sábado, 17 de dezembro de 2016

Perguntaram-me sobre as janelas...


Há uns dias, olhando distraidamente pela janela, lembrei-me de variar um pouco as imagens do meu ‘bom dia’  aos amigos do facebook. E decidi pelas postagens de janelas.

Gosto de janelas, altas ou baixas, coloridas ou descoloridas, desengonçadas ou majestosas, no fundo, gosto das janelas nos seus vários tipos e modelos.
Gosto da objetividade e da subjetividade do objeto-janela.
De tantos objetos do mundo, tenho predileção por janelas.
Todas as vezes que me mudava para uma nova casa, a primeira inspeção era conhecer a janela do meu quarto: ‘Deixa-me ver o que vejo daqui, deste canto, e deste lado, agora da esquerda.’
Das janelas de quartos em que já vivi, lembro-me de uma especialmente, que tinha logo à frente um limoeiro e de onde se podia ouvir o vento.
Como objeto, que abre para fora e para dentro - de mim mesma também - a janela pode ser o pensamento.

Espera-se à janela. Será que a esperança tem lugar numa janela? Ou é somente moldura para esperar?
O filósofo e professor Mário Sérgio Cortella nos alerta sobre a raiz das palavras e, segundo ele, devemos manter a esperança do verbo 'esperançar' e não apenas do verbo esperar...

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'Mulher na janela' - Salvador Dali
Da janela, temos um ótimo enquadramento para ver os crepúsculos;  perto da janela, o melhor lugar para receber a luz na pintura de um quadro;  abrir a janela para ver e sentir  o mundo quieto, ermo ou, ao contrário, buliçoso, movimentado.
Uma janela para iniciar um filme. Quantos? Marguerite Duras começou um por uma janela. Truffaut era obcecado por elas, através delas, comunicando por elas.
Hitchcock filmou a melhor aula sobre perspectiva em ‘Janela Indiscreta’.
Qual é o filme de western em que não se vê um cowboy mirando por uma janela com uma arma em punho?
Em quantos filmes ‘noir ‘vê-se todo o mistério pousado no entreolhar por uma persiana e uma sombra que passa firme pelas paredes?
Como é que se esquecem as janelas de Tarkvoksy, nos filmes ‘O Espelho’ e ‘Nostalghia’, se elas são autênticos quadros?

A janela como fuga, como entrada de ar e de luz, como ideia de vazio e de nada, como ângulo de visão.
Em ‘Tabacaria’, de Fernando Pessoa, já nos primeiros versos encontramos:
(...)
"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,"
(...)
A pintura de Matisse e suas janelas em telas diversas...

Uma mulher que espera à  janela, no quadro de Caspar David Friedrich.


E eu aqui, em uma das muitas janelas do ‘Windows’,  tentando dar conta da resposta à pergunta sobre janelas.

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