terça-feira, 31 de janeiro de 2017

"ùltimas conversas", de Eduardo Coutinho

Ontem, assisti, no Canal Brasil, ao úlltimo filme dirigido por Eduardo Coutinho, com o título - premonitório? - de 'Últimas conversas'.
Nele, o cineasta entrevista diversos estudantes do ensino médio público no RJ, perguntando sobre suas vidas, sentimentos e expectativas para o futuro.
Eu ia comentar aqui, mas encontrei, no site do próprio Canal Brasil, um texto - chamada para o programa 'É tudo verdade' - que o resume perfeitamente Portanto...
Ah, só faltou a referência da última entrevistada - talvez para 'quebrar' um pouco a dureza - de uma menininha de 6 anos, uma perolazinha. Adorei. Aí está o texto (não traz a autoria).
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"Assista "Últimas Conversas", de Eduardo Coutinho, dia 30/01
Diretor desvenda o pensamento do jovem contemporâneo. 
Obra derradeira de um dos mestres do cinema de realidade.

Eduardo Coutinho começou a gravar, em 2013, um filme cujo objetivo era conhecer a fundo a realidade de jovens brasileiros alunos de colégios públicos. Indo além de um estudo sobre a qualidade do ensino, o documentário buscava desvendar o que passava pela cabeça de adolescentes prestes a adentrar a vida adulta. Durante as filmagens, o diretor mostrava-se desconfortável com o resultado das entrevistas até então realizadas, e questionava o possível resultado do trabalho. Quis o destino que esta fosse a obra derradeira do cineasta, assassinado em 2014 pelo próprio filho. 
Seu longa-metragem de despedida foi finalizado dois anos depois por sua parceira de set de duas décadas, Jordana Berg, e por João Moreira Salles.
O filme tem seu início com uma cena rara nas mais de quatro décadas de atividade de sua carreira, mostrando o próprio diretor à frente da câmera no penúltimo dia disponível para as gravações. Coutinho discorre sobre as dificuldades do projeto e a obrigatoriedade de entregar a película devido a um contrato de incentivo à cultura com o governo do estado. 
Contrariado e em dúvida de sua própria capacidade, questiona a qualidade das entrevistas registradas e inquire sobre a validade de seguir o trabalho. Os registros, no entanto, mostram todo o brilhantismo de um dos mestres do cinema brasileiro de realidade. Em singular cenário, ambientado em uma sala de aula com uma única cadeira posicionada à frente de suas lentes, o documentarista reuniu jovens de personalidades distintas para indagá-los sobre o que esperavam para o futuro.
As respostas obtidas de cada um dos entrevistados são múltiplas. Seus convidados falam sobre bullying, preconceito, aceitação familiar, vida sexual e política. 
Há aqueles cujas réplicas são introspectivas e curtas; outros desandam a falar com eloquência e sem timidez para a câmera. Exímio entrevistador, Coutinho arranca de seu elenco depoimentos surpreendentes, como o da menina que acredita ser necessário mentir para alcançar o sucesso, ou do menino cuja autoconfiança transformou-se em arrogância mesmo com praticamente nenhuma experiência de vida. 
Inconformado com os chavões repetidos incessantemente pelos retratados, e extrapolando as fronteiras de uma geração movida por um universo de relacionamentos virtuais, o cineasta busca quebrar padrões e plantar sementes do questionamento em suas cabeças.
As últimas conversas de Coutinho, finalmente exibidas dois anos após sua morte como filme de abertura do Festival É Tudo Verdade, são capazes de emocionar e arrancar risadas de seu público concomitantemente. 
Ao mesmo tempo em que se torna praticamente impossível não ser sensível à dor de uma menina cuja infância foi passada sem o carinho e afeto da mãe e sofrendo com o abuso sexual do padrasto, é fácil esboçar uma risada de outra jovem ao ouvi-la falar sobre sua relação de conquista com os meninos – em um claro choque de gerações com o cineasta, com alguma dificuldade de compreender esse aspecto. 
Mesmo não sendo finalizada pelo diretor, a obra mostra toda a genialidade de seu realizador, e promove uma despedida à altura do tamanho desse ícone do cinema documental."
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