domingo, 26 de janeiro de 2014

Indignação


Infelizmente, hoje, ao abrir o facebook deparo-me com a publicação do depoimento emocionante de uma amiga:

"Ontem tive o desprazer de presenciar a mais absurda e descarada violação de um dos direitos básicos das mulheres: o de denunciar e registrar na delegacia de polícia um episódio de agressão física perpetrada pelo companheiro. 
Acompanhei uma amiga que foi agredida pelo marido à DP e estou até agora impressionada e chocada com a atitude dos policiais civis, que tentaram coagir a vítima a não efetuar o registro da ocorrência com os argumentos mais misóginos possíveis, gritando com minha amiga, a chamando de mentirosa e dizendo que ela "estava fazendo aquele circo todo, mas que, em 3 dias, já estaria na cama com o marido". Esses abusos duraram quase uma hora, até que, finalmente, o policial resolvesse registrar a ocorrência. E continuaram durante a colheita de depoimento da minha amiga, com o policial, a todo momento, fazendo comentários depreciativos e sexistas. 
Minha amiga, apesar de sua aparência frágil e delicada, mostrou ser uma fortaleza. Foi firme, decidida, não se deixou abalar por tamanha truculência e ainda manteve a ternura. Jamais teria essa sua força. 
Escrevendo isso agora, finalmente consigo chorar. Choro por minha amiga, tão linda, tão cheia de luz e tão forte na sua delicadeza. Choro por mim, que, em dado momento, pensei que ia ser presa por desacato. Choro pelas outras duas amigas que também foram conosco à delegacia e que também sofreram humilhações apenas porque estavam sendo solidárias. Choro por todas as mulheres vítimas de violência, sejam essas físicas ou sexuais, e que são tratadas pelos "agentes da lei" como marginais e indivíduos de segunda categoria. 
Choro por ter sentido na pele que o coronelismo ainda é extremamente forte na nossa região. Choro por constatar - logo eu que abracei o Direito como profissão - que leis são perfeitas no papel, mas só se aplicam às classes mais baixas. Os privilegiados, os politicamente influentes, ainda são quase que inatingíveis. 
Choro pelos homens e pelas mulheres do nosso tempo, porque vivemos num mundo em que ser homem, branco, hétero e de família abastada ainda é garantia de impunidade. Isso é triste. Isso é uma vergonha para todos nós."

Deplorável, inconcebível o comportamento dos policiais dessa delegacia - justamente quem deve se empenhar pelo cumprimento das leis - numa demonstração clara da inércia e da certeza de impunidade nas instituições deste país.
Pedi permissão para compartilhar sua indignação e o fiz. Não é possível que outras mulheres - e homens também - não se mobilizem, mesmo que por meio de rede social, para que o episódio não se multiplique, não se torne comum.
Não importam os motivos, não importa a situação, já não é mais possível tolerar ou fechar os olhos para a questão da violência física ou psicológica contra a mulher.
E a questão nem é somente essa.
O problema é amplo, abrangente. É o desrespeito e descumprimento a leis já estabelecidas, é a perpetração do sentimento da suposta superioridade masculina, é a violência - sob qualquer ângulo - como solução para os problemas humanos.
Humanos somos, necessitando urgentemente aprender a resolver nossos conflitos com Humanidade.

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