quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Filme da tarde - "Intocáveis"

"Intocáveis"
("Amigos improváveis" - título do filme em Portugal) 
Na minha opinião, mais apropriado

Produção francesa (comédia dramática), de 2011, escrita e realizada por Olivier Nakache e Éric Toledano, com François Cluzet e Omar Sy nos principais papéis.
O filme aborda a relação de um multimilionário tetraplégico e do seu peculiar auxiliar de enfermagem, baseado no livro autobiográfico (portanto, partindo de fatos reais) de Philippe Pozzo di Borgo, Le Second souffle.

Philippe é um homem extremamente rico, culto, apreciador de arte, que devido a um acidente ficou tetraplégico.
Driss, um jovem ex-detento senegalês de temperamento explosivo, mora nos subúrbios de Paris, tendo cometido atos que o levaram preso por seis meses.
Duas pessoas de mundos diferentes, de educação diferentes, que se encontram e fazem desse encontro algo enriquecedor para a vida de ambos.

Com uma atuação muito focada em olhares, Sy também anda em cena de maneira forte, maciça, aumentando ainda mais a diferença para com o personagem de Cluzet, centrado em sombrias expressões faciais
É interessante perceber que a postura dos dois vai se moldando ao longo do filme, na medida em que Driss começa a ganhar movimentos cada vez mais leves para demonstrar a sua mudança de temperamento e Philippe adquire expressões mais leves e sorridentes.
Entretanto, o personagem Philippe fica meio sem história - além da deficiência. Por intermédio das ações de Driss é que se vai construindo a trama.

Driss é contratado por Philippe para ser seu assistente pessoal, cuidando de suas necessidades básicas e o ajudando em determinadas tarefas impossíveis para um tetraplégico.

Apesar de inicialmente Driss nem estar interessado nesse trabalho e não ser nada indicado para cuidar de alguém com uma condição tão frágil, Philippe decide dar uma chance ao rapaz, não porque tenha visto potencial no jovem ou por razões humanísticas, mas simplesmente porque estava cansado de ser tratado de forma tecnicamente cuidadosa, como se fosse quebrar a qualquer momento.

Driss o trata normalmente, fala com ele fazendo piadas e muitas vezes até esquece a real condição física do patrão. Isso faz com que Philippe se sinta mais humano e mais vivo.
Além disso, o auxiliar é espontâneo e, em certos momentos, se mostra até inocente no jogo social, o que contribui para conquistar seu empregador e as outras pessoas da casa.
Antes, Driss se encontrava perdido - talvez pela própria história de vida - colocando-se frequentemente em risco. A partir da convivência com Philippe ele aprende a ver o mundo de outra maneira.

Os diálogos são divertidíssimos até pela diferença cultural e preferências de cada um.
Cena chave do filme em que Driss 'incrementa' a festa de aniversário de Philippe
Alguns críticos acham exagerada a tendência atual desses filmes em minimizar ou camuflar problemas reais de doente terminal, como em Antes de partir (com Jack Nicholson e Morgan Freeman).
Argumentam que a vida não é essa festa toda e já estão classificando-os como clichê.
Eu discordo.
Penso ser muito importante ter um outro olhar para as dificuldades que todos, em algum momento da vida, precisamos atravessar.
O bom humor, a humildade em aceitar ajuda nos momentos difíceis, são valores importantes para quem se encontra em situação de inferioridade física.

Gostei do filme e recomendo.

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