José Saramago |
Assisti ontem, no Canal Brasil, a um longo documentário sobre o escritor José Saramago e sua mulher Pilar del Rio.
Confesso que, por dever de ofício, comecei a ler Saramago e não gostei muito.
(Ah, sou tão atrevidinha que eu mesma me surpreendo: o homem é Prêmio Nobel de Literatura,1995, Prêmio Camões,1998 e eu ouso 'não gostar'). Liguem não, é só o que eu chamo de implicância literária.
Também implico com alguns brasileiros aclamadíssimos: Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, entre os mais jovens Fabrício Carpinejar, Caio F.Abreu, enfim, coisas da minha cabeça.
Na opinião desta reles leitora, os romances de Saramago se apresentam prolixos, redundantes, cansativos pela narrativa arrastada, as frases que parecem parágrafos, os parágrafos que parecem capítulos e tudo demorando muito, demais.
Realmente não chego a ser encantada pela sua literatura. Talvez por não ter aprofundado e diversificado a leitura de sua obra, não sei.
Li 'Memorial do Convento', 'O homem duplicado', 'Ensaio sobre a cegueira ' e As Intermitências da morte'.
Recentemente andei lendo Saramago poeta - então, sim, gostei de verdade.
Quanto ao documentário, é emocionante. Sem cortes abruptos, aborda longo período da vida do escritor, suas viagens, seus momentos de descanso, as entrevistas, sua convivência com Pilar - extremamente sensível - enfim, aspectos biográficos relevantes para maior compreensão do talento desse homem.
Sua biografia é fascinante. Uma vida extremamente produtiva, riquíssima em realizações.
Emocionei-me diversas vezes, como quando ele responde a um repórter que lhe perguntou o que ele desejaria mais depois de tanto sucesso, tantos prêmios, tanto dinheiro, e ele diz: "Tempo... tempo e mais vida."
Emocionei-me diversas vezes, como quando ele responde a um repórter que lhe perguntou o que ele desejaria mais depois de tanto sucesso, tantos prêmios, tanto dinheiro, e ele diz: "Tempo... tempo e mais vida."
Para refletir, não?
Muito bom mesmo.
Maravilhoso o próprio autor dizendo um dos textos de seu "Cadernos de Lanzarote" :
"23 de Fevereiro de 1994
Levaram Deus a todos os lugares da terra
e fizeram-no dizer:
'Não adoreis essa pedra, essa árvore, essa fonte,
essa águia, essa luz, essa montanha,
que todos eles são falsos deuses.
Eu sou o único e verdadeiro Deus.'
Deus, coitado dele, estava caindo
em flagrante pecado de orgulho.
Deus não precisa do homem para nada,
excepto para ser Deus.
Cada homem que morre é uma morte de Deus.
E quando o último homem morrer,
Deus não ressuscitará.
Os homens, a Deus, perdoam-lhe tudo,
e quanto menos o compreendem mais lhe perdoam.
Deus é um silêncio do universo,
e o homem o grito
que dá um sentido a esse universo."
* * *
Esse texto foi motivo de gritaria geral na sua própria terrinha que, primeiro o destratou e depois conferiu-lhe honras.
Ai, a hipócrita política em todos os lugares do mundo... e a hipocrisia geral.
Sempre assim com as almas superiores: lembrar CharlesChaplin.
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