sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Reinauguração - Drummond

Reinauguração
Carlos Drummond de Andrade

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Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,
Entre a desmistificação e a expectativa,
Tornamos a acreditar, a ser bons meninos,
E como bons meninos reclamamos
A graça dos presentes coloridos.
Nossa idade – velho ou moço – pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos
E alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,
A exata beleza que vem dos gestos espontâneos
E do profundo instinto de subsistir
Enquanto as coisas em redor se derretem e somem
Como nuvens errantes no universo estável.
Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos os olhos gulosos
A um sol diferente que nos acorda para os
Descobrimentos.

Esta é a magia do tempo.
Esta é a colheita particular
Que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,
No acreditar da vida e na doação de vivê-la
Em perpétua procura e perpétua criação.
E já não somos apenas finitos e sós.
Somos uma fraternidade, um território, um país
Que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro.

 *            *            *



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Aos 72 de idade

Aos 72 de idade (Uma vez que completei 71 em julho deste ano)

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Gente phyna, moderna e sincera (à beira da falta de educação) pergunta minha idade.

Que faça as contas, se a memória e/ou o conhecimento ajudarem.

Velha sim, e Bem Educada:
Estudei boa parte do tempo como interna em colégio de freiras; fiz curso de datilografia e de piano; 
quando comecei a namorar, meu irmão - dois anos mais novo - nos acompanhava na ida ao cinema por ordens (obedecidas) do pai; 
certa vez, meu pai me presenteou com a coleção de livros "Tesouro da Juventude"; 
embora tivesse liberdade de ler o que quisesse da estante de casa, a recomendação era começar pelos romances 'água com açúcar' de M.Delly; 
tivemos também – meus irmãos e eu - toda a obra para crianças, de Monteiro Lobato.
Comecei a vida profissional aos 18 anos.
Formatura em Curso Superior e Pós Graduação depois de casada.
O mundo era mais calmo. 
Hoje, aposentada, tenho cinco netos maravilhosos. 
Fui e continuo sendo feliz sim.

Ah, só para lembrar o que disse João GUIMARÃES ROSA: "infelicidade é questão de prefixo."

Sueli, dezembro de 2017


*            *            *

sábado, 2 de dezembro de 2017

Em Oração

"ORAÇÃO PARA O RENASCIMENTO

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Agora estou vivendo um novo dia! Tudo que pertence ao passado, que é mau, que é indesejável, que é feio, que é sombrio, que é pessimista, já se foi.
Todo o passado já desapareceu, e estou renascendo agora, recebendo de Deus os pensamentos bons, desejáveis, belos, alegres e positivos. Todos esses bons pensamentos, semeados em meu subconsciente, estão pouco a pouco germinando, crescendo e finalmente, no momento adequado, manifestar-se-ão em forma concreta, com certeza.
No Mundo da Imagem Verdadeira criado por Deus não existe nada que não seja bom. E está determinado que somente o que há de bom no Mundo da Imagem Verdadeira se manifestará neste mundo fenomênico, a não ser que nós, homens, impeçamos a sua manifestação com pensamentos negativos e errôneos.
Eu renasci neste momento! Eliminei todos os pensamentos e sentimentos negativos e pessimistas que estavam obstruindo o canal por onde se manifestam todas as coisas boas do Mundo da Imagem Verdadeira.
Rompi todas as amarras que me prendiam. Na minha mente já não existe nada que impeça a germinação e o crescimento das boas sementes que Deus colocou no meu interior.

Eu renasci agora! Sou filho(a) de Deus! Deus semeou em meu interior a possibilidade infinita, que vai se manifestando cada dia mais abundantemente.
Por mais que surjam aparentes dificuldades, enfrento-as com destemor e avanço decididamente. Assim procedendo, força muito maior surgirá em meu interior; então, as dificuldades deixarão de existir e a estrada íngreme tornar-se-á plana.
Eu renasci agora! Compreendi realisticamente que sou filho(a) de Deus!
Desfizeram-se todas as amarras com que eu prendia a mim mesmo(a), e torno-me agora totalmente livre.
Compreendo que sou totalmente livre e que tenho recebido de Deus força capaz de superar quaisquer dificuldades, perdi o hábito de vacilar diante das dificuldades.
Eu, como filho(a) de Deus, tenho recebido de Deus a Sabedoria Infinita, razão pela qual saberei captar o momento mais oportuno para agir. No momento mais adequado, executarei sem vacilar, decididamente, da maneira mais apropriada, aquilo que for mais importante para o momento. Por isso, aquilo que executo concretiza-se infalivelmente e dá ótimos resultados.

Eu renasci agora! Sou filho(a) de Deus! Deus está sempre comigo e me protege a todo instante.
Nesse momento, está jorrando do meu interior a nova força vital, está nascendo nova coragem, e consigo enfrentar todas as circunstâncias com interesse e alegria.
Oh! Ano da melhora de todas as coisas, ano da realização de todas as aspirações!
Oh! Como sou feliz! Agradeço a Deus, por me dar essa convicção.
Muito Obrigado!"
***
Sutra Sagrada: A Verdade em Orações – Vol.1 – pág. 53

(Fazer a leitura em voz alta, agradecendo a Deus pela oração já ter sido atendida).

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

"Nóis é besta e colonizado..."

Outsourcing
Eduardo Affonso - blog 'Umas agudas & outras crônicas'

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Eu achava o fim da picada chamarem cabeleireiro de hair stylist. Isso até manicure virar nail designer.
Não sei se isso foi antes ou depois de o professor de ginástica se transformar em personal trainer e confeiteiro em cake designer.
A partir daí, “personal” e “designer” começaram a ser usados como se fossem vírgula.
Não sei como ainda não apareceu o personal designer.
Porque hoje ninguém mais desenvolve, planeja, projeta, concebe, idealiza: todo mundo “designa” (lê-se “dizáina”, pra não confundir com o verbo designar, que ninguém mais usa).

Não entenderíamos o mundo se alguém não o desenhasse para nós. Daí os web designers, brand designers, wardrobe designers, designers de interiores, de games, de memes.

Na sequência dos personal isso e aquilo e dos designers disso e daquilo, demos para gourmetizar tudo – não só a cozinha gurmê, a varanda gurmê, a padaria gurmê, o açougue gurmê.
Gourmetizamos o idioma.

Passeador de cachorro é para a classe média. Gente diferenciada contrata o dog walker.
Para organizar o casamento não se chama mais o cerimonialista, mas o wedding planner.
Há muito deixamos de ter animais de estimação para ter pets, que iam ao petshop, mas agora precisam também do pet care.
Há muito as dondocas viraram socialites, itgirls cool e hipsters, que não perdem uma fashion week.
Há muito não fazemos vaquinha, mas crowdfunding.
Não há telas sensíveis ao toque, mas touch screen.
Não nos servimos, mas usamos o self service.
Não há assassinos em série, mas serial killers.
Não impugnamos nem impedimos: damos o “golpe” do impeachment.
Há muito não há mais adolescentes e pré adolescentes, mas teens, que andam de bike, saem pra night, comem no food truck, compram gadgets na black friday e acham tudo top.

Como era a vida quando o nosso idioma nos bastava para dar nome às coisas, e nos bastávamos a nós mesmos para lidar com elas?
Como será que sobrevivemos por tantos milênios sem os personal stylists, personal organizers, personal chefs e personal shoppers?
Devia ser angustiante viver antes de começarmos a terceirizar nossas decisões cotidianas, e a nos alienar num idioma que não é o nosso.

Não duvido que, em breve, o coaching já não nos baste. Buscaremos um personal thinker para pensar por nós e um thought designer para formatar nossas ideias.

Aí teremos todo o tempo do mundo para o que realmente importa em nós como seres humanos, que é o fitness.
*           *            *

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

ARTUR DA TÁVOLA - 'Para pessoas de opinião'

Para pessoas de opinião 
Artur da Távola
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 Você me dirá que uma das coisas que mais preza é sua opinião. Prezar a própria opinião é considerado virtude. “- Fulano? É uma pessoa de opinião”. E realmente é preciso força e decisão para “ter opinião”. Não é fácil.

Você me dirá, ainda, do que é capaz de fazer para defender a própria opinião. Ter opinião é tão importante que há até um direito dos mais sagrados, o direito à opinião, ultimamente, aliás, bastante afetado, pois vivemos tempos de ampliação do delito de opinião. Ter opinião, em vez de ser considerado um estágio preliminar da convicção, passa a ser ameaçador.

Mas sem contrariar a força com que você defende as próprias opiniões e, sobretudo, defendendo o seu inalienável direito de tê-las, eu lhe proporei pensar sobre se a opinião é uma instância realmente profunda ou se ela é, tão-somente, uma das primeiras reações que se tem diante das coisas.

Será a opinião uma reação profunda ou superficial? Ouso afirmar que, via de regra, ela é das mais superficiais.

Opinião é quase sempre uma reação e expressa um sentimento, um julgamento. Ao reagir a algo, o sentimento realiza uma espécie de sínteses do que e de como somos. Esta síntese aparece na forma pela qual reagimos a algo. A primeira reação é reveladora do sentimento com que julgamos a vida, o mundo, as pessoas. Quase sempre a opinião surge neste etapa inicial, nesse segundo patamar, nessa instância superficial do nosso ser com a qual julgamos as coisas tão logo se nos apresentam. Somos um repositório de primeiras impressões!

Pode-se, efetivamente, garantir que as nossas opiniões são, realmente, fruto de uma meditação mais profunda? Ou de um conhecimento sedimentado? Positivamente não. Quem responder sinceramente vai concluir que tem muito mais opiniões do que coisas que sabe ou conhece. Em relação àquelas poucas coisas que realmente conhecemos ou sabemos a fundo é que se torna difícil ter opinião, pois qualquer conhecimento profundo de algo, não leva à opinião: leva à análise, à convicção, à dúvida ou à evidência e nenhuma dessas quatro instâncias tem a ver com a opinião.

Quem (se) reparar com cuidado verificará o quanto é levado a opinar, vale dizer, reagir, sentir, julgar, diante dos variados temas. Somos um aluvião de opiniões. Defendemo-nos de analisar, tendo opinião: preservamo-nos do perigoso e trabalhoso mister de pensar, tendo logo uma opinião.

É mais fácil ter opinião do que dúvida, porque ter opiniões sempre traz adeptos e dividendos pessoais de prestígio, respeitabilidade, aura de coragem ou heroísmo.

As opiniões são uma espécie de fabricação em série de idéias sempre iguais, saídas em série do modelo pelo qual vemos o mundo, e que nos faz enfocar a realidade segundo um eterno subjetivismo. Por isso nossa opinião quase nunca é o reflexo das variadas componentes do real. Ela é um eco a repetir a nossa experiência anterior, diante de cada caso novo que surge. A opinião é uma forma de se defender da complexidade do real, logo, uma forma de impedir a criatividade do homem.

Na origem latina, opinar tem um sentido ambíguo. É muito mais “conjecturar” do que “afirmar”. A palavra chega a ter, nos seus vários sentidos, o de “disfarçar”. Creio que a origem do termo é mito mais fiel ao seu significado do que a tradução que hoje se lhe dá.

Opinião não significa saber nem conhecer. Opinar significa ter uma opinião a respeito de algo, isto é, uma impressão sujeita a retificações, a correções, a mudanças permanentes. O sentido essencial de opinar é conjecturar, ou seja, supor uma realidade para poder discuti-la e assim melhor conhecê-la.

E, no entanto, nos ofendemos se contrariam a nossa opinião; vivemos em busca do respeito à “nossa opinião”. E, mais grave e freqüente, vivemos a sofrer por causa da opinião ou de opiniões dos outros.

Basta vivenciar dentro, profundamente, que a opinião de uma pessoa é o resultado das manifestações (reações) mais superficiais e fáceis do seu espírito, para que a gente deixe de dar tanta importância ao que dizem de nós e machuca, faz brigar, odiar, matar e até guerrear.

A opinião é: uma instância superficial; um exercício de dúvida e de conhecimento disfarçado em certeza ou afirmação; uma conjetura em forma de assertiva. É mais a expressão de um sentimento do que a conciliação deste com o conhecimento e com a verdade. A partir do momento em que sabemos de tudo isso, obrigatoriamente temos que deixar de dar tanta importância à opinião alheia e à própria. É preciso sempre submetê-la ao crivo da permanência, do tempo, da análise, do conhecimento, da vivência, da experimentação dela em situações diferentes, em estados de espírito diversos, para só então, considerá-la significativa, válida e profunda.

Mas qual de nós está disposto a aceitar que a própria opinião, embora válida e respeitável, é uma forma superficial de manifestação?

Quem está disposto a se dar ao brutal trabalho de atribuir à opinião a sua verdadeira função, que é nobilíssima: a de ser trânsito, passagem, via para a Convicção, para a Análise, para a Dúvida e para a Evidência que são os quatro elementos que compõem a verdade?

Esta é a minha opinião...

*               *               *

domingo, 5 de novembro de 2017

Pronto, 'falei'.

Do que leio por aí, gosto e...adapto (com ou sem permissão, sei lá de quem - sem paciência no momento) ao meu estilo de vida. 
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"...Cansei-me desses clichês imagéticos da chamada terceira idade. O que pretendem com isso? Melhorar a auto-estima dos idosos? Sinalizar que a velhice não é o fim de linha? Que é tempo de ousar? Devo confessar que, para mim, essas tentativas são inócuas. Primeiro porque a minha autoestima vai bem, obrigada, depois, porque não sou o tipo de pessoa alimentada por pretensões desportivas. Paraquedas? Nem aos 20 e nem agora, que já passei dos 70. Prefiro rever algum filme do Fellini.
Há outros clichês bonitinhos, mas também irritantes. Velhinhos e velhinhas “supercool”, com roupas originais, meio hippies serôdias (hipongas) ou de marcas de estilistas famosos (grife), sempre em poses modernas, chapéus e enfeites (badulaques) nas ruas de Nova York, que conseguem sempre muitos likes no Facebook. Gosto de ver, porque tenho um aguçado sentido estético, o belo e o subversivo sempre me atraíram, mas o peso dessas imagens como inspiração? Dois gramas.
E o que é que me me inspira? 
Conteúdos que me façam sonhar, que mostrem o lado bom das pessoas, que exibam um mundo mais humano, que ampliem os meus horizontes extra-sensoriais, que me atualizem com sugestões criativas...
(...)
Conteúdos que tragam ferramentas principalmente para o autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual.
Naturalmente que espiritual não está necessariamente relacionado com a religião. Tem a ver com força pessoal, equilíbrio psíquico, serenidade para aceitar a circularidade do tempo, coragem para construir um novo modelo mental.
(...)
Quero evoluir espiritualmente, abrir mão de cobranças, de preconceitos, de lamentações, de traumas do passado. 
Quero consumir com consciência, abrir mão do supérfluo, inclusive nos relacionamentos. 
Quero ouvir com qualidade o meu interlocutor, desligar o botão do julgamento, ser tolerante com meus erros e mais generosa com as fraquezas alheias. 
Quero entender as similaridades entre a cabala e o xamanismo, entre meditação e “mindfulness” ( minha tradução: 'Consciência plena').
(...)
Esta nova geração de idosos tem muita vida pela frente e está a apostar numa longevidade sustentável. Está reinventando-se para tirar proveito dos próximos anos. 
Já sabemos que caminhar faz bem, que frituras aumentam o colesterol, que há velhinhos surfistas.
Portanto, senhores anunciantes, invistam as vossas verbas em anúncios, programas, portais inteligentes, que nos tratem como pessoas ávidas por informação qualificada; despertas, curiosas, prontas a compartilhar tudo o que fizeram e viveram e aptas a desbravar esse mundo que se renova diariamente."
**
Pronto, 'falei'.
Texto adaptado do original de DENISE RIBEIRO, jornalista.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Reflexão


"Acordar para si é retomar a beleza do avesso."

Josie Conti, na página 'CONTI outra'

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Oração

"ORAÇÃO
Maria João Sacagami - 1996



Meu Pai, eu nunca te disse o quão profundamente Te amo, embora já tenha confessado o tanto que preciso de Ti.
Hoje, venho agradecer-Te simplesmente, pelas oportunidades que me tens concedido ao longo de todas as minhas vidas.

Obrigada, meu Pai, pela clausura, que me ajudou a apreciar o canto dos pássaros ao amanhecer; pelas feridas do corpo, que me mostraram a compaixão à dor alheia; pela escassez, até mesmo pobreza, que me ensinou a valorizar o essencial; pela vivência da guerra, que me trouxe um profundo respeito à Vida.

Obrigada por teres permitido tanto desamor nas minhas existências, que me fez procurar-Te em tantos lugares, de tantas maneiras.

Obrigada pelo abrigo das asas de Teus mensageiros sempre que me encontro em perigo, ainda que eu não o tenha percebido.

Obrigada pela Tua paciência, repetindo as lições exaustivamente até que eu, Tua filha bem-amada, erga o véu da ilusão e Te perceba.

Obrigada por insistires em falar comigo, mesmo quando finjo que não escuto a Tua doce e amada Voz.

Obrigada por confiares tanto em mim, que me deixas livre para decidir como, quando e onde compreenderei que Eu Sou Una em Ti.

Obrigada por me ensinares o perdão e o amor incondicional, não com palavras, mas permitindo que eu os exerça diariamente, através daqueles que Tu me envias.

Obrigada, meu Pai, por todas as pedras, por todas as alegrias, por todos os sins e os nãos, por todos os desânimos sem fim, por todos os êxtases profundos, por todas as luas, estrelas e sóis da minha Vida.

Obrigada por caminhares comigo e – quantas vezes! – por caminhares por mim.

Obrigada pela sede infinita de Ti, que me conduz de volta à Tua morada.

*            *            *


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Viagem Emílio Santiago (legendado) HD

Qualquer semelhança... NÃO é mera coincidência


10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO EM MASSA 
Tales Luciano Duarte

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Noam Chomsky é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano.
Reverenciado em âmbito acadêmico como “o pai da linguística moderna“, também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica.

Um estado totalitário não se importa com o que as pessoas pensam, desde que o governo possa controlá-la pela força usando cassetetes. 
Mas quando você não pode controlar as pessoas pela força, você tem que controlar o que as pessoas pensam, e a maneira típica de fazer isso é através da propaganda (fabricação de consentimento, criação de ilusões necessárias), marginalizando o público em geral ou reduzindo-a a alguma forma de apatia” (Chomsky, N., 1993)
*
Inspirado nas idéias de Noam Chomsky, o francês Sylvain Timsit elaborou a lista das “10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação de massa

Sylvain Timsit elenca estratégias utilizadas diariamente há dezenas de anos para manobrar massas, criar um senso comum e conseguir fazer a população agir conforme interesses de uma pequena elite mundial.
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1. A Estratégia da Distração

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.

A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética.

Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real.

Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais.


2. Criar problemas e depois oferecer soluções

Este método também é chamado “problema-reação-solução“. Se cria um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja aceitar.
Por exemplo: Deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas desfavoráveis à liberdade.
Ou também: Criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. (qualquer semelhança com a atual situação do Brasil não é mera coincidência).

3. A estratégia da gradualidade

Para fazer que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. 

Foi dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas, neoliberalismo por exemplo, foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990.

Estratégia também utilizada por Hitler e por vários líderes comunistas.  E comumente utilizada pelos grandes meios de comunicação.


4. A estratégia de diferir

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária“, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.
É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente.

Depois, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegue o momento.


5. Dirigir-se ao público como crianças

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criança de pouca idade ou um deficiente mental.

Quanto mais se tenta enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante.
Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade.”


6. Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos.

Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos.


7. Manter o público na ignorância e na mediocridade

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão.

A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser revertida por estas classes mais baixas."


8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade

Promover ao público a crer que é moda o ato de ser estúpido, vulgar e inculto. Introduzir a idéia de que quem argumenta demais e pensa demais é chato e mau humorado, que lhe falta humor de sorrir das mazelas da vida. 
Assim as pessoas vivem superficialmente, sem se aprofundar em nada e sempre ter uma piadinha para se safar do aprofundamento necessário a questões maiores.

A idria é tornar qualquer aprofundamento como sendo desnecessário, pois qualquer aprofundamento sério e lúcido sobre um assunto pode derrubar sistemas criados para enganar a multidão. 


9. Reforçar a auto-culpabilidade

Fazer com que o indivíduo acredite que somente ele é culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, suas capacidades, ou de seus esforços.

Assim, no lugar de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se auto desvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo; um dos efeitos é a inibição de sua ação. E, sem ação, não há questionamento.


10. Conhecer aos indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem

No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes.

Graças à biologia, a neurobiologia a psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado sobre a psique do ser humano, tanto em sua forma física como psicologicamente.

O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que dos indivíduos sobre si mesmos.

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domingo, 24 de setembro de 2017

Crônica de Míriam Leitão - O medo veio morar ao lado

Sábado, 23/09/2017, às 07:03, 
O medo veio morar ao lado
Miriam Leitão - jornalista e escritora

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Os cachorros latem nas casas vizinhas. E esse é o único som que vem das ruas. Os tiros pararam e uma estranha paz se espalhou pelos bairros próximos à zona dos conflitos. 
Pouca gente circula nesse horário inaugural do dia quando as sombras começam a ir embora. Por fim, os cachorros, também eles, param seu barulho. 
Então os pássaros que moram nas ruas arborizadas entoam seus cantos como se soubessem que precisamos de música para nos consolar. O som acalma e ilude. 
Pode-se, assim, olhar com alívio algum ponto da beleza da cidade, pela janela. Da minha se vê o Dois Irmãos. Granítico, firme, se oferecendo como defesa.

Ninguém se engana sobre a natureza da paz que se espalha nesta manhã de sábado. É paz armada. Tropas e blindados passaram em frente às casas e prédios dos moradores e foram cercar o inimigo. Helicópteros sobrevoaram nossos tetos. Tudo apenas confirma o que temos tentado ignorar, a escalada da guerra na cidade que gosta da alcunha de “maravilhosa", e se exibe ao sol hedonista, e se reúne aos milhares para ouvir e cantar o rock. Entre aflição e alheamento, entre negação e espanto, entre encantamento e medo vive-se no Rio de Janeiro.

O medo chegou ontem cedo quando a luta foi escalada pelos grupos que disputam o domínio do morro. Até que as tropas começaram seu movimento. As pessoas trancaram suas casas, as ruas ficaram vazias mais cedo, e o meu bairro ficou sem luz, a Gávea. 
Estava no Centro do Rio e as notícias chegavam estranhas e longínquas como se ocorressem em outro país. 
Assim se vive no Rio de Janeiro. Se a pessoa está um pouco distante do ponto do conflito, ainda que breve, fica no refúgio como se nada estivesse acontecendo. Mas há o momento em que temos que voltar para a casa a encarar a realidade.

A cidade desmorona à nossa volta. Fisicamente ela está de pé, mas uma cidade é o seu espírito. O do Rio é brincalhão e leve, gosta do prazer, e de andar ao sol, circula pelas ruas indiferente às proibições, subverte o estabelecido, lança modas.  Tudo isso anda morrendo um pouco a cada dia.

O medo veio morar ao lado. Ele nos cerca e é estrangeiro a nós. Sabemos que ele está por aí e nos rendemos. Mas a rendição nega a natureza rebelde da cidade que nasceu para ser bela, jovem, e livre. O medo é o indesejável da vida, mas é nosso conhecido. Já esteve por aqui. Houve um tempo e tempo haverá no futuro em que falaremos dele pelas costas. Como se ele fosse a visita incômoda da qual conseguimos nos despedir. 
Mas hoje, neste sábado que amanhece prometendo sol, ele está presente. Tenta ser contido pelos portões trancados, por janelas fechadas, por portas de duplo ferrolho, mas se esgueira pelas frestas e vem roubar a natureza displicente do sábado.

Na noite de sexta as TVs ofereceram a cena de moradores passando em meio às tropas com naturalidade. Eles se recolhiam depois do fim da semana de trabalho e, se as tropas estavam ali, melhor. Com mais segurança chegariam ao refúgio de cada um. Não havia espanto no rosto dos passantes entre soldados e armas. O extraordinário da guerra virou a rotina.

O poeta grego Konstantinos Kavafis ensina que a fuga é impossível. “Irei para outras terras, para outros mares, encontrarei uma cidade melhor que esta” descreve o poeta o sentimento geral. 
Ele nos conta que o destino é ficar e que qualquer esforço que se faça está destinado ao fracasso. “A cidade te seguirá”, avisa, porque "nas mesmas ruas sem fim errarás, nos mesmos bairros te perderás". E mais: “Onde quer que vás reencontrarás esta cidade". Esta é, diz Kavafis, a nossa “mínima pátria".

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sábado, 16 de setembro de 2017

Conselhos budistas

Do site 'A Mente é maravilhosa'
5 conselhos budistas para a educação dos nossos filhos


A filosofia oriental e o budismo estão começando a se tornar claras referências na cultura ocidental. Sua forma de ver a vida promove o equilíbrio do qual tanto sentimos falta. É a união de nossas forças emocionais que garante o sucesso na vida.

Na cultura ocidental são promovidos outros valores para nos desconectar do interior particular e coletivo, enquanto os ensinamentos budistas nos aproximam mais da exploração de nossas emoções.

Nesse sentido, está claro que queremos que as crianças sejam felizes e que cresçam saudáveis e motivadas. Partindo desse princípio podemos tomar certas atitudes que podem tornar isso uma realidade, e não algo impossível. 
Vejamos quais conselhos podemos tomar do budismo para alcançar este objetivo.

Os 5 principais conselhos do budismo para promover o bem-estar infantil

1 – Sorria para que eles possam apreciar a brilho dos seus olhos
O fato de sorrir para uma criança que pretende interagir conosco é praticamente instintivo. O que acontece é que com a pressa e os afazeres do dia-a-dia nos esquecemos desse ponto tão importante e deixamos de nos dirigir a eles dessa maneira.

Como consequência, nossos filhos deixam de se sentir reconhecidos e, portanto, se desconectam de si mesmos com assombrosa rapidez. Se refletirmos sobre isso, nos daremos conta de que houve um tempo, já longe para nós, em que deixamos de levantar a vista com assombro e admiração e começamos a procurar outras coisas.


2- Normalizar e validar suas emoções e sentimentos negativos
O que promove em nós um estado de ânimo negativo pode chegar a nos dominar. O tédio, ciúmes e a raiva são emoções e sentimentos que nascem de uma maneira natural. Não podemos castigar isso; temos que insistir no fato de que não é errado sentir-se assim e de que é preciso aprender a canalizar estas emoções negativas.


3 – A chave está em organizar os pensamentos
“Controle seus pensamentos” (Buda). 
Os pensamentos estão em nossa mente, são um caos e é importante despi-los. Vão e vêm sem nenhum sentido. 
As crianças, assim como os adultos, inventam coisas ou as interpretam, deixando voar os seus pensamentos.

Dê recursos naturais às crianças para que possam sair desses estados modelando sua imaginação e seus recursos. Temos que ensiná-los que é melhor ler do que ligar a televisão para aplacar o seu tédio e que neles está a possibilidade de criar coisas maravilhosas.


4 – Deixe que eles definam palavras e regras
É importante estabelecer palavras e normas ao redor da criança para que ela aprenda a controlá-las e aprenda o seu valor. Isso a ajuda a se tornar mais consciente, pois nossa mente muitas vezes está cheia de palavras e normas sem sentido. Por isso é preciso que ela aprenda a pensar no necessário e a falar conforme a sua visão das coisas para que aquilo com o que conviva tenha sentido.

5 – Se esquecerem o espírito, outras coisas ocuparão o seu lugar
Para adequar esses conselhos à educação de nossas crianças não podemos esquecer que elas aprendem com o exemplo. Por isso, se começarmos a andar em uma busca constante por prazer e segurança, em um voo contínuo de medo, dor e sensação de desconforto que não nos deixa em paz, vamos ensinar nossos filhos a fazerem o mesmo.

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A palavra Buda vem de budh, cujo significado é “despertar-se”, por isso Buda significa “o que despertou”. 
Um buda é alguém que despertou de tudo, como se saísse do sono mais profundo, e descobriu que já não sofre, que o sofrimento apenas foi um pesadelo. 
Segundo o budismo todos, inclusive as crianças, podem sair desse pesadelo, procurando “não fazer outra coisa que o bem, evitando qualquer dano aos outros e purificando o coração “.

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A cama dos pais - Rita Ferro Rodrigues

Recebido da amiga Érika Mascarenhas

O mistério da cama dos pais... Amor!
Rita Ferro Rodrigues

Nenhum texto alternativo automático disponível.

A cama dos pais tem um íman e cá para mim (ninguém me convence do contrário) tem uma magia soporífera, um misterioso pó de amor impregnado nas almofadas, que faz com que os filhos adormeçam imediatamente e que o pior dos pesadelos, o mais trepidante terror noturno, fuja a sete pés.
Na cama dos pais, o último refúgio dos medos, a paz é absoluta e total.

Ali chegam, levados por pais extenuados e vencidos, ou pelo seu próprio pé, transpirados e assustados, passarinhos a voar de noite aos encontrões pelos corredores da casa, até chegarem ao lugar dos lugares. Dois colos com lençóis macios e o cheiro dos progenitores. Caem que nem tordos a dormir, apaziguados.

Os pais fingem que se importam, na manhã seguinte: «Lá foste tu para a nossa cama! Quando é que aprendes a ultrapassar os medos e a dormir sozinho? Tens de crescer!», mas nem olham muito nos olhos dos filhos quando dizem estas coisas, com medo de que eles descubram que naquele breve regresso ao ninho, ao berço inicial, os pais se enchem de amor e ternura e também eles se confortam nas suas inquietações.

Um pescoço morno. Uma mãozinha gorducha no nosso cabelo. Um pé de regresso à costela da mãe. A respiração tranquila na fronha partilhada.

O desejo secreto de que o ninho fique assim para sempre. E que a manhã demore muito a chegar.

Que o misterioso pó de amor das almofadas preserve para sempre estas excursões noturnas de mimo que não são mais do que um inteligente prenúncio, de uma saudade imensa, dos melhores dias desta vida.
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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

"Balada de Gisberta"

Do blog ‘Sabor da Letra”


Gilberto Salce Júnior, ou melhor, a transsexual brasileira Gilberta foi assassinada na cidade do Porto, em Portugal, em fevereiro de 2006. Antes, durante dois dias, sofreu todo tipo de violência verbal e física, mantida sob cárcere, por um grupo de adolescentes (entre 12 e 16 anos de idade).

A "Balada de Gisberta", de Pedro Abrunhosa, restitui à personagem sua condição humana, destroçada; leva-nos, com tais informações extras, a pensar sobre as políticas públicas de segurança e respeito mútuo e o preconceito com os diferentes.

"Perdi-me do nome, hoje podes chamar-me de tua", diz a Gisberta que fala na canção. 
Ela é uma legião: carrega na voz a multidão de marginalizados, que servem apenas para dançar em palácios, oferecer-se a mil homens, e logo depois ser descartados.

Urge responder à altura: dialogar e dizer a Gisberta que, acima dos fundamentalismos, ainda vale a pena e é possível sonhar e realizar dias melhores, sem juízos finais. Agora. Pois o céu da felicidade, de cada um e de todos, não pode esperar.


Balada de Gisberta
Composição: (Pedro Abrunhosa)
Interpretção: Maria Bethânia - show ‘Festa Amor Devoção’

"Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.

Eu não sei se um anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.

Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.

Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe
E a dor é tão perto."

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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Ensaio sobre a cegueira de um povo... - Erick Morais

Ensaio sobre a cegueira de um povo chamado Brasil
por Erick Morais


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“Entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa.”
Victor Hugo

O Brasil parece ter se transformado em uma espécie de seriado de terror, em que a cada novo dia surge um episódio mais macabro que o anterior. 
A crise parece não ter fim e a lama da corrupção e de todos os males intrínsecos a ela está cada vez mais alta. 
Todo esse caos poderia ser a gênese da mudança, mas, assim como acontece na obra de Saramago, o caos apenas amplificou a cegueira existente, tornando esta terra um lugar de guerra de todos contra todos.

A cegueira se manifesta na falta de empatia e – consequentemente – no egoísmo, na falta de ética, na falta de senso crítico e em um maniqueísmo que beira a falta de racionalidade (eufemismo para burrice). 
Esse caldo, extremamente nutritivo para a corrupção, faz com que busquemos soluções superficiais para problemas profundos. Desse modo, a crise penitenciária é culpa exclusivamente dos bandidos, o caos no Espírito Santo é culpa unicamente da polícia militar e/ou dos criminosos (paradoxal?!), e a crise política/econômica existe em função de um único partido ou tendência política.

O que não se percebe, ou não se quer perceber, é que essas atitudes sintetizam tão somente a célebre e comumente ideia utilizada de que: “O inferno são os outros”. 
É muito mais fácil apontar o dedo do que estender a mão e, assim, o inferno parece não ter fim, o que chega a ser uma constatação óbvia, dado que se estamos cercados de pessoas e elas são o inferno, logo há inferno por todos os lados e estamos bem no meio dele. 
Posto isso, percebemos quão frágil é ter um pensamento que reduz aos outros indivíduos problemas construídos socialmente, uma vez que ao agirmos assim, estamos apenas contribuindo para a perpetuação do mal, que em tese, queremos combater.

O cenário que encontramos hoje é desolador e não existem sinais de mudança. E não falo somente no ponto econômico, porque em nada adianta a economia voltar a funcionar e as bases destrutivas que impedem que o país de fato se desenvolva permaneçam. 
Será uma melhora momentânea e aparente, escondendo problemas que uma hora explodirão,..
(...)
O problema do Brasil é crônico e profundo, de modo que é preciso alterar as bases e não os “players” para que a situação se modifique. 
A terra tupiniquim precisa de reformas na base (isso te lembra algo?) para que possamos falar em desenvolvimento de verdade e não em picos de crescimento econômico mágicos, que permitem que durante certo tempo a classe média e as novas classes médias se esbaldem na orgia consumista.

A grande questão, então, é se queremos de fato essas reformas urgentes e necessárias. A meu ver, não. 
E a classe política sabe disso, a elite mesquinha que domina o país também, de maneira que esperar deles mudanças que retirem das suas mãos o poder é muita ingenuidade. 
Mas, talvez não sejamos tão ingênuos. Talvez o que queremos são soluções mais fáceis, daquelas em que alguém ou algum grupo é pego de bode expiatório para limpar nossa alma dos pecados.

Há bons motivos para se acreditar nisso, pois discursos desse tipo são repetidos à exaustão por uma infinidade de “cidadãos”, assim como, atitudes – ou melhor dizendo – a falta delas, demonstram quão longe estamos de mudanças. 
(...) 
O problema está na classe política como um todo, mas é preciso lembrar também, que ela não surgiu do nada, ela existe a partir e dentro da sociedade, portanto, esta como um todo possui culpa e a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam. 
Infelizmente, ao que parece, neste ensaio sobre a cegueira não existe a mulher do médico, ou se existe, está em número insuficiente para que o autor que vos fala acredite que possamos voltar a enxergar. 
Aliás, quando enxergamos?


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