O homem lúcido
Domingos de Oliveira no filme 'Separações'
O homem lúcido sabe que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor. Posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua sensação não pode ser considerada um mal.
O homem lúcido sabe que ele é o equilibrista da corda bamba da existência. Ele sabe que, por opção ou acidente é possível cair no abismo a qualquer momento interrompendo a sessão do circo.
Pode o homem lúcido optar pela vida. Aí, então, ele esgotará todas as suas possibilidades.
Ele passeará pelo seu campo aberto, pelas suas vidas floridas.
Ele saberá ver a beleza em tudo.
Ele terá amantes, amigos, ideais, urdirá planos e os realizará.
Existirão os infortúnios e até mesmo as doenças. E, se atingido por algum desses emissários saberá suportá-los com coragem e mansidão.
E morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado pelo seus filhos e pelos seus netos. E seguirá a sua magnífica aventura.
Pairará, então, sobre a memória do homem lúcido uma aura de bondade. Dir-se-á: ‘aquele amou muito’, ‘aquele fez bem às pessoas”.
A Justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale à grande quantidade de acontecimentos favoráveis. O homem lúcido, porém, esse que optou pela vida, com o consentimento dos deuses, ele tem o poder magno de alterar essa lei.
Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre em maioria porque essa é uma cortesia que a natureza faz com os homens lúcidos."
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(Trecho do filme “Separações”, de Domingos de Oliveira, diz-se lá que é um texto muito antigo, encontrado numa rocha e recuperado.)
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