sexta-feira, 31 de maio de 2013

Sobre o verde - 'Série' das cores

Este é o texto que está no blog Ouriço Elegante, sob o marcador 'Baú do ouriço - Língua de Trapo' e que originou os outros sobre as cores, pelo incentivo da amiga de Belém do Pará, a Telma. 
Escrito em 23 de julho de 2011.


Sobre o Verde
Há livros que leio, releio, torno a ler, e nunca deixo de encontrar, a cada nova leitura um novo aprendizado, uma nova questão. Em "Antes do Baile Verde", de Lygia Fagundes Telles, encontro no prefácio uma pergunta instigante:
..."E o verde não seria a imagem inconsciente da mocidade?"
É...nos vários contos do livro há muitas referências ao verde - a cor de que mais gosto.
Curiosa, como sempre, sigo em busca de respostas - interna e externamente.
Isso significaria que estou "inconscientemente" ligada à fase da juventude.
Vamos corrigir : inconscientemente nada! Sou muito consciente de que tenho saudades de mim, sim. Gosto muito da jovem que eu fui.
Enfim, as cores existem desde que a luz se fez.

Para Jung, um dos mestres da Psicanálise, as cores exprimem as quatros funções mentais básicas: o pensamento, o sentimento, a percepção e a intuição.

Nosso poeta Olavo Bilac considerava o verde “um símbolo incontestável da esperança, da espiritualidade, uma cor repousante, que mesmo em grande extensão não causa fadiga”.

Machado de Assis relacionava as cores e o tempo, na variação de múltiplas interpretações. É dele a expressão: “O tempo é um tecido invisível sobre o qual se borda tudo: uma flor, uma dama, uma figura colorida”.

A própria graduação em Psicanálise tem como símbolo a pedra verde no anel que traz a Serpente de Esculápio  - o deus da Arte de curar, na Grécia Antiga.

Segundo a Cromoterapia, o verde tem propriedades calmantes, expressa a natureza e sensações agradáveis. A Medicina, porém,  não valida esse tipo de conhecimento.

Ah, lembrei-me agora de um trecho lindo do livro "O resto é silêncio", de Erico Veríssimo, que também fala sobre a cor verde.  Vou procurar e postar aqui no blog.

Meu interesse tem razões pessoais neste tempo de aprofundamento da máxima de Sócrates, o "conhece-te a ti mesmo";  na minha opinião, a estrada mais difícil do conhecimento.
Verdade.
Por exemplo: esta palavra: verdade - podemos notar o radical com as mesmas letras de "verde".
Verdade.
Conhecer a si mesmo levaria à Verdade? Estaremos prontos para a verdade sobre nós mesmos?
Frequentemente somos gratos às mentiras que nos transformam em seres quase perfeitos, elogiados, incensados na fumaça da vaidade.
Verdade...vaidade...
Às vezes não sei se as palavras são para o gênero humano o seu ponto forte ou o ponto fraco, tanto me debruço sobre elas buscando a possibilidade de exatidão. Isso também não importa porque , exatas ou não, é o que temos para tentar nos entender.

Sueli Madeira
Itatiaia, 23 de julho 2011
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O texto de Érico:

O resto é silêncio (fragmento)
Érico Veríssimo

Há um tom de verde, que encontramos às vezes nos céus de certos quadros – um verde aguado, duma pureza de cristal, transparente e frio como um lago nórdico -, um verde tão remoto, sereno, perfeito, que parece nada ter de comum com as coisas terrenas. Paramos, contemplamos a tela, atribuímos a cor impossível à fantasia do artista e passamos adiante.

Entretanto havia na realidade um verde exatamente assim no horizonte daquele anoitecer de Sexta feira da Paixão. O dia fora morno e sem vento. O outono andava a dar novas tintas à cidade. As folhas das trepadeiras que cobriam as paredes de algumas vivendas do Moinhos de Vento faziam-se dum vermelho de ferrugem. Os plátanos do Parque começavam a perder as primeiras folhas. A luz do sol tinha a cor e a doçura do mel. Os horizontes fugiam.


Por toda a parte as paineiras estavam rebentando em flores. Os contornos das coisas amaciavam-se à claridade de abril. Andava no ar uma calma adormentadora. A paisagem como que ia adquirindo aos poucos uma certa maturidade, e as criaturas humanas pareciam finalmente em paz com o céu e a terra. Havia entre elas e a natureza um acordo espontâneo, uma repousada harmonia, uma aceitação mútua e sem reservas. 


(ÉRICO VERÍSSIMO - Fragmento de "O resto é silêncio")


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