quinta-feira, 12 de abril de 2012

'AS HIENAS VÃO AO TEATRO'


"Rir é mais antigo que falar. Hominídeos já riam — gemiam, choravam e até suspiravam — há pelo menos 7 milhões de anos. Rir é universal e inato: bebês riem muito antes de falar."
(Jones Rossi)
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"Bebo para tornar as outras pessoas interessantes."

 A frase acima foi extraída de um livro de Ruy Castro: 'Mau Humor ─ uma antologia definitiva de frases venenosas', São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

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O título deste post não é meu. É de  Flávio Paranhos, num artigo que li há algum tempo, sobre o que está causando o riso das plateias de teatro.

Tenho comentado com alguns amigos a questão do humor atual.
Impressionante como um texto que se pretende humorístico não faz sucesso se não houver palavrões entremeando a narrativa. A piada, a situação criada por um duplo sentido já não provoca o riso.

Por algum motivo, apenas o palavrão gratuito promove a sensação de "vingança" contra tudo que possa ter constrangido ou indignado as pessoas.

Por favor, palavrões todos dizemos em várias situações, alguns mais, outros nem tanto, e eles são, realmente, um canal adequado para aquele momento em que nos sentimos impotentes diante de algo que nos aflige.  Às vezes, são até engraçados, mas daí a rechear textos teatrais para que se apresentem como comédia... Isso é um insulto à nossa capacidade de elaborar a raiva ou o constrangimento por que todos já passamos alguma vez.

O palavrão tem, sim, sua expressão humorística mesmo na considerada alta literatura e seus autores, como é o caso do escritor brasileiro Graciliano Ramos, também conhecido por seu constante mau humor, o que produziu, a seu tempo, histórias hilariantes.

O argumento, bem conhecido, do filósofo francês Henri Bergson é que o riso seria uma sanção social a um esclerosamento de comportamentos. 

Um homem, correndo pela rua, tropeça e cai. Os transeuntes riem. Por quê? Porque, segundo o autor, a sociedade reprova "toda rigidez do caráter, do espírito e mesmo do corpo" (BERGSON, Henri. O Riso – Ensaio sobre a significação do cômico, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980  pp.18-19) .

Aqui, porém, não se trata de defender ou acusar qualquer tipo de humor, mas de comentar o uso excessivo da palavra chula como ingrediente para que o texto seja aceito como engraçado.

Existem outras maneiras de provocar o riso, mas parece que os modernos criadores de textos de humor não conhecem, por exemplo, "O Bruxo e o Rabugento - Ensaios sobre Machado de Assis e Graciliano Ramos", Rio de Janeiro : Vieira & Lent, 2010, excelente tratado sobre essa arte dificílima que é trazer o bom humor a esta época que parece colaborar o tempo todo para que estejamos sempre à beira de um ataque de nervos.

De minha parte, devo dizer que me sinto uma idiota quando temos que rir do que se apresenta por aí a título de comédia.

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