí para cuidar da casa, do almoço e organizar um pouco meus livros. Adoro faxina na estante. Levo o dia inteiro, claro, porque é impossível não folhear páginas já lidas tantas vezes com sentimentos e olhares sempre diferentes.

Já estava anoitecendo quando vim escrever no bloguinho e constatei a ausência de sinal da internet. Ah, esqueci que está ameaçando chuva (bem longe, bem longe porque o barulho dos trovões é fraquinho, denunciando a distância).  Enfim, aqui é assim mesmo.
Tudo bem, escrevo no word e depois passo para o blog.

Então, chegou a vez de "Andorinha, andorinha" (dos livros) de Manuel Bandeira, numa seleção e coordenação de textos de Carlos Drummond de Andrade.  Dá pra sentir a preciosidade.  Pois é, um livro que comprei do antigo 'Círculo do livro' (quem lembra?) em 1989.
Abro aleatoriamente, e...  (impossível resistir):

" Quando tive a honra de ser recebido na Peña Diplomática Rui Barbosa,  Cecília Meireles, que foi convidada para a cerimônia, não pôde comparecer.  No dia seguinte, porém, mandou-me uma braçada de rosas com este dístico:
' Nunca fazemos o adequado, quando
louros mandar devia, flores mando. '

Ao que respondi, no mesmo metro e rima:
' Melhor que o louro é a rosa, ainda mais quando
juntas teu verso à flor que estás mandando.'

16-11-1958"

Está na página 406,  no capítulo intitulado "Leves e breves" (acredito 'selecionado e coordenado' por Drummond).

No mesmo capítulo, uma página anterior, outras maravilhas, segundo o próprio Bandeira "...frases ouvidas na infância" e que "me soaram insólitas e inexplicáveis.  Adulto, ouvi outras, sem nenhum mistério, mas igualmente surpreendentes.  Assim, a de uma dessas mocinhas (na verdade, Bandeira usa outra palavra, hoje considerada politicamente incorreta, e eu que não sou besta...) de Copacabana, cabelizadas e maquiladas, que tratava emprego com a senhora:
- A que horas a senhora janta?
- Às oito horas.
- Não pode ser às sete?
- Quem marca o horário das refeições em minha casa sou eu, não a cozinheira.
A mocinha então, muito gentil: 
- Claro, não leve a mal que eu pergunte; não vê que eu sou mulher da vida e tenho de noite o meu trabalho lá fora.  
(14-5-1961)"


Enfim, me divirto com esses textos, com essas lembranças e saudades (por que não?) com esse modo antigo de viver, com as  relações de amizade, delicadeza e brincadeiras.  Tempos idos...

*            *            *

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