sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Filme da tarde: O HOMEM BICENTENÁRIO

Ah, que este filme me distraiu e me fez pensar...

Uma história, melhor dizendo, uma fábula futurista que me fez desejar e temer ainda mais os avanços tecnológicos, o desenvolvimento (evolução?) do mundo, trazendo  uma ciência absolutamente desconhecida para mim - a robótica.

Desta vez, fiz uma adaptação com alguns dados de um texto encontrado na internet inserindo alguns aspectos que me emocionaram. Vamos lá:

Filme americano de 1999, direção de Chris Columbus; destacando os atores Robin Williams, Sam Neill e Embeth Davitz.

Baseado num conto de Isaac Asimov e Robert Silverberg, do livro The Bicentennial Man and Other Stories, mostra a trajetória de um robô em busca da liberdade.
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“O Homem Bicentenário”
Adaptação do texto de Igor Mairinque

hom bicentz800 300x217 CineSophia: Uma análise à luz da Filosofia sobre o filme “O Homem Bicentenário”.


Personagens sob um perfil social e psicológico

Andrew Martin (Robô NDR 114) :
Criado para servir ao seu dono em todas as tarefas que ele lhe ordenasse, mas, sobretudo, nos afazeres domésticos. É como uma Babá ou Mordomo Eletrônico. Totalmente obediente aos donos e absolutamente fiel às chamadas três Leis da Robótica (diretrizes criadas por Isaac Asimov).
Possui um cérebro positrônico que lhe possibilita armazenar uma gama imensa de informações, mas esse cérebro é mais do que um sistema de armazenamento de dados.
Apesar de se parecer com qualquer outro de mesmo modelo, Andrew apresenta uma singularidade em relação aos outros robôs, o que é considerado uma espécie de anomalia, ou defeito de fabricação: possui algumas características parecidas com as humanas.
Na medida em que convive com a família e com o meio, demonstra sensibilidade, criatividade, e até sentimentos mais fortes, como a paixão, representada pela extrema amizade e zelo pela sua “Menininha”, a filha mais nova do casal Martin. Aliás, o sobrenome Martin é assimilado por Andrew, numa prova de fidelidade e respeito aos membros humanos da família que, mais do que donos, são considerados amigos.
Outro aspecto “humano” presente no robô é sua extrema curiosidade, demonstrada em momentos mais simples quando quer aprender a contar piadas para fazer com que os outros riam; em momentos mais delicados ao aprender a construir um cavalinho de madeira para substituir o de cristal que ele deixou cair e fazer com que a menina se sinta feliz de novo, ou tocar piano com ela; e em momentos mais particulares e cruciais na escolha de um destino, quando deseja conhecer o mundo e encontrar outro robô igual a ele.
Esta curiosidade está ligada a mais duas outras características: a vontade e a capacidade intelectiva de aprender e usar o que aprendeu.
Nesse aspecto, ele é humano. O que contraria sua "humanidade" é a coleta e armazenamento de informações à maneira dos computadores, mas seu cérebro é positrônico e não apenas um chip.

O que melhor representa a humanidade de Andrew é o desejo de ser livre; seu argumento é o das guerras no mundo cujo lema é a liberdade de decidir seus caminhos; não que queira abandonar a família com quem vive, mas ter  liberdade de escolher seu próprio destino.

Notável também é o seu empenho em se tornar igual aos outros da família, buscando desenvolver partes cada vez mais parecidas com as dos humanos, tudo para tentar ser como eles, sentir o que sentem e partilhar as experiências que vivem da maneira mais real possível.
Andrew pretende encontrar o seu lugar no mundo, ser reconhecido e respeitado pelos outros, como qualquer pessoa deseja.
Andrew é a representação de uma criatura construída por um artífice para desempenhar uma função neste mundo, mas que, semelhante ao ser humano, precisa provar a si mesmo o que é capaz de fazer.

Richard Martin:

Chefe da família e o homem que traz Andrew para casa, apenas para que ele desempenhe as tarefas do lar e cuide de suas filhas.
Neste momento, para Richard, o robô é simplesmente um eletrodoméstico. Esta impressão logo dá lugar a uma outra visão pela presença de comportamentos e características humanas que tornam Andrew um ser incomum e singular.
Richard passa, então, a ser um amigo de Andrew, além de ser seu dono e eles conversam sobre todos os assuntos.
Percebendo o potencial de Andrew, passa a chamá-lo de pessoa.
Faz com que o robô desenvolva seus talentos, ensinando-lhe o oficio de consertar e construir relógios.
Considera-o como mais um membro da família, e aceita, mesmo com receio de perdê-lo, a sua decisão de partir para uma liberdade só sua, sem ordens.
Muitos anos mais tarde, já na hora da morte, recebe a visita do robô e lembram juntos as conversas, tudo o que aprenderam um com o outro e como é bom construir uma família e conservar as amizades verdadeiras.
De uma certa maneira, Richard é responsável pelo desenvolvimento dessa "humanidade" em Andrew.

A esposa de Richard (o nome não é revelado e Andrew a chama de Madame): 

Embora contrária à presença do robô na casa, era indiferente. Não o valorizava nem desprezava. Suportava-o demonstrando certo receio ou respeito.
No meu entendimento é o incômodo pela presença do "outro" (questão presente na obra do existencialista Paul Sartre - "O inferno são os outros") ainda que não seja humano.
Segundo Sartre, a oposição do outro em relação a mim me faz ser o que sou; o que falam de mim, a forma como os outros me veem é que produz a imagem que projeto. O outro me faz.

Grace Martin -
É a filha mais velha do casal. Sempre se mostrou uma garota rebelde, desrespeitando os pais e todas as pessoas.
Nunca foi a favor da presença de Andrew e tratava-o como a um robô comum. Sentia por ele um certo desprezo. Certa vez ordenou-lhe que pulasse pela janela - o que ele, obedientemente, fez - causando vários danos à máquina.
O acontecimento ocasionou uma reunião familiar em que o pai, Richard, ordenou que dali em diante Andrew deveria ser tratado como uma "pessoa" e não mais como um utensílio doméstico.


homem bicentenario 300x200 CineSophia: Uma análise à luz da Filosofia sobre o filme “O Homem Bicentenário”.

Amanda Martin, a "Menininha":

Filha mais nova. Garotinha meiga, companheira, compreensiva com a irmã mais velha.
Quando o pai lhe apresenta o robô e diz que é um "androide", ela não compreende o que é e pergunta se pode chamá-lo de Andrew. Pronto, estava "batizado" .
Quando Andrew quebra, sem querer, um cavalinho de cristal, Amanda fica zangada e diz não querer mais que ele fique perto dela. Ele então estuda um modo de fazer um cavalinho de madeira e o presenteia à menina.
A partir daí, cria-se um estado de amizade, carinho e respeito por parte dos dois.  Esta relação evolui para uma paixão que não se concretiza.
Ela se casa, tem filhos, netos e Andrew parte novamente em busca de seu "aperfeiçoamento" para tornar-se humano.
Retorna muitos anos depois reencontrando Amanda já envelhecida. Continua chamando-a de "Menininha", tratamento que lhe dera desde criança.
Conhece a neta de Amanda - Portia - e fica confuso com a semelhança física das duas. O fator genético jamais seria experimentado por Andrew.

Doutor Rupert Burns:

Responsável pelo trabalho de "humanização" de Andrew. Dono da pequena empresa de robôs, legado deixado por seu pai, o criador dos modelos NDR 114.
Cientista brilhante, consegue desenvolver uma tecnologia de aperfeiçoamento dos robôs, acrescentando-lhes características cada vez mais parecidas com as dos humanos (órgãos internos e externos, sistema nervoso central).
Passa a ser amigo de Andrew, sempre conversando com ele, contando coisas sobre a vida dos humanos e ouvindo as experiências do robô.
Lembro-me de uma frase dita por ele que me fez rir: "Realmente você está se humanizando; quando tudo vai bem, você toma uma decisão absolutamente estúpida." (algo parecido)
Uma passagem comovente por ocasião da morte de Amanda: Andrew procura o D. Rupert e lamenta a incapacidade de demonstrar os sentimentos : "Sinto uma dor terrível e não posso expressá-la."


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Portia:

Restauradora de artes, está de casamento marcado e ao contrário da avó Amanda, não vê Andrew de forma muito amistosa.
Prefere não falar com ele, porém, quando a avó morre, os dois se aproximam. 
Ela se sensibiliza com a situação do robô que deseja formar uma família para assim afirmar sua recém conquistada aparência humana.
Começa a vê-lo de outra forma, não mais como um estranho que entrou em sua casa procurando pela Menininha, mas sim como alguém sensível e atraente.
Diante dessa nova atração, ela rompe o noivado e passa a viver com ele, ajudando-o de todas as formas em sua luta por reconhecimento e aceitação das pessoas na  futura mudança de sua condição para ser humano.
Portia sente que não pode abandoná-lo e decide, então, seguir com ele seja para onde for.

Galatea:

Um robô também NDR 114 mas de aparência feminina.
Diferentemente de Andrew, possui o chamado “chip de personalidade” o que a faz especial.
Sua "personalidade" é alegre e entre suas habilidades estão a dança e a cantoria irritante para Andrew.
Ela obedece ao doutor Rupert Burns, mas não perde a oportunidade de contrariá-lo verbalmente, expressando suas opiniões, mesmo que ninguém queira ouvir. Ela diz, por exemplo, que "personalidade é mais importante que inteligência."
Apesar de falar demais, é dedicada, amiga e companheira, sempre disposta a obedecer às ordens que lhe são impostas. Também confere o tom de humor no filme.
No momento final do filme, já também com aparência humana, e trabalhando como enfermeira, Galatea acata a última ordem de Portia, que lhe agradece por desligar os aparelhos que a mantinham viva.
Em resposta, Galatea lhe diz: "Como sempre disse nosso amigo Andrew, 'isto' fica feliz em lhe ser útil."
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O gradativo processo de, digamos, humanização do robô é muito interessante: Mecânica, Física, Química, Mecatrônica, Biologia se entrecruzam de maneira bem didática e convincente para leigos como eu.
Passa também pela Filosofia e a Psicologia  induzindo-nos à reflexão sobre a nossa condição humana sob diversos aspectos: a capacidade de sublimação, elevação mental e espiritual mas também as vertentes da crueldade, da degradação.
Podemos observar nos diálogos inteligentes todo o aprendizado de Andrew sobre Verdade, Humor, Finitude, Amor, Condicionamentos Sociais, enfim, o que compõe nosso ciclo vital - inexistente na robótica.

Andrew, o androide, em sua busca por pertencimento ao grupo humano, demonstra virtudes que habitualmente valorizamos pouco como a Paciência, a Persistência - Tenacidade mesmo - e principalmente, Esperança em alcançar seus objetivos.

Embora tenha lido algumas críticas contrárias, eu gostei do filme.


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