quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"As moças literatus" - e as velhinhas literatus também...

Quando digo que a internet me diverte...
Visitando a página "Homo Literatus" encontro esta crônica sobre moças que leem. Gostei e gostei também do comentário de um dos leitores, aliás outra crônica engraçadinha.  
Conferindo:

leitoras
As moças literatus
Davidson Davis - in "Homo Literatus", 17 de janeiro 2014

Simpatizo com o Eduardo Sampaio, o Edu, protagonista de “As pernas de Úrsula e outras possibilidades”, da Claudia Tajes. Logo nas primeiras páginas do divertido romance, ele confessa:

“Naqueles dias, bastava a mulher estar com um livro na mão que eu me apaixonava. Podia ser no ônibus, na praia, na rua, na chuva, na fazenda, no intervalo das aulas, na fila do banco, se a mulher estivesse lendo, eu certamente me aproximava. E dependendo do que ela lia, eu namorava, ficava noivo, casava, fazia bodas de ouro e era enterrado na mesma gaveta. Qualquer leitura me parecia sexualmente atraente, naqueles dias. Mais vendidos, menos vendidos, Manequim, livro de culinária, almanaque de farmácia, Veja, manual de etiqueta. Gibi não, que eu sempre fui um antipedófilo convicto.”

Mulher lendo um livro sempre considerei de um charme, e de uma classe (não vale ser no Kindle). Duas paixões unidas. Presto atenção ao ar de compenetradas, na forma como viram as páginas, na expressão quando encontram uma frase que a deixam em êxtase, quando prendem a respiração ou suspiram, ressaltando o busto, e, sobretudo, quando cruzam ou descruzam as pernas. 
Causam em mim o mesmo efeito que as moças, da longínqua década de 70, causavam nos rapazes quando, com certa dose de malícia, levavam à boca um cigarro. 
Cada um com o seu fetiche.

Os novos metrôs aqui no Rio, em que se pode perambular por todos os vagões, de uma ponta a outra, são ótimos para saber o que as moças estão lendo. 
Houve uma época que parecia que os únicos livros existentes eram os da trilogia dos “50 Tons de Cinza”, da E L James. Fiquei pensando se eu poderia ser o Christian Grey delas. 
A regra não valia para as senhoras, que também devoraram os romances. Sidney Sheldon e Agatha Christie também bombam.

Mas, às vezes, dá até vontade de ser o próprio livro, de tão gracinha que a moça é. 
Já vi umas lindezas lendo “No caminho de Swan”, do Proust; “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do Machado. Teses de mestrado. Salvem a professorinha! Sartre, Hemingway, Borges, Faulkner, Clarice. Como resistir? 
Morro de amores por leitoras de poesias (Drummond, Pessoa, Leminski, Rimbaud, Baudelaire). 
Em geral, meninas lendo “On the Road” são uma viagem e tanto; Bukowski, porras loucas; Fitzgerald, notas de jazz. Anaïs Nin, dada a novas aventuras; Cortázar, com uma imaginação poderosa. 
As possibilidades são imensas. Há leitoras para todos os gostos. A leitura é um afrodisíaco e tanto.

Uma vez, há 13 anos, pelos meus cálculos, um livro do Paulo Coelho, “O Diário de um Mago”, foi o modo que encontrei para me aproximar de uma mocinha. Deu certo, deu certo. 
Pode ser que seja preconceito meu, mas descobri que é melhor evitar certos tipos de leitoras. Por exemplo, fujo das autoajuda e das meninas que lerem livros sobre como encontrar o Príncipe Encantado. Esse eu sei que não sou. 
Livros religiosos que tenham algo de fundamentalista e moralista podem indicar um abismo tão grande entre a minha visão de mundo e a da dita cuja que poria fim a qualquer relacionamento amoroso.

Outro dia uma menina lia “O Segundo Sexo”, da Simone de Beauvoir. Ela tinha um jeito todo especial, difícil de explicar. Cabelos Chanel, óculos de lentes grossas, vestido preto, com bolinhas brancas, uma bolsa vermelha, da mesma cor dos sapatos e do cinto que emolduravam a cintura. 
O livro era uma edição antiga, um tanto amarelada, – só consegui ler o título quando ela o levantou um pouco para fazer uma anotação com um lápis nº 2.
Ela virava as páginas com uma espécie de pureza e ternura. Meu coração ficou aos pinotes.
A paixão tinha me pegado. Vagou um lugar ao seu lado. 
Mas foi só minhas nádegas tocarem o assento que produziu um efeito gangorra, como as leis universais de causa e efeito, fazendo a moça levantar-se no mesmo instante, num sincronismo de comédia pastelão. Eu caí na gargalhada. 
Não foi desta vez!

Mas o mais importante é não se aproximar, em hipótese alguma, de uma moça que tenha como livro de cabeceira “O pau”, da Fernanda Young. O livro é do cacete, literalmente, mas a moça pode ser muito, muito perigosa.
***

One Response to “As moças literatus”

Adolfo 
janeiro 17, 2014 at 5:35 pm

Você não é o único.
Quando alguns amigos começam a pontuar o que mais apreciam em uma mulher, dentre seios empinados, bundas polpudas e lábios úmidos (de saliva ou de lubrificações), eu sempre me ponho à frente e digo: “não há nada mais excitante que uma intelectual”. Me escarnecem, mandam-me pro inferno, dizem que com um livro não se trepa.

Sério. Eu tenho uma amiga que é assim, como o artigo relata. 
Na verdade, ela é esposa de um grande amigo meu. Mea culpa, ó, que filho da puta eu sou. 
Não importa, na verdade, de quem ela é esposa; sim o que ela é: leitora voraz (de livro físico e de Kindle), professora de literatura, filósofa nas horas vagas, mãe de dois filhos, balzaquiana mais cinco. Não é nem o padrão inacessível de beleza, tampouco tem uma vistosidade que dê inveja às outras. 
No entanto, quando começa a falar de Goethe, ou a espontaneidade com que cita Sófocles, ou, ainda, quando diz que prefere Cecília Meirelles a Clarice Lispector, meu amigo, nada me deixa mais ereto.

Ela gesticula com uma formosura, aponta passagens com que se deleita, e uma vez, entre amigos, declamou um poema do Boca do Inferno, que tenho de dizer: eu queria aquela boca no meu ouvido.

Às vezes, eu e seu marido conversando, ela ficava a um canto, folheando um romance, terminando um último capítulo, os olhos atentos, a concentração lancinante dentro das minhas roupas.

Me despedi dela para sempre num dia em que ela mencionava o amor que sentia por Hilda Hilst. 
Não resisti quando ela mencionou a obscena senhora D, as safadezas da Lori Lamby, as cartas do sedutor. 
Um pouco que meu amigo se retirou, corri até ela, dei-lhe um beijo na boca que dois segundos duraram. Nisso senti seu amor por Hilda dissolvendo o meu paladar. 
Foda-se o amigo, foda-se o pensamento dela em relação a mim.

Nada disse, nunca mais a vi; não a amo, mas jamais a esqueço. 
E toda vez que eu toco num livro da Hilda, caralho, como eu queria que meu amigo virasse fumaça.
***


Não resisti e comentei:

É... as duas crônicas - o comentário de Adolfo é uma bela crônica também - me deixaram pensativa. Certeza de que sou uma "velhinha literatus", mas acho que andei com a turma errada...agora é tarde. Sempre gostei de ler e não tinha (não tenho) com quem comentar em viva voz. Também não fui paquerada (hum, ainda se usa esse termo?) por ter sido moça literatus... É... não encontrei minha turma...

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