segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"Psicologia" nossa de todo dia...


Estou pensando em algumas manchetes do que é considerado notícia ou artigo importante nos diversos jornais tanto impressos quanto na  web. É cada coisa...
O pior: conseguem atrair o nosso olhar e quando vamos ler...nada, nada que justifique ter lido aquilo.

Hoje, por exemplo uma dessas manchetes levava a crer que fosse sobre "o seu perfil no trabalho".
Quando me dispus a ler, vi que era sobre as imagens que o funcionário deixa como papel de parede em seu computador na empresa.  Uma lista com vários exemplos: fotos de família, emblemas de time de futebol, paisagens, padrão Windows, bichinhos de estimação -  enfim, o que se possa imaginar - e uma extensa "análise psicológica" pretendendo interpretar o "perfil" de cada um .

O que me causa maior espanto é o fato de pessoas usarem seu tempo para ler tanta bobagem (eu, inclusive, embora não tenha ido até o fim) e mais: outras ganhando dinheiro com isso.

Bom, vendo que os jornais trazem sempre as mesmas notícias (já disse isso antes? hahaha...) fui - não literalmente, faz favor - "navegar em outros mares"... mais interessantes, mais alegres e encontro esse texto delicioso e  literalmente informativo:

Literalmente Literal
Raoni Bielschowski - blog "Psicologia de botequim"

Meus caros, venho cá professar mais uma de minhas indignações com as mudanças dessa era virtual-Ipadiana-facebookiana-pós-orkutuiana-pós-trêmica-postrema que vivemos. Lhes confesso que adoro a linguagem conotativa; sou entusiasta das metáforas, metonímias e de quase todos os tropos e figuras sintáticas (digo quase todos porque epizêuxis e oximoros mais parecem nomes de doença de verme, e não podem ser um negócio bonito); acho lindas as licenças poéticas, os jogos de palavras… Enfim, gosto dessas liberdades e até mesmo de alguma libertinagem literária.

                Sabe… tenho dificuldades com métricas muito rígidas, estilos muito formais… pode-se dizer que sou desses que escrevendo: erra a torto e a direito, muitas vezes por ignorância mesmo, mas nem sempre só por isso. Garanto que estou sendo sincero quando digo que me sinto à vontade com essa certa… flexibilidade redacional. Não é apenas a/por despeito desses erros que me são corriqueiros. É pessoal. Coisa de gosto. Inclusive, mesmo reconhecendo a beleza de um bom soneto, acho que toda sua justeza ao amar e sofrer apenas confirma que na verdade o poeta é um fingidor…

                Contudo, cumpadi, algumas coisas necessariamente têm de ser denotativas! Com sentido único, rigoroso, exato… radicalmente! Sectariamente!! Ou seja, algumas coisas têm de ser literais. E a principal dessas coisas é a palavra: “literalmente”.

                Mermão, dói na minha alma quando ouço um cara falando algo do tipo: “estou literalmente morto de fome”, Nãããão!! Não diga isso! Ou você fala simplesmente: “estou morto de fome”; ou você está “literalmente morto”, e graças a Jah parou de falar besteira pelo mundo afora. A menos que se admita psicografia, vida após a morte, alma penada ou alguma dessas coisas… falar e estar literalmente morto são dois status absolutamente incompatíveis, compreende?! Ou seja, literalmente só pode querer dizer literalmente em seu sentido literal, entendeu?! Portanto, você não pode falar: “estou literalmente morto”. E mais, duvido muito que alma tenha fome, mas mesmo que tenha, em se tratando do camarada estar morto, acho que ter fome será o menor de seus problemas. Então, por favor, não desliteralize “literalmente”!! Essa palavra não admite linguagem conotativa, nem sentido metafórico, nem licença poética!! Não dá! Não force! Não me encha!!

                Companheiro, se não for assim, como, por exemplo, poderíamos dizer que estamos fisicamente em cima de um muro? Teria eu de falar: “literalmente literalmente estou em cima do muro”? Sim, porque dizendo tão somente, “estou literalmente em cima do muro” poderia querer dizer apenas que estou muito dividido entre duas posições. Ou ainda, pode ser que o camarada esteja “pulando a cerca”, literalmente, ou não literalmente… sei lá. É bem verdade que estar fisicamente em cima de um muro não é exatamente uma situação muito corriqueira na minha vida, mas… o fato é que “literalmente literalmente” já não aguento mais ouvir literalmente utilizado em sentido não literal. Tá compreendido?

                Isso começa a parecer a velha história do Paradoxo do Mentiroso:

                – Eu nunca digo a verdade – fala alguém.

                – Impossível!! – respondem-lhe.

                – Claro que é possível – retruca o comum.

              – Não é possível porque ou isto que você está me dizendo é mentira ou é verdade. Se você pretende mentir quando diz “Eu nunca digo a verdade”, logo, você reconhece que diz a verdade vez por outra. Mas se é verdade que “nunca diz a verdade”, então é mentira que você sempre mente, pois agora você está falando uma verdade. Ou seja, você é um mentiroso de qualquer forma, cabra safado!

                Entenderam? Enfim, voltando para o assunto central, literalmente tem de ser sempre literalmente!! Não pode ser necessário a epizeuxe “literalmente, literalmente” para dizer que algo é literal (exatamente, isso é uma epizêuxis: figura de linguagem na qual a mesma palavra é repetida duas ou mais vezes seguidas sem outra de permeio). “Literalmente” não admite oximoros (figura de linguagem que harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando assim um terceiro conceito que dependerá da interpretação do leitor), porque se assim for, nada nunca será literal… Ahhh!

             Por isso estão avisados, da próxima vez que eu ouvir falar literalmente não literalmente não respondo por meus atos e saio na porrada… talvez até literalmente. Será que posso dizer “talvez literalmente”?

Quer saber de uma coisa, não literalmente, foda-se!!

Literalmente,

Raoni

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