quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PARA LEMBRAR...




Para lembrar, mesmo...
Quando aquela senhora escocesa, de 47 anos, se apresentou em um show de talentos na Inglaterra, houve um certo desprezo - por parte dos jurados e da plateia também - ao notarem a sua simplicidade no modo de se vestir e de se comportar.
Ela não tinha a afetação característica dos que se consideram artistas.
Para os padrões bestas desta época, ela foi considerada feia... (?)  - não se tratava de concurso de beleza e sim de talento! - até começar a cantar um trecho do musical Cats. Sua voz arrebatadora, afinadíssima, revelou alguém que estuda e se dedica realmente ao canto.

A partir daí, Susan Boyle passou por um processo de transformação estética, cantou em dueto com artistas famosos, gravou CDs, enfim, muita gente se aproveitou dessa onda de sucesso .

Não a considero um fenômeno - para ficar com a linguagem da moda - mas gosto do timbre de sua voz e reconheço seu talento natural aprimorado pela prática das aulas de música.
Além disso, parece uma pessoa simples, tímida e que até então vivia  numa cidadezinha da Escócia. Parece-me, também, que há muito tempo vem tentando conseguir espaço para mostrar sua arte. Conhece o seu ofício, canta muito bem.

Sua interpretação para Cry me a river também é  linda e nada fica devendo às divas da música.

Por onde anda Susan Boyle? Ela terá realmente chance de construir uma carreira? Ou os marqueteiros já estão correndo para outras descobertas?

Hoje é assim mesmo. O filósofo polonês contemporâneo Zygmunt Bauman é quem tem razão: Tudo que é sólido desmancha no ar.
São tempos líquidos e o que parece vir para ficar é rapidamente levado pela correnteza da ganância, da inveja e da  necessidade de substituição.
Mesmo os princípios éticos, os valores morais antes considerados essenciais ao convívio humano estão sujeitos a essa lei da modernidade: a todo momento são substituídos ou eliminados.
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ESCAPADINHA...


Pois é... estive fora por alguns dias.
Fui passear com parte da família, visitar meu neto amado que mora e estuda em uma cidade litorânea.
Aproveitei para curtir um pouco o mar - não a praia - mas o maravilhoso mar em qualquer parte do mundo; o mar que tem o poder de restaurar meu ânimo e é meu objeto de contemplação preferido. Estranho isso, uma vez que sempre vivi no interior, em cidadezinhas antes acanhadas, calmas - hoje, nem estas cidades fogem à loucura geral.
Foi ótimo, tudo muito bom, viagem tranquila.

Ao retornar, a agenda de sempre: dentista, visita aos outros netinhos, cuidados com a casa, enfim, a rotina, que não me aborrece de jeito nenhum. Gosto do meu lugar.

E a volta ao computador. Aliás, aos blogs. A rede social não me atrai. Passo por lá, leio algumas coisas, ignoro outras, mando um recadinho ou outro aos meus familiares e é tudo. Aquilo me cansa um pouco.

Tenho algumas postagens para o Ouriço Elegante. Depois daqui, vou para lá. Ali, como já disse anteriormente, estão as coisas que me chamam a atenção, textos variados, em prosa ou em verso, enfim, a escrita alheia. 

Aqui, gosto de registrar o meu cotidiano, embora, algumas vezes possa trazer também outro tipo de postagem.

Estou fazendo como nos tempos de adolescente, aqueles famigerados diários.  Penso ser importante, sim, anotar alguns acontecimentos.
Tudo passa tão rápido... e a vida moderna é tão imediatista... Tudo para agora, já, sendo descartado em poucos minutos. E vêm outras coisas, mais coisas, não sei para que tanta coisa...
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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

DEPOIS DA FOLIA...- filme "Moça com brinco de pérola"


O Carnaval... bem, o Carnavaaal...
Aproveitei bastante. Para ficar em casa, receber os familiares e amigos, conversar, rir muito e. por que não? assistir aos desfiles intermináveis das lindas Escolas de Samba. 
O que vale mesmo é a reinvenção, a criatividade em lidar com os temas de sempre: homenagens, protestos, sonhos, o ôôôô eterno...
É, minha casa esteve animada!
Também acaba. Tudo acaba. Mas renasce. No próximo ano... de novo.
Como disse alguém, não me lembro onde nem por quê: "...agora vamos viver aquele intervalinho entre o Carnaval e o Natal".

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Ontem, reprise de um filme interessante: "Moça com brinco de pérola", sobre a inspiração para o famoso quadro de Johannes Vermeer - pintor holandês.

"É o segundo pintor holandês mais famoso e importante do século XVII (um período que é conhecido por Idade de Ouro Holandesa, devido às espantosas conquistas culturais e artísticas do país nessa época), depois de Rembrandt. Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhantes com o uso da luz."


A pintura é linda e intrigante, já que não retrata a beleza clássica e idealizada, mas algo mais comum, e por isso, belo também.

Nota-se um forte contraste claro/escuro, isto é, luzes e sombras, característica do movimento artístico em que se inclui o pintor - Barroco - e as cores predominantes são o azul, o vermelho e o dourado, o que não é aleatório.

O uso de tais cores está ligado ao período histórico, quando  houve  um contato maior com o Oriente -  a China em especial -  onde essas cores eram tradição, sendo traduzidas na Europa como requinte e quebra com a última Escola.

Pode-se dizer que  a essência do filme está na sensualidade e inocência, ao mesmo tempo, conseguidas pela Arte.

Ficção bem escrita, com alguns traços biográficos, figurinos impecáveis, fotografia perfeita, enfim, um filme para apreciar com o compromisso apenas de descansar a cabeça e o coração, além de encantar os olhos.
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O "ATEINDIMEINTO"...

 
   

Ontem liguei para  um Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) para tentar um desconto no preço de um remédio que uso diariamente.
Nossa! Fiquei "tromatizada" com o atendimento.
 
Para começar, foram 9 (NOVE) ligações até conseguir a informação padronizada: 'Obrigada, você ligou para ...' e lá vem a tortura: 'tecle 1 para... tecle 2 para...' .  Verbo 'teclar' : teclei o número indicado. Fui atendida pela máquina de gravação de voz, aliás com forte sotaque paulistano:  No momeinto todos os nossos ateindeintes estão ocupados. Queira aguardar na linha ou teinte novameinte mais tarde...'  Tentei, tentei...

Quando consegui um humano para me atender, a coisa foi ficando pior...

O ateindeinte perguntou com quem falava. Disse meu nome e ele - era uma voz masculina jovem  - , numa velocidade incrível, começou a desfiar uma série de documentos necessários ao ateindimeinto : endereço completo, 'CEP inclusive' ,  RG, CPF, nome e CRM do médico que receitou o remédio, número do celular etc etc...  Quando eu disse que tinha todos os dados em mãos, uma pausa - acho que ele não esperava (hahaha).  Pediu que eu aguardasse na linha... até que a linha caiu.

Tentei novamente.
 
Outro ateindeinte... Agora uma voz feminina. Começamos tudo do início.  Isto se repetiu por 3 (TRÊS) vezes e a cada vez um novo ateindeinte.
 
Mas eu disse para mim mesma: hoje eu não desisto! Vou atormentar o dia inteiro até conseguir.  E vamos nós...

Pois bem, quando conseguimos nos einteinder, foi feito o tal cadastro que gerou um código para ser passado à farmácia na hora da compra - um código com 17 (DEZESSETE) dígitos!  É de pasmar! 17 DÍGITOS!

Não dá para acreditar o que aconteceu em seguida - juro que é verdade! Aconteceu! 
Depois dos 17 dígitos, a ateindeinte disse que ocorrera uma falha  no Sistema (essa coisa parece uma entidade...) e que talvez as informações não fossem absorvidas. Que eu ligasse mais tarde para confirmar o tal cadastro.

Tudo bem. A coisa durou a tarde toda. Já era noite quando liguei novamente. Ah, é hoje que eu NÃO desisto!

Enfim, a resposta afirmativa. O bendito cadastro fora concluído, e já está disponível , desde que eu informe o tal código com 17 dígitos até receber o cartão definitivo que autoriza as futuras compras.

Ah, ah... ainda falta ir à farmácia com o tal código e ver se a compra pode ser efetuada. Duvido!

Olhe que eu me considero ainda em forma. Tenho boa memória, escolaridade, lido bem com números, essas coisas...
Agora, imagine-se alguém de mais idade, com certas limitações,  precisando desse benefício e tendo que cumprir todo esse ritual maluco. 

O que deveria ser um benefício é um verdadeiro suplício.

Tá lascado!
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

BUG ...DE NOVO!


Sem internet, de novo... há três dias! É o preço de se morar onde as coisas demoram a acontecer. O provedor é péssimo e não há concorrente. Ou é este ou nenhum. Qualquer chuva mais forte, qualquer contratempo e a base distribuidora vai embora.  Enfim, é uma escolha que fiz.
O sossego, as lindas paisagens naturais, as montanhas, o céu claro de dia e à noite estrelado, tudo isso vale alguns dias desconectados, não?
Puxa, mas uma ‘internetezinha’  ajuda...

Gente, do que é que estou falando, mesmo?

Pois é, não se pode desprezar a tecnologia porque não se trata mais de opção. Tudo veio para ficar e  se desenvolver.

Está certo que não significa estar ‘conectado’ o tempo todo, entretanto a velocidade desse desenvolvimento  nos faz acreditar que quanto mais tivermos acesso a tudo, será melhor. Assim, estou me habituando a ficar no computador bastante tempo. E sinto falta quando acontecem interferências que me deixam fora do chamado mundo virtual, embora eu reconheça que nesse ambiente seja mais fácil mostrar apenas o lado  bom das coisas e das pessoas, que sempre parecem ser melhores do que realmente são.

Nas redes sociais, por  exemplo,  todos parecem viver uma eterna festa, felizes, bem humorados e sem problemas. A vida não é assim.

O custo real dessas atividades ‘em rede’ é a ausência da voz. A voz física, sonora, a que pode soar alegre, triste, feliz, decepcionada, assustada e que expõe, de algum modo, o nosso interior naquele momento. Mesmo pelo telefone.

Quando falamos, seja informal ou mais cerimoniosa essa fala - não importa - há sempre a possibilidade de sermos interrompidos, questionados, desafiados, aplaudidos, contestados. Isso é o que gera a real comunicação e muitas vezes um debate necessário, salutar ao nosso aprendizado de todo dia.
 
Por escrito e com a escrita cada vez mais sintética da linguagem das redes, ficamos desobrigados dessa atividade recíproca de reconhecimento, aceitação e/ou rejeição do pensamento alheio.

Podemos concordar ou discordar se quisermos, sem a cobrança do preenchimento daquele hiato que às vezes aparece nas diálogos. Talvez por isso estejamos preferindo o tal ambiente virtual. 

Contamos ali com recursos inovadores que nos livram de várias responsabilidades. Podemos  simplesmente sair do ‘local’ (alguns, mais educados, até se despedem...), podemos abstrair o comentário ou deletá-lo, enfim, há uma série de teclas bem úteis  para  encerrar a conversa virtual, dispositivos   que o ser humano não traz em sua compleição (hahaha! credo!).

Realmente, é uma invenção magnífica e intimidadora ao mesmo tempo.

Sei que sou repetitiva em alguns textos; estou preocupada comigo, eu que utilizava tão pouco a internet, agora sentindo falta... Pode uma coisa destas?
Fim dos tempos... fim dos tempos...
**

O que acontece é o seguinte: toda vez que fico sem internet – e aqui isso ocorre com freqüência – volto à leitura sistemática. Pois é, esse negócio de computador vem bagunçando um pouco meus hábitos de leitura.

Agora estou às voltas com “O leitor”, de Bernhard Schlink, romance que deu origem ao filme homônimo estrelado por Kate Winslet (“Titanic”, impossível dissociar) e Ralph Fiennes.  Já recomecei essa leitura umas três vezes e sempre interrompo. Não que fique entediada, mas porque há muita coisa para ver e ler na internet, daí...

Gostei do filme, mas era como se ‘faltasse’ algum trecho da história, sei lá.

Está claro que as linguagens são diferentes; o cinema e a TV trazem variadas visões de mundo – roteirista, diretor, cinegrafista, iluminador, atores, o custo, o ‘time’, enfim, há muitos filtros, até estabelecermos nossa própria avaliação. O livro, não: há o autor e o leitor - se entendendo ou se desentendendo. Por isso é difícil um filme ou novela, baseados em obra literária, ficar no mesmo patamar.  No que me diz respeito, estou gostando mais do livro, como sempre.

Sueli
Itatiaia, 13-2-2012, segunda feira
*   *    *

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

LEMBRETES DA VIDA

Estou fazendo um tratamento dentário doloroso (fisica e financeiramente, rssrs) e ontem, depois de mais uma ida ao consultório, ao sair - minha irmã Stela estava comigo - ainda meio tonta da anestesia e sentindo os efeitos dos procedimentos, estávamos tomando sorvete (criança, depois da consulta ao dentista merece sorvete, né?hehehe) em frente ao shopping, quando um ônibus parou no ponto e ouvimos um barulho de queda. 
Olhamos e vimos não se tratar de alguém que tivesse caído, mas de um senhor que se jogou ao chão para descer do ônibus. Ele tinha as duas pernas amputadas na altura dos joelhos. Conseguiu "descer" do ônibus, sozinho, aprumou-se e, com a ajuda de uma bengalinha adaptada, entrou todo sorridente no shopping como quem vai às compras, de maneira absolutamente natural.
Eu, ali, até então pensando em como nossos dentes afetam nossa saúde e nosso humor...
E a vida vem com aqueles lembretes que tira do bolso da doutrina, sabe? 'Então, está deprimida por causa dos seus dentinhos, é?'
Envergonhada, fiquei pensando em como tenho sido protegida e abençoada toda a minha vida.
Mesmo para ir ao dentista conto com a companhia de um familiar - essa minha irmã é a solidariedade em pessoa (acho até que ela sente a dor com a gente...).
Posso contar também com ajuda de outras pessoas; minha saúde - considerando a passagem do tempo e tudo o mais - me permite ainda usufruir o lado bom de tudo. Então? Só posso agradecer à vida. Não tenho o direito de me sentir aborrecida, por nada.
**

Saindo de lá, decidimos ir ao supermercado - onde ainda posso comprar o que desejo e preciso - e depois à casa das minhas filhas (moro numa cidadezinha próxima).
Meu netinho mais novo, agora com 2 meses, estava deitadinho, sossegado, tranquilo e fui brincar um pouquinho com ele. Coisa mais engraçadinha: ele está começando a perceber a presença das pessoas. Virou a cabecinha para o meu lado e ensaiou aquele beicinho de susto (ou medo, sei lá) que os bebês costumam fazer ao se sentirem inseguros.  Rimos muito e eu dizia, brincando: 'o que é isso, rapazinho? É a vovó, que ficou com você um bom tempo logo que chegou a este mundo doido! É a vovó, querido...' 
Ele não quis saber. O negócio era abrir o berreiro, mesmo, e se refugiar no colo sempre mais confiável da mamãe.
A vida é linda quando não fazemos dela um peso.
Pode parecer bobagem trazer para o blog acontecimentos aparentemente tão banais, mas gosto de registrar esses flashes. Temos pouca memória quando se trata de agradecer por tudo isso.

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

ENFIM, SINCERIDADE...bem humorada.


Teoria da nova elite

Fernando da Mota Lima (03/02/2011)

Sou pós-moderno, narcisista, consumista e high-tech. Ah, também sou rico, ideólogo intelectual da nova elite.

Religião?
Tenho a minha, que misturo sem preconceito com tudo que me torne mais livre, resolvido e saudável. Acho que religião é hoje um investimento e é bom que assim seja. Quem hoje pensaria em guerra religiosa no Ocidente? Só se fosse por acidente. Por que eu teria pudor de traduzir Deus nos termos de minha ética utilitária? As novas religiões, os pastores, hábeis investidores no mercado da fé, também as religiões tradicionais, todos estão adotando esse novo perfil religioso. Estou apenas remando com a corrente.

Preconceito?
Corta essa, galera. Nenhum. Defendo a diferença, todo tipo de diferença. Por isso estou com a diferença da mulher, sempre oprimida nessa sociedade machista, com a diferença gay, com a igualdade de todos. Logo, estou também com a igualdade racial e a liberdade religiosa.

Felicidade?
Totalmente. Como o Estado brasileiro é o Estado patrão, o Estado provedor, o Estado mãe das tetas fartas, concordo que a felicidade deve ser objeto de uma política de Estado. Melhor dizendo, é dever do Estado garantir a felicidade de todos. Afinal, não é pra isso que vivemos no país de todos?

Autoestima?
É a base de tudo, meu. Acho que o publicitário que levantou essa bola trouxe uma contribuição fundamental para a felicidade na sociedade das massas, a realização da felicidade nas condições do capitalismo competitivo em que passamos a viver. Não compreendo a modéstia desses publicitários geniais que tramam nos seus gabinetes coisas geniais como o princípio da autoestima, difundem isso no mercado e no entanto se escondem. Sem autoestima não chegamos a lugar nenhum. Como intelectual e escritor, acredito sempre em mim consciente de que a opinião alheia, sobretudo a dos meus pares, é a fonte do meu sucesso, da minha realização profissional. A primeira coisa que faço, quando acordo todos os dias, é me olhar no espelho e dizer para mim próprio: cara, você é a pessoa mais genial do mundo, você é um vencedor. Depois disso vou para a luta certo de que transformarei todas as minhas ambições em realidade.

Ambições?
São o que mais tenho. Tenho tantas, meu, que preciso tomar umas drogas pra nocautear a insônia. Quero tudo e mais alguma coisa. Como intelectual, apareço literalmente em todas as feiras literárias. Se a literatura importa? Claro que sim, contanto que eu apareça. Não existe coisa mais fácil do que me achar numa feira literária. Basta ir aonde estão as câmeras, os escritores da moda, os astros da mídia e sobretudo os cantores, que são o verdadeiro foco das feiras. Portanto, melhor estar perto de uma guitarra ou violão do que perto de um livro ou de um laptop.

Ética intelectual?
Óbvio. Um intelectual que se preze não pode prescindir da ética. Quando resenho um livro, por exemplo, escolho uma obra sempre para falar bem. Escolho o autor vivo a quem tenho acesso e portanto pode também me promover. Qual o sentido de louvar os clássicos, todos há muito bem enterrados e portanto inoperantes no mercado? Que lucro posso eu esperar de Shakespeare, Machado de Assis, Conrad, Italo Svevo, Auden…? Deixo essa função para os críticos acadêmicos, que apostam sempre no certo, no já estabelecido. Com meu editor – de editora, blog ou periódico – procuro sempre concordar, sobretudo quando discordo. Como aparecer polemizando com os companheiros de profissão, detonando uma obra ou um autor que pode me garantir muitos rendimentos futuros?

Se sofro do tédio da controvérsia, como Machado de Assis?
Depende. Se for controvérsia para me promover, fique certo de que entrarei na luta sem transigir. A controvérsia intelectual ou a polêmica literária importam na medida em que rendem dividendos publicitários. O público não está interessado no debate de ideias, mas sim nas pessoas que debatem as ideias. Além disso, não existe nada mais relativo do que gosto literário. Assim, não há como determinar se Machado de Assis é melhor do que Paulo Coelho. É tudo questão de gosto ou opinião pessoal. O que afinal importa é o rendimento promocional da polêmica. Já imaginou o que não me renderia uma polêmica com Chico Buarque ou Caetano Veloso, com Paulo Coelho ou Jô Soares?

Política?
É claro que tenho convicções políticas. Só que não são mais aquelas da militância tradicional e antiquada. Não aguento mais esse papo weberiano de ética da responsabilidade, muito menos ética de convicção. Quero dizer, devemos adotar a ética da responsabilidade na medida em que ela garanta resultados traduzíveis em fonte de renda. O negócio é calcular resultado, a ética do cálculo e benefício. A ética careta malha Lula e o PT somente porque souberam astutamente se apropriar das práticas dos grupos políticos tradicionais. A ética careta ataca Lula simplesmente porque Lulinha, símbolo de uma nova elite, enriqueceu em poucos anos, dizem que adotando meios ilícitos. Ora, para mim isso é antes de tudo prova de competência. Ataca ainda o PT e seus aliados simplesmente porque blindaram Lula quando pipocaram escândalos que, vemos agora, deram em nada. A população, o povo brasileiro que precisa de trabalho e renda, que quer legitimamente acesso ao mercado, o povo não dá a mínima para isso. Basta observar a aprovação de Lula sem precedente em toda a nossa história política. Concluindo, os resultados estão aí à vista de quem queira ver. A ética careta e ideologicamente anacrônica não vê porque é presa do preconceito contra um presidente que veio lá de baixo e não passou pela universidade. E daí? A universidade está cheia de gente que não sabe nada do que Lula sabe. Acima de tudo, não é capaz de ganhar nada do que Lula ganhou. O que importa é o resultado, o dindim no bolso.

Se com Tiririca pior fica?
É uma. Pensei que não ficaria, mas pode ficar. E daí? Se ficar pior, não será por culpa dele, muito menos minha.

Uma política para os pobres?
Por que vou me preocupar com isso? Aliás, ela já existe desde que Lula transformou o Brasil no país de todos. No mais, deixe que os pobres cuidem de sua pobreza, que não é em nenhum sentido parte da minha responsabilidade. Se fosse, criaria uma ONG para faturar ainda mais, como faz muita gente de sucesso que conheço. Catador de lixo é investimento, meu. Um conselho que te dou de graça: invista numa ONG chamada Salvador do Lixeiro. Esse papo piedoso sobre a pobreza, a desigualdade existente no Brasil, não passa de populismo da velha esquerda. Aliás, como bem disse Joãozinho Trinta, quem gosta de pobre é intelectual. Ou não foi isso que ele disse? Ou não foi ele quem disse? Tenho coisa mais importante para fazer e pensar.

Se sou um rebelde sem causa?
Claro que não, meu. Tenho causa, sim. Se escolho, e estou sempre exercendo minha liberdade de escolha, isso é já uma evidência de que minha rebeldia tem causa. Escolho minha grife. Escolho meu carro. Escolho entre a Skol e a Antarctica. Escolho minha gata não só por amor, mas também por saber que ela corresponde a meus ideais de mercado e afirmação da minha identidade. É no mercado que a gente encontra a alma gêmea e assim promove a síntese entre a tradição romântica e a bolsa de valores. Escolho entre Messi e Kaká. Escolho meu ídolo do Big Brother Brasil baseado na política promotora da diferença, que é a minha praia. Escolho a telenovela que promove a diferença. Não vou sair por aí beijando homem, meu, mas defendo a telenovela que mostra homem beijando homem. Não gosto dos negros que moram no meu condomínio nem acho que empregada doméstica deva usar elevador social, mas defendo o direito de eles ocuparem seu lugar na sociedade. Como já observei, o país é de todos. Taí uma frase que eu gostaria de ter criado. Você não imagina o quanto invejo o publicitário que bolou essa frase.

O ser que mais amo?
São dois, não um: Bill Gates e Lulinha, meus cãezinhos adorados. Não sei de dito mais verdadeiro que este: o cão é o melhor amigo do homem. Entre nós, eu e eles, não existe concorrência, conflito de opinião, choque entre vontades, a guerra que a todo instante decretamos entre nós, humanos, em nome do princípio da liberdade de cada um. Se as pessoas fossem como Bill Gates e Lulinha, o mundo seria o paraíso.

Se escolho ser eu?
Casseta e planeta! Claro que escolho ser eu e sei quem sou. Sou o que o espelho reflete. Já imaginou a vida de um intelectual como Nietzsche, por exemplo? Lembra como acabou, onde acabou? Quero é cuidar de mim, meu. Ser eu é ser saudável. Só me falta agora uma coisa: o dinheiro da entrevista que previamente acertamos. Vamos nessa.
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Comentário de um leitor:  "eu só tiraria  a palavra 'nova' do título".  

Bingo!!!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

MUDANÇA DE ARES...


Cruzes! Estive relendo as postagens e me dei conta de que não posso continuar naquele tom. Não posso e não quero... porque acabo virando mais uma panfleteira de esquina.
As coisas são como são. Agora, é pagar para ver...

Certa vez, uma aluna - em sua adorável inocência, própria da idade (na época, os jovens ainda eram inocentes para as coisas do mundo) - me perguntou por que as pessoas mais velhas cobravam dos jovens a disposição para mudar o que não consideravam justo ou correto e por que a geração anterior teria deixado tantos problemas para os jovens resolverem. 
Aluna esperta, atenta, participativa, não? 
Eu lhe disse que cada geração faz  - ainda que não mude tudo - o melhor que pode; com o idealismo, com a  força e crença juvenis de que contribui para um mundo melhor.
Os novos desafios fazem parte de um mundo também novo e sempre é a vez das novas gerações.
O que entristece é que muito dos ideais de cada geração sempre fica pelo caminho e não chega a contagiar a geração vindoura.  Mas não se pode simplesmente desistir.
É como aquela historinha atribuída aos chineses: se cada morador limpar a frente de sua casa, em pouco tempo toda a rua estará limpa, toda a cidade estará limpa, todo o país estará limpo e o mundo todo será limpo também.
Acredito, sim, que qualquer mudança precisa começar pelo indivíduo.
**
Bem, agora chega de bancar o Américo Pisca Pisca, aquele personagem de Monteiro Lobato que queria modificar o mundo. É... sou também filha de Lobato.

Vamos às mudanças de tom:  recomecei a pintura.
Estava meio desanimada, pintei apenas umas três ou quatro telas nos últimos dois anos, mas agora comecei um novo quadro. Fase estilizada, sem pretensões, com um apelo mais interior.  Vamos ver no que vai dar... 
Preciso de mais disciplina e a pintura me obriga a ter esse compromisso. 
Estava me sentindo muito solta, sem algo que me motivasse a ter uma vida mais produtiva e agradável. 
Esse negócio de aposentadoria é um pouco uma armadilha, sabe?  Pelo menos para mim. Estava me sentindo indolente, preguiçosa, sem viço.  Daí para desenvolver doenças e manias... Eu, hein?!  Vamos trabalhar!
*    *    *

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

NOTÍCIAS...

Ler as notícias sempre me deixa confusa, perplexa,  desconfiada...
São tantos os assuntos numa mesma página de jornal! Tudo misturado, como um caleidoscópio - apenas não tão bonito e colorido.
Nossas emoções fazem malabarismo para corresponder... fica triste, fica alegre, fica surpreso, fica entediado, fica irritado, fica indiferente... ufa! Não dou conta...
Outra coisa que me perturba um pouco são as frases e adágios populares que se opõem:
Afinal o segredo é a alma do negócio?  ou  a propaganda é a alma do negócio?

É o que me veio à lembrança com essa história de um programa de TV a que eu não assisto - por opção - mas do qual tenho conhecimento todo dia, todo dia. Está em toda mídia.
Agora, mais uma campanha para que o tal programa seja extinto. 
Coisa chata essa de campanha para tudo. Quanto mais se fala na tal coisa, maior a curiosidade e o interesse das pessoas.  Basta não assistir, ora..

No Brasil, a concessão para a radiodifusão é dada pelo Estado a determinadas empresas de comunicação. A outorga é renovada a cada 15 anos pelo Congresso Nacional e nesse ínterim, a emissora deve seguir alguns preceitos ditados pela Constituição Federal.
Destaco aqui o artigo 221 da nossa Carta Magna, que acho particularmente elucidativo:

“A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.”  (o destaque é meu)

Não é uma hipocrisia? A não ser, é claro, que  os tais valores éticos e sociais tenham caráter individual ou de grupo e que sua interpretação seja variável e adaptável à conveniência e poder das outras instituições.  Sei, não...
Por que, então, manter tal Artigo na Constituição Federal?  Dura lex, sed lex? Tá bom...
**

Quantas vezes já ouvi que é preciso discutir, falar sobre temas difíceis, esgotar a informação para acabar com o tabu , isto a respeito de vários comportamentos.
Por exemplo, a questão da gravidez na adolescência (que encheu e enche o saco até hoje, porque só aumenta o número de meninas grávidas);
a questão da violência em todas as suas formas (que continua aumentando e nada dá jeito). 
E por aí vamos. Há mais, há muito mais...

Claro que muitas coisas mudaram por persistência e trabalho duro de ALGUNS - geralmente estes não fazem barulho, trabalham e lutam por aquilo em que acreditam sem ficar infernizando ninguém com campanhas ilusórias e que acabam beneficiando uns poucos.

Sinto que sou considerada bem radical, às vezes... .  Assumo e pronto.

O problema é que as campanhas atraem.
Vejam as eleições políticas: aquele que tiver mais dinheiro, ou seja, aquele que repetir, repetir - ad infinitum - o seu nome e número de candidatura, certamente será eleito, sem questionamentos sobre sua plataforma, seu passado político, seu caráter (ainda existe isso?)

Isto me faz lembrar de um trecho da peça Gota D'água, de Paulo Pontes e Chico Buarque, quando o personagem Creonte diz:
"(...) Aprende meu filho,
dessa lição você vai precisar:
se você repete um estribilho
no coco do povo, e bate e martela,
o povo acredita naquilo só.
Acaba engolindo qualquer balela,
acaba comendo sabão em pó."

Evidentemente trata-se de outro contexto histórico e social mas acredito que os versos caibam muito bem aqui, dentro deste assunto.

Como a minha cabeça é delirante, acabo de me lembrar da letra - do Chico Buarque, quem mais? - de Bom conselho, também da mesma época de Gota D'água
 


Fico pensando também  nesse povo coitado, incapaz de entender uma ironia. Credo...
Já se vão quarenta e tantos anos, hein? Ô país demoradinho...
*           *            *