Comecei a reler "Macunaíma", de Mário de Andrade. Por pura intuição.
Esse negócio de clima e anti-clima de Copa do Mundo já encheu.
Penso que Macunaíma é mesmo o mais digno representante do povo brasileiro justamente por ser inverossímil, tosco metido a sofisticado, indolente, fanfarrão, metamorfoseando-se o tempo todo sempre em desacordo com lugar e hora e pavoneando-se por aí sem mais nem porquê.
Está sempre sorridente, alegre, feliz em seu habitat.
Claro, fica murcho em outras terras.
Ah, tá ruim de engolir, né? Pois é... também acho. Sei que faço parte desse tal povo mas do jeito que as coisas andam a distância está aumentando. Fico com os gatos pingados.
Tem gente por aí dizendo estar com medo do evento da Copa, e tralalá...trololó... Vai acontecer nada porque nada é o que vem acontecendo há muito tempo.
Guerra civil? (juro, tem gente falando isso...) Guerra civil é fruto de povo conscientizado e disposto a passar dificuldade e sofrimento dignamente, sem autopiedade ou esmorecimento em busca de um ideal. Definitivamente não tem a cara do brasileiro não.
Brasileiro é Macunaíma. Dá conversa a papagaio, e papagaio - todo mundo sabe - repete discurso de qualquer um.
Macunaíma só podia mesmo ser brasileiro.
"Ai, que preguiça"!
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Aquela famosa síntese de Antônio Cândido e José Aderaldo Castello presente no livro Presença da Literatura Brasileira-Modernismo, Bertrand Brasil, 1997, pág. 112
Aquela famosa síntese de Antônio Cândido e José Aderaldo Castello presente no livro Presença da Literatura Brasileira-Modernismo, Bertrand Brasil, 1997, pág. 112
Esta “rapsódia” (como era qualificada na primeira edição) conta as aventuras de Macunaíma, herói de uma tribo amazônica, que o autor misturou a outros, também indígenas, e que reinventou como personagem picaresca, sem cortar as suas ligações com o mundo lendário.
Depois da morte da mulher (Ci, a Mãe do Mato, que se transforma na estrela Beta do Centauro), Macunaíma perde um amuleto que ela lhe dera, a “muiraquitã”.
Sabendo que está nas mãos de um mascate peruano, Venceslau Pietro Pietra, morador em São Paulo, vem para esta cidade com os dois irmãos, Maanape e Jiguê.
A maior parte do livro se passa durante as tentativas de reaver a pedra do comerciante, que era afinal de contas o gigante Piaimã, comedor de gente.
Conseguido o propósito, Macunaíma volta pra o Amazonas, onde, após uma série de aventuras finais, se transforma na constelação Ursa Maior.
O livro é construído no encontro de lendas indígenas (sobretudo as amazônicas recolhidas e publicadas pelo etnólogo alemão Koch-Grünberg), e da vida brasileira quotidiana, de misturas com lendas e tradições populares.
O espaço e o tempo são arbitrários, o fantástico assume um ar de coisa corriqueira e o lirismo da mitologia se funde a cada passo com a piada, a brincadeira, a malandragem nacional, que Macunaíma encarna (é “o herói sem nenhum caráter”).
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