Hoje, domingo, assisti a esse documentário – “As Canções” - no Canal Brasil.
Depoimentos de pessoas maduras sobre a canção que teria marcado suas vidas. O entrevistado chegava, sentava-se em uma cadeira em frente ao entrevistador e – suponho que respondendo a perguntas anteriormente feitas – desfiava sua história pontuada pela canção cuja letra resumia aquela vivência.
Gente de variados níveis (cultural, social, econômico), todos contando e cantando com simplicidade e emoção passagens interessantes vividas por eles.
Uma bonita senhora diz que a música de sua vida é “Retrato em branco e preto”, melodia dificílima (Tom Jobim, nada menos) e letra de Chico Buarque, que ela, no entanto, cantou e muito bem a música inteirinha. Sua história é surpreendente e também difícil de ser exposta, o que a moça fez com toda dignidade e simpatia.
Fiquei então pensando na canção com maior significado para mim e, talvez inconscientemente influenciada pela entrevista dessa senhora, lembrei-me de “Todo sentimento”, de Cristóvão Bastos e Chico Buarque. Letra e música me emocionam muito. Para quem não lembra:
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
e urgentemente
Pretendo descobrir
no último momento
um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
e bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
até o amor cair
doente
doente
Prefiro então partir
a tempo de poder
a gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
te encontro, com certeza,
talvez no tempo da delicadeza
onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu
Apenas se vai em frente, encantado ou não, ao lado de alguém ou não.
Gosto muito da música...e da letra.
***
Eduardo Coutinho presta homenagem à canção brasileira em novo documentário
André Bernardo - 09. 12. 2011 in "Saraiva - conteúdo"
“Qual é a música que marcou a sua vida?”. Foi essa a pergunta que Eduardo Coutinho fez a cada um dos 18 integrantes de seu mais recente trabalho, As Canções.
Durante dois meses, a equipe de produção do cineasta percorreu as ruas do Rio atrás de personagens.
Ao todo, 237 pessoas participaram do processo de seleção. Elas tinham que cantarolar um trecho da música e, em seguida, explicar por que ela marcou tanto a sua vida.
Algumas não foram selecionadas porque esqueceram a letra. Outras porque cantaram mal mesmo. “Tudo nesta vida você precisa saber fazer bem. Até desafinar. Tem um montão de gente por aí que desafina bem e grava um disco atrás do outro”, dispara Coutinho, com a sua já famosa rabugice.
(...)
- Em As Canções, anônimos dão depoimentos sobre músicas que marcaram suas vidas. Como surgiu essa ideia?
Coutinho: A princípio, a ideia era fazer um filme só sobre músicas do Roberto Carlos. Mas, aí, já viu, né? Ia dar um trabalho danado negociar os direitos das músicas.
Daí, resolvi fazer um filme sobre anônimos cantando músicas que marcaram suas vidas. Foi o filme mais rápido e barato que já fiz.
Só para você ter uma ideia, gravei 42 depoimentos em seis dias. A câmera não tem zoom. A luz é sempre a mesma. O cenário é um só o filme inteiro. Levei só dois meses para selecionar os participantes.
A história do Brasil que me interessa é essa. É a história da canção brasileira. Não estou falando de Pixinguinha ou de Hermeto Pascoal. Estou falando de canção.
A canção é o maior patrimônio brasileiro. No filme, apareceu gente cantando tudo que é tipo de música: de Noel Rosa a Jorge Benjor, de Silvinho a Roberto Carlos, de Orlando Silva a Nelson Gonçalves. Curiosamente, não tivemos uma música estrangeira sequer. Isso me intrigou bastante.
- Como você chegou aos 18 personagens de As Canções?
Coutinho: Não fui eu que cheguei neles. Foram eles que chegaram a mim. Não faço nada pessoalmente. Por técnica e por preguiça também.
Contratei uma pesquisadora, que saiu pelas ruas do Rio em busca de personagens. Colocamos anúncio nos jornais, na internet, enfim, a gente queria saber a música que marcou a vida das pessoas.
Nessa, apareceu um monte de mulher. É claro, você não esperava que fosse aparecer um advogado do Banco do Brasil, não é mesmo?
Mesmo assim, havia limites para participar do filme. Não podia esquecer a letra. Nem desafinar. E a história também precisava ser boa. Umas não entraram porque a história por trás da música era fraca.
(...)
- Qual foi a parte mais difícil? Negociar os direitos autorais das músicas?
Coutinho: É. Hoje em dia, você não pode mais filmar um torcedor do Flamengo no Maracanã que o sujeito pode processar você. Isso é o fim! É a morte do documentário!
O direito de imagem virou uma mercadoria. Você acha que eu paguei Frank Sinatra para incluir uma música dele em Edifício Master? Eu, não!
(...)
O filme presta uma homenagem à canção brasileira através do Noel Rosa, Chico Buarque, Roberto Carlos.
Paguei o mesmo valor para todo mundo e ponto final. Espero que ninguém crie confusão.
- Qual é a música que marcou a sua vida?
Coutinho: Ah, eu não tenho esse troço de música favorita, não. Até tem uma ou outra de que eu gosto. “Força Estranha”, do Caetano Veloso, por exemplo. Adoraria que alguém tivesse escolhido “Força Estranha”, mas ninguém escolheu.
(...)
- Qual teria sido o trecho mais emocionante ou surpreendente do filme?
Coutinho: (...) O filme tem momentos muito interessantes.
(...)
Todos os personagens já viram e reviram o filme. Não queria causar constrangimento a ninguém. Para alguns, o filme funcionou como uma terapia. Alguns momentos registrados ali são bem catárticos.
(...)
No meu caso, gosto de valorizar a palavra. A palavra é a coisa mais importante que existe.
Jamais vou colocar alguém tocando um cavaquinho na tela. O cavaquinho não me interessa. O que me interessa é o sujeito que está por trás daquele cavaquinho.
O meu filme começa com uma personagem cantando “Minha Namorada”, do Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, numa única tomada, de 2min10seg. Onde é que você vê um negócio desses? É uma única tomada, sem corte, sem zoom, sem firula.
Bem, se eu tenho uma qualidade, acho que é saber ouvir as pessoas. Penso que algumas contam para mim histórias que jamais contariam para outras pessoas. Gosto de ouvir histórias. Histórias dão sentido à vida. Por isso, muitas delas não são verdadeiras. Sei disso. Muitas das histórias do meu filme não são verdadeiras. Aliás, nenhuma biografia é 100% verdadeira. Mas, pode ter certeza: cada uma daquelas 18 histórias daria um excelente filme.
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