Comecei a reler "Macunaíma", de Mário de Andrade. Por pura intuição.
Esse negócio de clima e anti-clima de Copa do Mundo já encheu.
Penso que Macunaíma é mesmo o mais digno representante do povo brasileiro justamente por ser inverossímil, tosco metido a sofisticado, indolente, fanfarrão, metamorfoseando-se o tempo todo sempre em desacordo com lugar e hora e pavoneando-se por aí sem mais nem porquê.
Está sempre sorridente, alegre, feliz em seu habitat.
Claro, fica murcho em outras terras.
Ah, tá ruim de engolir, né? Pois é... também acho. Sei que faço parte desse tal povo mas do jeito que as coisas andam a distância está aumentando. Fico com os gatos pingados.
Tem gente por aí dizendo estar com medo do evento da Copa, e tralalá...trololó... Vai acontecer nada porque nada é o que vem acontecendo há muito tempo.
Guerra civil? (juro, tem gente falando isso...) Guerra civil é fruto de povo conscientizado e disposto a passar dificuldade e sofrimento dignamente, sem autopiedade ou esmorecimento em busca de um ideal. Definitivamente não tem a cara do brasileiro não.
Brasileiro é Macunaíma. Dá conversa a papagaio, e papagaio - todo mundo sabe - repete discurso de qualquer um.
Macunaíma só podia mesmo ser brasileiro.
"Ai, que preguiça"!
* * * Aquela famosa síntese de Antônio Cândido e José Aderaldo Castello presente no livro Presença da Literatura Brasileira-Modernismo, Bertrand Brasil, 1997, pág. 112
Esta “rapsódia” (como era qualificada na primeira edição) conta as aventuras de Macunaíma, herói de uma tribo amazônica, que o autor misturou a outros, também indígenas, e que reinventou como personagem picaresca, sem cortar as suas ligações com o mundo lendário.
Depois da morte da mulher (Ci, a Mãe do Mato, que se transforma na estrela Beta do Centauro), Macunaíma perde um amuleto que ela lhe dera, a “muiraquitã”.
Sabendo que está nas mãos de um mascate peruano, Venceslau Pietro Pietra, morador em São Paulo, vem para esta cidade com os dois irmãos, Maanape e Jiguê.
A maior parte do livro se passa durante as tentativas de reaver a pedra do comerciante, que era afinal de contas o gigante Piaimã, comedor de gente.
Conseguido o propósito, Macunaíma volta pra o Amazonas, onde, após uma série de aventuras finais, se transforma na constelação Ursa Maior.
O livro é construído no encontro de lendas indígenas (sobretudo as amazônicas recolhidas e publicadas pelo etnólogo alemão Koch-Grünberg), e da vida brasileira quotidiana, de misturas com lendas e tradições populares.
O espaço e o tempo são arbitrários, o fantástico assume um ar de coisa corriqueira e o lirismo da mitologia se funde a cada passo com a piada, a brincadeira, a malandragem nacional, que Macunaíma encarna (é “o herói sem nenhum caráter”).
A maior parte do que eu realmente precisava saber sobre viver, o que fazer e como ser, eu aprendi no Jardim da Infância.
Na verdade, a sabedoria não está lá no alto morro da Faculdade, mas sim bem ali, na caixa de areia da escolinha. As coisas que aprendi foram estas: - reparta as coisas - jogue limpo - não bata nos outros - ponha as coisas de volta onde as encontrou - limpe a bagunça que você fez - não pegue coisas que não são suas, - diga que você sente muito quando, sem querer, machucar alguém - lave as mãos antes de comer - coma biscoitos e beba leite quentinho porque fazem bem - puxe a descarga - quando sair por ai preste atenção no trânsito e caminhe, de mãos dadas, junto com os outros. - Lembre-se do feijãozinho no algodão molhado, no copinho plástico. As raízes crescem por baixo e ninguém sabe como e por que, mas todos somos assim. - Peixinhos dourados, porquinhos da Índia, ratinhos brancos e mesmo o feijãozinho do copinho plástico – todos morrem. Nós também. - Observe os milagres acontecerem ao seu redor. - Lembre-se do livro do Joãozinho e Maria e a primeira palavra que você aprendeu, sem perceber: OLHE! - Viva uma vida equilibrada: aprenda um pouco, pense um pouco, desenhe e pinte e cante e dance e brinque e trabalhe um pouco... Todos os dias. - Tire um cochilo todas as tardes.
Tudo estava ali. As regras básicas do convívio humano, o amor, os princípios de higiene; ecologia, política e saúde.
Pense como o mundo seria melhor se todos, todo mundo na hora do lanche tomasse um copo de leite com biscoitos e depois pegasse o seu cobertorzinho e tirasse uma soneca. Ou se tivéssemos uma regra básica, na nossa nação e em todas as nações, de por as coisas de volta nos lugares onde as encontramos e de limpar a nossa própria bagunça.
E será sempre verdade, não importa quantos anos você tenha: se você sair por aí, pelo mundo afora, o melhor mesmo é poder dar as mãos aos outros, e caminhar sempre juntos.
Nostalgia é um termo que descreve uma sensação idealizada, e às vezes irreal, de momentos vividos no passado associada com um desejo sentimental de regresso impulsionado por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais. A palavra vem do grego νόστος (nóstos - "reencontro") e ἄλγος (álgos - "dor, sofrimento") (...) É diferente da saudade, pois esta é direcionada a um alvo ou momento especifico e até pode ser superada pela presença ou repetição, já a nostalgia não pode ser superada no campo físico pois diz respeito somente a uma visão idealizada de passado que cada um possui. Costumeiramente associa-se o sentimento nostálgico a emissões sonoras de baixa frequência.
É assim que consta na wikipedia, nos dicionários, enfim, são os conceitos ou definições mais comuns.
Para mim, não importam os conceitos ou definições. É apenas nostalgia. E não é 'irreal'.
Isso que me faz trazer duas músicas diferentes, com duas 'divas' do blues - timbres e interpretações tão diferentes também - e que há muito, muito tempo, embalaram um período lindo e muito real na minha vida.
Notícias de parente próximo geneticamente e muito, muito distante dos laços familiares.
À noite, bem tarde, nada que valesse a pena assistir na TV. Fui dormir.
Acordo de madrugada, de um sonho assustador - um pesadelo. Não consigo retomar o sono.
Vou à cozinha, preparo um chá e ligo a TV. Já em andamento um filme com Emma Thompson, atriz que admiro:" WIT - uma lição de vida." Resolvo assistir até que volte o sono.
Não foi uma boa ideia, embora o filme seja excelente.
Esse filme foi lançado em 2001 nos Estados Unidos, roteiro da própria Emma e do diretor Mike Nichols, trazendo ainda os ótimos atores Christopher Lloyd, Eileen Atkins e Audra McDonald.
Narra um período da vida de uma brilhante professora de Poesia Inglesa do Século XVII (um estranhamento neste século XXI).
Vivian Bearing (Emma Thompson), exigente e precisa em tudo o que faz, chega a ser obcecada por seu trabalho. Intelectualmente privilegiada, contribuiu muito para a evolução e divulgação da literatura britânica com a publicação de vários livros.
Muito admirada e temida, é rígida com seus alunos não perdoando ou relevando qualquer falha nem estabelecendo vínculos de amizade com as pessoas.
Após um exame médico recebe o diagnóstico de câncer no ovário em estágio avançado e suas chances de cura são mínimas.
O famoso oncologista Dr. Kelekian sugere um tratamento experimental e pesado utilizando novas drogas em doses máximas.
Para o médico e pesquisador só interessam os resultados de sua pesquisa e a possibilidade da descoberta de cura ainda que o paciente fosse levado ao extremo de sua resistência.
Vivian concorda em participar do experimento e é internada em um hospital britânico, sendo acompanhada dia a dia pelo Dr. Kelekian e o assistente Jason Posner (personagem de Jonathan M. Woodward) que já fora seu aluno; Susie Monahan (interpretada por Audra McDonald), a enfermeira chefe, também se interessa pelo caso e trata Vivian com humanidade, não apenas como uma paciente terminal.
Todo o processo de dor e sofrimento físico pelo efeito das drogas é explicado pela própria personagem Vivian; ela narra para a câmera, como se não houvesse mesmo ninguém a quem pudesse se dirigir o que intensifica o sentimento de desamparo e extrema solidão em que sempre viveu embora tenha sido sua escolha.
Agora, em lugar dos dificílimos versos metafísicos de John Done, Vivian se impõe analisar a dor física, cruel e presente o tempo todo durante seu tratamento.
Ela, tão inteligente, tão culta, tão competente em seu trabalho que não teve tempo nem disposição para fazer amigos, se dá conta, então, do quanto faz falta uma amizade sincera, um amor verdadeiro.
Há poucos diálogos mas interessantes e muitas cenas comoventes.
É um belo filme mas deprimente.
Ontem foi um sábado animado. Uma das filhas me pediu para ficar com o netinho por um tempo (muito curto) enquanto ela e a neta fizessem uma visitinha rápida a uma amiga.
Foi uma delícia porque esse meu neto está com dois aninhos e é uma beleza de esperto e simpático. Saímos, andamos na avenida - ele de mãozinhas dadas comigo, uma graça - brincamos, jogamos bola, enfim, o tempo voou.
Depois, conversando em família a propósito da cor dos olhos dos bebês e a herança genética, surgiu o assunto sobre coisas consideradas inúteis - segundo minha filha e o marido - que constam do currículo escolar, entre elas aquelas questões de Biologia, Física e outras tantas que parecem nunca terem sido utilizadas na vida adulta.
Com a minha boca grande, discordei dizendo que infelizmente hoje as pessoas costumam desprezar tudo o que não tem aplicação prática e/ou imediata e tal... bem, o que aconteceu é que hoje, logo pela manhã, venho ler, na internet, os blogs de que mais gosto e encontro não só a crônica abaixo, mas também um outro artigo, mais longo e muito interessante que publiquei no blog Ouriço Elegante, também comentando o assunto.
Legal, né?
"Há mais coisas entre o céu e a terra..."
O PÊNDULO DE NEWTON E O AMOR
Jéssica Perizotto
O pêndulo de Newton é aquela quinquilharia decorativa que vemos com certa frequência em escritórios. São alguns pêndulos ligados a uma armação por duas cordas de igual tamanho que servem para restringir o movimento ao mesmo plano. Complicado e simples, assim como o amor.
Mas, não é essa descrição e tampouco o clássico brinquedo decorativo que me fez unir a exatidão da física com a ambivalência do sentimento romântico. Como tudo na ciência exata, o brinquedinho é só uma representação tátil de uma ideia abstrata: o momento linear. É aí que começa a metáfora, convido os leitores a fazerem uma leitura não pensando na explicação de um termo de física complicado, mas sim naquele sentimento que algumas vezes faz com que nós entremos em rota de colisão. O momento linear é uma das grandezas físicas fundamentais ao interrelacionamento (sempre mútuo) entre dois entes ou sistemas físicos. A segunda grandeza é a energia. Os entes ou sistemas em interação trocam energia e momento. Para acontecer a conservação do momento linear é necessário que a resultante das forças externas que atuam no sistema seja nula, ou seja, apenas ocorram forças internas. A conservação do momento linear está dividida em quatro tópicos: Impulso e momento linear, momento linear de um sistema de partículas, conservação do momento linear e colisões. A colisão é a parte séria do amor, a parte da decisão: uma colisão “é um evento isolado, no qual dois corpos exercem, um sobre o outro, forças relativamente elevadas por um tempo relativamente curto”. No dia-a-dia dizemos que uma colisão é um choque, o contato de dois corpos. Quando dois corpos colidem pode acontecer que a direção do movimento não seja alterada pelo choque, isto é, eles se movimentem sobre uma mesma reta depois da colisão. Entretanto, pode ocorrer que os corpos se movimentem em direções diferentes. Isso explica alguma coisa a respeito do amor? Provavelmente não, é só um recurso a mais para confundir cabeças apaixonadas!
* * *
Fonte da Pesquisa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Momento_linear http://www.if.ufrgs.br/tex/fis01043/20042/Luciano/colisoes.html
Descubra porque toleramos ou ficamos calados diante de algo que nos desagrada. Afinal, por que aceitamos engolir sapo?
Elisa Correa
Revista 'Vida Simples' - Ed. 0107 - 26 de agosto 2011
Devemos defender nossas posições com unhas e dentes, sem temer as consequências, ou... engolir sapo? Quem vive engolindo sapos sofre muito: tem dificuldade para dizer não, fica calado ou concorda com o outro em situações polêmicas só para evitar conflitos, ignora os próprios desejos para não gerar mágoas. "A pessoa não expressa seu sentimento e opinião simplesmente por medo da reação negativa de seu interlocutor. Essa atitude tem a ver com a cultura, com crenças que estão no modelo mental guiando nosso comportamento para a passividade em situações em que nos sentimos ameaçados ou com riscos de perdas", explica Vera Martins, especialista em medicina comportamental, diretora da Assertiva Consultores, de São Paulo, e autora do livro "Seja Assertivo!" (editora Campus). Depois vem aquela sensação de impotência e frustração por não conseguir expressar os sentimentos, por achar que tem sempre alguém determinando o que deve ser feito. E lá ficamos nós, nos sentindo incompreendidos e manipulados, remoendo uma mistura de raiva e culpa enquanto pensamos no que deveríamos ter dito no momento que já passou. Como consequência, nossa autoestima e confiança despencam no mesmo ritmo com que perdemos o respeito dos outros, que passam a não nos levar mais em conta. Corpo e mente Se engolir sapos pode ser considerado uma estratégia de proteção precisamos saber que sofreremos consequências deletérias por não defender nossas posições. "A raiva é uma das emoções que as pessoas têm mais dificuldade de manifestar. Muitos enterram a agressividade durante anos e têm pavor do que pode acontecer, caso resolvam desabafar. Acham que qualquer demonstração desse sentimento vai magoar os outros", afirmam Robert Alberti e Michael Emmons no livro "Como se Tornar mais Confiante e Assertivo" (editora Sextante). Guardar a raiva para si mesmo pode até provocar algumas doenças, como alergias, asma brônquica, dermatites, síndrome do intestino irritável e fibromialgia. No entanto, ainda são poucas as pessoas que percebem essa associação. "Às vezes você sai de uma reunião com uma enorme dor de cabeça, termina um almoço com muita dor de estômago e não percebe que isso está associado ao fato de não ter se posicionado como gostaria. Quando chega em casa, pensa em tudo o que deveria ter falado e não teve coragem naquele momento. E se sente muito mal por isso", diz Denise Gimenez Ramos, psicóloga e professora titular do programa de pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP. Que tal dizer não? O problema é que quem atura muita coisa calado acaba sendo agressivo em algum momento. Pessoas passivas no trabalho podem ser agressivas em casa, descarregando a raiva nos filhos, na mãe ou no companheiro porque se sentem mais seguras. Mesmo explodindo, acreditam que vão continuar sendo amadas. Quem recebe a agressão deve evitar reagir do mesmo jeito. "Senão vira uma guerra para ver quem humilha mais, quem pode mais. A atitude saudável é apontar para o outro a agressão e não devolver na mesma moeda", diz a psicóloga Denise Ramos. O responsável é você Então como deixar para trás o comportamento passivo? Para começar, é preciso autoconhecimento. Também é preciso deixar de sentir culpa. Você não é culpado e sim responsável pelo que acontece em sua vida. Ninguém tem a obrigação de ler seus pensamentos se você não se posiciona. Para ser assertivo é preciso, antes de mais nada, reconhecer que muitos sapos já foram engolidos. Beije cada sapo que aparecer no caminho e transforme-o em um príncipe. Para cada sim dito contra a vontade, diga um não. Para cada desaforo que levar para casa, exponha suas opiniões. Assim, de sapo em sapo, você estará aprendendo a ser assertivo. Não é fácil. Mas certamente é bem menos indigesto.
Composição: José Pedro Vasconcelos - compositor português
Interpretação: Fafá de Belém
Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim
Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo
Mas tu pões esse vestido
E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
Mas nem isso faz sentido
Só agrava o meu estado
Quanto mais brilha a tua luz
Mais eu fico apagado
Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo
Amanhã, eu sei, já passa
Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim
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Ouvi um trechinho desta música na entrevista de Fafá de Belém ao "Programa do Jô" em 14 de maio 2014 e encantei-me. Com a música, a letra e a interpretação suave da exuberante Fafá. Busquei no incrível Youtube e cá está...
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Segundo wikipédia, José Pedro Vasconcelos nasceu em Lisboa, 13 de Novembro de 1977 - é ator, apresentador de televisão, autor, designer, empresário português.
Apresentador do talk-show " 5 para Meia Noite" RTP1
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É aquela velha história: o artista realmente talentoso que se mostra por inteiro. Há o lado humorístico, até sarcástico e também o poético.
Gosto muito disso. É o que somos, contraditórios, vários em um só, embora na maioria das pessoas pareça prevalecer apenas uma das facetas, pela qual logo ela é rotulada. Fulano é assim...
Desconfio dos rótulos.
Enfim, há dias em que também gostaria de dizer "Não queiras saber de mim".
Tá lá o velho mineiro morrendo. De repente, ele chama o filho e diz: - Meu filho, tô sentindo um cheiro de pão de queijo... - Mas é pão de queijo mesmo, pai. - É sua mãe que tá fazendo, filho? - É, pai. - Ah, meu filho, ninguém faz um pão de queijo melhor no mundo. Que cheirinho bom, meu Deus! Que saudade me dá, meu Deus! Vai lá na cozinha, meu filho, vai. Vai lá e traz uns pães de queijim pra mim. - Tô indo, meu pai. Uns minutos depois, e o rapazinho volta sem pão de queijo. - Cadê, meu filho? - Mamãe não quis dar. - Por quê? - Ela disse que são pro velório.
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Fonte: Almanaque do Comércio 2008 - Conselheiro Lafaiete Sindcomércio
Mantenho um arquivo particular de imagens e não resisti em trazer essa aí.
Publicidade é tudo, né? Principalmente quando falta menos de um mês para o início da Copa do Mundo... aqui, no Brasil.
Só mesmo quem vive no Estado do Rio de Janeiro - capital ou interiorrr, não importa - é capaz de sentir tamanho orgulho...
Ah, a hipocrisia, a tremenda armadilha nos anúncios publicitários.
E o patrocínio? Hein?! Hein?!
Isso mereceria até um estudo para aplicação nas escolas, por exemplo, nas aulas de interpretação de texto. Seria muito bom, né?
"...Os indivíduos são diferentes uns dos outros. Basicamente, constituem um para o outro um enigma indecifrável. Nunca existe acordo total. Se cometeu algum erro, esse erro consistiu em ter-se esforçado demasiadamente por compreender totalmente o seu semelhante e por não ter contado com o fato de, no fundo, as pessoas não quererem saber que segredos estão adormecidos na sua alma. Quando nos esforçamos demasiado por penetrar noutra pessoa, descobrimos que a impelimos para uma posição defensiva e que ela cria resistências porque, nos nossos esforços para penetrar e compreender, ela sente-se forçada a examinar aquelas coisas em si mesma que não desejava examinar. Toda a gente tem o seu lado obscuro que - desde que tudo corra bem - é preferível não conhecer. Mas isto não é erro seu. É uma verdade humana universal que é indubitavelmente verdadeira, mesmo que haja imensas pessoas que lhe garantam desejar saber tudo delas próprias.
É muito provável que o outro tivesse muitos pensamentos e sentimentos que o tornassem desconfortável e que ele desejava ocultar de si mesmo. Isto é simplesmente humano.
É também por este motivo que tantas pessoas idosas se refugiam na própria solidão, onde não serão incomodadas. E é sempre sobre coisas de que elas não desejariam estar muito cientes.
O senhor não é, obviamente, responsável pela existência destes conteúdos psíquicos. Se, apesar disto, ainda for atormentado por sentimentos de culpa, reflita então sobre os pecados que não cometeu e que gostaria de ter cometido. Isto poderá eventualmente curá-lo dos seus sentimentos de culpa relativamente ao outro."
"Jair Rodrigues é uma dessas poucas grandes coisas de que Brasil deve se orgulhar. Ele foi talento espontâneo e alegria genuína combinados ao respeito pelo que veio a ser o seu trabalho. Não havia nenhuma atmosfera de prestação de serviço nessa disciplina. Era uma forma de expressão do seu natural companheirismo, nunca um cumprimento de dever empregatício. A gente faz música para não trabalhar, me disse Stefano Bollani. Jair era a encarnação dessa verdade. No entanto, ninguém mais assíduo, pontual, disposto a colaborar. Hoje é dia de São Nicolau, a cidade de Bari está em festa. Procissões marítimas, fogos de artifício, música. São Nicolau era preto. Do nome dele, que presenteava as crianças pobres na noite de Natal, veio a corruptela Santa Claus, que é o Papai Noel dos americanos que nós importamos junto com a Coca-Cola. Jair Rodrigues era um preto brasileiro cuja alegria toda a marra do hip-hop não abrangeria com sua crítica. Ela era por demais real, livre e superior. A felicidade que emanava de sua vida com Claudine, do desenvolvimento das personalidades e dos talentos de Jair Oliveira e Luciana Mello, as flexões que ele fazia no chão dos bastidores da TV Record, tudo se impõe como uma afirmação em plenitude de uma força vital humana. Sua parceria com Elis no Fino da Bossa é um dos momentos altos da história de nossa música. Ela dominava a matéria musical com todas as suas fibras tensas (mas o fazia de modo impactantemente rico e variegado), enquanto ele representava o relaxamento e a despreocupação. No entanto, assumindo a responsabilidade da 'Disparada', Jair, com sua incrível voz de tenor, emprestou à canção uma autoridade de outra natureza que não a dela mesma enquanto composição (que não era, de nenhum modo, pequena). Seu timbre, a cor de sua pele, o tom que ele deu ao abandono da brincadeira - a interpretação da música de Vandré e Theo de Barros revelou um homem brasileiro que reequilibrou nossa autoimagem. Para minha cabeça, Jair morrer é um contrasenso. É comum tecerem-se elogios à personalidade dos que deixam a vida, mas no caso de Jair Rodrigues, todos os lugares-comuns poderiam ser repetidos e ainda assim estariam sendo ditos pela primeira vez. E mesmo que os desfiássemos todos ainda estaríamos aquém da pletora de louvores que ele de fato merece". Caetano Veloso
Logo pela manhã, a notícia da morte de Jair Rodrigues, cantor, pai de família, artista de verdade e um ser humano digno, correto. Sou muito agradecida a ele por ter levado, com sua alegria, novas cores para a minha juventude.
Com isto, impossível não relembrar momentos extraordinários que vivi assistindo a muitos dos seus shows. Era uma época difícil no país e nós, os jovens nos sentíamos inquietos quanto ao nosso futuro.
Quando surgem Elis Regina e Jair Rodrigues cantando um pout-pourri de sambas lindos, parece que volta a nossa esperança em dias mais iluminados.
Com "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo Barros, ficamos comovidos e começamos a entender o mundo adulto.
Enfim, Jair foi sempre o intérprete de nossa passagem por sentimentos e sensações que norteariam a vida de tantos jovens.
"(...) Esta semana, surgiu uma notícia para lá de bizarra, que causou a indignação – e com razão – de muitos leitores brasileiros. A notícia é a seguinte: Uma escritora, com recursos do Ministério da Cultura, alterou e reescreveu a obra O Alienista, de Machado de Assis, com o intuito de facilitar e incentivar a leitura para os jovens que não leem as obras machadianas. O nome desta escritora é Patrícia Secco. 'Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis. Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso', disse Patrícia à Folha. Pois bem, vamos lá Patrícia! Eu também entendo o porquê da minha irmãzinha não gostar muito do quadro O Nascimento de Vênus, de Botticelli, mas nem por isso eu tenho o direito de colocar a boneca Barbie em cima da concha, no lugar da deusa Vênus, né? Seria uma grande afronta. (...)" (RENAN PEREIRA - página "Homo Literatus", 06 de maio 2014)
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Pois é...pois é. Certas coisas vão minando a esperança da gente em qualquer melhora da situação educacional e cultural neste país.
Fiquei tão espantada que meu comentário foi o mais idiota: 'Se a moda pega, 'tâmu lascado...'
Mas, pensando bem, é isso mesmo! Aí é que se perde a direção de vez.
Infelizmente, uma corrente de "mudernos especialistas" certamente defenderá a ideia esdrúxula de que é preciso facilitar o aprendizado, democratizar o acesso às grandes obras e na esteira desses argumentos (aliás, não são argumentos, mas me falta a palavra no momento, desculpem) vem o despreparo não apenas cultural - a palavra cultura é polissêmica, viu? - mas a impossibilidade de se construir um país que tenha voz no contexto mundial.
Depois de assistir à entrevista de um professor da USP, soube que nos Estados Unidos e na Inglaterra é utilizada a estratégia de simplificação da obra de Shakespeare para que os jovenzinhos possam entendê-lo. Compreensível, uma vez que o grande poeta e dramaturgo viveu há cinco séculos e a linguagem deve ter sofrido mudanças significativas.
Entretanto, sua atualidade permanece com a crítica sutil de uma sociedade que embora mude seus costumes é impotente quanto à essência da condição humana.
Machado publicou "O Alienista" no século XIX em linguagem perfeitamente entendível nos dias atuais.
Mas aqui, na terrinha simpática do carnaval e do futebol, é assim: tudo facilitado. Tudo sempre nivelado por baixo... muito baixo.
Então alguém que conclua o ciclo de estudos do Ensino Médio não possui recursos para ler e entender os grandes autores em sua forma original?
E o estilo, responsável pela originalidade e individualidade da escrita? E o talento? Nada disso vale mais?
O que é que vale? A historinha? O enredo? O tema?
Ôôô...me poupem, por favor!
Não se está aqui tratando de gosto literário, não é isto. Mas para dizer que se gosta ou não de um livro, de um determinado autor, é preciso um mínimo de conhecimento sobre a obra, o que - num círculo vicioso - só se adquire...lendo!
Nem todos gostarão de Machado de Assis, nem todos se tornarão leitores de Guimarães Rosa.
Também não há problema algum em não gostar de autores consagrados. O que é esquisito é não saber, não conhecer nada e dizer que não gosta.
Em qualquer área do conhecimento, os padrões são construídos a partir de leituras; a informação criteriosa é que fornece condições para se desenvolver os parâmetros do gosto pessoal.
Enfim... é outra história.
A arte na literatura não está no que se escreve, mas em COMO se escreve, assim como o peso ou leveza das palavras não está no falar, mas em COMO falar...
E, claro, no momento atual, esse COMO precisa ser da maneira mais explícita, mais aberta, assim como se abriram as comportas da ignorância e da preguiça mental.
Mais uma vez informo: esse blog é meu, a opinião é minha e quem quiser discordar sinta-se à vontade.
Como diz o autor da notícia: "Machado de Assis é fácil, difíceis são seus leitores."
Para bom entendedor...
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Mais uma notinha: "Machado NÃO está se revirando no túmulo coisa nenhuma. Conhece melhor que ninguém a alma humana, não é assim? Aliás, ele não "tá nem aí". Sua missão foi muitíssimo bem cumprida, o que talvez não se possa dizer de alguns dos intelectuais por aqui.