Há uns dias, olhando distraidamente pela janela, lembrei-me de variar um pouco as imagens do meu ‘bom dia’ aos amigos do facebook. E decidi pelas postagens de janelas.
Gosto de janelas, altas ou baixas, coloridas ou descoloridas, desengonçadas ou majestosas, no fundo, gosto das janelas nos seus vários tipos e modelos.
Gosto da objetividade e da subjetividade do objeto-janela.
De tantos objetos do mundo, tenho predileção por janelas.
Todas as vezes que me mudava para uma nova casa, a primeira inspeção era conhecer a janela do meu quarto: ‘Deixa-me ver o que vejo daqui, deste canto, e deste lado, agora da esquerda.’
Das janelas de quartos em que já vivi, lembro-me de uma especialmente, que tinha logo à frente um limoeiro e de onde se podia ouvir o vento.
Como objeto, que abre para fora e para dentro - de mim mesma também - a janela pode ser o pensamento.
Espera-se à janela. Será que a esperança tem lugar numa janela? Ou é somente moldura para esperar?
O filósofo e professor Mário Sérgio Cortella nos alerta sobre a raiz das palavras e, segundo ele, devemos manter a esperança do verbo 'esperançar' e não apenas do verbo esperar...
'Mulher na janela' - Salvador Dali |
Uma janela para iniciar um filme. Quantos? Marguerite Duras começou um por uma janela. Truffaut era obcecado por elas, através delas, comunicando por elas.
Hitchcock filmou a melhor aula sobre perspectiva em ‘Janela Indiscreta’.
Qual é o filme de western em que não se vê um cowboy mirando por uma janela com uma arma em punho?
Em quantos filmes ‘noir ‘vê-se todo o mistério pousado no entreolhar por uma persiana e uma sombra que passa firme pelas paredes?
Como é que se esquecem as janelas de Tarkvoksy, nos filmes ‘O Espelho’ e ‘Nostalghia’, se elas são autênticos quadros?
A janela como fuga, como entrada de ar e de luz, como ideia de vazio e de nada, como ângulo de visão.
Em ‘Tabacaria’, de Fernando Pessoa, já nos primeiros versos encontramos:
(...)
"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,"
(...)
A pintura de Matisse e suas janelas em telas diversas...
Uma mulher que espera à janela, no quadro de Caspar David Friedrich.
E eu aqui, em uma das muitas janelas do ‘Windows’, tentando dar conta da resposta à pergunta sobre janelas.
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