sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Reinícios e continuações...


"Mexi os pés, tropecei e aqui estou num ano novo. 
Algumas pessoas realmente levam a sério esta história: não só pelas promessas feitas, como também por aderirem a todo tipo de ritual - pular 7 ondas no mar, vestir branco, ir para suas cerimônias religiosas, ler a retrospectiva da Veja, cantar junto com os artistas do Faustão.
Outros fazem de conta que não tem nada a ver com isso, que esta história de ano novo é besteira; é mais um dia após o outro, ponto final.
Por que subestimar os indícios de renovação, por mais caretas que sejam?
Embora meu cinismo não acredite muito em felicidades de novo ano, eu nunca subestimaria uma felicidade, seja feita de água, ou papel; encontrada no ocaso, no mar ou nas meninices; pequena, ou menor ainda."

Não sei quem escreveu isso aí em cima nem me lembro em que ano foi que li, mas hoje fiquei pensando na situação. 
É bem por aí mesmo. Há pessoas que pensam que tudo será melhor após a simples mudança do calendário de um ano para outro.
Tudo bem. É preciso ser otimista, né? É o que aconselha todo tipo de texto de autoajuda.

Embora não queira diminuir a euforia de ninguém, não me contagio muito com a ideia. A impressão que me causam os "comportamentos de fim de ano" é que o que se viveu sempre deixa a desejar mais coisas... Todo mundo quer uma "mudança" na vida.  Por que essa mudança não pode ocorrer ao longo do ano? Por que se espera que, num passe de mágica, as coisas mudem na reta final, no fim do segundo tempo? 

De minha parte, continuo vivendo sem cortes, sem marcar fim ou reinício. Penso que projetos necessitam ter continuidade, sim, para serem realizados. Ou, pelo menos, serem revistos no caso de encerramento. Não acho correto simplesmente apagar o que foi vivido e partir para outros "sonhos" - aí está a palavrinha que me incomoda - sem uma solução adequada.

Ainda hoje, passei pelo facebook e li algumas coisas que minha ótima memória me impede de concordar ou "curtir" (no sentido facebookiano). 
Nem vou entrar em detalhes para não criar situações mais que embaraçosas... mas fico me perguntando onde foram parar as lembranças do que realmente ocorreu?  Sei que a interpretação dos fatos é pessoal, há os pontos de vista e tal e coisa, mas a alteração da realidade mexe um pouco com o meu jeito de lidar com a vida, viu?
Sem me estender porque o assunto nem pede esse desperdício de tempo e palavras.  Trata-se apenas de uma constatação de que o passado é, sim, muitas vezes inventado (não reinventado, pois existiu da maneira que foi) para que todos se sintam bem, se vejam como pessoas perfeitas, santas criaturas, com a compreensão e o  perdão à flor dos lábios - só à flor dos lábios e do teclado do computador.

O que sinto e vejo é que em 2014 - ou 2083 - o gênero humano é isso mesmo que está e esteve aí desde sempre. Mudanças? Sei...

Mas, seguindo a manada - é preciso, é preciso... -  permanecem também os meus votos de Feliz Ano Novo, Feliz 2014.

*            *            *
Nada e tudo a ver:

Certo dia, Diógenes de Sínope estava sentado na soleira da porta de uma casa qualquer comendo lentilhas (uma das comidas mais baratas da época) quando Arístipo de Cirene que também era filósofo, mas que, por ser adepto do prazer como único bem absoluto na vida e para levar uma vida confortável, vivia sempre bajulando o imperador, disse-lhe o seguinte:

- Ai Diógenes! Se aprendesses a ser submisso e a bajular o imperador, não terias que reduzir tua alimentação a um prato de lentilhas.

Diógenes interrompeu a refeição, levantou os olhos para o rico interlocutor, e disse:

- Ai de ti, irmão! Se aprendesses a te satisfazer com um prato de lentilhas, não terias que passar a tua vida bajulando o imperador.
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