sábado, 26 de dezembro de 2015

Papa Francisco - Homilia (Natal 2015)


Homilia do Papa -  Natal 2015

"Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo.
Só você pode impedir que vá em declínio. Muitos o apreciam, o admiram e o amam.

Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções.
Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia.
Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza.
Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos.
Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise.
Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo.
Ser feliz é parar de sentir-se vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma.
É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida.
Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si. É ter coragem de ouvir um "não". É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta.
É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com os amigos, mesmo quando nos magoam.
Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples. É ter maturidade para poder dizer: "errei". É ter a coragem de dizer:"perdão". É ter a sensibilidade para dizer: "eu preciso de você". É ter a capacidade de dizer: "te amo".

Que a sua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz...
Que nas suas primaveras seja amante da alegria.
Que nos seus invernos seja amante da sabedoria.
E que quando errar, recomece tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida.

Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência.

Nunca desista....Nunca renuncie às pessoas que o amam.
Nunca renuncie à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível".

Papa Francisco.


*            *            *

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Adeus, Selma Reis

“Uma supernova, ao contrário do que o nome pode sugerir, consiste no grito de morte de uma estrela de alta massa. 
Quando astros muito maiores que o Sol esgotam seu combustível nuclear, eles explodem violentamente. 
A detonação faz com que, em seu momento final, a estrela brilhe mais que 10 bilhões de sóis! “
**


Leonardo Sakamoto - retrospectiva



Como sobreviver aos comerciais de TV que vendem 2015 como um ano bom?


Leonardo Sakamoto - 'Blog do Sakamoto', em 13/12/2015 11:32


Este não foi um ano bom. E considerando que ainda falta meio mês para o derradeiro porre de sidra, ele pode piorar.

Na balança das coisas, pessoalmente tive uma translação do sol complicada. E desconfio que muitos concordariam comigo que 2015 foi – e, desculpe, mas não é hora de meias palavras – uma bosta.

O governo não tem sido competente para nos tirar de uma recessão econômica que ele mesmo ajudou a construir e está tornando a vida dos que têm pouco um inferno. 
A oposição se preocupa mais em pensar formas ilegais e legais de tomar o poder do que estruturar uma alternativa de país e, quando abre a boca, é para rifar ainda mais os direitos desses que nada têm.
Temos um Congresso Nacional que, atacando direitos fundamentais, se esforça para que retornemos à Idade da Pedra. 
Há um psicopata na presidência da Câmara dos Deputados que acha que o país é sua caixinha de areia particular. 
Em meio a tudo isso, discursos de ódio e atos de intolerância explodiram. 
E, diante da incapacidade de lidar com a diferença, muita gente acha que está exercendo sua liberdade de expressão quando, na verdade, está apenas sendo idiota.

Tudo isso, aliado aos problemas pessoais de cada um, é motivo para chorar no canto da sala e blasfemar contra as divindades da mitologia cristã? Seria inútil, pois não há céu ou inferno para nos ouvir. 
E, é claro, vivemos um importante período de depuração da corrupção estrutural que deveria (assim espero) mudar a forma como fazemos negócios e como a coisa pública é vista neste país.

Mas, como já advoguei aqui antes, não sou obrigado a concordar que o ano foi lindo só para deixar feliz quem tenta se encaixar em uma ditadura da felicidade, alimentada por comerciais de TV e virais na internet, que fazem você se sinta um lixo, um pária, um tosco sem alma se não concorda que 2015 foi um ano bom. E que 2016 será mais feliz ainda. Quando apenas uma morsa em coma com QI de ostra acha que o ano que vem será incrível para todo mundo.

Só que dizer isso em público, nesta época do ano, assusta muita gente. Ainda mais em nossa sociedade do “deixa disso''.

Parece que afirmar que este não foi um ano bom significa que tudo foi horrível e que rastejamos feito lesmas catatônicas até o som da rolha da tal sidra do dia 31 de dezembro. 
Aconteceram coisas e pessoas maravilhosas, mas racionalizando – e na minha opinião – houve mais contras do que prós. 
É subjetivo? Claro. Só que tem gente que não entende isso e quer pasteurizar e homogeneizar as experiências de vida.

Creio que muita gente se esforça para negar o que houve de ruim. E aí qualquer posicionamento mais crítico acaba sendo um ataque frontal ao mundo de fantasia criado para protegê-los de sua própria realidade. E, quando se nega problemas, o crescimento que poderia decorrer da superação deles fica interditado.

Isso me lembra um conhecido que ficou incomodado com uma mulher que chorava em público. “Ai, ela não podia fazer isso em outro lugar?'' 
Se estivesse rindo, ele não se importaria tanto. Porque, em verdade, o problema não era ela, mas ele. E o esforço colossal que ele fazia para ficar bem em sua vida complicada, com vergonha de que o mundo percebesse que as coisas não eram perfeitas. Se ele segurava a sua dor em público, por que ela não fazia o mesmo?

O fato é que, às vezes, a gente simplesmente não quer sorrir. E sim viver determinado sentimento porque ele faz parte da existência ou ainda para poder superá-lo e não enterrá-lo nos descaminhos da memória. 
Temos muitas das respostas das perguntas que indagamos a nós mesmos, mas não ouvimos porque não conseguimos ficar em silêncio e sozinhos o suficiente, conectados a discursos públicos que, no fundo, tratam de redenção e salvação. Mas quem disse que precisamos ser salvos?

Em tempo, não estou mal humorado. Como poderia? O Palmeiras foi campeão da Copa do Brasil.


*            *            *

sábado, 28 de novembro de 2015

Proteção




A Ti, Deus Pai Onipotente,
pedimos que abençoes esta nova morada.

Faças habitar entre estas paredes
teus Santos Anjos
e que eles a guardem bem,
sempre defendam seus moradores,
e afastem os maus espíritos e seus aliados.

Que esta nova casa, meu Senhor,
esteja cheia de abundância,
virtude e prosperidade.

Em Ti confiamos,
A Ti agradecemos
com Amor.
**

Anjos são criaturas divinas enviadas para iluminar nossas vidas.
São onipresentes e às vezes nem percebemos sua presença.
Alguns não precisam de asas para serem considerados anjos.
Estão sempre prontos para nos acolher.
 São anjos que chamamos de filhos, afilhados, irmãos, amigos, entre outros nomes que damos.

Siplesmente aparecem , alegram nossos dias, nos amparam, nos resgatam, confortam nosso coração, nos protegem, nos acalmam, nos dão paz de espírito e muitas vezes nos previnem de algo ruim sem darmos conta disso. Não esperam nada em troca.

Com toda atenção que estes anjos têm sobre nós, como retribuição nossa tarefa é reverenciá-los e defendê-los também.
Por eles temos um amor que não conseguimos definir, é um sentimento infinito.
Amamos cada detalhe, a beleza, a delicadeza, a dignidade que  possuem.

Nossos anjos são tão importantes que não conseguimos mais imaginar nossas vidas sem a presença deles.
*        *        *
(Adaptação do texto de Renata Carvalho em 'Obvious')


domingo, 22 de novembro de 2015

Fazer o impossível



Agora será preciso fazer também o impossível’
Míriam Leitão - 22/11/2015 09:00 - Jornal 'O Globo'

Quando, ferido de morte, o Rio Doce grita, eu ouço. Sou filha do seu vale. Este é o meu pertencimento. Uma atividade econômica ocupa desde sempre a terra, revolve, esgota, expropria e define as pessoas que nascem naquele solo. Somos de Minas Gerais. Somos mineiros. “O maior trem do mundo leva a minha terra”, lamenta Drummond. E se fosse só isso, poeta. Agora, além do que nos levam, há o que despejam sobre nós. E como dói.

Quando criança eu corria, como o Doce, de Minas para o mar do Espírito Santo. O trajeto era o mesmo. Acordar cedo e ir de ônibus de Caratinga até Governador Valadares. Ver o rio era parte da alegria. O Doce era grande, tão grande, parecia o ensaio do mar. De lá pegar o trem para Vitória e, depois, Guarapari. O trem passava em Aimorés, uma cidade toda voltada para o rio.

Em 2007, fui entrevistar Lélia e Sebastião Salgado no Instituto Terra, em Aimorés. Ao fim da entrevista, quis olhar o rio e fui até o mirante construído pela Vale. Não havia mais rio. A Vale e a Cemig haviam desviado as águas para fazer uma hidrelétrica, e a mineradora deu à cidade uma obra sobre o vazio, um presente macabro para sua gente não esquecer o que perdeu.

Nem eu sei o que me deu. Desci pelo barranco e pulei no leito seco, como se precisasse ver de perto e pisar para acreditar no absurdo. Entardecia e eu caminhava, incrédula, nas pedras que um dia foram o caminho do rio. Fábio Rossi fotografou, e eu escrevi a matéria: “Aimorés: a cidade que perdeu seu rio”.

Nas últimas semanas, quem viajou de Minas ao Espírito Santo foram os resíduos jogados pela mineradora Samarco, meio Vale, meio BHP. Conheço o caminho percorrido pela lama indevidamente empilhada em grandes barragens que pesam sobre as cabeças dos mineiros. Viajou como um trem da morte. A gosma de metais pesados recobriu e sufocou o rio que por mais de oitocentos quilômetros faz o caminho de Ressaquinha a Linhares fertilizando a terra, abastecendo as cidades, matando a sede, abrigando peixes e garantindo a vida.

Sebastião Salgado acorda cedo, como eu. Por isso me ligou antes de o sol nascer, dia desses. Aflito, contou que estava em Aimorés vendo a destruição. Trocamos condolências e, depois, palavras de ânimo, porque ele não é de se entregar. Nem eu. Antes ele estava envolvido na tarefa de salvar a Bacia. Agora a aposta terá que ser dobrada. Não é só o trabalho de refazer as 370 mil nascentes do rio, replantar a mata ciliar em suas centenas de quilômetros, tratar o esgoto das muitas cidades da Bacia. Antes era difícil. Agora será preciso fazer também o impossível: limpar 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos químicos e minerais que estão esterilizando seu leito e sua margem.

Foi para visitar o projeto de Salgado que voltei ao Rio Doce este ano. Me lembro de um momento mágico. A fotógrafa Márcia Foletto parou em cima de uma ponte em Baixo Guandu, dez da noite. Voltávamos para o hotel cansadas de um dia cheio de trabalho, de subir e descer morro atrás de pequenas minas, os olhos d’água. Márcia se agachou na ponte e mirou o rio com a sua máquina. A lua refletida na água e Márcia capturava, pacientemente, sucessivas vezes, a beleza do Rio Doce à noite. Fiquei em silêncio saudoso. Meu avô Norberto morava ali em Baixo Guandu; minha avó Sinhá um dia pegou os filhos e foi para Minas e lá ficou. Por isso sou dali: desse entremeio entre Minas e Espírito Santo, me esquecendo que há fronteira entre os dois estados. Como o Rio Doce, que pertence aos dois.

Para a reportagem que Márcia e eu fizemos, o editor Paulo Motta escreveu uma chamada bonita na primeira página: “A esperança nos olhos d’água”. E agora, como ter de novo esperança?

Meu amigo Ramiro me mandou mensagem preocupado querendo saber se a sujeira contaminaria também o Rio Manhuacú. O rio chega lindo na reserva que o avô do Ramiro, “seu” Feliciano, protegeu os macacos Muriqui do Norte. A reserva de mil hectares de Mata Atlântica e os macacos precisam das águas do Manhuacú. Abro o jornal O GLOBO e leio que os Muriqui do Norte estão entre as espécies ameaçadas pela lama. Há 70 anos a família Abdala os protege e lá na reserva vive mais de um terço dos sobreviventes.

As últimas duas semanas foram assim. As notícias ruins se empilharam como os resíduos de uma mineradora. Morreram pessoas soterradas em Mariana. O tsunami de lama arrastou casas e despencou sobre o rio Doce. Enquanto ela deslizava com sua imundície em direção ao mar, o país ficou diante do seu desamparo: mineradoras criam bombas de rejeitos que podem explodir sobre nós, fiscais não fiscalizam, deputados financiados pelas mineradoras fazem leis que as beneficiam, a presidente leva uma semana para entender a tragédia, ribeirinhos ficam sem água, e a mineradora avisa que outras duas barragens podem se romper.

No vale as pessoas dizem que não vão desistir do Rio Doce, que vão recuperar e limpar suas águas, que farão o mesmo com os rios menores, que plantarão mais árvores nas reservas, que protegerão mais nascentes para ver aflorar os olhos d’água. Nossos olhos d’água.

*            *            *

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

CORA RÓNAI - "Minas: como dói!"

Minas: como dói!
Cora Rónai 

Sobrou um vídeo. Mostra aquela paisagem tranquila do interior de Minas, com montanhas e vales verdes, casinhas pequenas, pastos, um resto de arquitetura colonial. Um homem passa no seu cavalo branco, pessoas conversam sentadas em cadeiras na calçada; ao fundo, o som de uma viola caipira. Uma igreja branca, uma praça, ruas de terra batida e o restaurante de comida caseira de Sandra Dometirdes. É ela quem descreve os encantos do lugar para a repórter Thatiana Zacarias Freitas, recomendando uma cachoeira boa para banho e um passeio de vinte minutos pela mata, onde há mais quedas d'água e as ruínas de uma outra igreja -- tudo isso sem falar numa coxinha famosa, e em pés de moleque e cocadas.
Bento Rodrigues também estava ficando conhecida na região pela sua geleia de pimenta biquinho, produzida por um grupo de sete mulheres e um homem da associação de hortifrutigranjeiros local.

Thatiana tinha apenas duas semanas de trabalho na Top Cultura, uma afiliada da TV Cultura, quando fez a reportagem, tão clara, bonita e singela quanto o que retratava. O trabalho, que há 15 dias era apenas mais um clip entre os tantos produzidos continuamente pela emissora, ganhou dimensões históricas: hoje, é o principal registro da cidade que a lama levou. Com pouco mais de quatro minutos, ele se contrapõe de forma dolorosa às incontáveis imagens que já vimos da destruição, porque ali está, de forma clara, o que se perdeu.
::::::
Assisti várias vezes a este pequeno vídeo, que só no Facebook já teve mais de um milhão de visualizações.
Fiquei imaginando o que teria acontecido à Sandra do restaurante e às empreendedoras da geleia de pimenta biquinho, até que a internet me trouxe notícias.
Através de um site de viagens mineiro, fiquei sabendo que Sandra escapou; já na página da Rede Minas descobri que as mulheres da associação de hortifrutigranjeiros estão abrigadas numa pousada em Mariana. Perderam tudo -- roupas, documentos, lembranças de família.
Mas não só isso: o futuro também foi levado pela enxurrada tóxica. Elas já tinham encomendas de três mil potes de geleia feitas por supermercados de Belo Horizonte, iam participar de uma feira de alimentos na Alemanha e pensavam até em expandir o negócio. A sede da associação não sofreu danos, mas a plantação (e a terra) estão destruídas.
Sandra, que além do restaurante mantinha uma pousada, contou para Marlyana Tavares, do "Planejo viajar", que nada resta do seu empreendimento. O casarão centenário, que herdara do pai e que havia sido reformado recentemente, desapareceu debaixo de quinze metros de lama. Ela ainda tentou voltar para pegar os documentos, mas nem para isso teve mais tempo.
::::::
Penso nas vidas que já não existem, nas vidas delas e nas vidas de tantas outras pessoas afetadas por esta tragédia.
Penso nos vilarejos pequenos de que nem estamos ouvindo falar, nos bichos, nas modas de viola, nas tardes desaparecidas, no sossego que nunca mais, e sinto uma tristeza enorme, uma raiva profunda e uma vergonha indescritível por viver num país tão negligente e irresponsável.
Como é que uma barragem se rompe sem que haja um sistema de alerta?! E como é que não há um sistema de alerta quando existem apenas quatro -- um dois três quatro -- fiscais para mais de setecentas barragens?! Quais são os governos que permitem um absurdo desses, que aceitam conviver com essa culpa?! Quem são os homens e mulheres que desprezam a esse ponto a sua terra e a vida dos seus semelhantes?!
PT, PSDB, PMDB e toda a lamentável sopa de letrinhas da nossa política nojenta são igualmente culpados por esta tragédia. Não é de um dia para outro que se constrói uma situação de perigo desse tamanho, nem é de um dia para outro que uma mineradora adquire tal certeza de impunidade que nem uma sirene instala na porcaria da sua barragem. É preciso muita lei frouxa e muito compadrio para chegar a este grau de descaso.
Num país de verdade, onde pessoas e empresas são responsabilizadas pelos seus atos, mesmo as companhias mais predatórias acabam tomando um mínimo de cuidado, não porque necessariamente respeitem a vida humana ou o meio-ambiente, mas talvez porque a ideia de ir para a cadeia não agrade aos seus executivos -- e porque, fazendo as contas, todos percebem que é melhor andar na linha.
Aqui não só ninguém vai para a cadeia como, fazendo as contas, Samarco, Vale e BHP não têm qualquer estímulo para mudar as suas práticas medievais de segurança. Uma multa de R$ 250 milhões para uma empresa que fatura R$ 7,5 bilhões por ano é uma ação entre amigos.
No mais, por maior que fosse essa multa -- de que adiantaria agora? Não há dinheiro no mundo que pague a perda de tanta vida e de tanta beleza. O que aconteceu em Minas não tem preço. Nem tem perdão.
::::::
Na semana passada, eu havia prometido continuar contando da Coreia do Norte; mas eu precisava escrever isso aqui, precisava desabafar. Desde que mataram parte do meu país ando com vontade de chorar, de gritar e de ir para a rua quebrar tudo.

*        *        *

(O Globo, Segundo Caderno, 19.11.2015)

Mudança

Estive ocupada com a mudança e adaptação às circunstâncias (agora um pouco diferentes mas nem tanto assim).
Instalada a Net, volto aos meus registros sobre os acontecimentos, o que tenho feito em manuscritos nas minhas agendinhas. Vamos lá:

15 de novembro 2015, domingo
Trovoadas ao longe, tempo fechado, abafado; depois, a chuvinha fina, tímida - aquela que não faz mudar a temperatura ainda bem quente.
Definitivamente não gosto do início de verão - nem do verão propriamente.  Aliás, estamos ainda oficialmente na primavera mas no Brasil até as estações do ano são confusas.
Sem assunto, sem graça.
Tudo em compasso de espera.
(...)
Relendo "Manuscritos de Felipa", de Adélia Prado e em muitos momentos sou Felipa, é só conferir:
"Estou cansada de excessos, parece.  Odiar excessos me faz cometê-los em série.  
Quero trocar minha geladeira por uma pequena, só água, leite e pronto. Fora com o freezer, com os armários repletos, o guarda-roupa entulhado.
Vou propor um bazar da pechincha, pagar as pessoas para carregarem aquelas vasilhas de plástico cheias de divisão, difíceis de lavar, trastes, micro-ondas, peguei preguiça, todas as peças dos importados de um e noventa e nove. (...) " - in "Manuscritos de Felipa", p. 35
(...)

Semana marcada por tragédias, calamidades, bar-ba-ri-da-des.
Penso mesmo que sou muito protegida por 'todo o Olimpo', como disse certa vez uma amiga que agora já está em companhia dos deuses de que gostava tanto.
Estou ainda sem internet e talvez seja melhor assim porque a rede social deve estar 'pipocando' de comentários de todo tipo. Ainda muito cansada para coordenar direito as ideias.

O mundo em decomposição.
Aqui no Brasil, Mariana - cidade das Minas Gerais, tão próxima do meu coração e da minha vivência na juventude...
Mariana histórica, aonde levei minha primeira filha - então com 11 anos de idade - num passeio gostoso em que tiramos muitas fotos - as fotos de antigamente, guardadas ainda com imenso carinho e muita saudade.
Mariana das minas de ouro e de Minas Gerais... agora literalmente atolada na lama. Uma das barragens de rejeitos de minério rompida devastando lugarejos, provocando soterramentos e morte. Não apenas uma metáfora pejorativa para o Brasil;  não um "mar" - que este nem chega a Minas Gerais - mas um rio de lama seguindo por catorze cidades mineiras em direção a outro Estado da Federação, o Espírito Santo.
Especialistas declarando oficialmente a morte do Rio Doce - doce provedor líquido da região - e também de qualquer forma de vida ao redor dele: peixes, plantas...

Em Paris, para encerrar a semana, na sexta-feira, 13 de novembro, o atentado, assumido pelo Estado Islâmico, a uma casa de shows. Centenas de mortos e feridos por terroristas.  As vítimas são pessoas que nada têm a ver com a sanha assassina de grupos alucinados tomados pelo fanatismo e pela ganância do poder.
É mesmo o mundo se decompondo; é o fim de qualquer sentimento humano.  E ainda tenho de ouvir (e ler) de alguns entendidos em política internacional que 'esses momentos de convulsão social' sempre existiram. Citam as duas grandes guerras (1914 e 1939) como embasamento para suas teorias, algo inerente à condição humana.
De minha parte, confesso minha ignorância sobre os motivos de tanta insanidade.
Fico pensando é no que virá a seguir.  Credo!


*            *           *

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Agradecimento



Mais um recomeço.
Estou agradecida pela oportunidade a essa altura da vida.
Agradeço também esses anos em que pude me distanciar um pouco da tal 'vida corrida' de todo mundo.
Meu tempo é outro, sem correrias.
Despeço-me desta cidade com sentimentos variados.
Gostei muito de morar aqui, o lugar é bonito, tranquilo e a Natureza foi particularmente generosa com toda a região.
Continuarei usufruindo dessa beleza natural. Talvez até de forma melhor, é o que parece.

Pedi e continuo pedindo proteção e amparo aos que podem e têm condições de nos orientar. E, claro, estão 'aqui dentro', não é nada externo, embora tenha recebido muito das minhas filhas e genros a quem agradeço do mais fundo do meu coração.
Sei também que nem tudo será só vantagens e ganhos.
Aliás, nunca fui de pensar em ganhos e quem me conhece de verdade sabe disso.
Ao contrário, inúmeras vezes passei por alienada, idiota, 'paradona' e outros adjetivos que não me fazem sentir menor ou pior.
Sou o que pude ser.
Se algumas vezes não correspondi ao que de mim esperavam, lamento, mas não podemos sair por aí nos modificando e fingindo ser o que não somos para atender às expectativas dos outros. A não ser que não nos importemos por nos perder de nós mesmos. Eu me importo e muito.

Assim, sem drama nem comédia. É uma nova oportunidade e acredito que poucas são as pessoas na minha idade a alcançar esse privilégio.

Farei o que puder da melhor forma que conseguir.

Repito, sou infinitamente grata por tudo.

*           *            *

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Puro 'marquetingue'

Se eu dependesse do eclipse - anunciadíssimo -  de ontem pra sonhar e realizar... estaria frita.
Ainda bem que 'tudo passa, tudo passará'.
Por esta terra aqui, foi assim.
Hahaha!!

!

sábado, 26 de setembro de 2015

O país está assim...


Agora chega!
Marcelo Madureira - Revista 'Veja', 25 de setembro 2015

A decisão do Supremo Tribunal Federal de desmembrar as ações penais, reduzindo a atuação do juiz Sérgio Moro como responsável na primeira instância, enfraquece a tese central de que uma organização criminosa operou para manter um projeto político do PT no poder.
A mudança pode significar “o fim da Lava Jato” nos moldes atuais. Desmembrados, os processos cairão num imenso Buraco Negro da nossa lentíssima e conivente Justiça. Em resumo: uma manobra nefasta e contrária aos interesses da sociedade brasileira.
Para mim chega.
Estou cansado de sustentar um aparelho de Estado disfuncional, mal administrado, corrupto e que opera em contradição com os interesses do Brasil.
Este mesmo Estado que, através deste governo corrupto e incompetente, tem o desplante de querer aumentar ainda mais a carga escorchante de impostos a que são submetidos os brasileiros.
Um bando de parasitas, é isso o que eles são.
Não me sinto representado por este governo de corruptos, não me sinto representado por este Supremo Tribunal Federal, não me sinto representado por um Legislativo que foge às suas obrigações constitucionais.
Chega! Basta! Tô Fora! Deu ruim!
Se eles querem ficar em oposição aos desejos da Nação, vamos dar o troco.
Vamos lembrar dos Estados Unidos da América quando, em 1776, os cidadãos das 13 colônias americanas decidiram se libertar da exploração da metrópole, a Inglaterra.
“No taxation without representation”, ou seja, não pagamos impostos quando não nos sentimos representados – Essa foi a frase-senha que desencadeou a revolução que fez nascer a grande nação americana.
O nome disso é desobediência civil. Ninguém paga mais imposto nenhum. Nenhum industrial, nenhum comerciante, agricultor, operário, bancário, balconista ou humorista. Não vamos mais pagar imposto nenhum. Federal, Estadual ou Municipal, nenhum.
Vamos levar a arrecadação à zero. Eles não vão ter mais dinheiro para seus palácios, mordomias, carros de luxo, viagens e o escambau. Tampouco terão como repassar recursos à CUT e ao MST, que vivem dos nossos impostos. Aí vamos ver como é que fica.
Eles vão pedir arrego e aí nós, o Povo, sentamos para conversar.
Está lançada a ideia. Basta combinar o dia e começar.
Vamos nessa?
E tenho dito.
**


Aceite que dói menos: A família não é mais monopólio de “papai e mamãe”
Leonardo Sakamoto  - em 'Blog do Sakamoto', 25/09/2015 

A sensação de vergonha alheia é uma das piores. Prefiro viver um vexame do que ver alguém passando por ele. Pois, não raro, a pessoa não se dá conta e vai se afundando na lama. É um sentimento de piedade interminável. O horror, o horror.

A aprovação do Estatuto da Família (que restringe “família'' a  apenas uma união entre um homem e uma mulher), em uma comissão especial na Câmara dos Deputados, é mais um exemplo desses momentos de vergonha alheia que a bancada do fundamentalismo religioso no Congresso Nacional nos proporciona com frequência.

Se isso for levado a plenário e aprovado por lá e depois no Senado, e se a Presidência da República não vetar a sandice, certamente o Supremo Tribunal Federal – que já afirmou que família não é só papai e mamãe heterossexuais – vai botar ordem no barraco, dando conta de sua inconstitucionalidade.

A proposta é extremamente ofensiva a famílias que fujam desse modelo hegemônico nuclear heterossexual. Pois há tantas combinações possíveis que nem dá vontade de contar: famílias compostas de casais (ou grupos) heterossexuais, homossexuais, bissexuais com ou sem filhos, arranjos monoparentais cissexuais e transexuais com ou sem filhos, solteiros sem filhos mas com gato persa, buldogue inglês, peixe-palhaço e hamster-urso (é um peludão, muito fofo).

Enfim, família são aqueles com quem você decide compartilhar sua vida pelo tempo que achar que assim deve ser. Fluído e impreciso mesmo, como as relações humanas.

Achou muito hippie? Então dá uma olhada na definição do IBGE: “Família – conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que mora só em uma unidade domiciliar''. Perceba que ninguém fala de conjugação de órgãos reprodutores nessa definição.

Além do mais, esse tipo de proposta é de um machismo bisonho. Pois cresceu, ao longo dos anos, com as conquistas profissionais, os métodos contraceptivos, a militância do feminismo, o número de famílias comandadas e formadas só por mulheres. O que assusta – e muito – o homem inseguro brasileiro – alguns dos quais adoram falar em nome de Deus ou do povo.

A verdade é que apesar da influência de grupos religiosos contrários a mudanças, mais cedo ou mais tarde, o Brasil irá garantir dignidade a todos os seus cidadãos. Sei que otimismo não combina comigo, mas hoje é sexta.

O problema é que essa caminhada está sendo bem lenta quando deveria correr rápida para dar tempo às pessoas que hoje vivem de desfrutarem uma nova realidade. Adotar filhos ou não ser vítima de homofobia, por exemplo.

É um completo absurdo que a essa altura da História nossa sociedade ainda esteja discutindo se deve ou não universalizar direitos. Que, de tempos em tempos, homossexuais e transexuais sejam espancados e assassinados nas ruas só porque ousaram ser diferentes da maioria. Que seguidores de uma pretensa verdade divina taxem o comportamento alheio de pecado e condenem os diferentes a uma vida de inferno aqui na Terra.

Consciência não tem a ver com classe social – a diferença de um olho roxo deixado pela covardia de homens pobres ou ricos está apenas no preço da maquiagem usada pelas mulheres vítimas de violência para escondê-lo.

Consciência não se aprende na escola, nem é reserva moral passada de pai para filho.

Consciência tem a ver com a vivência comum na sociedade, a tentativa do conhecimento do outro, a busca por tolerar as diferenças.

O Congresso Nacional que, por vez ou outra, transpira as mais bizarras formas de preconceito é fruto do tecido social em que está inserido – e sim, essa última vergonha alheia é um reflexo de nós mesmos. Eles somos nós.

Porque, na prática, uma decisão tomada pelo Legislativo tem em seu âmago o mesmo preconceito das piadas maldosas contra gays ou dos pequenos machismos em que nós (e não me excluo disso) nos afundamos no dia-a-dia. O que difere é o tamanho do impacto, não sua natureza.

Por fim, o que me indigna com tudo isso é que uma parcela do tempo preciosa (e bem remunerada) que deveria estar sendo usada pelos congressistas para discutir formas para que saiamos do atoleiro econômico e para garantir dignidade a trabalhadores e grupos sociais vulneráveis é gasta com essa presepada.

Neste momento, se Deus existir, ele deve estar mais preocupado em processar esse pessoal que se diz seus representantes políticos aqui na Terra. E não lançando maldições para pessoas do mesmo sexo que decidem viver juntas. 
Isso aí fica a cargo de outra figura mitológica: o capeta.
**

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Bem Brasil...

Sei não, mas de uns dias para cá  estou achando o facebook muito estranho.  
Pessoas que se manifestavam diariamente sobre a atual crise política no Brasil simplesmente desapareceram da tela. Nenhuma postagem, nenhum comentário.  "O que será, que será?..."

Realmente, na minha opinião, a coisa está piorando. 
A cada fala da presidente mais confusão aparece. 
Os tais especialistas só sabem dizer que não sabem... que rumo tomarão a economia e a política no país. Parecem aquele gato aguardando sorrateiramente o rato surgir  à procura do pedaço de queijo...

Tenho acompanhado o imbroglio (mais ou menos porque é chato pra c.....)  pelos jornais, TV e internet.  Só aguardando o desfecho - ou solução - dessa bandalheira toda. Nem sei se haverá solução, viu?  O país está à deriva há muito tempo.

*            *            *


Uma velha lição: como arrecadar mais impostos
Ricardo Noblat - Jornal 'O Globo' - 17/09/2015 - 11h03

Do site 'Brickmann & Associados', um trecho de um diálogo da peça Le Diable Rouge, do francês Antoine Rault. 

A ação se passa há 400 anos, na França de Luís XIV.  São 400 anos. E parece que foi anteontem.

Jean-Baptista Colbert, ministro da Fazenda: "Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. 
Eu gostaria, sr. Mazarino, que me explicasse como gastar quando se está endividado até o pescoço".

Cardeal Mazarino, primeiro-ministro de Luís 14: "Um simples mortal, claro, quando tem dívidas e não consegue honrá-las, vai preso. Mas o Estado é diferente! 
Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, continua a endividar-se".

Colbert: "Mas como fazer isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?"

Mazarino: "Criando outros".

Colbert: "Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres".

Mazarino: "Sim, é impossível".

Colbert: "E sobre os ricos?"

Mazarino: "Também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres".

Colbert: "Então, como faremos?

Mazarino: "Colbert! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. 
É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! 
Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos."


*            *            *

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

"PALABRAS PARA JULIA' - Jose Agustin Goytisolo

Ontem eu estava assistindo ao "Em Pauta" - programa do canal Globo News - para me inteirar das notícias (inclusive as políticas, aargh...) de um modo menos traumático.
Ali, os comentaristas são simpáticos, educados e competentes.

Ressalto a participação de Jorge Pontual (em Nova York) que agora tem um quadro no programa - "Poema em Pauta" -  muitas vezes traduzindo a criação de poetas estrangeiros de uma forma muito agradável.

Gostei muito do poema, encontrei o vídeo (Globo News) mas não consegui trazer para cá.
**
Vale o original:



PALABRAS PARA JULIA
Jose Agustin Goytisolo

Tú no puedes volver atrás
porque la vida ya te empuja
como un aullido interminable.
Hija mía es mejor vivir
con la alegría de los hombres
que llorar ante el muro ciego.

Te sentirás acorralada
te sentirás perdida o sola
talvez querrás no haber nacido.
Yo sé muy bien que te dirán
que la vida no tiene objeto
que es un asunto desgraciado.

Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.

La vida es bella, ya verás
como a pesar de los pesares
tendrás amigos, tendrás amor.
Un hombre solo, una mujer
así tomados, de uno en uno
son como polvo, no son nada.

Pero yo cuando te hablo a ti
cuando te escribo estas palabras
pienso también en otra gente.

Tu destino está en los demás
tu futuro es tu propia vida
tu dignidad es la de todos.
Otros esperan que resistas
que les ayude tu alegría
tu canción entre sus canciones.

Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti
como ahora pienso.

Nunca te entregues ni te apartes
junto al camino, nunca digas
no puedo más y aquí me quedo.
La vida es bella, tú verás
como a pesar de los pesares
tendrás amor, tendrás amigos.

Por lo demás no hay elección
y este mundo tal como es
será todo tu patrimonio.
Perdóname no sé decirte
nada más pero tú comprendes
que yo aún estoy en el camino.

Y siempre siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.
**

Jose Agustin foi um poeta espanhol (de Barcelona) e dedicou a sua filha o que seria mais tarde o seu poema mais conhecido: Palabras para Julia, do qual Los Suaves e Paco Ibáñez  fizeram versões musicais.

Um poema assombrosamente doloroso pelas circunstâncias. Celebrando o nascimento da filha, com a intenção de amenizar o caminho dela na vida, levar-lhe um consolo, um alento, o que afinal não se cumpriu.

Acima de tudo ele amava a mãe, que se chamava Julia.
Quando nasceu sua filha, não teve dúvida e chamou-a também Julia.
Sobreviver a duas pessoas que amava tanto deve ter sido devastador...

*               *               *

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Considerações oportunas... eu acho


É assim:

Eu estava 'zapeando' a TV - os programas são horrorosos - e me deparo com a reprise do filme "Os Miseráveis ' - baseado no maravilhoso romance de Victor Hugo -  tratado como um musical.
Ficou lindo, diga-se.

Estou aqui lembrando-me do (s) livro (s) -  a obra é apresentada em 5 volumes (!). Calma, que a divisão foi apenas preferência do autor em esmiuçar as personagens.  Ninguém precisa encarar os cinco volumes.

A história é situada  no final do século XVIII até meados do século XIX, época em que ocorreram alguns acontecimentos históricos como a Revolução Francesa, a Batalha de Waterloo e outros.
Trata basicamente da vida de Jean Valjean, cidadão preso por ter roubado um pão. Condenado às galés, a partir de então seu caminho é tumultuado e repleto de aventuras nem sempre bem sucedidas.

Lembro-me também de quando lecionei em uma escola pública em Penedo e levei para a 8ª série a leitura da adaptação dessa obra feita por Walcyr Carrasco e os alunos adoraram participar do estudo. Isso em uma escola do interior (e põe interior aí) e jovens de famílias muito simples, alguns com pais analfabetos.  Arte é para todos sim!
Aliás, para quem tem preguiça (ou qualquer outro sentimento em reação à leitura) vai  uma dica da tal adaptação que é ótima:

Título: Os Miseráveis
Gênero: épico, ficção histórica e romance
Autor: Victor Hugo - adaptação de Walcyr Carrasco
Nacionalidade do autor: Victor Hugo - francês; Walcyr Carrasco - brasileiro
Editora: FTD
Lançamento: 1998
Número de páginas: 154 páginas

Acho importante sim, divulgar literatura clássica - da melhor qualidade - principalmente para as gerações mais jovens que pensam que tudo o que aparece por aí é novidade.  Puro engano.  Os grandes escritores já entendiam a humanidade e quase profeticamente falavam para todos os tempos.

Em essência, a especie humana é tremendamente repetitiva e tenho sérias dúvidas quanto a sua chamada evolução.  Em essência.  Os avanços externos são inegáveis.

Pois bem, começo pelo prefácio do próprio Victor Hugo - continua atualíssimo  (essência humana...)

"Prefácio - Victor

Enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade,um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis.

Hauteville-House, 1862.1"

No canal youtube há alguns vídeos de trechos do filme, que também são lindos.





Enfim, gosto de incentivar a leitura de obras importantes  em qualquer época da vida, em qualquer situação ou país, aqueles autores predestinados a se tornarem os clássicos.

Sempre ajuda a nossa formação, o nosso entendimento dos acontecimentos cotidianos, tanto em nossa vida particular quanto no 'estar no mundo', ser presença na sociedade proporcionando um melhor jeito de aprender a pensar por si mesmo, principalmente nestes tempos esquisitos.

É isso e acredito que basta por hoje, né?

*            *           *

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Representação da Paz - Otacílio Rodrigues


Fotografia de OTACÍLIO RODRIGUES em Resende-RJ, margens do Rio Paraíba

Segundo Cartier-Bresson, "a máquina mais a perspicácia e o instinto do fotógrafo revelam o viés surreal da vida. Libertam parcelas de beleza escondidas no cotidiano."

Terceira imagem de sábado no domingo
Foto feita ontem em Resende às 16:54.
OTACÍLIO RODRIGUES

*        *        *

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tristeza - Nick

Uma triste notícia agora à noite.
O Nick, cachorrinho da minha primeira filha, morreu hoje.

Pode parecer exagero para muitas pessoas, mas todos estamos tristes demais. Ele foi um companheirinho muito amoroso para ela por dez anos.
Sua morte é tão entristecedora quanto a de uma pessoa querida.
Algumas vezes ele passou um tempo aqui em casa comigo e  alegrava os meus dias com suas bagunças, correrias e brincadeiras.

Ainda bem que em nossa família não sentimos vergonha em expor o que vai em nosso coração.. Choramos juntos e nos consolamos uns aos outros quando passamos por momentos assim.

O amor dos bichinhos de estimação é incondicional. Principalmente dos cachorrinhos. Eles sentem nossa disposição interna,  se alegram ou se entristecem conosco e  merecem todo o nosso respeito e gratidão.

Obrigada, Nick,  pelo seu tempo de convivência conosco.

Não esqueceremos você, meu amor.

*    *    *


Autoconhecimento

Do Site "A mente é maravilhosa"

30 perguntas que libertarão sua mente

“Uma boa pergunta vale mais que mil respostas medíocres
e, habitualmente, mais que uma resposta inteligente”

Arte: Loui Jover

Você, alguma vez, já se encontrou com uma espécie de bloqueio mental que afetou a sua visão da vida, da felicidade e das relações humanas? 
Já se encontrou frente a dificuldade de tomar decisões sobre o seu futuro e não saber o que fazer ou que levar em conta na hora de decidir? 
Ou, simplesmente, uma mudança ocorreu e você não sabe para onde ela o levará?

Para tudo isso e muitas outras coisas mais, vale a pena fazer a si próprio as perguntas a seguir. 
Estas perguntas não têm respostas certas ou erradas, mas servem para ajudar a libertar-nos de todos os pensamentos limitantes e negativos que bloqueiam nossa mente e não nos permitem pensar com clareza. 

- Minha idade real corresponde com a idade que eu sinto ter?
- Se a vida é tão breve, por que faço tantas coisas que não gosto e adio o que eu realmente desejo fazer?
- Quando sinto que tudo está decidido e feito, ao que dediquei mais tempo: a decidir ou a fazer?
- Preocupo-me em fazer algo bem feito ou faço o que é certo?
- Se pudesse mudar uma coisa no mundo, e só uma, o que mudaria?
- Se a felicidade fosse uma moeda, ao que me dedicaria para me fazer rico?
- Luto para fazer o que gosto ou me conformo com o que faço?
- Até que ponto eu tenho o controle sobre a minha vida?
- O que eu faço quando alguém a que admiro ou respeito faz uma crítica desagradável e/ou injusta?
- Se pudesse dar um único conselho a uma pessoa, o qual lhe mudaria a vida, o que lhe diria?
- Quantas vezes um gênio já foi considerado um louco?
- Prefiro ser um gênio preocupado ou um bobo feliz?
- O que você sabe fazer que muitos não sabem?
- Que coisas desejo fazer e não fiz ainda? O que me impede?
- Ao que estou preso e que não me deixa avançar?
- Isso que ocorreu no passado tem, realmente, alguma importância?
- Por que eu sou eu?
- Sou o tipo de amigo que eu desejaria ter?
- Pelo que me sinto mais agradecido na vida?
- Qual é o momento mais feliz de minha infância? Por quê?
- Se não for agora, quando será?
- Se não consegui ainda isso que tanto sonho, o que eu estou esperando?
- Posso me permitir esperar mais algum tempo ou tenho que agir?
- Sinto que já vivi esse dia um milhão de vezes antes?
- Se amanhã, o mundo acabasse, com quem eu passaria o dia de hoje?
- Renunciaria a vários anos da minha vida para ser bonito/a e famoso/a?
- Qual é a diferença entre viver e estar vivo?
- Se sei que posso aprender com os meus erros, por que então tenho medo de fracassar?
- Como eu agiria se eu não tivesse ninguém que julgasse meus atos mais do que eu mesmo/a?
- Tomo minhas próprias decisões ou deixo que os demais as tomem por mim?


É importantíssimo reservar algum tempo todos os dias para ter um diálogo consigo mesmo e libertar a mente. Isso deixa a porta aberta para a criatividade e a reflexão consciente sobre quem somos, o que queremos ser, o que desejamos na vida e o que vamos fazer para conseguir.

Tomar as medidas necessárias a cada dia nos ajuda a entender se o que estamos fazemos está de acordo com as nossas crenças e nossos valores fundamentais. 
Celebrar nossas vitórias, por menores que sejam, nos ajuda a desfrutar e a viver uma vida que valha a pena.

Desbloquear a mente ajudará a nos sentir mais livre e a focar no que realmente se sente que deve fazer, no que faz  a vida ter sentido.

*            *            *

A trolagem continua

Cada vez mais enojada com o discurso do governo.

A manchete (lead) :  "Levy afirma que ajuste fiscal vai exigir o sacrifício de todos."

Que frase mais clichê, mais chavão...

No corpo do texto:   "O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o governo deve fazer cortes de gastos para atingir o equilíbrio fiscal e que isso vai exigir sacrifícios da população."

Então tá. Ficou claro que a corja governante não faz parte da população.  "Eles" não são "todos".
Agora, sim. Agora é fácil entender a separação.  A plebe é rude.

E continua:
"Lembrado que muitas empresas que contratam com o governo estão envolvidas na Operação Lava-Jato, Levy disse que isso só mostra que no Brasil a lei funciona e frisou que os editais facilitam a entrada de novas companhias, estimulam a concorrência e é necessário ainda melhorar a qualidade dos contratos."

É preciso mesmo muita falta de vergonha na cara  para dizer uma coisa dessas, né não?
**


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Comemorando?

Neste 7 de setembro, venho lembrar ao Brasil  o desperdício que têm sido  todos esses séculos, desde a chamada 'descoberta' destas terras privilegiadas pela Natureza - e é apenas esse o privilégio.  Sim, não se pode negar: é um país lindíssimo e "gigante (apenas) pela própria Natureza".

Independência... não sei.  Não se pode dizer independente um país seriamente comprometido com o descaso, abandono mesmo, de sua população.
Não é independente um país cujos dirigentes estão envolvidos em tamanha rede de descrédito e falta de compostura política.
Não é independente uma nação insultada e agredida todos os dias com as notícias do desmando e do deboche de seus governantes.

Jamais será independente um país omisso quanto à Educação, Saúde e Segurança de seu povo.

Nem posso dizer "sinto muito" por isso - seria muita hipocrisia - não sinto nada.
O fato é que não tenho mesmo nada a comemorar.

O que sinto é muita, muitíssima VERGONHA de ser brasileira.

*               *               *

Complemento:

Brasil: ame-o, deixe-o ou ignore e 
faça de conta que não é com você

Leonardo Sakamoto 07/09/2015 16:08, no Blog do Sakamoto

Discursos nacionalistas empacotados e entregues em datas cívicas são tão válidos quanto uma nota de três reais. Melhor faria se o governo brasileiro, ao invés de financiar desfiles, enviasse o exército para proteger as comunidades indígenas no interior do Brasil, que estão levando um cacete de produtores rurais.

Aliás, no lugar de passarmos em revista nossas forças armadas, neste 7 de setembro, autoridades e população deveriam aproveitar a data e discutir medidas para que a cidadania deixe de ser monopólio de um pequeno grupo de abonados. Por que chamamos indígenas de intrusos, sem-teto e sem-terra de criminosos, camponeses de entraves para o desenvolvimento e trabalho escravo de efeito colateral do progresso? Por que choramos a tragédia de sírios enquanto chamamos refugiados haitianos de vagabundos por aqui?

Também poderíamos nos reunir nessa data festiva para acabar com o terrorismo de Estado – praticado durante os anos de chumbo da ditadura e aplicado diariamente nas periferias das grandes cidades para controle das “classes perigosas. Seja através da reforma das nossas polícias, seja através do ataque à impunidade de milícias, grupos de extermínio e policiais justiceiros.

Vestir-se de verde e amarelo, enrolar-se em uma bandeira e encher o carro de fitinhas não é necessariamente demonstração de amor a um país. Ao mesmo tempo, a independência de um povo passa menos por armas e tropas e mais pela ação para garantir a dignidade de quem vive no mesmo território, não importando quanto se tem no banco, a cor de pele, a religião, o sotaque, o posicionamento político, a identidade de gênero e a orientação sexual.

O melhor de tudo é que todas as vezes que alguém levanta indagações sobre o Brasil, que serve a poucos, essa pessoa é acusada de não amar o país, no melhor estilo “Brasil: ame-o ou deixe-o''.

Datas assim seriam ótimas para fomentar o conhecimento do brasileiro sobre si mesmo e, portanto, reflexão e ação. Mas me pergunto se estamos preparados para perceber que a imagem que construímos de nós mesmos é uma cascata da grossa e que somos – dos políticos, passando pelos empresários e cidadãs comuns – muito mais sujos e egoístas que acreditamos ser. E que o problema não é apenas  outro, mas nós mesmos.

Eu aposto que, ao invés de irmos tomar banho, jogaríamos o espelho fora.

*            *            *

domingo, 6 de setembro de 2015

Definitivamente... tô fora

Estou encolhida aqui. O termo que encontrei para resumir a situação. Encolhida.
São as notícias escabrosas sempre aumentando e me fazendo encolher ainda mais.
Quem sabe,  eu desapareça, desintegre, vire purpurina, vá pra Pasárgada?

Sobre o absurdo das mortes de refugiados, bate na minha cara a seguinte manchete: "Naufrágio da humanidade."
É para se pensar muito nos vários sentidos.
A humanidade em nós - os supostamente humanos - afundou, sumiu, desapareceu no oceano de crueldade, de indiferença, de curiosidade mórbida.

"Mais de 2.300 mortes foram noticiadas este ano - dois afogados por hora no Mediterrâneo. Na semana passada, 4 crianças estavam entre os 71 asfixiados num caminhão na Áustria. A diferença é que, desta vez, o mundo foi obrigado a ver."

Para quem quiser ler sobre o assunto, está lá,  no 'Estadão'.  Eu não posso mais.

O que sinto em tudo isso - só posso mesmo sentir, uma vez que nada entendo de política internacional ou nacional - o que verdadeiramente sinto é que os problemas atualmente só são vistos pelos efeitos, pelas consequências. Não se buscam as causas,  Desse modo, como encontrar solução?
Não importa, há problemas - grandes problemas - no mundo todo. Oriente Médio, Europa, Américas, enfim a balbúrdia é geral.

**

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Em Paris - França

blogdamhaluw.wordpress.com





Au Nègre Joyeux: foi durante muito tempo uma Chocolateria – Café, que não funciona mais, porém seu estabelecimento assim como o quadro original em madeira pintada e a placa nominativa do estabelecimento continuam intactos e são protegidos pelo patrimônio histórico de Paris.

Quadro representando o Café antigamente


Foto nos dias de hoje

*            *            *

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

E por falar em Literatura...


Simplesmente lindo esse texto de Edival Lourenço para "Revista Bula",  no artigo "26 livros que mudaram a minha vida e podem mudar a sua" em que ele expõe obras clássicas.
"Almanaque Biotônico Fontoura

Pode parecer brincadeira, mas não é. Porque nem se trata de um livro. 
A gente morava num rancho de folhas de palmeiras, afastado de vizinhos. 
Naquele tempo e lugar o normal era que ninguém soubesse ler e escrever, a não ser os patrões. 
Minha mãe não lia, meu pai apenas soletrava, mas tinha dificuldades em reunir as sílabas em palavras, numa espécie de gagueira pré-leitura. 

Às margens de um rio, meu destino, como o das demais crianças, parecia já bem definido: ser analfabeto e trabalhador rural sem terra, como meus pais. 
Um belo dia um divulgador do Biotônico passou por lá. Fez degustação com uma colherzinha de chá da tintura para cada um de nós. Achei gostoso. Nem parecia remédio. 
Meu pai não tinha dinheiro para comprar. 
Mas enquanto esperava o almoço, o divulgador foi lendo o Almanaque. 
Fiquei encantado: como podia alguém correr os olhos sobre aquelas fileiras de formiguinhas mortas em cima do papel e ir falando coisas que eu achava tão bonitas?! 
Para minha alegria, ao ir embora, deixou um exemplar comigo. 
Como prestara atenção na leitura, eu repetia em voz alta as historinhas. 

Sempre que havia oportunidade de encontrar alguém eu sacava logo do Almanaque e “lia” para os interlocutores. 
Todo mundo fingia achar que eu sabia ler. Nunca me chamaram para ler algum bilhete ou carta de parentes. 

A partir de então, como efeito colateral daquela experiência, adquiri e reforcei a convicção de que eu iria estudar ainda, aprender a ler de verdade e escrever histórias como aquelas. 
Ninguém acreditava nisso, além de mim. 
Não existiam escolas num raio de 40 km e nem recursos havia para que eu fosse pra perto de uma delas. 
Meu pai não iria deixar seu meio de vida no sertão. 
Mas a roda da vida foi girando, orientada por esse propósito, de tal sorte que em 1963, aos 11 anos, com a venda de minha parte numa colheita de feijão, comprei meu primeiro enxoval de estudante e entrei pro curso primário, com o firme propósito de me tornar escritor. 

Mesmo não sendo um livro, o Almanaque do Biotônico Fontoura foi o texto mais importante de minha vida."
**

(...) procurei citar aqueles livros que mais fortemente me marcaram em algum momento e por isso mesmo são minhas influências mais recorrentes. 
É claro que influências não ocorrem apenas por admiração, mas também e, sobretudo, por antipatia.
Os livros de que não gostei me influenciam, na medida em que procuro me afastar dos recursos e técnicas neles utilizados. 
Ative-me apenas a livros de ficção em prosa. 
Não citei livros igualmente importantes nas áreas de poesia, filosofia, história, ensaio, crítica literária, divulgação científica, etc. 
Muitos outros livros de ficção me marcaram também, como “Memorial do Convento”, de José Saramago e “Histórias Extraordinárias”, de Allan Poe, que, por questão de limites, ficaram de fora.
**

Após essa introdução. aí estão as obras indicadas:

Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
Não foi por acaso que este livro deu ao autor o prêmio Nobel. Uma trama comovente, uma musicalidade que embala o espírito. Veja esta frase de abertura, se não lembra uma frase musical de uma sinfonia majestosa: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou para conhecer o gelo”. Quem não arrepia?

O Apanhador no Campo de Centeio, J. D. Salinger
O texto ágil e irreverente me ajudou a entender um pouco mais a rebeldia contida ou manifesta de minha geração. Da necessidade que eu tinha de dizer alguma coisa num mundo polifônico e multissurdo. Sua leitura me deu alguma voz para expor minhas angústias.

A Invenção de Morel, de Bioy Casares
Uma trama fantasiosa e aparentemente absurda me abriu as portas para ver novas possibilidades por traz de uma realidade aparentemente trivial. Desde sua leitura passei a supor algum mistério promovendo a rotina dos acontecimentos normais.

Ficções, de Jorge Luís Borges
Desde 1977 tenho este livro em minha cabeceira. Não passo uma semana sem reler algum trecho. Sua estética simples e prodigiosa não cansa de me encantar. A sonoridade, a cadência, os acontecimentos inesperado fazem dessa obra uma rara preciosidade. Borges tem muitos textos fascinantes. Mas Ficções é o máximo. O Nobel perdeu uma grande oportunidade ao não premiá-lo.

Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy
Uma obra-prima que descreve o mundo brutal na fronteira entre o Texas e o México. Na fronteira imprevisível entre a civilização e a barbárie. Este livro me tirou o sono, pela dureza e pela poesia que consegue tirar dessa brutalidade.

Pedro Páramo, de Juan Rulfo
O texto aparentemente simples e criativo, e o clima ambíguo que não permite ao leitor saber se os personagens estão vivos ou mortos são as peças fundamentais do realismo mágico. A criatividade de Rulfo foi seminal na abertura de novos caminhos para uma nova corrente na literatura latino-americana e sua disseminação pelo mundo.

A Sangue Frio, de Truman Capote
Pela primeira, e talvez a única, vi uma combinação tão acurada de jornalismo com imaginação literária. O livro reúne todos os elementos, em doses milimetricamente medidas, para a realização de uma obra-prima. O relato brutal de um assassinato de verdade não deu apenas uma obra de não-ficção. O esmero de Capote a transformou em ficção de primeira linha.

A Metamorfose, de Franz Kafka
As circunstâncias em que li “A Metamorfose” ajudaram a potencializar as qualidades normais do livro. Vinha de muita subliteratura e obras infanto-juvenis. Em 1971, ao sair do interior e mudar pra capital, conheci um professor de literatura que me emprestou o livro e me orientou na leitura. Senti que se abria à minha frente um novo horizonte de possibilidades.

Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro
Um livro telúrico, um personagem rude, retrato autêntico da brasilidade profunda. Numa dicção original e criativa, adequada à rudeza do ambiente e das pessoas. Uma pequena obra-prima.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
A trama enviesada, da morte para o nascimento, uma biografia contada pelo próprio defunto, são fatos que me pegaram desde o início. Mas o que mais me encanta em Machado é a lapidação da frase, o burilamento da ideia, mas passando a sensação de que tudo soa natural. Um mestre da elegância, um ouvido privilegiado na construção da musicalidade do texto.

Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
O trabalho de linguagem é exemplar. O sertão alambicado em degraus de pureza. É claro que tem algumas platitudes e algumas cacofonias que poderiam ser evitadas. Talvez questão de gosto. Afora essas pequenas gralhas a obra é um monumento. Um monumento à cultura, à estética e à sensibilidade. Mostra como o talento é capaz de transformar fatos irrelevantes e toscos em peças de refinada cultura universal.

Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca
Quanto tomei conhecimento daquelas frases curtas e cortantes, feito estilete de malandro, fiquei encantado. A violência gratuita, de uma urbanidade barbarizada, me deixou pasmo. Talvez Rubem Fonseca tenha se tornado o profeta de uma realidade cruel que estamos vivendo sua plenitude em nossos dias. Digo da violência. Não do refinamento da linguagem nem da técnica narrativa.

Ulysses, de James Joyce
O que direi sobre “Ulysses”? Acho que tudo já foi dito sobre “Ulysses”. Ali você encontra tudo o que um aspirante a escritor precisa encontrar em suas leituras. Há uma cornucópia de estilos, estratégias e arranjos literários impecáveis. Joyce: o mestre dos mestres. Li e reli na tradução de Houaiss. Estou lendo na tradução de Galindo.

Vidas Secas, de Graciliano Ramos
A dureza da vida narrada com economia de palavras e movimentos. A vida dura refletindo no texto duro e sem adjetivos do velho Graça. Levantamento impecável de perfis com economia de recursos, onde até uma cadela manifesta sentimentos humanos. Um texto basilar para se escrever em língua portuguesa.

A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói
Antes que eu soubesse que Otto Maria Carpeaux tinha dito que “‘A Morte de Ivan Ilitch’ é uma das obras mais comoventes e mais pungentes da literatura universal, talvez a obra-prima de Tolstói”, eu já supunha que ele era isso tudo. Uma obra perfeita sob qualquer aspecto. De uma humanidade comovente e uma estética impecável. Digna da grife de Tolstói.

Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar
Um drama familiar tenebroso, em que um jovem distópico e pouco afeito à tradição, cria aborrecimentos incontornáveis no seio da família. Tudo narrado com maestria, e um sopro poético de alta voltagem. Um momento de pico da moderna literatura nacional.

Pergunte ao Pó, de John Fante
A angústia congênita da Geração Beat, esta geração que fermentou a minha geração, e nos inoculou sua doidice perambulante. A maestria de Fante em narrar histórias doloridamente humanas, sem se enredar na pieguice. Um romance comovente de geração que se tornou atemporal.

O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
Romance pungente da condição humana. Um momento iluminado de Hemingway. Uma das metáforas mais candentes de nossa condição de trogloditas precários portadores de sonhos de superação.

Madame Bovary, de Gustav Flaubert
Neste livro, contando uma história de triângulo amoroso, Flaubert disseca a alma dos personagens, especialmente da heroína. Como o adultério era crime de ação pública na França de sua época, Flaubert foi concitado pela justiça a dedurar quem era Madame Bovary, tal o realismo de sua exposição. Ao que ele respondeu: “Madame Bovary est moi”. Esta informação é manjada. Mas o livro é melhor do que qualquer informação que eu pudesse passar.

Dom Quixote, de Cervantes
Uma sátira impetrada por Cervantes à era dos cavaleiros de capa e espada. Uma história de loucura que atravessou os séculos e serve para chacotear ainda hoje as pretensões exasperadas que empreendemos de lutar contra os “moinhos de vento”. Uma das peças seminais da literatura como conhecemos. E que vale a pena ser lida em qualquer fase da vida adulta.

No Caminho de Swann, de Marcel Proust
Neste tomo, Proust vai fundo nos sentimentos que nos fazem humanos: a memória, a saudade, os biscoitinhos Madeleine, os sentimentos de amor e até os sentimentos de pouca nobreza, que poderiam ser classificados como os sete pecados capitais. Suas frases de volteios e meadas, constroem um texto com infinitas digressões. Não é leitura para apressados. Mas o leitor sairá premiado de seu exercício.

Morte em Veneza, de Thomas Mann
Novela curta do auto de “A Montanha Mágica”, “José e Seus Irmãos”, e “Doutor Fausto”. Um texto intenso, escrito em plena Belle Époque (1912), quando se acreditava que os recursos tecnológico e a grana viva poderiam prevenir o homem de qualquer precariedade (o Titanic foi construído sob a égide desse engano) um escritor consagrado, supostamente heterossexual, sucumbe tolamente pela paixão a um jovem desconhecido. Ou seja, ninguém está seguro de nada.

Jurubatuba, de Carmo Bernardes
Um sujeito sem raízes, andante pelo mundo, vai seguindo pela vida e aprontando. Segue pelos sertões de Goiás, fazendo das suas. Esse romance me mostrou na prática que os elementos de nossa epopeia estão ao nosso redor. O talento do autor é que vai transformá-lo em faturas universais, ou não.

A Máquina Extraviada, de José J. Veiga
Outro autor goiano que fez aumentar minha convicção de que não precisamos de elementos alienígenas para montar a nossa narrativa. A verdade do mundo está aqui, acolá e alhures. O que vai conceder grau de convencimento é o talento, o jeito de apresentar a narrativa. Veiga consegue contar histórias literalmente fantásticas, com o mínimo de elementos retirados dos cerrados minimalistas de Goiás.

Macbeth, de William Shakespeare
Um drama espetacularmente bem montado, numa linguagem elegante. Frases bem feitas sobre a condição humana diante do poder e da guerra. Fonte de inspiração inesgotável.

*            *            *

Boa leitura!