sábado, 17 de maio de 2014

Revista "Vida Simples"

Por que aceitamos engolir sapo?
Descubra porque toleramos ou ficamos calados diante de algo que nos desagrada. Afinal, por que aceitamos engolir sapo?

Elisa Correa
Revista 'Vida Simples' - Ed. 0107 - 26 de agosto 2011


Devemos defender nossas posições com unhas e dentes, sem temer as consequências, ou... engolir sapo? 
Quem vive engolindo sapos sofre muito: tem dificuldade para dizer não, fica calado ou concorda com o outro em situações polêmicas só para evitar conflitos, ignora os próprios desejos para não gerar mágoas. 
"A pessoa não expressa seu sentimento e opinião simplesmente por medo da reação negativa de seu interlocutor. Essa atitude tem a ver com a cultura, com crenças que estão no modelo mental guiando nosso comportamento para a passividade em situações em que nos sentimos ameaçados ou com riscos de perdas", explica Vera Martins, especialista em medicina comportamental, diretora da Assertiva Consultores, de São Paulo, e autora do livro "Seja Assertivo!" (editora Campus).

Depois vem aquela sensação de impotência e frustração por não conseguir expressar os sentimentos, por achar que tem sempre alguém determinando o que deve ser feito. 
E lá ficamos nós, nos sentindo incompreendidos e manipulados, remoendo uma mistura de raiva e culpa enquanto pensamos no que deveríamos ter dito no momento que já passou. 
Como consequência, nossa autoestima e confiança despencam no mesmo ritmo com que perdemos o respeito dos outros, que passam a não nos levar mais em conta.

Corpo e mente
Se engolir sapos pode ser considerado uma estratégia de proteção precisamos saber que sofreremos consequências deletérias por não defender nossas posições. 
"A raiva é uma das emoções que as pessoas têm mais dificuldade de manifestar. Muitos enterram a agressividade durante anos e têm pavor do que pode acontecer, caso resolvam desabafar. Acham que qualquer demonstração desse sentimento vai magoar os outros", afirmam Robert Alberti e Michael Emmons no livro "Como se Tornar mais Confiante e Assertivo" (editora Sextante).

Guardar a raiva para si mesmo pode até provocar algumas doenças, como alergias, asma brônquica, dermatites, síndrome do intestino irritável e fibromialgia. 
No entanto, ainda são poucas as pessoas que percebem essa associação. 
"Às vezes você sai de uma reunião com uma enorme dor de cabeça, termina um almoço com muita dor de estômago e não percebe que isso está associado ao fato de não ter se posicionado como gostaria. Quando chega em casa, pensa em tudo o que deveria ter falado e não teve coragem naquele momento. E se sente muito mal por isso", diz Denise Gimenez Ramos, psicóloga e professora titular do programa de pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.

Que tal dizer não?
O problema é que quem atura muita coisa calado acaba sendo agressivo em algum momento. Pessoas passivas no trabalho podem ser agressivas em casa, descarregando a raiva nos filhos, na mãe ou no companheiro porque se sentem mais seguras. 
Mesmo explodindo, acreditam que vão continuar sendo amadas. 
Quem recebe a agressão deve evitar reagir do mesmo jeito. "Senão vira uma guerra para ver quem humilha mais, quem pode mais. A atitude saudável é apontar para o outro a agressão e não devolver na mesma moeda", diz a psicóloga Denise Ramos.

O responsável é você
Então como deixar para trás o comportamento passivo? 
Para começar, é preciso autoconhecimento. Também é preciso deixar de sentir culpa. Você não é culpado e sim responsável pelo que acontece em sua vida. 
Ninguém tem a obrigação de ler seus pensamentos se você não se posiciona. 
Para ser assertivo é preciso, antes de mais nada, reconhecer que muitos sapos já foram engolidos. Beije cada sapo que aparecer no caminho e transforme-o em um príncipe. 
Para cada sim dito contra a vontade, diga um não. 
Para cada desaforo que levar para casa, exponha suas opiniões. 
Assim, de sapo em sapo, você estará aprendendo a ser assertivo. 
Não é fácil. Mas certamente é bem menos indigesto.

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