segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Belchior - Conheço o Meu Lugar

Que coisa horrível está acontecendo comigo...

Nestes tempos - agora sou uma velha de 70 anos, caramba! - e as músicas de Belchior aqui, martelando, martelando...

Um país que traz essa sensação de volta  não vale a pena não.



O que é que pode fazer o homem comum
neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar a vida comovida,
inteiramente livre e triunfante?

O que é que eu posso fazer com a minha
juventude - quando a máxima saúde hoje
é pretender usar a voz?
O que é que eu posso fazer - um simples
cantador das coisas do porão? (Deus fez
os cães da rua pra morder vocês que sob a
luz da lua, os tratam como gente - é
claro! - a pontapés.)

Era uma vez um homem e seu tempo...
(Botas de sangue nas roupas de Lorca).
Olho de frente a cara do presente e sei
que vou ouvir a mesma história porca.
Não há motivo para festa: ora esta! Eu
não sei rir a toa!

Fique você com a mente positiva que eu
quero a voz ativa (ela é que é uma boa!)
pois sou uma pessoa.
Esta é minha canoa: eu nela embarco.
Eu sou pessoa!
(A palavra "pessoa" hoje não soa bem -
pouco me importa!)
Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente!

Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca
houve!
Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem:
Conheço o meu lugar!

*      *      *

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