sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ó, IDOSA !


Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelos brancos ou uma barriga mais lisa.
Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítica de mim mesmo.  Eu me tornei minha própria amiga ..
Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” no meu pátio.
Eu tenho o direito de ser desarrumada, de ser extravagante.

Vi amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o  envelhecimento.
Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia?
Eu dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 &70, e se eu, ao mesmo tempo, desejo  chorar por um amor perdido ...  eu vou.

Vou andar na praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no jet set.
Eles também vão envelhecer.

Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.

Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado.
Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro?
Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão.
Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.

Eu sou tão abençoada por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude  gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto...
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.

Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo.
Você se preocupa menos com o que os outros pensam.
Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito de estar errada.
Assim, para responder a sua pergunta, eu gosto de ser idosa. A idade me libertou.
Eu gosto da pessoa que me tornei.  Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu
ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter
sido, ou me preocupar com o que será.
E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).

*            *            *
Texto recebido por e-mail., sem a devida autoria. 
Quem souber, por favor, informe para que possam ser dados os créditos.

Quando O Amor Acontece - João Bosco

AMARELO - sempre belo

Embora minha cor predileta seja a Verde, gosto de falar do Amarelo porque, dentre as rosas - flor encantadora nas mais diversas cores -, a que mais me fascina é a rosa amarela.



Falando em flor, os girassóis são também do meu agrado;  acredito que só existam girassóis amarelos. 

Vale lembrar  Vincent van Gogh e seus 'Doze girassóis numa jarra', considerada uma das melhores e mais famosas obras do pintor holandês.
Van Gogh viveu sempre recluso, avesso ao convívio social e o reconhecimento de sua genialidade só veio postumamente.
Esta tela dos girassóis foi terminada em agosto de 1888 e está exposta  em Munique, Alemanha, na Neue Pinakothek.
'Os girassóis'  de Vincent van Gogh


As tulipas - lindas! - de cores variadas, não se adaptam bem ao nosso clima tropical. Precisam de temperaturas baixas e cuidados especiais.
A nota interessante é que pensamos na Holanda quando falamos em tulipas. Engano.
Sua origem é a Turquia, tendo sido levadas para os Países Baixos em 1560. Seu nome é inspirado na palavra turco-otomana tulbend que significa turbante em referência à forma da flor invertida; mais tarde foi afrancesada para tulipe. 
Há também a hipótese de serem originárias da China e depois levadas para as montanhas do Cáucaso e para a Pérsia. Não importa. Turcas ou chinesas, a beleza dessas flores encanta o mundo.



Os Ipês, árvores enormes com flores delicadíssimas.
Maravilhoso Ipê Amarelo! nome popular para a espécie Tabebuia alba, nativa do Brasil.
O nome 'alba' provém de albus (branco em latim) e é devido ao tomento branco dos ramos e folhas novas.



Segundo a cromoterapia, o amarelo é uma cor que contribui para a felicidade.
É brilhante, alegre, simboliza o luxo - é como estar em festa a cada dia.

Associa-se com a parte intelectual da mente e a expressão de nossos pensamentos.
É,  portanto, o poder de discernir e discriminar, a memória e as idéias claras, o poder de decisão e capacidade de julgar.

Ajuda a nos organizarmos, a assimilar as idéias inovadoras, e contribui para a habilidade de ver e compreender os diferentes pontos de vista.

Na literatura, me vem logo o poema da doce Cecília Meireles:

A flor amarela

Olha 
a janela
da bela Arabela.

Que flor 
é aquela
que Arabela
molha?

É uma flor amarela.

Tem também Adélia Prado:
Louvação para uma cor

O amarelo faz decorrer de si os mamões e sua polpa,
o amarelo furável.
Ao meio-dia as abelhas, o doce ferrão e o mel.
Os ovos todos e seu núcleo, o óvulo.
Este dentro, o minúsculo.
Da negritude das vísceras cegas,
amarelo e quente, o minúsculo ponto,
o grão luminoso.
Distende e amacia em bátegas
a pura luz de seu nome,
a cor tropicardiosa.
Acende o cio,
é uma flauta encantada,
um oboé em Bach.
O amarelo engendra.


Lembro-me ainda de Julio Cortázar (1914-1984), em 'O jogo da Amarelinha', romance de 1963:

"Você sempre foi um espelho terrível, uma espantosa máquina de reprodução, e aquilo a que chamávamos o nosso amor era talvez eu estar de pé diante de você, com uma flor amarela na mão e você com duas velas verdes, enquanto o tempo soprava contra os nossos rostos uma lenta chuva de renúncias e de despedidas e passagens de metrô".

Do mesmo Cortázar, o conto "Uma flor amarela" que precisei procurar na minha bagunça organizada:
(...) " - Estava à beira de um canteiro, uma flor amarela qualquer.  Parara para acender um cigarro e me distraí olhando-a. Foi um pouco como se também a flor me olhasse, esses contatos às vezes... Você sabe, qualquer um sente, isso que chamam beleza. Justamente isso, a flor era bela, era uma lindíssima flor. E eu estava condenado, um dia eu ia morrer para sempre.  A flor era formosa, sempre haveria flores para os homens futuros." (....) 

Na música, a "Fita Amarela" de Noel Rosa, para o carnaval de 1933, cantada até hoje:
"Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
quero uma fita amarela
gravada com o nome dela..."

E ainda o célebre  "biquíni de bolinha amarelinho, tão pequenininho...", na recatada (?) década de 60. De lá pra cá... os biquínis foram ficando cada vez mais pequenininhos

O amarelo simboliza o sol, o verão, a prosperidade e a felicidade.
Amarelo-ouro (dourado) representa a riqueza, o dinheiro e o ouro. Está associada à nobreza, à inteligência e ao luxo.

 É a cor do sol, trazendo luz para as situações difíceis, ativando o intelecto, a comunicação, a harmonia do todo.  Gera a impressão de calor e por isso é recomendada para climas frios.
A parte mais quente do fogo é o segmento amarelado da chama. Transmite otimismo e está associada ao verão e ao calor.

A pintura amarela em paredes traz mais calor e iluminação aos ambientes frios e escuros.
Pode ser utilizada em áreas de acesso para salões sociais.
Proporciona concentração e atenção, por isso, é recomendável também para escritórios e salas de estudo.
Em excesso, pode provocar distração e ansiedade.

Nos semáforos, a cor amarela recomenda alerta e atenção.

Diz a voz comum que essa cor atrai pessoas alegres, rejuvenesce e traz charme; constrói confiança, dá poder de persuasão, energia e inteligência. Traz luz para a solução de problemas.
O amarelo, segundo informações da cromoterapia simboliza criatividade, idéias, conhecimento, alegria, juventude.

Como pode ser?
Amarelo é uma palavra que se origina do baixo-Latim hispânico amarellus, diminutivo do Latim amarus, “amargo”.
O amarelo-dourado é a cor da bile antes de se oxidar e esverdear, sendo seu gosto extremamente amargo.

Ah! Mas tem também aquela expressão muito nossa: o 'sorriso amarelo' significando um sorriso forçado pelas circunstâncias e nada espontâneo.
Em situações de enfrentamento pode acontecer de a pessoa 'amarelar', ou seja, correr, fugir,

Assim é que é: a vida nos mostra, em tudo e a todo instante, que bem/mal, bom/ruim, bonito/feio são apenas as facetas de uma mesma coisa, não a coisa em si.

*            *            *

Sobre o verde - 'Série' das cores

Este é o texto que está no blog Ouriço Elegante, sob o marcador 'Baú do ouriço - Língua de Trapo' e que originou os outros sobre as cores, pelo incentivo da amiga de Belém do Pará, a Telma. 
Escrito em 23 de julho de 2011.


Sobre o Verde
Há livros que leio, releio, torno a ler, e nunca deixo de encontrar, a cada nova leitura um novo aprendizado, uma nova questão. Em "Antes do Baile Verde", de Lygia Fagundes Telles, encontro no prefácio uma pergunta instigante:
..."E o verde não seria a imagem inconsciente da mocidade?"
É...nos vários contos do livro há muitas referências ao verde - a cor de que mais gosto.
Curiosa, como sempre, sigo em busca de respostas - interna e externamente.
Isso significaria que estou "inconscientemente" ligada à fase da juventude.
Vamos corrigir : inconscientemente nada! Sou muito consciente de que tenho saudades de mim, sim. Gosto muito da jovem que eu fui.
Enfim, as cores existem desde que a luz se fez.

Para Jung, um dos mestres da Psicanálise, as cores exprimem as quatros funções mentais básicas: o pensamento, o sentimento, a percepção e a intuição.

Nosso poeta Olavo Bilac considerava o verde “um símbolo incontestável da esperança, da espiritualidade, uma cor repousante, que mesmo em grande extensão não causa fadiga”.

Machado de Assis relacionava as cores e o tempo, na variação de múltiplas interpretações. É dele a expressão: “O tempo é um tecido invisível sobre o qual se borda tudo: uma flor, uma dama, uma figura colorida”.

A própria graduação em Psicanálise tem como símbolo a pedra verde no anel que traz a Serpente de Esculápio  - o deus da Arte de curar, na Grécia Antiga.

Segundo a Cromoterapia, o verde tem propriedades calmantes, expressa a natureza e sensações agradáveis. A Medicina, porém,  não valida esse tipo de conhecimento.

Ah, lembrei-me agora de um trecho lindo do livro "O resto é silêncio", de Erico Veríssimo, que também fala sobre a cor verde.  Vou procurar e postar aqui no blog.

Meu interesse tem razões pessoais neste tempo de aprofundamento da máxima de Sócrates, o "conhece-te a ti mesmo";  na minha opinião, a estrada mais difícil do conhecimento.
Verdade.
Por exemplo: esta palavra: verdade - podemos notar o radical com as mesmas letras de "verde".
Verdade.
Conhecer a si mesmo levaria à Verdade? Estaremos prontos para a verdade sobre nós mesmos?
Frequentemente somos gratos às mentiras que nos transformam em seres quase perfeitos, elogiados, incensados na fumaça da vaidade.
Verdade...vaidade...
Às vezes não sei se as palavras são para o gênero humano o seu ponto forte ou o ponto fraco, tanto me debruço sobre elas buscando a possibilidade de exatidão. Isso também não importa porque , exatas ou não, é o que temos para tentar nos entender.

Sueli Madeira
Itatiaia, 23 de julho 2011
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O texto de Érico:

O resto é silêncio (fragmento)
Érico Veríssimo

Há um tom de verde, que encontramos às vezes nos céus de certos quadros – um verde aguado, duma pureza de cristal, transparente e frio como um lago nórdico -, um verde tão remoto, sereno, perfeito, que parece nada ter de comum com as coisas terrenas. Paramos, contemplamos a tela, atribuímos a cor impossível à fantasia do artista e passamos adiante.

Entretanto havia na realidade um verde exatamente assim no horizonte daquele anoitecer de Sexta feira da Paixão. O dia fora morno e sem vento. O outono andava a dar novas tintas à cidade. As folhas das trepadeiras que cobriam as paredes de algumas vivendas do Moinhos de Vento faziam-se dum vermelho de ferrugem. Os plátanos do Parque começavam a perder as primeiras folhas. A luz do sol tinha a cor e a doçura do mel. Os horizontes fugiam.


Por toda a parte as paineiras estavam rebentando em flores. Os contornos das coisas amaciavam-se à claridade de abril. Andava no ar uma calma adormentadora. A paisagem como que ia adquirindo aos poucos uma certa maturidade, e as criaturas humanas pareciam finalmente em paz com o céu e a terra. Havia entre elas e a natureza um acordo espontâneo, uma repousada harmonia, uma aceitação mútua e sem reservas. 


(ÉRICO VERÍSSIMO - Fragmento de "O resto é silêncio")


*            *            *

AZUL - da cor do céu ou da cor do mar?


Para falar da cor Azul, numa continuação da ideia do Verde e do Vermelho, impossível não lembrar  Marlene Dietrich no filme antigo "O Anjo Azul", ou a belíssima adolescente Brooke Shields em "A Lagoa Azul".
Ah, uma referência bem recente na minha memória - post de uma amiga no facebook - é a música "Blue Velvet", de Bobby Vinton.

Na memória do coração ficou para sempre a gravação de "Blue Moon"  com The Platters - antiguinha mas sempre lembrada com carinho. A "Lua triste", mas que também pode ser a "Lua Azul" - a imaginação é espaço infinito.

Na MPB, 'Trem Azul', de Lô Borges, uma canção delicada, que nos transporta a um tempo de inocência e felicidade, lindamente interpretada pela banda Roupa Nova.

Ia me esquecendo de 'Danúbio Azul', de Johann Strauss, a clássica valsa que todos conhecem.

A alegria de Yuri Gagarin, em sua viagem ao espaço, podendo ver de lá o nosso planeta: "A Terra é azul!"

E 'Noite Estrelada', pintura extraordinária  de Vincent van Gogh?!
Vincent van Gogh. The Starry Night. Saint Rémy, June 1889
Tela de Vincent Van Gogh
'Starry Night' - Saint Remy, 1889


Tem também a 'fase azul' de Picasso, quando pintou a solidão, o abandono e a morte. Pode parecer-nos uma cor  contraditória...
Tela de Pablo Picasso
'Mother and child' - 1902
De acordo com a cromoterapia. é uma cor fresca, tranquilizante, que nos ajuda a controlar a mente, a ter clareza de ideias, a sermos criativos.
É também a representação da noite. O azul-marinho nos faz sentir descontraídos e calmos, como o imenso e escuro mar durante a noite.
O escuro azul da meia-noite age como um forte sedativo sobre a mente, permitindo-nos conectar com nossa parte feminina e intuitiva.

Para nos sentirmos calmos e protegidos de todo o alvoroço das atividades do dia, temos o azul celeste, o azul claro, ótimos contra a insônia.

Nos momentos difíceis, nas horas sombrias, sempre podemos nos aninhar no Manto Azul de Nossa Senhora em busca de proteção e conforto.

Significa ainda tranquilidade, serenidade e harmonia. Simboliza a água, o céu, o infinito, o sonho e o pensamento.
É a cor da realeza e da aristocracia. Quem já não ouviu falar em 'sangue azul'? Modernamente uma bobagem, sabemos disso, mas a expressão permanece, hoje com um toque de ironia que são bastante irônicos estes nossos tempos...
Entretanto, utilizada em demasia, vem  associada à frieza, monotonia e depressão.

Dentre os diferentes efeitos na saúde destaca-se a diminuição da circulação sanguínea, a redução da temperatura corporal e a baixa da pressão arterial.

A cor azul é utilizada na decoração dos mais variados espaços.
Um ambiente azul favorece o exercício intelectual e tranquiliza. É a cor ideal para ambientes formais, escritórios ou mesmo para o quarto de crianças ou adolescentes agitados, devido ao seu efeito calmante.
Em excesso, porém, pode trazer sonolência, por isso  é aconselhável que seja combinada com outras cores para evitar a monotonia.

O termo azul vem do persa lazward, “azul, lápis-lazuli” o que é uma clara referência à cor da pedra lápis-lazuli.

É a cor do espírito e do pensamento, envolvendo comportamentos como lealdade, fidelidade e sutileza.
Diversos organismos se caracterizam pela tonalidade azul, por exemplo: a ararinha-azul, a gralha-azul ou a garrafa-azul.

Apesar de transparente, a água é representada de azul.
No reino das plantas há muitos exemplos da cor azul. O Blueberry é uma fruta desta cor.
Internacionalmente a  bandeira azul simboliza a qualidade apropriada de uma praia.

Um estudo realizado pelo grupo de pesquisadores científicos The Mind Lab para engenheiros químicos da Universidade de Boots, no Reino Unido, tendo à frente o Dr. David Lewis, um fundador do The Mind Lab, diz que o azul e o verde fizeram que os homens se sentissem mais felizes; enquanto o azul, lilás e laranja fizeram o mesmo com as mulheres.

Resta-nos lembrar a saudosa expressão utilizada quando a vida corre tranquila, quando tudo flui com felicidade e harmonia... Hoje, ao nos perguntarem como estamos, um breve e seco "Tudo bem".  Mas houve um tempo em que as pessoas respondiam com um sorriso: "Tudo azul!"

Sueli Madeira
Itatiaia, maio 2013


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Voltei ao blog, depois de um tempinho, porque me lembrei de um poema que ouvia de um professor muito querido, quando cursava ainda o ginásio (!).
O autor é René Armand François Prudhomme, mais conhecido como Sully Prudhomme (Paris, 16 de março de 1839 — Châtenay-Malabry, 6 de setembro de 1907). Eu me lembrava do início: 'o vaso azul destas verbenas...'  As verbenas são flores singelas mas muito bonitas.

O vaso partido
Prudhomme
Tradução de Guilherme de Almeida

O vaso azul destas verbenas, 
Partiu-o um leque que o tocou: 
Golpe subtil, roçou-o apenas, 
Pois nem um ruído o revelou. 
  
Mas a ferida persistente, 
Mordendo-o sempre e sem sinal, 
Fez, firme e impercetìvelmente, 
A volta toda do cristal. 
  
A água fugiu calada e fria, 
A seiva toda se esgotou; 
Ninguem de nada  desconfia. 
Não toquem, não, que se quebrou. 
  
Assim, a mão de alguém , roçando 
Num coração, enche-o de dor; 
E ele se vai, calmo, quebrando, 
E morre a flor do seu amor; 
  
Embora intacto ao olhar do mundo, 
Sente, na sua solidão, 
Crescer seu mal fino e profundo. 
Já se quebrou; não toquem não.

              

*            *            *

quinta-feira, 30 de maio de 2013

VERMELHO - Um pedido...

Tela de Ana Art
Vermelho

Quem já se sentiu 'vermelho de vergonha'... ou 'de raiva' ?

A palavra vermelho tem sua origem no latim vermillus, que significa "pequeno verme", remetendo-se à cochonilha, inseto do qual é extraído o corante carmim utilizado em tintas, cosméticos e como aditivo alimentar.  (Obrigada, wikipédia)

O vermelho é associado com a cor do sangue, algumas flores (especialmente rosas) e frutas maduras (como maçãs, morangos e cerejas).
O fogo também está altamente ligado à cor, assim como o sol e o céu ao por-do-sol.

Temos aqui uma cor que é 'fogo'!

Paixão, energia e excitação talvez definam o vermelho. É uma cor quente.
Está associada ao poder, à guerra, ao perigo e à violência.
Cor do elemento fogo, do sangue e do coração humano.
Chama que mantém vivo o desejo, a excitação sexual e representa os sentimentos mais intensos.

Gosto de conhecer, estudar e falar sobre o que leio e o texto literário está sempre em primeiro lugar.
"Vermelho Amargo" é o livro mais recente do escritor Bartolomeu Campos de Queirós (Ed. Cosac Naify, 2011) e o primeiro direcionado aos adultos. Ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura 2012. Fala de perdas, de partidas, de vazio, do “obscuro filtrado pelas frestas das janelas” .

A imagem recorrente da narrativa é o tomate, fruto vermelho, saboroso,  que fascinava o menino narrador.
..."minha primeira leitura se deu a partir de um recado rabiscado pela faca no ar cortando em fatias o vermelho."

No texto, o menino observava a mãe lavando os tomates, cortando-os em cruz e dispondo-os em uma travessa num trabalho cheio de carinho para a família. Na visão do menino, esses tomates “transfiguravam em pequenas embarcações ancoradas na baía da travessa. E barqueiros eram as sementes, vestidas em resina de limo e brilho”. (p.15)
"Pousado sobre a língua, o pequeno barco suscitava um gosto de palavra por dizer-se. Há, sim, outras palavras mais doces que o açúcar.”

Quando a mãe partiu, a casa se tornou um lugar provisório, uma estação de trem com “indecifrável plataforma”.
Mais tarde, quando a mãe é substituída pela esposa do pai, completamente diferente daquela,  a angústia do menino é ressaltada na mesma metáfora e o tomate passou a ter novos significados – era “a raiva vestida de vermelho empunhando uma faca”. (p.17)
“As fatias delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar”. (p.10)

Depois da leitura do livro, pode-se dizer que o vermelho é amargo quando o mundo afetivo é brutalmente fatiado. O vermelho tem sabor de fel quando não existe amor.

"A esposa do meu pai prezava o tomate sem degustar o seu sabor. Impossível conter em fatia frágil — além da cor, semente, pele — também o aroma. Quando invertida, a palavra aroma é amora. Aroma é uma amora se espiando no espelho. Vejo a palavra enquanto ela se nega a me ver. A mesma palavra que me desvela, me esconde. Toda palavra é espelho onde o refletido me interroga. O tomate — rubro espelho — espelhava uma sentença suspeita."

Segundo o próprio autor:
Vermelho Amargo é um retorno à minha infância. É a história de um tomate. É obscuro, não é uma leitura fácil. 
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Voltemos à pesquisa sobre o vermelho:

No contexto religioso, o vermelho é a cor da carne, do pecado, do diabo, da tentação; provoca a paixão carnal e o desejo.

Também está associada ao espírito revolucionário. É a cor da contestação, da oposição, é uma cor emocionalmente carregada.
Estimula o sistema nervoso, a circulação sanguínea, dá energia ao corpo e eleva a autoestima, contribuindo assim  para a confiança em si mesmo, a coragem e uma atitude otimista ante a vida.

Como é a cor mais larga do espectro de cores visíveis, é muito marcante e isso se traduz em suas conotações que são sempre extremas: extrema coragem, extremo amor, perigo e inferno.
O vermelho simboliza o poder, é a cor que se associa com a vitalidade e a ambição.

Supostamente a primeira cor a ser percebida pelo homem, é também a primeira a ser vista por pessoas que sofreram danos cerebrais e tiveram cegueira temporária.

Com o passar do tempo, esta cor ganhou tons e variações, conotações e simbolismos, que vão do amor à ira. É vida.

De acordo com uma antiga lenda grega, as rosas vermelhas - símbolos de amor e fidelidade - vêm do sangue de Adônis, morto por um javali durante uma caçada. 

No Egito antigo era a cor representativa do deus Seth e da maldade.

Entre os minerais que exibem o vermelho, o mais conhecido é uma pedra preciosa: o rubi. 
Este é encontrado apenas na coloração avermelhada pura ou com manchas em outras cores. 
Sendo uma das pedras mais duras da natureza, se forma do corundum, um composto de alumínio e oxigênio e tem seu vermelho obtido graças à impureza dada pelo crômio.

No universo, Marte é chamado de "planeta vermelho" por sua superfície impregnada de óxido de ferro.

A superfície de Júpiter possui uma Grande Mancha Vermelha, uma área em forma de bola de futebol americano localizada ao sul do centro do planeta. Os astrônomos acreditam tratar-se de algum tipo de tempestade.

O vermelho costuma ser associado a poder, riqueza...e também a perdição: Ferrari, Coca Cola, o Diabo... Atrativo e sensual. Uma mulher vestida de vermelho se sente extremamente sensual e 'poderosa'.
Para a alquimia, é o homem universal e o sangue da imortalidade. 
O chamado vermelho sagrado é a cor da alma, do coração, do esoterismo e da ciência. 
O vermelho é duo e ambíguo; é visto como puro e impuro.  Ativo, belo, generoso e juvenil, símbolo da vitalidade. 

De acordo com a psicologia das cores e a cromoterapia, o vermelho significa motivação, atrai coisas novas e incentiva o recomeço. 
É ainda o espírito do pioneirismo e a persistência, bem como a prosperidade e a gratidão.
Todavia, é também a indecência, a grosseria, a crueldade, a revolta e a brutalidade. 

No espírito, o vermelho abate a tristeza, a depressão e a letargia, enquanto que para o corpo, é tônico. Na área de Saúde, o vermelho é usado em tratamento contra hipertensão, anemia e inflamações.
No Cristianismo, é a cor que nomeia o Mar Vermelho, peça destacada no episódio do Êxodo de Israel conduzido por Moisés; para a Igreja Católica, simboliza as línguas de fogo em Pentecostes e o sangue derramado por Cristo e pelos mártires.
Entre os santos, é a cor do manto de São Jorge; nas vestimentas dos dignitários da Igreja Católica é a cor distintiva dos cardeais.
Para a Umbanda, o vermelho é a cor de um dos axés, juntando-se ao laranja e ao amarelo, cujos elementos simbólicos são o sangue, o mel e o bronze; no Candomblé, o vermelho é Exu, fértil e revolucionário; para a Mitologia Iorubanda em geral, o vermelho é oposto ao branco que representaria o lado justo, portanto...
Para o Judaísmo, é a cor do ateísmo que representa Esaú e sua linhagem - na tentativa de eliminar o Messias.
Em contrapartida, é também a cor consagrada a Jeová como Deus.
No Budismo, o Buda de cor vermelha é chamado Amitaba da Medicina, o que tem meditações próprias. Sua cor simboliza a purificação do karma dos desejos, cujo mantra desenvolve amor infinito para e por todos os seres. 
No Satanismo, o vermelho destaca-se apenas por ter sido a cor do manto que vestiu a primeira criança batizada nesta religião - Zeena.
Para as religiões pagãs como a Wicca, o vermelho possui múltiplas denotações: saúde, energia, potência sexual, paixão, amor, fertilidade, força, coragem, vontade de poder, aumento do magnetismo em um ritual, força para superar a preguiça e o medo, vingança, força de vontade e vitória.
Na Mitologia Grega é a cor símbolo de Afrodite (do amor e da beleza), além de representar também os deuses Dionísio (dos ciclos vitais), Hefesto (da tecnologia) e Ares (da guerra).

Reconhecidamente uma cor de alerta na natureza, representando perigo para muitos animais, o vermelho também é empregado como cor em veículos de emergência - corpo de bombeiros -  envolvendo a tentativa de salvamento e proteção da vida. 
Em situações de urgência, perigo e que requerem ações rápidas, o vermelho é a cor ideal para esses contextos, já que esses seus significados são naturais e muito antigos. 
Existe até uma historinha esquisita - lenda? - falando sobre deixar-se  uma pessoa vestida de vermelho em frente à casa de um devedor para alertá-lo e apressá-lo de seu compromisso.
Caramba, hoje as ruas estariam bem avermelhadinhas, né não?

Temos também o Papai Noel - símbolo do Natal no ocidente, com seu pijama vermelho. E os contos de fadas presentes na memória afetiva de todos nós: "Chapeuzinho Vermelho",  "Branca de Neve" e suas faces rosadas (vermelho suave).

É muito difícil traduzir as expressões culturais de uma língua para outra e nem sempre a cor vermelha significa o mesmo em línguas diversas, mas em alguns casos encontramos correspondência, por exemplo: o sinal de trânsito 'pare'; o 'cartão vermelho' significando expulsão ou afastamento; o 'estender o tapete vermelho' ao se receber alguém com honrarias e exageros; o 'telefone vermelho' como ligação direta entre autoridades e o 'deficit' caracterizado por 'estar no vermelho'. 

Ah, também as notas baixas na escola - de antigamente, que pena - eram anotadas em vermelho e a meninada ficava 'vermelha de vergonha' ou 'vermelha de raiva', quem lembra? 

De todo modo, é a cor dos sentimentos revelados, das sensações - as mais exaltadas - fazendo parte dessa confusão e contradição que é o ser humano.
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Sueli Madeira
Itatiaia, maio 2013
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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sabor Açaí - Aprendizado...

Texto recebido da Telma (Belém do Pará)


Sabor Açaí
Nilson Chaves e João Gomes

E pra que tu foi plantado
E pra que tu foi plantada
Pra invadir a nossa mesa
E abastar a nossa casa
Teu destino foi traçado
Pelas mãos da mãe do mato
Mãos prendadas de uma deusa
Mãos de toque abençoado
És a planta que alimenta
A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras
Onde Oxossi faz seu posto
A mais magra das palmeiras
Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto
Tu te entrega até o caroço
E a tua fruta vai rolando
Para os nossos alguidares
E se entrega ao sacrifício
Fruta santa fruta mártir
Tens o dom de seres muito
Onde muitos não têm nada
Uns te chamam de açaizeiro
Outros te chamam jussara
Pões tapioca põe farinha d'água
Põe açúcar não põe nada 
ou me bebe como um suco
que eu sou muito mais que um fruto
Sou sabor marajoara
Sou sabor marajoara
Sou sabor...