sábado, 1 de dezembro de 2018

Casa de Mãe Quando Os Filhos Se Vão


Casa de mãe depois que os filhos se vão
Texto atribuído a Miryan Lucy Rezende

Resultado de imagem para casa no interior

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um oratório. Amanhece e anoitece, prece. Já não temos acesso àquelas coisinhas básicas do dia a dia, as recomendações e perguntas que tanto a eles desagradavam e enfureciam: com quem vai, onde é, a que horas começa, a que horas termina, a que horas você chega, vem cá menina, pega a blusa de frio, cadê os documentos, filho.

Impossibilitados os avisos e recomendações, só nos resta a oração, daí tropeçamos todos os dias em nossos santos e santas de preferência, e nossa devoção levanta as mãos já no café da manhã e se deita conosco.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é lugar de silêncio, falta nela a conversa, a risada, a implicância, a displicência, a desorganização. Falta panela suja, copos nos quartos, luzes acesas sem necessidade…

Aliás, casa de mãe, depois que os filhos se vão, vive acesa. É um iluminado protesto a tanta ausência.

Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre o mesmo cheiro. Falta-lhe o perfume que eles passam e deixam antes da balada, falta cheiro de shampoo derramado no banheiro, falta a embriaguez de alho fritando para refogar arroz, falta aroma da cebola que a gente pica escondido porque um deles não gosta ( mas como fazer aquele prato sem colocá-la?), falta a cara boa raspando o prato, o “isso tá bão, mãe”. O melhor agradecimento é um prato vazio, quando os filhos ainda estão. Agora, falta cozinha cheia de desejos atendidos.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um recorte no tempo, é um rasgo na alma. É quarto demais, e gente de menos.

É retrato de um tempo em que a gente vivia distraída da alegria abundante deles. Um tempo de maturar frutos, para dá-los a colher ao mundo. Até que esse dia chega, e lá se vai seu fruto ganhar estrada, descobrir seus rumos, navegar por conta própria com as mãos no leme que você , um dia, lhe mostrou como manejar.

Aí fica a casa e, nela, as coisas que eles não levam de jeito nenhum para a nova vida, mas também não as dispensam: o caminhão da infância, a boneca na porta do quarto, os livros, discos, papéis e desenhos e fotografias – todas te olhando em estranha provocação.

Casa de mãe depois que os filhos se vão não é mais casa de mãe. É a casa da mãe. Para onde eles voltam num feriado, em um final de semana, num pedaço de férias.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um grande portão esperando ser aberto. É corredor solitário aguardando que eles o atravessem rumo aos quartos. É área de serviço sem serviço.

Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre alguém rezando, um cachorrinho esperando, e muitos dias, todos enfileirados, obedientes e esperançosos da certeza de qualquer dia eles chegam e você vai agradecer por todas as suas preces terem sido atendidas.

Por que, vamos combinar, não é que você fez direitinho seu trabalho, e estava certo quem disse que quem sai aos seus não degenera e aqueles frutos não caíram longe do pé?

E saudade, afinal, não é mesmo uma casa que se chama mãe?

*            *            *

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Nas sombras da internet - IVAN ÂNGELO

Nas sombras da internet
IVAN ÂNGELO - Revista 'Veja São Paulo', 01 de abril 2018


Resultado de imagem para Nas sombras da internet Ivan Angelo
Ilustração: Negreiros



Existe um lugar sombrio na rede mundial, onde cavalgam os novos bárbaros com suas espadas de ódio e suas línguas de maldizer.

Lá é onde cada um deles comete seus furtivos pecados, é onde fica seu abrigo secreto, seu esconderijo, o armário onde se resguarda, onde, camuflado, faz seus feios fazeres.
É onde diz o indizível, espia o interdito, namora espelhos e secretamente, mas ó com que excitação, busca e deseja seus iguais.
É onde chicoteia negros (ó, não mais “seus” negros, maldita princesa Isabel!), sevicia mulheres, pisoteia destituídos de bens e de poder, difama os divergentes.
É o beco onde chuta cachorro morto dando risada.
É o ermo onde dá o quinto tiro na cabeça da vereadora assassinada.
É o território do falso, por onde circulam as notícias falsas, as falsas reputações, a moeda falsa, a falsa virtude, as nuvens de pó, os inconfessáveis encontros marcados, os endereços para a entrega das malas de dinheiro e das moças de falsa inocência.
É onde trafegam espiões e chupa-cabras, bisbilhotando, invadindo, copiando, adulterando, montando, espalhando, vendendo, jogando nas redes o que quer que seja ou pareça comprometedor, ou que possa levantar suspeitas, ou que possa corroborar uma suspeita.
É de onde justiceiros de reputações disparam suas mensagens de quarenta palavras-bala, que ricocheteiam e vão ferindo incautos em louco zigue-zague.
É a esquina do maldizer, da língua preta, da língua de trapo, da língua de fogo, a enxovalhar com sua baba fétida a vida e a imagem das pessoas públicas.
Fica lá, nessa zona escura, a cadeira de dragão dos porões cibernéticos, onde delegados fleurys fazem sofrer por prazer sádico, riem ao fritar nomes, relações, amizades, fidelidades.
É onde cada um deles marca encontro para espancar até a morte o torcedor do time adversário, não importa se pai ou filho como todos nós, como todos eles, naquele momento é apenas um portador da bandeira ou camiseta odiada, e eles dão o pau conforme combinado na rede social, pau, pau, pau nele sem dó.
É onde se trama a ameaça aos ministros e o ataque às caravanas.
É onde jovens manifestantes de negra intenção e máscara ninja marcam encontros para vandalizar, quebrar, queimar, bagunçar, machucar, anarquizar e onde, mais tarde, na mesma zona sombria, contabilizam eufóricos seus estragos, como se vitórias fossem.
É onde campeiam capitães de mato da nova estirpe à caça de gays, de defensores de direitos, de libertários, de militantes da ecologia, de feministas, de vozes que cobram compromissos sociais dos políticos, para contra eles açular matilhas raivosas.
Escondem-se nessas moitas da rede os doentios divulgadores de fotos furtadas de celebridades peladas.
É onde os pescadores de dinheiros — eis aí os verdadeiros pescadores de águas turvas — lançam suas iscas para capturar transferências, números de contas bancárias, de cartões, senhas.
É desde esses pastos de urtigas que pastores aproveitadores e de má conduta, comandando batalhões de anjos caídos, pastoreiam ingênuos de boa-fé com propósitos de lucro, supremacia e poder.

Ali, nesse ambiente sombrio, não valem argumentos nem razões: é o lugar dos gritos de guerra. Vale difamar, acusar sem provas. 
Rolam discursos de ódio e preconceito. 
A verdade é morta a pauladas, a lógica toma chutes no traseiro, os fatos são esganados até perderem os sentidos, o direito é expulso a pontapés. 
E estamos nisso.
*               *               *

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Neste período eleitoral - (Haja paciência!)

O país que precisa de mitos
PAULO CASSIANO JÚNIOR – página  ‘Jornal Terceira Via’


“Desde os primórdios, o ser humano sempre buscou explicação para a realidade. 
Na Grécia Antiga, quando o conhecimento era transmitido basicamente por tradição oral, os narradores (rapsodos) valiam-se de relatos fantasiosos que pretendiam elucidar ou justificar a origem do mundo, a condição do homem, o estado das coisas e os fenômenos naturais. Essa ferramenta simbólica utilizada para disseminar o conhecimento era o mito.

Uma das características da narrativa mítica era a presença do elemento misterioso. Como os rapsodos eram pessoas tidas como divinamente inspiradas e, portanto, dignas de toda confiança, seus ouvintes não encontravam incongruências em suas histórias fantásticas e sagradas. 
Questionar o mito implicava contradizer os próprios deuses. Ancorado na fé, o mito predominou até que alguns começaram a lançar sobre ele um olhar crítico, problematizador e radical. Nascia aí a filosofia.

Apesar de a narrativa mítica ter sido superada pelo pensamento filosófico, o mito sobreviveu aos tempos e agregou hoje uma outra acepção. 
Popularmente, o mito moderno designa toda pessoa detentora de poderes e habilidades superiores, capaz de alcançar feitos extraordinários. Nesse sentido, é mito quem saca uma ideia genial para resolver um problema complexo. Ou quem lança uma última palavra capaz de encerrar uma discussão travada. 
O mito é sempre aclamado pela multidão. O mito é encantador, carismático e portador de valores nobres. O mito é a síntese da virtude.
(...)
Quem trata homens de carne e osso como mitos precisa fechar os olhos para as limitações que eles apresentam e os erros que eles cometem. 
Tal como na Grécia antiga, o mito moderno só se sustenta com o ingrediente da fé, inacessível pela razão. 
Só assim os bolsonaristas ignoram o discurso sectário e antidemocrático de seu candidato. 
Também por isso os lulistas fingem não ver as evidências de corrupção partidária e enriquecimento pessoal que o ex-presidente protagonizou,
(...)
No fundo, a ânsia dos brasileiros por um salvador da pátria expõe a imaturidade da nossa cidadania. 
Ao erigirmos ídolos sobre quem recairão todas as nossas esperanças de redenção, sentimo-nos confortáveis para darmos descanso a nós mesmos da árdua tarefa diária de construção de uma nação melhor. 
O país que precisa de mitos revela a fragilidade de sua própria democracia. 
Nós não necessitamos de líderes messiânicos, mas de instituições fortes. 
Afinal, no reino dos humanos, todos os mitos possuem pés de barro.”

*            *            *


terça-feira, 25 de setembro de 2018

Boas lembranças

Se há algo de bom em envelhecer é poder lembrar esses sonhos da juventude e constatar que muitos se realizaram sim, pelo menos para mim. Hoje, só não moro mais 'lá' por circunstâncias ligadas às mudanças ocorridas no nosso cotidiano. Mas a minha casinha está 'lá'.
Interessante é pensar que, apesar de tantas mudanças e 'evolução', esse sonho de muitas pessoas permanece.
Acho que é o 'mais do mesmo'. Nós, seres humanos, somos muito esquisitos mesmo.


Os benefícios do mar

Os benefícios do mar
Luiza Fletcher • 15 de fevereiro de 2018, site 'O Segredo'


Todos aqueles que já estiveram frente ao mar pelo menos uma vez na vida, podem comprovar o quão maravilhoso é.
O mar nos faz sentir-nos conectados a algo maior, aumenta nossa alegria, nos faz refletir sobre nossas vidas e pode nos inspirar a buscar aquilo que verdadeiramente desejamos.
No entanto, seus benefícios vão além disso. 
O mar também pode nos trazer mais felicidade, aumentar nossa qualidade de vida e beneficiar nossa saúde física e mental.

Abaixo estão 8 benefícios do mar para nossas vidas, comprovados pela ciência.

1. Morar perto do mar ajuda a reduzir o estresse e induz a uma melhor qualidade de vida, é o que comprova um estudo da Nova Zelândia, que também mostrou que a cor do mar pode ajudar a diminuir estresses psicológicos.

2. O mar pode melhorar o funcionamento do nosso sistema respiratório, através do ar salgado entre as ondas. Alguns estudos comprovam que os sintomas de condições como asma e bronquite podem ser reduzidos quando estamos próximos do mar.

3. Algumas pesquisas científicas mostram que o mar pode nos incentivar a praticar atividades físicas, o que ajuda a melhorar nossa saúde por completo.

4. Nossos níveis de serotonina se equilibram perto do mar, graças ao ar oceânico, que contém íons de hidrogênio carregados negativamente. Dessa maneira, sentimos mais energia, dormimos melhor e nos sentimos mais felizes.

5. Um estudo inglês comprovou, através de experiências, que moradores de cidades litorâneas têm uma saúde melhor e vivem por mais tempo. Além disso, mostrou que as pessoas tendem a se sentirem mais saudáveis quando estão na praia.

6. Um estudo da Universidade de Exeter, na Inglaterra, mostrou que os sons do mar ,melhoram nossos sentimentos de bem-estar e autoconhecimento, porque ativam o córtex pré-frontal do cérebro, área associada às emoções e autorreflexões.

7. Estando perto do mar, temos mais propensão ao contato com o sol, o que aumenta nossa exposição à vitamina D, que melhora nossa saúde e nos previne de condições como o câncer.

8. Perto do mar, o ar é mais puro, mesmo quando está localizado dentro de uma grande cidade. O benefício do ar puro para a qualidade de vida é muito claro, não precisa de justificação científica.

*            *            *

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Incêndio Museu Nacional do Rio de Janeiro

Vergonha de ser brasileiro
Octavio Caruso - 3 de setembro de 2018


Triste noite. O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro é o símbolo de uma cidade abandonada. Vejo da janela as chamas, o local tão lindo que visitei tantas vezes, desde criança nas excursões escolares, dois séculos de história perdidos para sempre.
A cultura chora, tentando resistir à estupidez de um povo que, por décadas, elegeu governantes e prefeitos incompetentes. Que país vergonhoso.

Um patrimônio inestimável perdido em questão de horas. “Nação”? Não, um esgoto a céu aberto. Um povo que não valoriza cultura, que despreza a memória. Uma classe política nojenta, reflexo cristalino de seus eleitores. Vergonha!

A notícia é inacreditável. Bombeiros estão com dificuldade para combater o fogo por FALTA DE ÁGUA NOS HIDRANTES”
Há testemunhas que viram bombeiros chorando porque as mangueiras estavam com furos. Bravos e valorosos profissionais, infelizmente prejudicados por um sistema podre.
(...)

Postei as mensagens acima na noite de ontem, enquanto via pela janela (...) a destruição do Museu Nacional. A revolta é grande, a vontade é desistir deste país. 
Acordo todos os dias pensando em maneiras de propagar cultura, valorização da memória e o amor pelo garimpo intelectual, mas grande parte do povo não merece este tipo de atitude.
(...) A classe política é nojenta e reflete de forma cristalina o modus operandi de grande parte do povo. 
O descaso não é responsabilidade de um governo, como muitos oportunistas sem caráter tentam agora defender, mas de todos aqueles que limparam os traseiros com a bandeira brasileira nas últimas décadas. 
Eu tenho moral para esbravejar porque vivo cultura e sempre me posicionei de forma coerente no tema e, principalmente, porque, por 10 anos, perdi noites de sono, sem folga, sem férias, sem finais de semana, trabalhando em minha área e sabendo que não recebia remuneração alguma, motivado pela esperança de que os meus esforços pudessem inspirar outrem, para que, em longo prazo, a situação nacional fosse menos deplorável. 
Ao contrário do prefeito, que concede entrevistas hoje com um quase sorriso no rosto, demonstrando desconhecer (ou desprezar) o valor inestimável do material que se perdeu no incêndio, reduzindo o local ao seu valor histórico como Palácio Imperial, choro ao lado de todos aqueles profissionais que dedicaram suas vidas à sobrevivência deste patrimônio, contra todas as probabilidades, e, mais, choro pelas crianças que ainda vão nascer nesta terra sem honra. Não há como reconstruir o que se perdeu. 
O que resta é apenas uma vergonha profunda de ser brasileiro.


*               *               *

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ALBERT CAMUS - sobre Envelhecer

Envelhecer  (frases soltas formando o texto)
ALBERT CAMUS

Resultado de imagem para envelhecer

“Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.
O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido…é sim não poder voltar a cometê-las.

Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.
Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.
Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.
O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.

Quando era jovem dizia:
“verás quando tiver cinquenta anos”.
Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.

Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.
Sempre há um menino em todos os homens.

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.”
**

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Linda surpresa

Ouvindo música no youtube, me vi surpreendida e encantada com este poema como 'comentário' sobre a música de Fariborz Lachini, (NÃO É Chopin)  "Joie de vivre":

"Se donne à voir 
Se donne à écouter 
Se donne à se taire 
Se donne à toucher 
Du bord des yeux
Se donne à embrasser 
La vie
Se donne 
Lentement
Sans un bruit 
Plus haut que l'autre..."
*
ROUGE CERISE - (7 meses atrás)


***

A alma antiga

Da página APost , sem assinatura de autoria


Algumas pessoas parecem ser sábias demais para sua idade e muitas vezes preferem viver tranquilamente, enquanto observam a vida à distância. Essas pessoas pacíficas e estáveis são frequentemente consideradas detentoras de almas antigas. Acredita-se que elas tenham internalizado a sua visão do mundo de vidas passadas.

Almas velhas experimentam a vida de forma diferente das pessoas que as cercam e geram sentimentos de paz e calma em um mundo caótico. Sua natureza iluminada faz com que pensem e reajam de maneira diferente do restante de nós. 

Almas antigas têm amizades duradouras

Frequentemente, o detentor de uma alma antiga pode sentir que tem pouco em comum com pessoas da sua idade. Almas velhas não parecem estar interessadas nos tipos de atividades ou buscas daqueles com quem convivem. Em vez disso, a alma antiga vai procurar a companhia de um grupo seleto de poucas pessoas com as quais se identifica. Almas antigas procuram amigos com os quais se conectam por causa da afinidade entre seus espíritos.

Almas antigas seguem seu próprio caminho

O detentor de uma velha alma raramente parece fazer o que se espera dele. Ele parece dar pouco valor a buscas materialistas. Ele não está à procura de poder ou riqueza. Em vez disso, dirige-se em direção à sua própria autorrealização e à verdadeira felicidade. Essas almas antigas são frequentemente espiritualizadas, conectadas e instruídas.

Almas antigas se adaptam com facilidade

A alma velha é uma observadora e rapidamente se adapta a novas situações. Elas podem se achar excluídas e mal compreendidas nesta vida, mas não são anti-sociais. As almas antigas são naturalmente curiosas. Essa curiosidade frequentemente as leva a conversas mais significativas e menos superficiais. Se a alma velha não puder conduzir uma conversa para uma direção significativa, ela pode abruptamente encerrar a conversa e seguir seu caminho.

As almas velhas buscam conhecimento

O possuidor de uma velha alma é um intelectual. Para ele, o conhecimento traz sentimentos de felicidade e poder. Ele gosta de analisar todas as situações, esforçando-se para continuar aprendendo valiosas lições de vida. A alma antiga nem sempre tem que estar correta em suas crenças. Ela gosta de ter seus pensamentos e crenças desafiados pelos outros.

A alma antiga é espiritualizada

Almas antigas estão continuamente buscando a iluminação espiritual. Isso não precisa significar que se dediquem a uma religião. Elas podem estar em sintonia com muitas crenças e rituais antigos. Estão em busca de tradições e conexões espirituais que lhes tragam a verdadeira felicidade.

A alma antiga vê vida para além do presente

Aqueles que têm uma alma velha vivem sua vida sem complicá-la com detalhes do presente. Eles vêem a vida como uma série de consequências de uma série de ações. Em vez de se concentrarem só no dia de hoje, pensam mais à frente do que as pessoas que os rodeiam costumam fazer. Isso lhes dá uma perspectiva incomum e uma compreensão diferente de como o mundo funciona. A mente da alma antiga raramente se encontra obstruída por materialismo ou vaidade.

*            *            *

Resmungo...

Resmungo do dia, 'guenta' aí...

Não bastassem nossas questões individuais e/ou coletivas, os problemas da vida de cada um, nossos direitos e também nossas obrigações, tudo - tudo e qualquer coisa - está em exposição de maneira quase sempre afrontosa, quase sempre procurando discussão ferrenha em disputas que muitas vezes levam a lugar nenhum.

A moda da vez é a voz. E como as temos... estridentes, esganiçadas e por vezes, inaudíveis ou incompreensíveis.
Ah, e tem também a questão da visibilidade.
Ilusão pensar que esperneando, berrando, sempre contra ou a favor de qualquer coisa, seremos vistos, temidos, amados , admirados, respeitados ou não.

A ordem do dia na vida atual é a chamada 'polêmica'.
O verbo causar agora é intransitivo.
Haja clichê! E haja crochê.

Na minha opinião, as notícias mais irrelevantes tomam ares de foco de discussão séria, urgente, necessária, para ocupar os espaços realmente vazios de ideias.
Puro desgaste comentar, opinar, ‘meter o bico’ – ou que outras expressões lhes ocorram..

Há outras coisas, muitas outras, atormentando o dia de quem apenas deseja sossego, o que destrói tímidas tentativas com bandeiras brancas - pequenas parcelas de contribuição para a 'paz mundial'.

Vamos, gente, vamos ouvir música .
**
Sueli, 07 de agosto 2018


Beethoven Silence

'Do amor e outros demônios' - GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ

"Às vezes atribuímos ao demônio certas coisas que não entendemos, 
sem cuidar que podem ser coisas que não entendemos de Deus."


'Do Amor e Outros demônios'  é o primeiro livro de Gabriel García Marques que surgiu de uma reportagem de outubro de 1949, quando ele é enviado pelo seu jornal ao Convento de Santa Clara, onde antigos túmulos estavam sendo destruídos. De um deles saiu uma cabeleira cor de cobre de vinte e dois metros pertencente a uma jovem. Na lápide constava simplesmente o nome Sierva María de Todos los Àngeles, sem sobrenome nem pista de quem ela seria.
O escritor lembrou de uma lenda que a avó lhe contava sobre uma marquesa de doze anos que foi mordida por um cão e que fazia milagres. E é a partir dessa lenda que sai este romance.

Há muito mais demônios no livro do que qualquer outra coisa.

**
Do capítulo Um:
 “Um cachorro cinzento com uma estrela na testa irrompeu pelos becos do mercado no primeiro domingo de dezembro, revirou mesas de frituras, derrubou barraquinhas de índios e toldos de loterias, e de passagem mordeu quatro pessoas que se atravessaram no seu caminho. Três eram escravos negros. A outra foi Sierva Maria de Todos los Ángeles, filha única do marquês de Casalduero, que fora com uma empregada mulata comprar uma fieira de guizos para a festa de seus doze anos.”
*
“— O corpo humano não foi feito para os anos que a pessoa é capaz de viver...”  
(Fala do médico Abrenuncio)
*
“— Não se preocupe, minha branca — disse a escrava. — A senhora pode me proibir o que quiser, e eu obedeço. — E concluiu: — Só não pode proibir o que eu penso.”
(Fala da escrava Dominga de Adviento)
*
“— Tenho tanto medo de cavalos como de galinhas — disse.
— É pena, porque a falta de comunicação com os cavalos atrasou a humanidade — disse Abrenuncio. — Se conseguíssemos rompê-la, poderíamos fabricar o centauro.”
(Diálogo entre o marquês de Casalduero e o médico)
*
“(..)
O interior da casa, iluminado por duas janelas que davam para o mar alto, estava arrumado com um preciosismo minucioso de solteirão. Em todo o ambiente recendia uma fragrância de bálsamos que levava a crer na eficácia da medicina. Havia uma escrivaninha em ordem e uma cristaleira cheia de frascos de porcelana com rótulos em latim.
Relegada a um canto, estava a harpa medieval coberta de uma poeira dourada. O mais notável eram os livros, muitos em latim, com lombadas intrigantes. Havia-os em armários de vidro e em estantes abertas, ou postos no chão com muito cuidado, e o médico caminhava Pelos desfiladeiros de papel com a ligeireza de um rinoceronte entre rosas. O marquês estava assombrado com a quantidade.
— Tudo o que se sabe deve estar nesta sala disse.
— Os livros não servem para nada — disse Abrenuncio de bom humor. — Passei a vida curando doenças causadas por outros médicos com os remédios que dão.
Tirou um gato adormecido da poltrona principal, que era a sua, para que o marquês sentasse. Serviu-lhe um chá de ervas que ele mesmo preparou no fogareiro do laboratório, enquanto falava de suas experiências médicas, até se dar conta de que o marquês perdera o interesse. Assim era: ele se levantou de repente e lhe deu as costas, espiando pela janela o mar esquivo. Por fim, sempre de costas, encheu-se de coragem para começar.
— Licenciado — murmurou.
Abrenuncio não esperava o chamado.
— Sim? — Sob a gravidade do sigilo médico, e só para seu governo, confesso que é verdade o que falam — disse o marquês em tom solene. — O cachorro raivoso mordeu também minha filha.
Olhou o médico e se defrontou com uma alma em paz.
— Já sei — disse. — E suponho que é por isso que veio tão cedo.
— Isso mesmo — disse o marquês. E repetiu a pergunta feita a respeito do mordido do hospital: — Que podemos fazer? 
Em vez da resposta brutal do dia anterior, Abrenuncio pediu para ver Sierva María.. Era isso que o marquês queria dele. Estavam pois de acordo, e a carruagem os esperava na porta.
(...)
Ao contrário do que seria de esperar, a menina se submeteu sem resistência a uma exploração minuciosa de seu corpo, com a curiosidade de quem estivesse observando um brinquedo de dar corda.
— Nós médicos vemos com as mãos — disse Abrenuncio.
A menina, achando graça, sorriu pela primeira vez. Sua boa saúde saltavaaos olhos.
(...)
Enfrentou com bom ânimo e pleno domínio o interrogatório insidioso, e seria preciso conhecê-la muito para descobrir que nenhuma resposta sua era verdade.
Só esteve tensa quando o médico encontrou a cicatriz ínfima no tornozelo. A astúcia de Abrenuncio se antecipou: — Caíste? A menina afirmou sem pestanejar: — Do balanço.
O médico começou a conversar consigo mesmo em latim. O marquês o interrompeu: — Diga-me isso em língua de gente.
— Não é com o senhor — disse Abrenuncio. Estou pensando em baixolatim.
Sierva María estava encantada com as artimanhas, de Abrenuncio, até que ele lhe colou a orelha ao peito para auscultá-la. 
O coração da menina batia aos saltos enlouquecidos, e a pele soltou um orvalho lívido e glacial, com um recôndito cheiro de cebola. 
Ao terminar, o médico lhe deu uma palmadinha carinhosa na face.
— És muito valente — disse.
A sós com o marquês, comentou que a menina sabia que o cachorro tinha raiva. O marquês não entendeu.
— Ela lhe disse muitas petas, mas essa, não.
— Não foi ela, senhor. Foi aquele coração, parecia uma rãzinha no cativeiro.
O marquês se demorou no relato de outras mentiras surpreendentes da filha, não sem certo orgulho paterno.
— Talvez vá ser poeta — disse.
Abrenuncio não admitiu que a mentira fosse uma condição das artes: — Quanto mais transparente é uma escrita, mais se vê a poesia.
A única coisa que não pôde interpretar foi o cheiro de cebola no suor da menina. Como desconhecia qualquer relação entre um cheiro determinado e a raiva, descartou-o como sintoma. 
Caridad del Cobre revelou mais tarde ao marquês que Sierva Maria se entregara em segredo às ciências dos escravos, que a faziam mastigar emplastro de manajá, e a trancavam nua na despensa de cebolas para afastar o malefício do cachorro.
Abrenuncio não suavizou o mais insignificante pormenor da raiva.
— Os primeiros ataques são tanto mais graves e mais rápidos quanto mais profunda for a mordida e quanto mais perto estiver do cérebro — disse. Lembrou o caso de um paciente que morreu ao cabo de cinco anos, mas ficou a dúvida de que tivesse sofrido um contágio posterior, não advertido. A cicatrização rápida não queria dizer nada: depois de um tempo imprevisível, a cicatriz podia inchar, abrir-se de novo e supurar. A agonia chegava a ser tão espantosa que era melhor a morte. 
Só restava então apelar para o hospital do Amor de Deus, onde havia senegaleses hábeis no tratar de hereges e de energúmenos enfurecidos. A não ser assim, o marquês em pessoa teria de assumir a condenação de manter a menina amarrada à cama até morrer.”
**
Do capítulo Dois:
“Nenhum louco é louco para quem aceita as razões dele.”
*
... já de saída, (o médico Abrenuncio) parou junto à rede do marquês e precisou o prognóstico: — A senhora marquesa morrerá o mais tardar no dia 15 de setembro, se antes não se pendurar numa viga.
Sem se alterar, o marquês disse: — O ruim é que o dia 15 de setembro ainda está longe”
*
“Ela lhe perguntou num daqueles dias se era verdade, como diziam as canções, que o amor tudo podia.
— É verdade — respondeu ele —, mas será melhor não acreditares.”
(Diálogo entre  pai - o marquês – e a filha Sierva Maria)
**
Do Capítulo Três
“A ciência não me deu meios para lhe dizer mais nada — replicou o médico no mesmo tom ácido. — Mas se não acredita em mim, ainda lhe resta um recurso: confie em Deus.”
*
“— Quer dizer que recuperou a fé — disse Abrenuncio.
— Nunca se deixa de crer por completo — disse o marquês . — A dúvida persiste.”
*
“Abrenuncio o fez sentar diante dele, e os dois se entregaram ao vício da conversação, enquanto uma tempestade apocalíptica convulsionava o mar. O médico fez uma exposição erudita e inteligente sobre a raiva desde a origem da humanidade, sobre seus estragos impunes e a incapacidade milenar da ciência médica para impedi-los. Deu exemplos lamentáveis de como sempre fora confundida com a possessão demoníaca, assim como certas formas de loucura e outras perturbações do espírito. 
Quanto a Sierva María, depois de tantas semanas, não parecia provável que a contraísse. O único perigo, concluiu Abrenuncio, era que morresse, como tantos outros, em consequência da crueldade dos exorcismos.
A última frase pareceu a Delaura um exagero próprio da medicina medieval, mas ele não discutiu, porque servia bem à sua argumentação teológica de que a menina não estava possuída.” (...)
— A verdade é que nem sei ao certo por que vim — disse Delaura. — A não ser que essa menina me tenha sido imposta pelo Espírito Santo para pôr a prova minha fé.
Bastou dizê-lo para se libertar do nó de suspiros que o oprimia.
Abrenuncio olhou-o nos olhos, até o fundo da alma, e percebeu que estava quase a chorar.
— Não se atormente à toa — disse em tom tranquilizador. — Talvez só tenha vindo porque precisava falar nela.
Delaura sentiu-se nu. Levantou-se, procurou o rumo da porta e só não fugiu em disparada porque estava meio despido. 
Abrenuncio o ajudou a vestir a roupa ainda molhada, enquanto tratava de fazê-lo ficar para continuar a conversa.
— Com o senhor, conversaria sem parar até o próximo século — disse.”
(Abrenuncio, o médico; Delaura, o exorcista)
*
(Delaura vai à cela onde está Sierva Maria de Los Angeles)
(...) Então Delaura assistiu ao espetáculo pavoroso de uma verdadeira energúmena. A cabeleira de Sierva María se encrespou com vida própria, como as serpentes da Medusa, e de sua boca saiu uma baba verde, uma saraivada de impropérios em línguas de idólatras.
Delaura brandiu o crucifixo, aproximou-o da cara dela e gritou aterrado:
— Sai daí, sejas tu quem fores, besta dos infernos Seus gritos estimularam os da menina, que estava a ponto de romper as fivelas das correias. A guardiã acudiu
assustada e forcejou para dominá-la, mas só Martina o conseguiu com seus
modos celestiais.
Delaura fugiu.”
(...)
“Fugiu para a biblioteca mas não conseguiu ler. Rezou com a fé exacerbada, cantou a canção da tiorba, chorou com lágrimas de óleo ardente que lhe abrasavam as entranhas. 
Abriu a maleta de Sierva María e pôs as coisas uma a uma em cima da mesa. Conheceu-as, cheirou-as com um desejo ávido do corpo, amou-as e falou com elas em hexâmetros obscenos, até que não pôde mais. 
Então desnudou o torso, tirou da gaveta da mesa de trabalho a disciplina de ferro que nunca ousara tocar e começou a flagelar-se com um ódio insaciável, que não lhe daria trégua até extirpar de suas entranhas o último vestígio de Sierva Maria.
O bispo, que tinha ficado à espera dele, encontrou-o revolvendo-se num lamaçal de sangue e lágrimas.
— É o demônio, meu pai — disse Delaura. — O mais terrível de todos.”
**
Do Capítulo Quatro:
“Na cela de Sierva María, o ar ainda estava áspero por causa da cal viva e do ranço do alcatrão, mas havia uma ordem nova. 
Mal a guardiã abriu a porta, a vice-rainha se sentiu enfeitiçada por um sopro glacial. 
Sierva María estava’sentada, a bata puída e os chinelos sujos, e costurava devagar num canto
iluminado por sua própria luz. Não ergueu os olhos até que a vice-rainha a cumprimenttou. 
Logo percebeu no olhar da menina a força irresistível de umarevelação.
— Santíssimo Sacramento — murmurou, dando um passo para dentro da cela.
— Cuidado — disse-lhe a abadessa ao ouvido. É como uma onça.
*
"A cela estava diferente graças aos dons de persuasão dos vice-reis, que na visita de despedida tinham convencido a abadessa das boas razões do bispo. O colchão era novo, os lençóis de linho, e os travesseiros de penas, e se haviam posto utensílios para o asseio cotidiano e o banho de corpo. 
A luz do mar entrava pela janela sem cruzetas e resplandecia nas paredes recém-caiadas."
*
Do Capítulo Cinco
(Visita de Abrenuncio ao padre Cayetano Delaura, este cuidndo de leprosos, cumprindo sentença dada pela Igreja)
“— Gostaria de saber por que é tão amável comigo – (disse Delaura)
— Porque nós ateus não conseguimos viver sem os padres — disse Abrenuncio. — Os pacientes nos confiam seus corpos, mas não suas almas, e nós vivemos como os diabos, tratando de disputá-las com Deus. 
— Isso não combina com as suas crenças — disse Cayetano  (...)
*
“Cayetano aprendeu depressa que um grande poder não se perde pela metade. As mesmas pessoas que antes disputavam a sua intimidade agora fugiam dele como de um leproso. 
Seus amigos das artes e letras mundanas se afastaram para não ter problemas com o Santo Ofício.”
*
"Quando paro a contemplar o meu estado 
e ver os passos por onde me trouxeste ... 
eu acabarei pois me entreguei sem arte 
a quem me saberá perder e acabar" 
(do último dos quarenta sonetos do cavaleiro do amor e de armas, Dom Garcilaso de La Vega)
*
(O médico Abrenuncio fala ao padre Cayetano Delaura):
“— Vocês têm uma religião da morte que lhes infunde coragem e felicidade para enfrentá-la disse. — Eu não: acredito que a única coisa essencial é estar vivo.”
*

Primorosa descrição de ambiente
“...era o ambiente mais espaçoso da casa do bispo, sem uma só janela, e as paredes cobertas por armários de mogno envidraçados com livros numerosos e em ordem. 
No centro ficava uma mesa grande com cartas de marear, um astrolábio e outros instrumentos de navegação, e um globo terrestre com acréscimos e emendas feitas a mão por sucessivos cartógrafos à medida que o mundo ia aumentando. 
Havia no fundo uma rústica mesa de trabalho com o tinteiro, o aparador de penas, as penas de peru nativo para escrever, o pó de secar tinta e uma jarra com um cravo murcho. 
Todo o ambiente estava em penumbra, e cheirava a papel em repouso, à fresca e ao sossego de uma floresta.
Ao fundo do salão, num espaço mais reduzido, havia umas estantes fechadas com portas de tábuas comuns. Era a prisão dos livros proibidos segundo os expurgatórios da Santa Inquisição, por tratarem de 'matérias profanas e fabulosas', e de histórias fictícias. A ela ninguém tinha acesso, salvo Cayetano Delaura, por licença pontifícia para explorar os abismos das letras extraviadas. (...)”


*            *            *

terça-feira, 31 de julho de 2018

'Lua de Sangue' - 27 de julho 2018

Foto campeã e histórica do Eclipse Lunar Total e do Periélio de Marte do dia 27/07/2018, sobre o Rio de Janeiro.

Por mera coincidência simbólica, o fenômeno foi registrado sobre a Urca, bairro onde está localizado o IED (Istituto Europeo di Design), o mais novo local da Astronomia no Rio de Janeiro, onde o CARJ realiza suas Observações, Palestras e Workshops.


Foto: Carlos Fairbairn © —  Rio de Janeiro.

*            *            *



quinta-feira, 26 de julho de 2018

Sobre todas as coisas - Carminho e Milton Nascimento

Sobre todas as coisas
Chico Buarque de Holanda - 1972

Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus

Ao Nosso Senhor
Pergunte se Ele produziu nas trevas o esplendor
Se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor
Criado pra adorar o Criador

E se o Criador
Inventou a criatura por favor
Se do barro fez alguém com tanto amor
Para amar Nosso Senhor

Não, Nosso Senhor
Não há de ter lançado em movimento terra e céu
Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel
Pra circular em torno ao Criador

Ou será que o deus
Que criou nosso desejo é tão cruel
Mostra os vales onde jorra o leite e o mel
E esses vales são de Deus

Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus


segunda-feira, 16 de julho de 2018

DESIDERATA - Max Ehrman

Desiderata é uma palavra de origem latina que significa “aquilo que se deseja”

DESIDERATA
Max Ehrmann 
Tradução: Iva Sofia Gonçalves Lima

Siga tranquilamente entre a pressa e a inquietude, 
lembrando-se que há sempre paz no silêncio.

Tanto quanto possível, sem se humilhar, 
mantenha boas relações com todas as pessoas.
Fale a sua verdade mansa e claramente e ouça a dos outros, 
mesmo a dos insensatos e ignorantes, 
pois eles também têm sua própria história.

Evite as pessoas escandalosas e agressivas. 
Elas afligem o nosso espírito.

Se você se comparar com os outros, 
tornar-se-á presunçoso e magoado, 
pois haverá sempre alguém superior 
e alguém inferior a você.

Você é filho do Universo, 
irmão das estrelas e árvores. 
Você merece estar aqui, 
e mesmo sem você perceber, a Terra e o Universo 
vão cumprir o seu destino.

Desfrute das suas realizações, 
bem como dos seus planos. 
Mantenha-se interessado em sua carreira, ainda que humilde, 
pois ela é um ganho real na fortuna cambiante do tempo.
Tenha cautela nos negócios, pois o mundo está cheio de astúcias, 
mas não se torne um cético porque a virtude sempre existirá. 
Muita gente luta por altos ideais e 
em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.

Seja você mesmo, principalmente. 
Não simule afeição. 
Não seja descrente do amor,
 porque mesmo diante de tanta aridez e tanto desencanto 
ele é tão perene quanto a selva.
Aceite com carinho o conselho dos mais velhos 
e seja compreensivo com os arroubos inovadores da juventude.

Alimente a força do espírito 
que o protegerá no infortúnio inesperado, 
mas não se desespere com perigos imaginários. 
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão, 
e a despeito de uma disciplina rigorosa. 
Seja gentil para consigo mesmo.

Portanto, esteja em paz com Deus como quer que você o conceba 
e quaisquer que sejam seus trabalhos e as aspirações.
Na fatigante confusão da vida, mantenha-se em paz com sua própria alma, 
apesar de todas as falsidades, fadigas e desencantos. 
O mundo ainda é bonito.

Seja prudente 
e faça tudo para ser feliz!
***


DESIDERATA
Go placidly amid the noise and haste,
and remember what peace there may be in silence.
As far as possible without surrender
be on good terms with all persons.
Speak your truth quietly and clearly;
and listen to others,
even the dull and the ignorant;
they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons,
they are vexations to the spirit.
If you compare yourself with others,
you may become vain and bitter;
for always there will be greater and lesser persons than yourself.
Enjoy your achievements as well as your plans.

Keep interested in your own career, however humble;
it is a real possession in the changing fortunes of time.
Exercise caution in your business affairs;
for the world is full of trickery.
But let this not blind you to what virtue there is;
many persons strive for high ideals;
and everywhere life is full of heroism.

Be yourself.
Especially, do not feign affection.
Neither be cynical about love;
for in the face of all aridity and disenchantment
it is as perennial as the grass.

Take kindly the counsel of the years,
gracefully surrendering the things of youth.
Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.
But do not distress yourself with dark imaginings.
Many fears are born of fatigue and loneliness.
Beyond a wholesome discipline,
be gentle with yourself.

You are a child of the universe,
no less than the trees and the stars;
you have a right to be here.
And whether or not it is clear to you,
no doubt the universe is unfolding as it should.

Therefore be at peace with God,
whatever you conceive Him to be,
and whatever your labors and aspirations,
in the noisy confusion of life keep peace with your soul.

With all its sham, drudgery, and broken dreams,
it is still a beautiful world.
Be cheerful.
Strive to be happy.
*            *            *

– Max Ehrmann, em “Desiderata: um caminho para a vida”. [tradução Iva Sofia Gonçalves Lima]. Edições de Bolso. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2006. (Max Ehrmann, Desiderata, Copyright 1952).