Assino esse texto de MATHEUS DALPIZZOL
como se eu o tivesse escrito:
(...)Acompanhei a votação do processo de impeachment na integra, ouvindo todos os deputados.
Durante a votação, não foram felicidade e esperança que foram tomando conta de mim, mas vergonha.
Vergonha em confirmar o que há muito suspeitava: as vidas de mais de 200 milhões de brasileiros encontram-se nas mãos de meio milhar de pessoas desprovidas de qualquer noção do ridículo, do regimento parlamentar e de bom senso.
Praticamente a totalidade dos votantes demonstrou absolutamente não ter ciência daquilo que se passava e que estavam postos a julgar.
Triste, ainda mais, foi ver que tamanha irresponsabilidade e desorientação refletiu-se na população.
Era ínfimo, tanto na Câmara dos Deputados, quanto nas manifestações pró e contra o governo, o número de pessoas que estavam cientes de que tudo que se estava votando ali era a admissão do processo de impeachment, sem qualquer juízo de culpabilidade ou garantia de concretização do mesmo.
Em uma nação civilizada, dois discursos seriam predominantes no palanque:
1. “Ao julgar as evidências apresentadas durantes as 11 reuniões e mais de 50 horas de discussão, parece-me haver a necessidade da presidente ser submetida a julgamento, considerando que pode ter cometido crime de responsabilidade. Meu voto é sim.”
2. “Ao julgar as evidências apresentadas durantes as 11 reuniões e mais de 50 horas de discussão, parece-me não haver a necessidade da presidente ser submetida a julgamento, considerando que não há evidências de crime de responsabilidade. Meu voto é não.”
Infelizmente, o que se seguiu na selva brasilis ficou muito aquém de qualquer expectativa de civilidade.
Os deputados de todas as vertentes conseguiram fazer aqueles que ainda tem interesse por uma república sentir vergonha alheia e perguntar-se até mesmo se o anarquismo não seria uma solução melhor a sustentar 513 parlamentares desprovidos de vergonha na cara.
O plenário foi transformado em uma versão institucionalizada do programa da Xuxa: “Um beijo pro pai, pra mãe e especialmente pra você.”
Mas o nível cairia.
Cada um dos deputados julgando-se o arauto da representatividade popular, o único Verdadeiro defensor da Democracia (com V e D maiúsculos), um por um, fizeram a inteligência ser varrida para fora da casa. Desconsiderando por completo a sua função, fizeram do púlpito um palanque para panfletagem de ideias pútridas.
(...)
Saindo dos extremos, não há muito o que salvar também.
A Câmara estava dividida em jumentos de direita, asnos de esquerda e mulas oportunistas.
Discursos b***** (não há outra palavra) e nenhuma informação de relevância: “bla bla bla bla, meus eleitores, bla bla bla, minha cidade natal” e nada sobre o processo de impeachment.
Por fim, apesar do resultado positivo, o sentimento que se instaurou profundamente em mim foi o de completo desrespeito dos congressistas pelos seus eleitores.
Mais de 500 insultos às inteligências dos cidadãos e nenhum motivo para acreditar que depois de Dilma, apenas Cunha e Temer devam ser afastados: a Câmara dos Deputados inteira deve ser substituída. O nível está baixo demais e está na hora de o Brasil abandonar os pelegos idealistas, saudosos das ditaduras - tanto de esquerda quanto de direita -, ater-se aos procedimentos legais, abandonar as demagogias e olhar para o futuro.
É claro que abro margem, aqui, para ser acusado de “isentão”, ou de ser tão ideólogo quanto aqueles que critico, por almejar uma Câmara dos Deputados idealizada e “utópica”.
...simplesmente deixo aqui um apelo para as próximas eleições: façamos o nível dos que nos representam condizer com os nossos níveis intelectuais.”
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MATHEUS DALPIZZOL – Jornal da Cidade
Sueli Madeira.
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